Um vírus no cerne de grandes mudanças?
Mulher usa uma máscara de proteção, em Nova Iorque, Estados Unidos da América.
Créditos: New York Post/Getty Images
António Abreu
ABRIL ABRIL
Vários são os impactos deste coronavírus. Ele tem afetado a economia e a saúde, as instituições, as relações entre países, afetando os próprios modelos de desenvolvimento.
É escabroso as multinacionais estarem tomando medidas para lucrar grandiosamente à custa dos sistemas públicos de saúde, subfinanciados pela austeridade posterior à crise 2008/2009, que, ajudadas pela irresponsável expectativa de muitos governos, que estiveram dois meses sem fazer nada, deixou esses sistemas sem capacidade de montar de um dia para o outro a defesa contra esta pandemia.
O fato de os Estados Unidos da América (EUA) não terem conseguido, até agora, os meios suficientes para a sua defesa face ao coronavírus – e de, por exemplo, no passado dia 2 de abril, um grande avião russo ter aterrado em Nova Iorque, com apoio que Trump agradeceu e que solicitara a Putin e a presidentes de outros países – poderia lançar bases para uma nova cooperação. Mas o que vai acontecer nos EUA deve ainda merecer a nossa melhor atenção.
Mesmo nesta debilidade inquietante, os EUA insistem nas provocações aos seus “inimigos de ocasião” (China, Rússia, Irã, Cuba, Venezuela) e foi in extremis que tiveram de cancelar manobras militares da OTAN que estavam preparadas para se realizar da ponta mais ocidental da Europa até as fronteiras da Rússia, cuja “ameaça” tinham que conter…
Com a globalização e o neoliberalismo pelas ruas da amargura, o que é que os oligarcas (que não cedem o poder!…) que dirigem de fato muitos governos vão encontrar, como um novo paradigma (deles) em torno do controle dos cidadãos e regimes com democracias ainda mais débeis?
A generalidade das empresas médias, pequenas ou os empresários sem outros trabalhadores esperam capitalização urgente. Os trabalhadores receiam pela sua subsistência e lutam para ter dinheiro. A economia não pode recuperar sem resolver estas questões. A concentração do capital, a pauperização crescente dos trabalhadores e da classe média estão gerando um maior agravamento das desigualdades que a crise de 2008-2019 já nos trouxe e que, pelos vistos, são para ser continuadas.
Previsível catástrofe nos EUA
Sendo hoje o país do mundo mais afetado pela COVID-19, com a enorme queda da produção e a subida em flecha do desemprego, os EUA vão viver muita miséria, muita fome, muita revolta.
O prolongamento das quarentenas vai provocar certamente o adiamento das eleições presidenciais, mas Trump tem um controle executivo alargado conferido pela situação de exceção.
E os militares, nessa situação, poderão ter uma presença mais forte no dia a dia e ninguém pode afastar a possibilidade de integrarem as estruturas de poder formais com um outro tipo de controle sobre a sociedade. Há que ter em conta o pessoal militar, o Pentágono e a CIA dirigida, de fato, por Mike Pompeo, que dela foi catapultado para o Departamento do Estado.
Quanto à reserva Federal (FED), poderá ocupar o vértice de uma estrutura de comando de empresas da Wall Street, para as maiores das quais tem vindo a deslocar cerca de 3 trilhões de dólares, a pretexto de uma “crise de liquidez” que ainda não foi justificada em termos críveis.
É uma previsão algo especulativa, mas que poderia ser a continuidade de efeitos interrompidos no pós-crise 2008-2009, com a ajuda da engenharia genética no aparecer desta pandemia, canalizando o mundo para uma sociedade totalitária bem mais perversa que a imaginada por Georges Orwell em 1984, recreado pela Endemol para o seu Big Brother.
Vários episódios abalaram a coesão interna da UE
O conflito verbal entre António Costa e um ministro holandês sobre a necessária solidariedade entre países da União Europeia, que levou o primeiro a classificar como «aberrantes» declarações do segundo, ultrapassou em muito as relações bilaterais entre os dois países, com pedidos de desculpas e uma crise no seio da coligação que governa a Holanda.
