Eleições no Sindipetro-RJ

Como conduzir o sindicato pelo tortuoso, mas necessário caminho entre o parquinho e o pântano*

Por Wesley Brito* e Gustavo Marun**

Apertem os cintos, estamos adentrando o turbulento período eleitoral do Sindipetro-RJ, dessa vez num novo cenário. O fato novo é que teremos 2 chapas do campo da FNP. A despeito de todo nosso esforço para manter a unidade, prevaleceu a intransigência dos que hegemonizam a outra chapa, forçando a divisão. É bom que estejam preparados para um nível de debates não tão “republicano”, infelizmente.

Desde que viu ameaçada a sua hegemonia, no último congresso da FNP, o campo político mais ligado ao PSTU escalou gradativa e incessantemente o nível de tensões e disputas internas na diretoria. Logo após o congresso, lançaram a sua visão de balanço sobre o resultado dele, com fortes críticas às resoluções vencedoras, e colocando em suspeita os rumos da FNP. Curiosamente, não divulgaram esse balanço em materiais próprios, mas se utilizaram do boletim do Sindipetro-RJ para esse fim, sem debates na diretoria e nem mesmo no núcleo de comunicação, numa atitude claramente autoritária e aparelhista.

O leitor deve estar se perguntando qual o pano de fundo político para tais diferenças. Nesse artigo escrito há alguns dias, detalhamos as grandes disputas de visões e caminhos no seio do movimento sindical, inaugurados desde a posse do novo governo: https://opoderpopular.com.br/sobre-a-postura-das-entidades-de-representacao-diante-do-governo-lula-2-descaminhos-e-1-caminho/. Em resumo, à medida em que a FNP se afastou do caminho do sectarismo e isolamento político, deu-se a crise no campo do PSTU e seu entorno político. Em outras palavras, começou o famoso “fogo no parquinho”.

O primeiro erro banal de postura: transformar o sindicato em “parquinho”, “playground” ou “gueto político”

O fato é que este setor está mergulhado numa obsessiva, quase paranóica, política anti-PT e anti-FUP. E, de tão preocupados em sustentar essa política acima de tudo, acabam alimentando e fazendo acenos para quem mais faz esse discurso: a extrema-direita. Sabemos que o verdadeiro inimigo é a burguesia, o bolsonarismo e os neoliberais, não o PT. O PT pode sim ser considerado um adversário, porque sua ação política nos movimentos diante do governo Lula tende a arrefecer e pacificar a luta, o que vamos detalhar mais adiante. Mas, quando se confunde adversário com inimigo, existe o grande risco de considerar inimigos como aliados.

O PSTU pode ser um partido de luta, mas é muito complicado para compor com outros agrupamentos. À exceção de pequenos grupos da categoria e de uma corrente que se omitiu de se posicionar nas eleições entre Lula e Bolsonaro, eles não têm conseguido se aliar a mais ninguém. Dá a impressão de que eles fazem política como quem faz garimpo ou alquimia, buscando de forma obcecada a fração mais “pura”. Loucura, a vida não é assim! Fizeram uma movimentação divisionista para não admitir o PSOL na composição de uma nova chapa, como se o PSOL não fosse suficientemente de esquerda para eles… É como um jogo de resta um rumo ao pensamento único. No final, só ficam eles mesmos… Passam a construir uma inusitada lógica de diminuir os espaços de atuação para manter o controle, aprofundando o vício de “pregar somente para convertidos”. Ou seja, não estão dispostos a ampliar a luta, trazendo mais e mais setores e pessoas, para aí sim disputar corações e mentes.

Mesmo diante do risco real da extrema-direita viva e atuante, apregoam que manifestações de combate ao fascismo e golpismo em que o PT esteja envolvido não servem, e que, portanto, “não vão se misturar”… Isolacionismo puro, percebam alguns exemplos dessa política praticada por eles:

Por que não ir às manifestações convocadas para 23 de março?

Por que não devemos ir às manifestações do 8J neste ano se queremos derrotar os golpistas?

É importante mencionar que a participação do Sindipetro-RJ na construção do ato do dia 23 de março foi dificultada pela maioria do PSTU na direção. É clara a influência dessa sua política sectária no funcionamento orgânico da atual diretoria do sindicato.

