Os 110 anos do camarada ‘Mimo’
“Há 110 anos, em 13 de março de 1903, nascia em Imaruí, pequena cidade do sul do estado de Santa Catarina, o camarada Manoel Alves Ribeiro, o Mimo, como era conhecido, militante comunista desde os anos 30 do século passado até o seu falecimento em 29 de setembro de 1994. Foram décadas de dedicação à luta do nosso povo.” Assim começa texto biográfico sobre o camarada “Mimo”, publicado originalmente no site da Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes.
Autodidata, não cursou mais que os primeiros anos de escola, Mimo era dotado de uma inteligência, habilidade e perspicácia incomuns. Quem o conheceu, quem o viu falar em público, foi testemunha de verdadeiras aulas de oratória. Tinha uma capacidade própria de se dirigir ao público. Cativava e entretinha a platéia com um misto de coerência, convicção revolucionária e bom humor.
Desde muito cedo, Mimo, teve que se virar para ganhar a vida. Trabalhou em mina de carvão, na construção da ponte Hercílio Luz, símbolo da cidade de Florianópolis. Nessa cidade viveu a maioria de sua vida. Nessa cidade se elegeu vereador. Mimo foi militante do PCB – Partido Comunista Brasileiro, desde os anos 30.
do século passado até o rompimento com a política da direção do partido liderada por Luiz Carlos Prestes. Seus últimos anos de militância foram dedicados ao embrião do ue hoje se chama CCLCP (Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes) e também dedicados ao ICASP (Instituto Cultural de Amizade e Solidariedade aos Povos), fundado em 1985, entidade da qual era presidente de honra e que desenvolvia um trabalho de solidariedade aos povos da América Central e Caribe. Mimo se orgulhava muito da profissão que abraçou, e quando perguntavam qual era sua profissão, dizia com orgulho: “sou operário eletricista”. Um dos seus ensinamentos é que nós temos que buscar ser os melhores no que fazemos, fazer as coisas da melhor forma, com conhecimento científico e garra.
Entre muitas de suas qualidades, pude testemunhar sua disciplina férrea, sua convicção profunda na causa do socialismo, sua intransigência na defesa do campo socialista liderado pela URSS (União da Repúblicas Socialistas Soviéticas), sua ternura no trato com os amigos e camaradas.
Mimo visitou a União Soviética, como militante do PCB, a convite do PCUS (Partido Comunista da União Soviética). Testemunhou a construção da sociedade socialista soviética, sua ascensão e nos últimos anos de sua vida a desintegração do campo socialista do leste europeu e da URSS. Queda esta testemunhada com muito pesar. Ao contrário de alguns que renegaram o exemplo da URSS e dos demais países socialistas, e renegaram inclusive a luta pelo socialismo, Mimo até os últimos dias de sua vida manteve firme sua convicção revolucionária, tanto em relação aos ideais pelos quais lutou quanto na convicção de que um dia a URSS retomará seu caminho socialista. Jamais proferiu qualquer palavra contra esta grande experiência revolucionária levada a cabo pelo povo soviético. Ao contrário sempre fez questão de citar a imensa contribuição soviética para com a luta dos povos em todos os continentes, notadamente na Europa onde liderou a luta contra o nazismo e venceu, na contribuição às lutas dos povos da Ásia, África e América Latina – Coréia, Vietnam, Guiné Bissau, Moçambique, Angola, Etiópia, Cuba, etc.
Mimo deixou para nós, além de seu exemplo de vida e de militância, um relato autobiográfico intitulado “Caminho”, livro publicado em meados dos anos 80, repleto de histórias, pleno de sua experiência de vida. Em parte deste depoimento, Mimo teve que omitir nomes, pois eram pessoas ainda vivas e, como manda a boa tradição não se pode dar informações para não comprometer pessoas e estruturas. Este livro é leitura obrigatória para todos que querem conhecer um período muito importante da história brasileira. Leitura tão necessária quanto os clássicos da literatura revolucionária.
Apesar de uma vida repleta de agruras e dificuldades, devido à sua militância, às suas convicções e sua conduta, jamais escutei dele qualquer queixa, amargura ou ressentimento. Muito pelo contrário, dele só escutava palavras de incentivo, de firmeza, de convicção revolucionária, de coerência, de carinho e de necessidade de caminharmos sempre adiante na luta pelo progresso social e pelo socialismo.
Mimo, também, deixou três filhos – Glorinha, Telmo e Luiz Carlos, este em nome em homenagem a um dos maiores revolucionários brasileiros, Luiz Carlos Prestes.
Mimo foi um dirigente ativo do PCB. Participou de congressos do partido. Conheceu dirigentes do quilate de Luiz Carlos Prestes, Gregório Bezerra e Carlos Marighella. Admirava profundamente estas três grandes figuras de nossa história, como também admirava gente da estirpe de Carlos Lamarca. Ao contrário de alguns militantes do PCB da época valorizava profundamente os militantes comunistas que pegaram em armas nos anos 60 e 70 para lutar contra a ditadura militar. Sobre Marighella, Mimo ressaltava a sua coerência, devoção e entrega à causa. Admirava profundamente sua figura sempre consonante o seu discurso com a sua prática, as suas idéias com suas ações, apesar de que dentro do PCB, Mimo sempre seguiu as posições de Prestes.
Guardo um grande orgulho e agradeço muito por ter convivido com o Velho Mimo, na última década de sua vida. Agradeço-lhe muito pelas palavras e pelo seu carinho, pelo exemplo de vida, por sua conduta, disciplina e firmeza. As pequenas atitudes formam parte de um todo e, dele sempre vi atitudes positivas, de confiança no futuro, de confiança na luta dos povos, de certeza que a humanidade se libertará do jugo imperialista e da exploração capitalista, e que nós temos que contribuir para isso e não esperar que isso caia do céu ou que os outros façam.
Jamais esquecerei as palavras da escritora catarinense Zuleika Lenzi durante o velório do seu Mimo, que disse mais ou menos o seguinte: “Vocês que não viram este homem discursar em praça pública, perderam a oportunidade de se encantar, como eu me encantei quando via o Mimo pegar um engradado, subir em cima dele e se dirigir ao povo com uma singeleza e uma ternura muito próprias, com palavras justas, sábias e de confiança no nosso povo e na necessidade de lutarmos”.
O exemplo do Velho Mimo segue presente. Manoel Alves Ribeiro, presente!
Maurício Tomasoni, dirigente estadual da CCLCP (texto atualizado e publicado originalmente em 2011, quando comemorou-se 108 anos de nascimento)
Assista a entrevista de Manoel Alves Ribeiro para o Curso de Jornalismo da UFSC em agosto de 1989:
Parte 1:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=jAn4Bp0MybI
Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=h53Ps70Nd7U
Parte 3: