Plano Condor: começa o julgamento

Começa nos tribunais argentinos o julgamento da Operação Condor. Várias dependências sofreram ameaças de bomba. Na causa serão julgados os ditadores latino-americanos.

RESUMEN LATINOAMERICANO/ A poucas horas do começo do julgamento oral do Plano Condor, a Secretaria de Direitos Humanos e o Arquivo Nacional da Memória, que funciona no prédio da ex-ESMA, receberam ameaças de bomba. Nos dois casos, tratou-se de telefonemas do autodenominado “Comando Patriótico”, que exigiu “o fim” dos julgamentos dos militares acusados de violações aos direitos humanos.

As mensagens intimidadoras foram recebidas ao meio-dia e após sua denúncia, as sedes de ambos os organismos foram evacuadas preventivamente, enquanto a brigada de explosivos da polícia Federal inspecionava com cachorros os edifícios.

No caso da Secretaria, situada na 25 de Maio, 500, foram dois telefonemas, em tentativas diferentes, que foram atendidos por funcionários. A polícia percorreu os escritórios, assim como os sótãos e a garagem não encontrando nada. Somente duas horas depois o expediente foi normalizado.

Também não foram encontrados explosivos no prédio da ex-Escola de Mecânica da Armada.

Hoje, em Buenos Aires, começaram as audiências acerca dos crimes cometidos no marco do Plano Condor, a operação de colaboração repressiva das ditaduras do Cone Sul. Nelas, serão julgados vinte e cinco repressores, entre eles Jorge Rafael Videla, Reynaldo Benito Bignone, Santiago Omar Riveros, Luciano Benjamín Menéndez e Antonio Vañek. No debate, serão tratados o sequestro e o desaparecimento de 106 vítimas do Condor, entre uruguaios, argentinos, paraguaios, bolivianos, chilenos e um peruano. No banco dos réus também estará sentado o uruguaio Manuel Cordero, que atuou no centro clandestino de Automotores Orletti.

Videla enfrentará, a partir desta semana em Rawson, capital de Chubut, o julgamento oral pela morte do militante e advogado Mario Abel Amaya e pelo sequestro e pelas torturas sofridas pelo dirigente radical Hipólito Solari Yrigoyen durante a detenção de ambos na Unidade Penitenciária Nº 6 dessa cidade.

Após as ameaças de bomba, o subsecretário de Direitos Humanos, Luis Alén, advertiu que “não tem volta” com relação ao julgamento dos repressores do terrorismo de Estado. “É preciso um respaldo massivo às políticas de Memória, Verdade e Justiça impulsionadas pelos presidentes Néstor Kirchner e Cristina Fernández de Kirchner”, assinalou.

“É o típico modus operandi dos nostálgicos da ditadura militar que buscam amedrontar, instalar o medo”, acrescentou Agustín Di Toffino, secretário executivo do Conselho Federal de Direitos Humanos. “Nós vemos no movimento de direitos humanos de Córdoba, onde isto acontece constantemente. É algo comum, por exemplo, que as ameaças ocorram às vésperas de audiências”, comentou o funcionário que integra a equipe do secretário de Direitos Humanos, Martín Fresneda.

Segundo contam na sede da organização, existem antecedentes de telefonemas intimidadores ocorridos anos atrás, durante a gestão de Eduardo Luis Duhalde.

As ameaças geraram repúdios imediatos. “Estas expressões desprezíveis vem de grupelhos extemporâneos, que não possuem outro fundamento que não seja o ódio residual que persiste neles”, advertiu Guido Carlotto, o secretário de Direitos Humanos bonaerense. “Nem os âmbitos institucionais e nem as organizações militantes que acompanham a política de Memória, Verdade e Justiça deixarão de empreender esforços para que os responsáveis militares, civis e seus cúmplices recebam o castigo que estipula a Justiça”.

Além disso, a própria secretaria afirmou “entender que a continuidade e o aprofundamento não se deve a um capricho partidário, mas que responde ao mandato que emerge da sociedade argentina, na qual os valores que habitam na política de Memória, Verdade e Justiça são sentidos na carne indubitavelmente”.

No mesmo sentido, se expressaram organizações sindicais e sociais, como os metroviários e as cooperativas de trabalho. “Somos solidários com os companheiros e companheiras que trabalham no prédio da ex-ESMA”, assinalaram os integrantes da cooperativa de recuperadores urbanos La Madreselva, que também expressaram seu “apoio incondicional aos organismos de direitos humanos”.

Fonte: Página12

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)