Além disso, eles insistem no medo dos fantasmas da FUP na nossa chapa. Eles terão que demonstrar essa ameaça materialmente, porém não vão conseguir. A nossa chapa é da FNP, carrega a logo explícita da FNP em todos os nossos materiais. Reivindicamos essa federação com orgulho! Nossa política de busca pela unidade foi endossada em votação pela ampla maioria da diretoria da FNP. Na nossa convenção de chapa, a votação de alinhamento com a FNP foi praticamente unânime. Nossa chapa conta com algo em torno de 10 diretores ou ex-diretores da FNP. A verdade é que a FUP é frágil no RJ. Nas últimas eleições, montaram uma chapa que teve algo entre 10% e 15% dos votos e sequer participaram do último congresso do Sindipetro-RJ.

A perspectiva real é que, assim como na assembleia eleitoral, todos os partidos de esquerda tendam a se alinhar de um lado, enquanto o PSTU tende a ficar sozinho. Esse ônus é deles próprios com todo seu sectarismo.

Por outro lado, eles mesmos tentam se esconder atrás da, assim chamada, chapa de Independência, como se ela não fosse completamente hegemonizada pelo PSTU/Petroleiros socialistas. Eles sabem da rejeição que seu partido e suas posições têm na base e, por isso, fingem não estar lá. Ocorre que, na gestão atual, já são cerca de 20 de 44 os diretores ligados ao PSTU / Petroleiros Socialistas (corrente que eles organizam). Façam as contas: como fica essa brincadeira numa nova chapa sem Resistência Petroleira e Unidade Classista? Uma prévia foi a participação da chapa deles na assembleia eleitoral:

– Dos 3 diretores na mesa, 2 eram do PSTU.
– Das 5 falas feitas por eles, 3 foram do PSTU/Petroleiros Socialistas.
– Hoje, dos 9 diretores com liberação do trabalho para atuação sindical do campo deles, 7 são dos Petroleiros Socialistas, sendo que 5 já foram candidatos a vereador ou deputado pelo PSTU.

Ou seja, o filme que eles querem passar sobre a FUP é “A Ameaça Fantasma”. Mas, a verdade é que o filme deles que estamos vendo é “Os Fantasmas se Divertem”!

O segundo caminho equivocado: atrelamento à gestão, ao governo e o pântano da cooptação

Afastar-nos do caminho do isolacionismo de maneira alguma se confunde com adotar postura igualmente errônea, de simetria oposta. Não vamos nos afundar no perigoso caminho pantanoso dos acordos de gabinete e cooptações de cúpula que servem para amarrar lideranças e apassivar o movimento sindical. Não coadunamos com a prática de indicação de gestores oriundos do sindicalismo, pois discordamos da postura de inversão do papel dos sindicatos: em vez de pautar as reivindicações e lutar por direitos, passar a se portar em posição de espera de orientações do governo e da gestão, servindo quase como correia de transmissão destes. A independência das entidades para nós é um valor inegociável.

No entanto, não vamos aceitar a postura de entrincheiramento contra a FUP.

Aceitar de antemão como algo imutável uma suposta negativa de acenos por parte da FUP não é uma boa decisão. Isso gera um esforço insuficiente, ou mesmo inexistente, na busca do diálogo necessário. Devemos tentar mais e mais vezes. Se a FUP não topar a mesa única e pauta única, perguntar o porquê e solicitar então que apresentem o que topariam alternativamente. Qualquer avanço é válido e não devemos medir esforços. Criar pontes e mecanismos de construção conjunta com a outra federação é uma atitude esperada pelos petroleiros, porque é uma condição necessária para maiores avanços e conquistas. Mesmo porque, a rejeição categórica dos acordos coletivos de trabalho por simples oposição aos indicativos da FUP não tem levado a ganhos significativos nas negociações. Muito pelo contrário, o cenário atual é de aceite tardio do acordo, sem uma vírgula de avanço sobre a proposta apresentada.

Todo histórico de desconfiança e atitudes negativas da alta cúpula da FUP não justifica que finquemos posição similar, mas em front oposto. Para que eles desçam do pedestal, será necessário que algumas lideranças da FNP desçam também do lado de cá, a fim de forçar um movimento do lado de lá. Assim como não somos homogêneos por aqui (tanto é que algumas diferenças do nosso campo têm se revelado), lá também há diferenças e contradições. A base espera de nós, dirigentes sindicais, que não economizemos esforços para construir condições melhores para a categoria, para a Petrobrás e para o Brasil. A FUP não é a inimiga, mas uma adversária política (que infelizmente se deixa instrumentalizar por inimigos, algumas vezes). Os inimigos da nossa classe são os fascistas e neoliberais, os grandes donos de capital nacionais e estrangeiros. Muitos ainda infiltrados na gestão e governo atuais, bem como seus representantes. Precisamos de algum grau de ação conjunta para combatê-los.