A presidente da Comissão Europeia (CE) pediu desculpas à Itália pela resposta «desleixada» da UE às queixas deste país para apoio redobrado na luta contra a CODIV-19, prometendo um crédito de 100 bilhões de euros para ajudar a nação atingida.
«Hoje a Europa está se mobilizando ao lado da Itália. Infelizmente, nem sempre foi o caso», disse Ursula von der Leyen numa carta publicada pelo jornal italiano La Repubblica na semana passada.
«É preciso reconhecer que, nos primeiros dias da crise, diante da necessidade de uma resposta europeia comum, muitos […] pensavam apenas nos seus próprios […] problemas», afirmou.
O pedido de desculpas não impressionou os políticos italianos, pois tinham desafiado a União Europeia não apenas a conversar, mas a provar que é realmente uma União. «Acredito que todos acabarão por perceber, mesmo nesses países, que uma resposta europeia compartilhada, ordenada, forte e rápida é a única solução», disse o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte à TV espanhola La Sexta, não se referindo às declarações de der Leyen. «Uma resposta lenta seria uma resposta inútil», sublinhou.
Uma resposta semelhante veio de Matteo Salvini, dirigente da Liga, hoje na oposição, o partido político mais popular da Itália. Enquanto reclamava um «grande Plano Marshall», no Twitter ridicularizou o pedido de desculpas de Ursula von der Leyen e disse que recusa a alternativa que ela avançara, argumentando já existir o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), porque «não quer que os alemães e holandeses venham a exigir dinheiro de nossos filhos». E «o recurso ao MEE é uma hipoteca sobre o futuro dos italianos», declarou.
Ursula von der Leyen foi forçada, pelas reclamações dos italianos e o impacto que elas tiveram em todo o mundo quanto à quebra da solidariedade no seio da UE, a desencadear um apoio particular para Itália.
Nestes desentendimentos pesam preocupações que não são a ideologia dos partidos dos respectivos governos, mas uma desconsideração em relação àqueles países que mais foram atingidos que, não por acaso, eram do Sul da Europa.
Mais tarde, a presidente da CE aparentemente tentou acrescentar alguma substância real ao pedido de desculpas, lançando a ideia de um novo pacote financeiro para subsidiar salários de empresas que lutam contra as consequências do coronavírus. O esquema, chamado SURE, forneceria um total de 100 bilhões de euros (109 bilhões de dólares) em empréstimos a estados membros da UE para evitar o lay-off em massa. A CE pediria empréstimos nos mercados financeiros internacionais e depois emprestaria fundos aos membros da UE, particularmente aqueles com economias já danificadas. Mas a UE exige uma garantia de 25 mil milhões de todos os membros, para acessarem este esquema.
Para realmente ser implementado, o plano deve ser aprovado por todos os estados membros da UE, o que a princípio não está garantido. Na semana passada, os países da UE já tinham entrado em conflito com uma ideia semelhante de emitir eurobonds – às vezes chamados de coronabonds – dívida apoiada pela UE para ajudar os Estados membros a sair da recessão e aumentar os gastos com saúde. A ideia do coronabond foi apoiada pelos países mais afetados pelo vírus, a Itália, a Espanha e a França. Outros membros da UE, mais abastados, como a Alemanha e a Holanda, opuseram-se fortemente à ideia de emitir títulos de países fortemente endividados.
Nestes desentendimentos pesam preocupações que não são a ideologia dos partidos italianos na área do poder. Questões como a de a Itália ter sido o primeiro grande país europeu a integrar a nova rota da seda que a China está montando, com a crítica de outros dirigentes europeus, da própria EU e do BCE, bem como da OTAN.
Não foi um incidente isolado que a nove grandes aviões russos, enviados em apoio da Itália com muitos médicos e os diferentes equipamentos para identificar e ajudar a sustar o vírus, tenha sido vedado o espaço aéreo de vários países da Europa Oriental, obrigando o seu voo a fazer a trajetória Sochi-Mar Negro-Turquia-Grécia-Itália.
Os EUA aproveitaram a pandemia para se distanciarem da OMS e atacarem Venezuela e Cuba
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus passou a ser alvo de reservas por parte da administração Trump depois de ter salientado por várias vezes os sucessos da China neste combate.
