Pandemia comprova: é socialismo ou barbárie
O marxismo em tempos de pandemia
Por Antonio Lima Júnior – jornalista, diretor da Associação Cearense de Imprensa (ACI)
Militante do PCB e da Unidade Classista
“Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está, amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol”
(Nada será como antes – Milton Nascimento, Beto Guedes)
O surgimento da pandemia proveniente do novo coronavírus (Covid-19), trouxe uma quarentena de isolamento em vários países. Esse isolamento gera a paralisação da produção de mercadorias e diversos setores do trabalho, causando mudanças nas políticas aplicadas por governos que, até poucos dias atrás, seguiam uma agenda neoliberal de retirada de direitos dos trabalhadores, forçando o Estado agora a manter políticas de assistência à população diante do quadro de calamidade.
Nessa situação, temos visto a ineficácia das políticas neoliberais de resolver a crise do sistema capitalista, aprofundada agora com essa pandemia. Enquanto isso, os patrões se mostram cada vez mais preocupados com a manutenção de seus lucros, a ponto de seus setores mais vorazes se manifestarem em defesa da economia, sacrificando milhares de trabalhadores que se expõem ao contágio do vírus ao manter a jornada de trabalho normalmente.
A resposta que o patronato tem dado é a demissão em massa, com vários casos surgindo mundo afora de empresas que estão fechando as atividades, ao passo que o patrão se esconde em seus apartamentos de luxo para o isolamento, deixando os trabalhadores desempregados e sem rumo para enfrentar a pandemia.
A pandemia passa, mas a crise continua. É tempo de pensar noutra sociedade!
Tentando maquiar sua verdadeira face, através de sua ideologia dominante, a burguesia utiliza valores como a filantropia para entregar migalhas ao enfrentamento da pandemia, evitando assim expor os problemas inerentes ao sistema diante da crise. Medidas como a proposta da taxação de grandes fortunas, que deveria ser efetivada independentemente do novo coronavírus, tocam apenas na superfície do problema.
Mesmo sendo medidas reformistas, que não vão na jugular do problema, vemos setores conservadores da burguesia se declarando veementemente contrários a elas, o que mostra o grau de acumulação das riquezas e o largo fosso das desigualdades do capitalismo. Esta situação só faz comprovar o fim do ciclo de conciliação e que o nosso inimigo de classe está cada vez mais forte, rico e menos preocupado com a humanidade.
Com essas movimentações, tem se demonstrado para o conjunto dos trabalhadores o quão desprezível é o capitalismo e que é necessário mudar esse sistema. Entretanto, ainda estamos vivendo um grande refluxo do movimento operário, proveniente da dissolução das experiências socialistas do século passado, seguida pelas políticas neoliberais que surgiram a partir da década de 1990, bem como, no caso brasileiro, a passagem por um período de governo de conciliação que serviu para desmobilizar organizações e enfraquecer as lutas sociais.
Nesse momento, é natural a insatisfação, em certos graus acompanhada de desesperança, diante do cenário que se encaminha. Após o período da pandemia, o projeto de desmonte dos direitos trabalhistas deverá continuar, bem como o beneficiamento ao setor financeiro e a desindustrialização em países como o Brasil. É necessário aproveitar o período de quarentena para a seguinte reflexão: diante da incapacidade do capitalismo de resolver os problemas dos povos e de sua tendência ao colapso da sociedade e do ecossistema da terra (a barbárie que Rosa Luxemburgo anunciava), qual a alternativa que devemos assumir e construir daqui pra frente?
É tempo de estudar e organizar a construção da alternativa socialista!
Só existe uma alternativa para superar o capitalismo, antes que ele destrua a humanidade e o planeta. Essa alternativa tem que ser o socialismo! Para isso, é importante estudar com afinco a história das experiências socialistas do século passado, seus erros e acertos, bem como o histórico do movimento operário e a concepção do marxismo como corrente que defende a revolução do proletariado; entender que revolução é essa e que mecanismos são esses que Marx, Engels, Lênin e outros revolucionários falavam como necessários para a construção desse processo.
Um desses mecanismos é a organização da classe trabalhadora. Para isso, é preciso que estudemos nesses tempos de pandemia as organizações da classe. Partidos, sindicatos, movimentos sociais… É tempo de quem não está organizado se organizar! O momento exige o nosso avanço no grau de consciência de classe para que, ao passar a pandemia, estejamos com a saúde em dia e com a capacidade de enfrentar o vírus maior que assola a humanidade e o mundo: o capitalismo. Esse vírus virá com mais força e devemos estar vacinados contra as vacilações da conciliação, mostrando que a verdadeira saída é o socialismo e a construção do poder popular.