Existe um caminho entre o pântano e o parquinho

Percebam que em nenhum momento a campanha da chapa 1 cita a Unidade Classista e o PCB. Tampouco as mensagens da principal liderança da FUP o fazem, em sua ação tardia de busca de incidir sobre o processo eleitoral daqui. Isso tem explicação. Falar sobre nós fragilizaria a falsa tese binária de que fora do incrível mundo do PSTU, só existe a FUP. Da mesma forma, que fora da FUP todos são “golpistas”, sectários e do PSTU. Pois saibam que estamos triplicando o número de diretores indicados candidatos para a chapa da União em comparação com as últimas eleições, com contribuição numérica em equilíbrio com os companheiros da Resistência Petroleira. Estamos passando de uma posição política de coadjuvantes para coprotagonistas. Invisibilizar nossa corrente, além de desonesto, revela um certo medo do nosso crescimento e de botar por terra a construção artificial de somente dois polos: FUP e PSTU.

Apesar de toda a retórica agressiva, tanto do polo da FUP (que condena como golpista toda crítica à esquerda do governo) como do PSTU (que contra o governo abraça até mesmo bolsonaristas, costeando o alambrado, e ensaiando repetir aqui o fiasco do apoio aos nazistas ucranianos), quando observamos a resultante dessas políticas, nos deparamos com o mesmo efeito prático: O imobilismo.

O PT esvazia os atos contra a extrema direita enquanto Lula pede para não remoermos o passado (se referindo claramente ao golpe de 64), numa tática de curto prazo que se resume a “não dar motivo ao bolsonarismo”, enquanto confia nas instituições de estado para lidar com os arroubos “antidemocráticos” do bolsonarismo. O PSTU, por outro lado, destila seu sectarismo conclamando seu diminuto culto (mas ainda com influência no movimento dos trabalhadores) a não comparecer nos atos de 23 de março. Segundo eles, não só porque o mote não seria prisão dos criminosos da ditadura de 64 nem dos golpistas do 8 de janeiro de 2023, como também, porque grupos ligados ao PSOL e o PT estariam organizando o ato. No fim, o ato foi débil em comparação aos da extrema direita por grande responsabilidade desses atores.

Não queremos aqui usar o truque de “centristas” (a velha direita de roupa nova) e dizer que nós encarnamos o meio termo entre as duas posições “extremas”. Queremos, sim, fazer uma discussão séria, que consiga mostrar aos petroleiros que a política é multidimensional, multifacetada e muito mais complexa do que se imagina ou, como dizemos no jargão marxista: tem múltiplas determinações. Mas, acima de tudo, ela, assim como o mundo, é material e não ideal. “O que isso quer dizer?” pode se perguntar o leitor. Para nós, a consequência mais importante dessa máxima é que, na política, boa vontade ou estar correto, apesar de serem condições indispensáveis para o sucesso, não são nem de longe suficientes.

Se na FUP toda crítica ao governo é abafada em nome do mal menor (chegando a conciliar com o liberalismo mais rasteiro e filo fascista), no parquinho do PSTU, tudo aquilo que destoe de sua estreita visão política é acusado de conciliador. Isso cria um ambiente no qual se busca reduzir a realidade a uma dessas posições, enquanto todo um espectro de políticas, diferentes desses dois polos, mais consequentes ou mesmo inéditas, que poderiam ser experimentadas pelo movimento dos trabalhadores na tentativa de melhorar suas condições de vida e representação política, são ignoradas como se não existissem. Para o campo do PT, a correlação de forças (que para esses se confunde com números no congresso nacional) é insuperável. Para o PSTU, a correlação de forças é inexistente, tudo é uma questão da direção certa, o que para eles significa a direção que eles decidirem.

O leitor a essa hora deve estar se perguntando então, que plano de ação baseado na realidade, responsável, popular e democrático temos para oferecer no lugar dessas velhas políticas. E essa é uma pergunta acertada e que ficaremos felizes em responder.