Ghebreysus declarou, em conferência de imprensa no passado dia 3 de abril, que o impacto econômico para os países que levantam as restrições muito cedo pode ser ainda mais severo e prolongado, levando potencialmente a uma segunda onda de infecções. Destacou ainda a importância de financiar a resposta à saúde, que ele descreveu como um «investimento essencial» para «salvar vidas» e também para a «recuperação social e econômica a longo prazo».
Os EUA pretendem tirar proveito da situação epidemiológica na Venezuela para realizar neste país um novo golpe de estado, já tentado e falhado anteriormente várias vezes. Mas, à sombra dos EUA, outras potências ocidentais estão interessadas também nesses desenlaces.
De fato, no passado dia 31 de março, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, apresentou uma proposta para formar um «governo de transição» na Venezuela.
No meio da pandemia de coronavírus, em que está sendo observada uma «moratória deste tipo de intervenções políticas em todo o mundo», e quando na Venezuela todas as energias deveriam estar voltadas para evitar a crise pandêmica que também se registra no país, a proposta do governo Trump dá-se em paralelo à recusa do Fundo Monetário Internacional (FMI) em conceder ao governo de Nicolás Maduro assistência financeira para conter o coronavírus, e ao anúncio pelos EUA de irem perseguir judicialmente o presidente e outros destacados dirigentes do país com a falsa acusação de «tráfico de drogas».
Nesse dia, as autoridades dos Estados Unidos apresentaram um plano para formar um «governo de transição» no qual Juan Gaidó assumiria progressivamente a presidência, apesar de este estar envolvido em várias tentativas de derrubar o governo venezuelano, com o apoio de forças mercenárias.
E, no dia seguinte, um navio turístico registrado em Portugal abalroou e afundou uma corveta das autoridades venezuelanas que o ia abordar por navegar em águas do país, sem ter recolhido e tratado os marinheiros que escaparam do abalroamento, ao arrepio de disposições internacionais aplicáveis a situações como esta. As autoridades venezuelanas convidaram as de Curaçao (ilha holandesa do Caribe onde o navio depois acostou) a dizer que turistas transportava, porque o ato criminoso poderia configurar o de uma tentativa de desembarcar mercenários nas costas venezuelanas, no pico das pretensões golpistas dos EUA. Só três dias depois a empresa que fretou o navio disse que não havia passageiros nele…
O chamado «Quadro Democrático para a Venezuela» determinaria uma série de condições, cujo cumprimento seria acompanhado por um levantamento gradual de sanções, aplicadas durante anos pelo governo Trump, com o objetivo de retirar Maduro da presidência.
A política dos EUA atinge também Cuba. Um envio de material médico para a América Latina – oferecido pela Fundação Jack Ma e o sítio de comércio online Alibaba (ambos chineses) cujos donativos já tinham alcançado mais de cinquenta países em todo o mundo – não pôde chegar a solo cubano. Tratou-se de um carregamento de dois milhões de máscaras, 400 mil kits de diagnóstico rápido e 104 ventiladores, para 24 países da da América Latina e Caribe, entre eles Cuba. No dia 24 março uma mensagem do embaixador chinês no Panamá confirmava a próxima chegada a esse país de 100 mil máscaras e 10 kits de diagnóstico, enquanto o seu colega em Havana confirmava o mesmo. Ainda em 30 de março, anunciavam-se envios adicionais de equipamentos tais como ventiladores, luvas e fatos médicos protetores.
Mas… o transportador – uma empresa norte-americana contratada para o efeito – recusou à última hora essa encomenda. Argumentou que as regulações do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto contra o país de destino, e reforçadas pela atual administração dos EUA, a impediam de o fazer.
