Toda solidariedade aos trabalhadores do funk

imagemSER MC NÃO É CRIME!

Nota política da UJC e CNMO – RJ

Após uma denúncia indevida e criminosa por parte da bancada do PSL, os MCs trabalhadores do funk Cabelinho e Maneirinho foram surpreendidos com intimações para depor, em relação às acusações de apologia ao crime de tráfico de drogas. Acusações essas sem base jurídica alguma. Um desses MCs, Cabelinho, apresenta em seu trabalho a realidade de um jovem favelado com sonhos, mas que sempre são frustrados pela ação organizada do Estado racista.

Não é de hoje que a perseguição a jovens trabalhadores do funk acontece, sempre com intimidações judiciais até as consequências finais: o encarceramento. O uso da “apologia ao crime” como acusação, mais uma vez indica a seletividade racista que a institucionalidade burguesa compreende enquanto crime.

O Judiciário enquanto aparato do Estado é também mediação e expressão das ideias da classe dominante, cada vez mais punitivistas. Por ser uma expressão cultural oriunda das favelas cariocas, historicamente marcadas pelas contradições raciais e de classe, o funk é compreendido enquanto crime, e os trabalhadores envolvidos também são considerados criminosos. A criminalização do funk é uma consequência histórica de um processo de dominação racista do capitalismo brasileiro, moldando como a nossa classe deve ser expressar.

A história da cultura negra no Brasil evidencia ainda mais essa contradição. Se hoje o funk é perseguido e criminalizado, vale resgatar que no início da República e durante os anos que se sucederam, a perseguição à capoeira, religiões de matriz africana e posteriormente ao samba, só nos prova uma coisa: o racismo, enquanto estrutura, atinge qualquer espaço social e isso tem um caráter histórico. Pouca coisa mudou e o nosso povo ainda luta pelas mesmas coisas há mais de 200 anos.

O Rio de Janeiro, Estado esse que tem se colocado enquanto laboratório de experimento para táticas cada vez mais letais da guerra às drogas, mantém sua população e em especial a classe trabalhadora refém das políticas neoliberais e coronelistas em muitos municípios e aposta num projeto [político] letal de extermínio e repressão dos corpos negros, como promessa para os problemas de segurança pública e na ausência de políticas públicas que garantem a vida dessas pessoas. No entanto, a coerção – característica tática do racismo estrutural – não se dá somente pelas ofensivas que geram morte como denunciado acima e, por isso, o nosso dever é se organizar ante às afrontas do Estado em nossos comitês de favelas, associações de moradores, associações do bairro, movimentos sociais que atuam na periferia, rodas culturais e cobrar do mesmo que essas acusações sejam retiradas e que os MCs possam ter acesso a uma defesa justa.

Diante desses fatos, a União da Juventude Comunista – RJ e o Coletivo Negro Minervino de Oliveira – RJ, com base no extenso histórico do Partido Comunista Brasileiro (PCB) de defesa e atuação pela cultura popular, honrando o legado de Jorge Amado na composição da Constituinte de 1946, respaldando e reconhecendo todas as manifestações culturais do povo e para o povo à época, vêm manifestar profundo repúdio às violentas ofensivas e práticas intimidadoras usadas pelo Estado burguês para coibir todo e qualquer tipo de produção artística partindo de jovens negros e periféricos e também solidariedade aos MCs Cabelinho e Maneirinho. Vemos que a história se repete, dado o exemplo da perseguição pelo judiciário ao DJ e Produtor Rennan da Penha, que foi preso por suposto envolvimento com o tráfico de drogas do Complexo da Penha, argumentos que foram facilmente desmentidos por sua defesa. Ou o caso do GTA, um dos organizadores da roda cultural da Central, que também foi encarcerado de forma injusta.

Nesse sentido, estamos ao lado de todas e todos os trabalhadores da cultura e estamos dispostos a construir as trincheiras de luta de resistência contra o fascismo que cresce a cada dia no nosso país. Os comunistas reconhecem que ser MC ou DJ não é crime, mas um trabalho com potencial revolucionário, transformador. MC É TRABALHADOR e apresenta a realidade da forma concreta que é, e não a esconde!

“Deixo avisado que eu não acredito que exista um conto de fada
Autoridade que era pra me proteger sobe o morro e me mata
Luto e luta das balas achada

E o arrombado de terno e gravata
Que autoriza essa guerra na minha favela enquanto outra bala se acha

Essa é minha realidade
É o reflexo que nós passa no morro
É bonita a paisagem
Mas é feio como tratam meu povo”

Reflexo – Mc Cabelinho

Pelo Poder Popular!

Coordenação Estadual do Coletivo Negro Minervino de Oliveira – RJ/CMNO
Coordenação Estadual da União da Juventude Comunista – RJ/UJC

Rio, 30/10/2020.

#PraCegoVer Imagem contém MC de funk cantando em baile de fundo, usando camisa listrada em azul e branco, texto em fundo vermelho com letra em branco dizendo “Ser mc não é crime” e abaixo “nota política”. Canto superior esquerdo contém logo da UJC com foice e martelo dentro de estrela branca e logotipo do CMNO contendo círculo preto com desenho de mão e dentro o mapa da África.
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