O novo velho plano dos comunistas

Desde a década de 30 até a criação da Petrobrás em 53, os comunistas estiveram envolvidos em um amplo debate em que clamávamos pela criação de uma empresa estatal de exploração, produção e refino do petróleo brasileiro. Os liberais, bem como outros entreguistas de direita, propagandeavam que o Brasil não teria capacidade de desenvolver a produção do recurso (qualquer semelhança com o caso do Pré-Sal não é mera coincidência) e, portanto, este deveria ser entregue às empresas multinacionais. Desde o início dessa empresa, e até mesmo antes, nós, comunistas, sabíamos que quando as coisas parecem mais complicadas, trazer a sociedade, o povo para a jogada é a diferença entre a vida e a morte.

Durante a criação da Petrobrás não foi diferente. Com a criação da campanha “O Petróleo é Nosso”, os comunistas conseguiram galvanizar os anseios do povo por uma vida melhor, por enfiar as mãos na luta de classes e movê-la em nosso favor, do sofrido povo brasileiro. E é justamente nesse ponto em que reside a disputa pela correlação de forças. Somente quando o povo superar os fatores que limitam sua independência e crescimento é que teremos as condições para sobrepor as adversidades que se impõem à nossa vida e dignidade.

Nesta quadra da história, com o mundo mudando em ritmo acelerado, e as contradições globais se agudizando, tendo como consequência um pipocar de guerras ao redor do mundo, com a crise climática ceifando cada vez mais vidas por ano e com a sombra de novas catástrofes pairando sobre nós, mais uma vez, os comunistas têm por intenção lançar mão da mesma velha fórmula que tantas vezes nos trouxe vitórias: chamar o povo para a jogada.

É nossa responsabilidade, como povo brasileiro, lutar por uma Petrobrás forte e soberana, com atenção total de fato às pessoas. Esse _slogan_ precisa superar os limites da forma e tomar corpo na realidade. A farra dos dividendos ordinários e extraordinários precisa acabar e esses recursos não só podem como devem ser revertidos em melhores condições, tanto para os trabalhadores que geram esse valor (aposentadoria digna, AMS com qualidade e custeio justo, planos de carreira que fidelizem os trabalhadores a despeito do assédio das empresas privadas e estrangeiras, valorização do conhecimento acumulado em todo e cada um que constrói a Petrobras etc.), como para o todo da sociedade, sendo revertidos em educação e saúde públicas e de qualidade, infraestrutura (transporte, saneamento etc.), acesso a bens de consumo (barateando os combustíveis e, por consequência, o transporte de cargas) entre outros.

E não para aí! Para conquistar tudo isso, precisamos reverter o baixo número de associados ao sindicato e recuperar a crise de representatividade instaurada. Precisamos retomar os comitês de base em cada local de trabalho, ampliar, e não diminuir, os espaços de participação direta dos trabalhadores, precisamos avançar na formação política e econômica da base, dando munição para as disputas ideológicas que observamos cotidianamente nas mídias e em nossa vida social, com o objetivo de descredibilizar e desmontar essa empresa que é, sozinha, a maior fonte de geração de valor do nosso país. Não podemos entregá-la de bandeja para o capital estrangeiro. Como diz o ditado: só se jogam pedras em árvore que dá frutos. Precisamos acordar a tempo de evitar o corte da árvore Petrobrás. Nesse sentido, contamos com vocês, cada uma e cada um, petroleiro, estudante, sindicalizado, ainda não sindicalizado, professor, enfim, todos os setores da sociedade. É na união que reside a força da Petrobrás e do nosso país.

Em suma, é por isso que vamos mais uma vez de União, sem perder a independência de classe! A “independência” que a chapa 1 propõe, sem qualquer capacidade de união, não tem força, é uma fraude. É sectarismo, autoproclamação e isolamento político. Por outro lado, querer uma união sem marcar o caráter classista e de luta, partindo para o abraço com quem dorme com o inimigo, também é um caminho sem volta! Por isso, somos Chapa 2 – União – Sindipetro-RJ pode mais!

Somos FNP, somos classistas e independentes!

*Wesley Brito é diretor da FNP e do Sindipetro-RJ, além de militante da Unidade Classista e PCB
**Gustavo Marun é diretor da FNP, AEPET, Sindipetro-RJ e militante da Unidade Classista e PCB.