Já no dia 2 de abril, na Assembleia Geral das Nações Unidas, os EUA, o Reino Unido e a UE, assim como a Ucrânia e a Geórgia, rejeitaram um projeto de declaração russo exigindo o levantamento de sanções unilaterais para combater a COVID-19. A missão permanente de Moscou na ONU emitiu uma declaração questionando a razão de a Ucrânia, a Geórgia, o Reino Unido, os EUA e a UE terem rejeitado a sua proposta, argumentando que essas nações «se recusavam a deixar de lado abordagens e interesses politizados» e que a sua decisão poderia afetar negativamente «um grande número de pessoas» – especialmente em países em desenvolvimento atualmente sob sanções. A moção rejeitada pedia ampla cooperação internacional no combate à disseminação da COVID-19, bem como a «rejeição de guerras comerciais e sanções unilaterais adotadas sem o mandato do Conselho de Segurança da ONU, a fim de garantir o acesso rápido a alimentos e medicamentos». A proposta também pedia aos Estados membros que rejeitassem «estigmatizações de Estados, povos e indivíduos por causa da pandemia e a necessidade de sobre ela apenas circularem informações fiáveis e baseadas na ciência».
Entretanto, as multinacionais e farmacêuticas continuam a pressionar cada vez mais os governos para serem subsidiadas com volumosas verbas para disporem de condições protegidas de investigação e desenvolvimento à escala doméstica e universal a preços proibitivos para os usuários dos serviços de saúde. Estão tomando medidas para lucrar às custas das desgraças provocadas pela COVID-19.
Escolhendo, entre outros que pressionam esta corrente de opinião, dois professores de finanças da universidade de Stanford que recomendam a atitude da administração norte-americana quanto à procura de uma vacina contra a COVID-19, Hanno Lustig e Jeffrey Zwiebel, passamos a citar o seu raciocínio.
«Se queremos que uma vacina ou tratamento medicamentoso pare o coronavírus, o governo deve ignorar os que reclamam dos lucros das empresas farmacêuticas e deve comprometer-se com uma enorme recompensa que incentive mais empresas a desenvolvê-los. Não seria apenas salvar vidas. Isso poderia salvar a economia global».
(…) «Aqui está uma maneira simples de ver isso. Os gastos dos EUA em todo o sector de I&D farmacêuticos em 2020 foram projetados em 80 bilhões de dólares – o equivalente a três semanas da perda anual da produção econômica dos EUA – com apenas uma pequena fração desse valor direcionada a doenças infecciosas. Em 1967, 26 empresas farmacêuticas produziram vacinas, mas em 1980, só 17 o fizeram. Hoje apenas quatro realizam uma produção significativa – GlaxoSmithKline, Merck, Pfizer e Sanofi Pasteur.
(…) O governo dos EUA, talvez trabalhando com outras pessoas, deve garantir um pagamento financeiro significativo a quem primeiro desenvolver uma vacina. Uma maneira de fazer isso seria comprometer-se com um preço alto por cada dose administrada de uma vacina ou terapia de tratamento eficaz. Como exemplo, se o governo dos EUA prometesse um preço de 190 dólares por dose administrada às empresas que garantissem a investigação e desenvolvimento, gastando um máximo de 62,5 mil milhões de dólares para vacinar ou tratar todos os cidadãos americanos, a sociedade teria recuperado o seu investimento.
(…) O governo poderia estimular ainda mais a colaboração, comprometendo-se com grandes prêmios por ensaios clínicos bem-sucedidos, desde que as investigações fossem totalmente divulgadas. Se a União Europeia assumisse um compromisso semelhante com esse preço por dose administrada, os incentivos totais poderiam ser fortalecidos com outros 100 mil milhões de dólares».
A pretensão destes autores e das empresas prontas para a corrida de garantirem a exclusividade de direitos sobre as soluções genéticas encontradas, têm hoje, porém, sérios concorrentes quer quanto ao tratamento da doença quer no que respeita à criação da vacina.
Desde logo a China, que desde o primeiro momento desenvolveu a investigação.
Outros países atingidos pela COVID-19 a estão procurando a desenvolver. São os casos dos EUA, da Alemanha, da França, Reino Unido, Rússia, Irã, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Austrália.
Os cientistas chineses isolaram, entretanto, vários anticorpos que consideram «extremamente eficazes» para impedir que o novo coronavírus penetre nas células humanas.
Zhang Linqi, membro da Universidade Tsinghua em Pequim, diz que o medicamento desenvolvido por anticorpos que sua equipe descobriu pode ser usado com mais eficácia do que as abordagens existentes, incluindo tratamentos a plasma, limitados por tipo de sangue de cada paciente.
