Ceará: em defesa da universidade pública!
Contra a situação de retrocessos na UFC, com um interventor durante a pandemia
Por San Diego Castilho, estudante de Ciência da Computação da UFC e Dimitri-Alexander Lenine, estudante de Ciências Econômicas da UFC
Em agosto do ano passado (2019), Bolsonaro nomeou como reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC) o professor e advogado Cândido Albuquerque, o último colocado na consulta à comunidade universitária com apenas 3,98% (610) dos votos. Este acontecimento demonstrou ser apenas o início de uma série de ataques à autonomia da universidade, seguindo a lógica de desmonte da educação pública nacional aprofundada pelo seu governo. Desde então, o interventor vem realizando investidas constantes contra o Movimento Estudantil, um dos obstáculos ao projeto de precarização, que tem seu ápice na judicialização da última eleição do DCE e o não reconhecimento dos representantes discentes eleitos.
O cenário se agrava com a chegada da pandemia, quando o Governo do Estado do Ceará oficializa o isolamento social e a universidade é obrigada a cancelar suas atividades presenciais. Nesse contexto sanitário precário, a administração superior da universidade busca impor a substituição do ensino presencial pelo ensino remoto.
Para sustentar essa lógica, é realizada na universidade uma Pesquisa Online sobre a realidade de acesso à Internet dos alunos. Com participação de apenas 33% dos estudantes — índice considerado “altíssimo” pelo reitor — a administração superior, em um contorcionismo retórico, afirma que apenas 1% dos estudantes não possuem acesso à internet e ignora vários outros problemas que seus próprios dados mostram. Por exemplo, 13% dos estudantes que responderam afirmaram possuir acesso apenas por meio de 3G ou 4G e 23% desses estudantes afirmam apenas ter acesso a celulares, situação esta que sabemos ser mais que insuficiente para uma continuidade das atividades pedagógicas com qualidade. A situação se agrava quando vemos que 22% dos alunos que responderam afirmam sofrer com problemas de depressão causado pela pandemia. Para além do absurdo no método de tal pesquisa e a baixa participação discente, a administração se utiliza dos resultados apenas de forma que bem lhe convém, ignorando diversas problemáticas e apresentando medidas paliativas que não visam solucionar o problema, mas servir para viabilizar que o projeto de aulas remotas siga adiante.
Visando conceder às unidades acadêmicas um plano para a retomada das atividades onlines seguindo o projeto de precarização, a administração superior elabora o Projeto Pedagógico Emergencial (PPE), que é construído por meio de reuniões sem participação efetiva dos estudantes e com caráter impositivo. A lógica que a reitoria assume é que a única mudança na realidade do estudante seria o local em que ele se encontra, em casa ao invés da Universidade. Esse descaso intencional escolhe ignorar as diversas adaptações que estudantes e trabalhadores precisaram realizar para sobreviver nesse tempo de pandemia.
Essa lógica normaliza a ideia de que um espaço público bem equipado (bibliotecas, salas de estudos, laboratórios, etc) destinado à educação não é importante para o ensino, se ignora o fato de que no contexto da pandemia onde os alunos não têm acesso a esses locais não pode haver ensino de qualidade. Se desloca cada vez mais a responsabilidade de prover esse suporte para o indivíduo, em vez de ser um dever do Estado. Qual será o resultado, se no futuro tal lógica for integralmente implementada? Poderiam utilizar-se de tal argumento para cortar recursos de manutenção dos espaços público pois, afinal, eles não são mais importantes? O fato é, como o próprio reitor afirmou, esse projeto vai durar para além da pandemia.
Não podemos pensar que esse é um caso isolado. A Universidade Federal do Ceará, assim como todas as outras instituições federais, estão inseridas num contexto de uma política educacional ultraliberal do governo Bolsonaro que tem sua representação máxima no Future-se; Cândido é apenas o seu representante na UFC. A implementação de aulas à distância se mostra como um primeiro passo do projeto de precarização e mercantilização da educação pública superior que ainda possui seu selo de qualidade. Devemos barrar todo esse projeto e tudo que ele significa.
Defendemos o cancelamento do semestre com manutenção das bolsas e auxílios enquanto durar a pandemia. Essa luta se passa não só na UFC, mas em todas as instituições federais; precisamos de mais inclusão, mais investimentos e de respeito ao corpo docente e discente que compõem a Universidade Federal do Ceará nesse momento drástico de crise que enfrentamos.