Sobre a “Conclat” das Centrais Sindicais

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A “Conclat” do Fórum das Centrais Sindicais não será uma Conferência

As centrais sindicais brasileiras, tanto as oficiais quanto as que não possuem registro formal, anunciaram a realização de uma Conferência da Classe Trabalhadora para o dia 07 de abril deste ano, iniciativa que nos pareceu bastante correta, uma vez que defendemos há anos a necessidade de um processo nacional de reorganização e mobilização da classe trabalhadora, diante de uma conjuntura em que necessitamos organizar uma potente contraofensiva dos trabalhadores para reverter as derrotas dos últimos anos e para avançar rumo a novas conquistas.

Nossa corrente sindical, a Unidade Classista, propôs já em outubro do ano passado a realização de uma PLENÁRIA NACIONAL DA CLASSE TRABALHADORA ainda no primeiro trimestre de 2022, com a convocação de todos os sindicatos de trabalhadores do Brasil, com a participação dos movimentos populares e da juventude, para analisar a conjuntura, construir um programa classista, um calendário de lutas e visando construir uma greve geral para derrotar Bolsonaro e sua política econômica.

Mas vejamos a proposta. Nos documentos em que as centrais anunciam o evento, referem-se inclusive à Conclat de 1981, realizada em Praia Grande/SP, que contou com a participação de cerca de 5000 trabalhadores de diversos ramos e de todas as regiões do Brasil; debateu a conjuntura nacional e internacional; aprovou uma pauta e um plano de lutas e deliberou sobre uma comissão para organizar a fundação da CUT – que naquele momento representava a retomada de um sindicalismo combativo e capaz de mobilizar a classe trabalhadora para as lutas e para a vitória sobre a ditadura militar-burguesa instalada no país.

Porém, apesar de referirem-se à histórica e vitoriosa Conclat de 1981, a “Conclat” deste ano será bem mais “modesta”, pois as centrais pretendem apenas apresentar nela uma pauta previamente consensuada com os presidenciáveis de 2022. Entre os itens até agora propostos nos documentos básicos, temos alguns pontos relevantes, entretanto, esses documentos sequer utilizam a palavra revogação quando se referem às contrarreformas trabalhista e previdenciária.

Entretanto, o conteúdo do documento inicial não é o único problema: justamente para não ir além de exigências que as candidaturas de conciliação de classes sejam capazes de abraçar, essa “Conclat” será, na sua forma, um evento pontual e não uma conferência democrática desde as bases, que permitisse efetivamente a mobilização e discussão dos rumos do movimento pelos trabalhadores. Ao que tudo indica, além de não contar com etapas democráticas desde as bases, nem foram e nem serão convocados todos os sindicatos de trabalhadores do país para discutir o documento final a ser apresentado. Sabota-se, assim, o processo de mobilização de todo o conjunto da classe trabalhadora que poderia derivar da construção de uma verdadeira conferência.

Para superar a atual correlação de forças, extremamente desfavorável aos interesses da classe trabalhadora, que sofre com a intensificação dos ataques nos últimos anos, necessitamos sim, e mais do que nunca, deflagrar um grande processo de debate e mobilização junto a todas as categorias de trabalhadores.

Uma verdadeira Conferência Nacional da Classe Trabalhadora – CONCLAT – precisaria necessariamente convocar todos os sindicatos de trabalhadores do país, filiados e não filiados às centrais, debater por ramos e regiões, com trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade para consultá-los e responsabilizá-los pela autoria da pauta e do plano de lutas.

Infelizmente, os anos de Bolsonaro, Temer, o golpe contra Dilma e os anos de conciliação dos governos do PT não foram suficientes para que as centrais sindicais brasileiras e seus dirigentes pudessem entender que a classe trabalhadora precisa ser autora de seus projetos imediatos e históricos, com independência de classe.

Não faltam motivos para que, a partir dos setores organizados da classe, possamos fomentar ações de debate e mobilização dos trabalhadores, que a cada dia sofrem mais por viverem em um país com mais de 650.000 mortes por COVID-19, com a inflação, principalmente derivada dos preços de combustíveis, do gás de cozinha e dos alimentos da cesta básica, com um governo federal assassino e entreguista como o de Bolsonaro, com a maioria esmagadora de governos estaduais e municipais reacionários, com a fome e a miséria crescendo de forma alarmante, a taxa de desempregados recorde, que já atinge mais de 20 milhões, incluídos os chamados desalentados, em que mais de 40 milhões trabalham sem registro, e com um déficit de moradias e de saneamento básico gigantesco.

Porém, as péssimas condições de vida de nosso povo e a crescente rejeição aos governos reacionários ainda não se materializaram no crescimento das manifestações e greves.

Tal fato reforça a necessidade de um trabalho ativo para, a partir dos setores organizados, desenvolver consciência de classe e um sindicalismo combativo, que seja capaz de construir um programa de lutas emergencial e que aponte para a construção de um futuro socialista.

É tarefa primordial continuar mobilizando trabalhadores, sindicatos, movimentos populares e a juventude nos locais de trabalho, moradia e estudo, nos pontos de ônibus, barcas, metrôs e trens e nas portas de fábrica, para construirmos e enraizarmos junto aos diversos setores da classe trabalhadora a urgência das lutas.

Também devemos manter e ampliar as manifestações e as ações de solidariedade com os setores mais atingidos pela carestia, pela fome e pela miséria, fortalecer o debate programático com os setores organizados e com o conjunto da classe trabalhadora, construir mobilizações e greves nas categorias que estão sendo frontalmente atacadas e manter a greve geral como objetivo.

Além disso, é mais do que necessário trabalhar por uma CONFERÊNCIA/ENCONTRO/PLENÁRIA NACIONAL DA CLASSE TRABALHADORA, baseada na verdadeira democracia operária, que convoque todos os sindicatos de trabalhadores do Brasil e que também tenha a participação dos movimentos populares e da juventude, com o objetivo de analisar conjuntura, construir um programa e um calendário de lutas nacional, inclusive com a convocação de uma greve geral para derrotar Bolsonaro e preparar a classe trabalhadora para todas lutas que virão, para muito além das eleições.

Avante, camaradas!

É FORÇA E AÇÃO, AQUI É O PARTIDÃO!

Secretaria Sindical do PCB