No início de Janeiro, o grupo liderado por Zhang colaborou com outros médicos de Shenzhen para começar a testar anticorpos do sangue colhido de vários pacientes que tinham recuperado da COVID-19. Esses especialistas conseguiram isolar 206 anticorpos monoclonais que mostraram uma capacidade «forte» de se ligar às proteínas do coronavírus, conforme descrito por Zhang Linqi. Os investigadores realizaram um novo teste para verificar se eles poderiam impedir a entrada do vírus nas células: dos primeiros vinte ou mais anticorpos testados, quatro foram capazes de bloquear esse microrganismo e dois deles foram «extremamente bons» no fazê-lo. Neste momento, os cientistas liderados por Zhang estão focados na identificação de anticorpos mais poderosos para os combinar a fim de atenuar o risco de o vírus sofrer mutação – o SARS-CoV-2 é o nome do vírus, portanto do gênero masculino, a COVID-19 é a doença que gera, portanto de gênero feminino.
Zhang Linqi, que publicou as suas descobertas online, espera que os anticorpos possam ser testados em humanos dentro de seis meses.
Nesta passada terça-feira, o ministério da Defesa da China anunciou que foi desenvolvida «com êxito» uma vacina contra o novo coronavírus e que a mesma recebeu luz verde para entrar em fase de testes em humanos. A vacina terá sido desenvolvida pela empresa CanSino Biologics Inc. em parceria com a Academia Militar de Ciências. Segundo a Bloomberg, a CanSino Biologics explicou em comunicado enviado à Bolsa de Valores de Hong Kong, na passada quarta-feira, que ia começar a fase de testes em Wuhan, o epicentro de toda esta contaminação onde se registraram mais de 190 mil infectados e 7800 mortos. A epidemiologista Chen Wei foi escolhida para liderar a equipa multidisciplinar que criou um produto que pode muito bem só vir a ser «utilizável» daqui a um ano — de novo sugerindo a impossibilidade de se chegar a uma cura ainda em 2020.
Também na França foram anunciados os primeiros ensaios bem-sucedidos do tratamento com coronavírus baseado em drogas. Se tudo correr bem, esses anticorpos serão produzidos em massa para testes, primeiro em animais e depois em humanos. O grupo de especialistas fez uma parceria com a biotecnológica chinesa-americana Brii Biosciences para «propor múltiplos candidatos» para «uma intervenção profilática e terapêutica», disse a empresa.
A Big Pharma, através de um dos seus laboratórios em Paris, a Sanofi, tem confrontado a eficácia e os eventuais riscos do uso da cloroquina, utilizada por Didier Raoult, especialista reconhecido internacionalmente, quando este fármaco foi usado com êxito no tratamento da COVID-19 em França, na China, em vários países do sudeste asiático. Na França os estoques existentes foram roubados.
Claro que a Sanofi se prepara para registrá-lo como um fármaco saído dos seus laboratórios e ter o exclusivo da sua venda a preços muito superiores aos preços baixos.
Sempre, mas sempre, o objetivo de atingir a China
Depois do exemplo da China ter provocado uma reação internacional muito positiva, desde a forma de ataque pelas quarentenas impostas, a construção em três dias apenas de novos hospitais, a disciplina quase militar, as investigações e publicações respectivas partilhadas com as comunidades científicas de todo o mundo, agora tem sido o fornecimento de quantidades gigantescas de materiais médicos fundamentais para a contenção do vírus, acompanhados por médicos chineses como consultores para o combate contra a COVID-19 em muitos países do mundo.
A China tem um estado fortemente centralizado, que se relaciona bem com as autoridades regionais das suas 23 províncias, cinco regiões autônomas, quatro cidades administrativas e duas zonas administrativas. E atacou o problema conduzindo uma grande operação militar para a qual estava preparada, mas que os países ocidentais não tinham preparado para poder ser montada em todos esses países.
Quanto a datas, em 26 de dezembro vários médicos chineses identificaram o que lhes pareceria ser uma pneumonia muito séria, até então desconhecida.
