O EXEMPLO DOS GARIS DO RIO
A vitória dos garis, no Rio de Janeiro, tem significado emblemático, em vista do que tiveram que enfrentar.
Observemos a sequência dos fatos. Garis entram em greve com reivindicações justíssimas. O sindicato pelego aceita a proposta da Comlurb, muito inferior ao reivindicado. Os setores mais combativos mantêm a greve. O lixo amontoa-se por toda a cidade. Unem-se contra os grevistas a Prefeitura, a Comlurb, o sindicato pelego e a mídia. Eles são acusados de minoria não representativa e oposição ao sindicato pelego, de fazer política partidária e para determinados candidatos, de usar o Carnaval para chantagear a população, de pretender desestabilizar a cidade.
O prefeito sujismundo demite 300 grevistas. Depois, volta atrás, sob a condição de que “retornem imediatamente ao trabalho”. Pressionados, eles sim chantageados, alguns retornam.
Novas acusações: grevistas ameaçam os que voltaram, promovem violência (nunca documentada), fazem motim. A Comlurb promete deixar limpa a cidade no fim de semana. Arma-se o circo midiático da “proteção da polícia aos garis que querem trabalhar”. E os grevistas firmes, nas ruas.
E aqui há um dado decisivo: a população, de modo geral, não ficou contra os garis, mesmo que diretamente atingida pela greve. A experiência das lutas do ano passado deixou marcas positivas em todos os segmentos do povo carioca. Nada mais será como antes.
No dia seguinte ao último arroubo autoritário/descompensado, o prefeito sujismundo mandou a Comlurb ceder. A proposta antes aceita pelo sindicato pelego era de 9 por cento; a resistência grevista obteve agora 37 por cento. Uma vitória improvável, por isso ainda mais importante.
A greve dos garis do Rio será exemplo para as reivindicações que vêm por aí. Firmeza de propósitos, unidade, combatividade, resistência, apoio da população – eis os ingredientes da receita de vitórias.
*Felipe Oiticica é militante do PCB-RJ