As lutas populares e a greve nacional
As lutas contra as contrarreformas
e a questão da greve nacional
Por Milton Pinheiro
Jornal O MOMENTO – PCB da Bahia
Novos e contraditórios acontecimentos estão incidindo sobre os fundamentos da conjuntura brasileira. A crise social ganha contornos violentos de esgarçamento do tecido social com o avanço da fome, miséria, carestia, desemprego e o crescimento sem precedentes da população desalentada do mercado de trabalho.
Na ordem das movimentações do governo e do presidente neofascista, continua a lógica operativa do caos controlado como forma de destruir a mínima presença do Estado diante das demandas sociais e permanece o golpe por dentro das instituições, mudando o perfil das instituições do poder executivo.
A decadência ideológica que se configurou nessa etapa histórica possibilitou que Bolsonaro e suas hordas neofascistas continuassem com o exercício dos testes de força no cotidiano da política brasileira, tentando naturalizar o projeto de ruptura na perspectiva de construção de um aparato de exceção. Com avanços e recuos táticos, vide os movimentos que foram realizados entre os dias 7 e 9 de setembro, Bolsonaro continua agitando suas tropas de combate com discursos
obscurantistas e mentirosos, a exemplo da intervenção na assembleia da ONU.
O presidente da república opera a partir de lances políticos cuja configuração central é de um bonapartismo de baixa intensidade, exercitando uma movimentação econômica que procura, na
crise, defender os interesses das diversas frações da burguesia situadas no bloco do poder – em especial, os rentistas. Para imprimir essa função de títere, Bolsonaro articula no balcão de negócios
do parlamento, através da tropa de choque que lhe é submissa (Centrão), diversos projetos de destruição dos serviços públicos e de proteção ao capital privado. O melhor exemplo dessa conduta
é a tramitação da PEC 32.
Embora na movimentação da política diversas facções da burguesia estejam atentas ao que representa a instabilidade do governo Bolsonaro, ainda não desceram do muro para negociar o processo de impedimento do líder neofascista. Trata-se do cálculo racional a respeito do que ganha ou perde com esse movimento. Afinal, o Banco Central tem tido uma postura protetiva do rentismo, ao aumentar a taxa de juros, mesmo sem inflação por demanda. Ao lado dessa postura, o governo desenvolve muitas ações para beneficiar o agronegócio, mesmo esse setor destruindo o meio ambiente e atacando as terras dos povos originários.
As hordas neofascistas, com articulação interna e externa, têm procurado expandir a compra de armas pesadas para acompanhar o que será o desfecho eleitoral em 2022. Esse contingente de assalto tem buscado se organizar a partir dos Clubes de Tiro, tendo como desculpa a caça ao javali. É importante salientar que, de forma muito suspeita, essa espécie avançou com presença em muitos estados brasileiros: quanto mais temos caçadores autorizados para matar javalis, mas o rebanho tem crescido e ampliado sua presença territorial. Diante dessa situação, precisamos desvelar o que representaria a derrota de Bolsonaro e a postura dessas hordas armadas.
Seria razoável ter alguma preocupação com o que ocorreu nos EUA, a partir da derrota do Trump.
Bolsonaro procura, ao tempo que em movimenta seu projeto de ruptura, estabelecer bases sociais entre os famélicos. A iniciativa de colocar em vigência uma nova bolsa de auxílio, redesenhada como “Auxilio Brasil”, pode ter um impacto substancial no cenário político eleitoral, afinal, teríamos um contingente de 17 milhões de pessoas atendidas e que passaria a receber um valor maior, cerca R$ 300,00. Essa ação poderia colocá-lo no campo da disputa eleitoral dentro desse segmento, que hoje tem em Lula o nome mais forte para 2022.
Mas as contendas da luta de classes têm outros ingredientes. A esquerda brasileira se lança em diversas frentes: campanha pelo Fora Bolsonaro/Mourão, organização de regulares manifestações de rua, combate aos projetos de contrarreforma – a exemplo da PEC 32, apoio à luta indígena contra o marco temporal, combate às privatizações e denúncia dos crimes que emanam da lógica das opressões organizadas pela sociabilidade capitalista. Não obstante, mesmo com essa agenda, ainda existe um flanco aberto para a política que opera o defensismo democrático-formal e estimula a formação de alianças no campo da conciliação de classes para as eleições de 2022.
A esquerda que luta de frente para a história tem que pensar e agir no sentido da construção da frente única, pautada pelo trabalho de base e pela organização da unidade de ação. Capaz de impactar
as ruas e avançar com o processo de reorganização da classe trabalhadora, que se comprometa com
um referendo revogatório sobre as medidas que hoje atacam a classe trabalhadora e privatizam o
Estado brasileiro. Nessa perspectiva, as forças da esquerda socialista devem construir uma forte unidade de ação, tendo em vista a organização de um encontro das classes trabalhadoras, juventudes
e organizações populares.
Com esse objetivo estratégico se faz necessário que os partidos de esquerda, entidades proletárias, populares e centrais sindicais pensem a organização de uma greve nacional que paralise a produção e circulação de mercadorias, paralise os serviços públicos e, como desfecho político desse movimento nacional, apresente uma vigorosa pauta de reivindicações, construída pelo consenso dessas organizações. É a partir desse grande movimento que, talvez, se possa colocar a luta de classes em um novo patamar, possibilitando que a classe trabalhadora retome seu ascenso político.