Deputado comunista de Israel repudia genocídio
Ofer Cassif, deputado do Partido Comunista de Israel, eleito na coligação Hadash, segura uma bandeira da Palestina durante uma manifestação contra o despejo de uma família palestina na Cidade Velha de Jerusalém. 16 de Junho de 2023 – Créditos: Ahmad Gharabli / AFP/NTB
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«Tenho o direito, e até o dever, (…) de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para impedir» o genocídio. Ofer Cassif, comunista, enfrenta moção de expulsão no Knesset: «mas a minha carreira política é um meio, não um fim».
«Os atos e as omissões de Israel sob denúncia da África do Sul têm caráter genocida porque se destinam a destruir uma parte substancial do grupo nacional, racial e étnico palestino». Em 28 de dezembro de 2023, o Estado sul-africano deu início, junto ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) das Nações Unidas, aos procedimentos necessários para acusar, formalmente, Israel da prática de genocídio.
O processo, que tem uma primeira audiência agendada para os dias 11 e 12 de janeiro, conta já com o apoio da Jordânia e da Bolívia. O apoio menos esperado surgiu, no entanto, na noite de domingo passado: Ofer Cassif, judeu, deputado no Knesset (parlamento de Israel), anunciou publicamente o seu apoio ao processo judicial movido internacionalmente contra o seu próprio país.
«O meu dever constitucional é para com a sociedade israelense e todos os seus habitantes, não para com um governo cujos membros e coligação [do Likud, de Benjamin Natanyahu, com vários partidos de extrema-direita] apelam para a limpeza étnica e até para um verdadeiro genocídio», afirmou Cassif, eleito pelo Partido Comunista de Israel na coligação de esquerda Hadash. «São eles que prejudicam o país e o povo, são eles que levaram a África do Sul a recorrer a Haia».
«Quando o governo age contra a sociedade, o Estado e os seus cidadãos, sobretudo quando os sacrifica e comete crimes em seu nome no altar da manutenção da sua existência, tenho o direito e até o dever de alertar para isso e de fazer tudo o que estiver ao meu alcance dentro da lei para o impedir».
Deputados sionistas do Knesset iniciam procedimentos para expulsar Ofer Cassif
Oded Forer, deputado do partido conservador Yisrael Beitenu e antigo ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural/Desenvolvimento da periferia, Neguev e Galileia no governo de Naftali Bennett, anunciou que, em retaliação, já tinha começado a recolher as 70 assinaturas de deputados necessárias para cassar o mandato popular de Ofer Cassif.
Demonstrando, uma vez mais, que o propósito da cúpula do poder de Israel é, não só a limpeza étnica do povo palestino, mas também a consagração de um Estado proto-fascista, onde a perseguição de opositores não só é natural como desejável, Forer termina as suas declarações garantindo que Ofer Cassif, por não abdicar das suas convicções, «em breve terá de se encontrar fora das fronteiras do Knesset e, de preferência, fora das fronteiras do Estado de Israel».
A escritora israelense Magi Otsri, nas redes sociais, alertou o deputado comunista de que a sua posição não estaria ajudando ninguém e «certamente não estará ajudando a sua carreira política». Em resposta, Ofer Cassif reiterou a justeza da sua posição e deixou uma importante lição sobre o papel daqueles que lutam pela paz e pelos direitos (de todos): «a minha carreira política é um meio, não um fim». Ainda há quem sirva a política, embora haja muitos que dela se sirvam para os seus próprios fins.
«Não abdico da luta pela nossa existência como sociedade moral. Este é o verdadeiro patriotismo – sem guerras de vingança e apelos ao extermínio, sem derramamentos de sangue desnecessários e sem o sacrifício de cidadãos raptados e soldados em guerras falsas».