40 anos sem Gregório Bezerra

Em 21 de outubro de 1983 faleceu um dos grandes heróis do povo trabalhador camponês e operário do Brasil e do mundo, o comunista e revolucionário Gregório Bezerra. Gregório nasceu em Panelas, município do agreste pernambucano, localizado na zona de transição da mata sul e do agreste.

Começou a trabalhar aos 4 anos de idade ajudando seus pais, camponeses pobres de Panelas, arrancando mato, cortando cana e realizando outras tarefas no campo. Aos 7 anos ficou órfão dos pais e foi criado pela avó. Aos 10 anos foi com uma família de proprietários de terra morar no Recife. Devido aos duros e humilhantes trabalhos domésticos, foge e vai morar nas ruas do Recife.

Trabalha como carregador de fretes, fazendo mandados e vira vendedor de jornal. Como ajudante de pedreiro em 1917, participa da greve geral no Brasil, e nos embates com a polícia foi preso e ficou mais de 5 anos na Casa de Detenção do Recife, hoje Casa da Cultura de Pernambuco. Aos 26 anos aprende a ler e escrever e passa num concurso de sargento instrutor de educação física e de tiro no exército brasileiro.

Em 1930 ingressa no PCB, partido no qual militou até o final de sua vida. Em 1935 participa da ANL e do levante antifascista em novembro daquele ano. Foi preso, expulso do Exército e só saiu da prisão com a anistia em 1945. Naquele ano se elege deputado federal constituinte pelo PCB, integrando a bancada comunista sob a liderança de Luiz Carlos Prestes.

Em 1948, com a cassação do registro do PCB, Gregório foi cassado junto com todos os mandatos parlamentares, tendo sido preso e acusado de comandar um incêndio de um quartel em João Pessoa, mesmo vivendo no Rio de Janeiro. Sem provas, é solto e da prisão segue para a clandestinidade e vai viver com outra identidade, no Estado de Goiás e na região, estruturando as ligas camponesas, movimentos de luta pela paz e atuando na organização clandestina do Partido.

Em 1958 é preso no Recife e, após libertado, volta a atuar politicamente nas ligas camponesas em Pernambuco, nas campanhas de Cid Sampaio para governador em 1958, de Miguel Arraes para prefeito em 1959 e para governador em 1962. No início dos anos 60 prioriza seu trabalho militante pelo PCB na organização dos sindicatos de trabalhadores rurais da zona da mata canavieira.

Em 1964 ele estava com os trabalhadores da cana organizados para enfrentar o golpe civil-militar, mas pela falta de armas que ele havia solicitado ao governo, ele vai ao campo desmobilizar esses milhares de agricultores, é preso e levado ao quartel do Exército em Recife, onde é espancado e barbaramente torturado. Com cordas amarradas no pescoço, é arrastado pelas ruas do bairro da Casa Forte e levado para ser enforcado na praça. Devido aos protestos e à ação da madre superiora do colégio Sagrada Família, que pede ao comandante do IV Exército para parar aquela ação hedionda, se decide suspender o enforcamento e Gregório é recolhido ao presídio.

Em 1969 Gregório foi um dos presos politicos trocados pela liberdade do embaixador estadunidense que havia sido detido por organizações revolucionárias. Em 1979 volta do exílio e, em 1982, se candidata a deputado federal, ficando na 4° suplência.

Em 21 de outubro de 1983 se encanta e deixa um dos legados mais inspiradores para as lutadoras e lutadores por um novo mundo de igualdade, sem explorados e nem exploradores, pelo socialismo. O poeta Ferreira Gullar sintetizou o que era Gregório Bezerra, no poema “A história de um Valente” , quando disse, num dos versos: “(…)Mais existe nesta terra, muito homem de valor, que é bravo sem matar gente, mas não teme matador, que gosta de sua gente e luta a seu favor, como Gregório Bezerra, feito de ferro e de flor (…)”. Em 2011 a editora Boitempo reedita as Memórias de Gregório Bezerra.

Ele é um exemplo de homem, de revolucionário e de cidadão e deve servir de inspiração para todas as gerações presentes e futuras!

Texto e foto de Roberto Arrais (Jornalista e membro do CC do PCB)