Quatro dias depois, no dia 30, comunicaram isso ao organismo de estado competente e à OMS. E da China foi lançado um alerta geral para todo o mundo, tendo a OMS feito o mesmo, dizendo que uma nova doença se estava a espalhar pelo mundo.
Isto deita por terra a primeira acusação feita pelos EUA à China, mais tarde, de que a China tinha escondido ao mundo esse acontecimento.
No dia 8 de janeiro os chineses já tinham sequenciado o vírus, que passou a ser designado por SARS-CoV-2, que deu origem ao nome da doença COVID-19. Os cientistas chineses passaram a publicar em 12 de Janeiro os primeiros estudos com base nos seus habitantes afetados pela nova doença.
E em 22 de janeiro anunciaram os 50 novos infectados e 17 mortos, todos de Wuhan.
Nessa altura já se sabia que o vírus não teria sua origem no mercado de frutos do mar de Wuhan, como base em artigos científicos da China, de Taiwan e do Japão. Esta fake new baseou-se documentalmente na identificação falsa de um vídeo que circulou em todo o mundo – um grupo de chineses comendo sopa de morcego – mas foi gravado em Palau, no Pacífico Sul, e não na China, onde este «petisco» é proibido.
Mas na China consideravam-se as consequências da decisão e foi mesmo instaurada uma quarentena rigorosa na província de Hubei, principal origem da produção e riqueza chinesas. No dia 23 de janeiro os chineses decidiram encerrar Wuhan e Hubei. E em dois meses (!) sustaram a expansão do vírus.
A partir do momento em que investigadores chineses conseguiram sequenciar o código genético deste SARS-CoV-2 em fevereiro, essa informação foi distribuída pelo mundo inteiro e é com base nisso que os esforços internacionais para descobrir vacinas têm surgido.
No intervalo entre o alerta de 30 de dezembro e as medidas vigorosas de quarentena de 23 de janeiro, milhões de chineses viajaram de Wuhan para outros pontos da província e do país, tendo havido grande movimento em sentido contrário. E nessas viagens foi espalhado o vírus dentro do país e para vários países do sudeste asiático.
A mentira de que a China tinha escondido ou falseado informações quanto ao desenvolvimento da então epidemia ficou desacreditada, mas algumas cabeças duras em Washington renovam ciclicamente a mentira para afetar o prestígio mundial que a China adquiriu neste combate e na ajuda em médicos, materiais de prevenção, testes e ventiladores.
Em 16 de março Mike Pompeo acusou a China de «semear informações falsas e rumores absurdos» sobre a origem do novo coronavírus.
Em causa esteve a afirmação em 12 março do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, sugerindo que uma equipe de atletas do exército norte-americano teria introduzido o vírus em Wuhan, a cidade onde a pandemia se iniciou, quando ali se deslocou para os Jogos Militares Mundiais, realizados na cidade entre 18 e 27 de outubro passado. Foram, de fato, cerca de 300 militares norte-americanos que tinham treinado perto do Laboratório de Armas Biológicas das Forças Armadas dos EUA, em Forte Detrick (que fora fechado pelo CDC dos EUA, em julho, devido a uma fuga de patógenos (organismos que são capazes de causar doença em um hospedeiro), que poderão ter-se desenvolvido após esse encerramento.
Estiveram hospedados num hotel de Wuhan a 300 metros do mercado dos frutos do mar. Os médicos registraram febres altas em alguns, que foram contagiando sucessivamente técnicos de hotelaria e feirantes do mercado, para onde se deslocaram. Os chineses informaram os norte-americanos, revelando a pista em solo chinês de uma doença que foi assinalada como uma gripe forte… Em troca, o governo chinês pediu aos EUA que revelasse qual tinha sido o seu «paciente número um» no seu território mas, até agora os estadunidenses não responderam a questão, fragilizando a percepção de que este acontecimento possa ser acidental e reforçando suspeitas de que poderia ter sido proposital… Toda esta questão encontra-se desenvolvida num texto recente do professor visitante da Universidade Fudan de Xangai, Larry Romanoff.
Três países foram os grandes difusores da doença importada: China, Irã e Itália. Sabendo nós que a Itália aceitou integrar as rotas da seda que a China lançou, fica-nos a inquietação sobre se foi por acaso que esses três países ficaram naquela situação.