NA LUTA PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA:

Sérgio Cabral e Eduardo Paes colhem atualmente os frutos que plantaram: o governador e o prefeito, bem como seus padrinhos econômicos, tem sido constantemente questionados nas ruas, por diversos protestos populares. A realidade nos mostra que as máscaras, por mais sofisticadas que sejam, podem cair. Com a bênção da presidenta, ambos vinham se autoproclamando como símbolos da celebrada sintonia política, aparentemente blindada, entre as esferas federal, estadual e municipal.

Provavelmente não podiam prever que esse mesmo alinhamento entre PMDB, PT, PCdoB, PSB, etc., produziria no Rio de Janeiro a intensificação de um conjunto de revoltas e lutas, algumas vezes articuladas, em resposta aos projetos desse bloco governista que atualmente equivale, em termos de conteúdo político de fundo, a partidos como PSDB, DEM, PPS, REDE, etc. – embora mantenham diferenças entre si quanto às formas de administrar o desenvolvimento capitalista.

No contexto da resistência, desde o dia 8 de agosto os profissionais da educação pública tanto do estado do RJ como da capital, representados pelo SEPE, vem realizando uma greve unificada. Não poderia ser diferente: as duas redes, a exemplo de outros lugares do Brasil e demais países capitalistas, vem sofrendo com a obediência dos governos à cartilha do Banco Mundial.

Na prática, esse modelo verifica-se com:

a) a predileção de economistas, em vez de educadores, para estarem à frente das secretarias de educação – notadamente os casos de Wilson Risolia e Claudia Costin;

b) o corte de investimentos, achatando salários, reduzindo a carga horária de disciplinas como filosofia e sociologia, aumentando o número de alunos por turma, descumprindo a lei que prevê 1/3 da carga horária docente para planejamento, sucateando a estrutura física e fechando escolas;

c) o beneficiamento de grupos privados, com altos aluguéis de aparelhos de ar condicionado, terceirizações de funcionários, compra de apostilas, convênios com cursos particulares, compra de material audiovisual (especialmente da Fundação Roberto Marinho), contratações de empresas para a elaboração de provas externas, compra de computadores que ficam entulhados… tudo sem consultar os educadores sobre as reais necessidades das escolas. Cabe lembrar dois exemplos explícitos: a Seeduc mandou distribuir para os professores estaduais cerca de 60 mil exemplares do livro “Depende de Você”, escrito por Andrea Ramal, consultora da TV Globo. Já a empresa Estrela foi agraciada com a compra de 20 mil exemplares de uma versão do “Banco Imobiliário” que fazia propaganda da prefeitura;

d) o cerceamento da autonomia pedagógica, com assédio moral, aumento do controle, imposição de currículos e pacotes “didáticos” mal conjugados a avaliações padronizadas, que ignoram as diferenças entre as escolas;

e) a meritocracia, ou seja, destruição dos planos de carreira e concessão de eventuais bônus salariais para os profissionais que cumprirem metas arbitrariamente estabelecidas pelos governos, com fundamentos técnicos controversos, a partir das quais busca, efetivamente, fazer marketing eleitoral. Isso inclui a aprovação automática indireta, já que os profissionais se veem pressionados a atingir determinadas estatísticas para receber recompensa financeira;

f) o ataque à democracia nas escolas, com a indicação ou seleção unilateral de “gestores” pelos governos, impedindo as eleições diretas de diretores pelas respectivas comunidades escolares. Além disso, na rede estadual, implementou-se um programa de inserção de policiais militares nas escolas, enquanto as mesmas não contam com psicólogos, assistentes sociais, muitas vezes nem mesmo inspetores, porteiros e professores suficientes.

Para essas e outras razões que, assim como as manifestações de junho não eram “só por 20 centavos”, as greves da educação não são só por aumento salarial.

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