Ao Grupo de Trabalho do Fórum de São Paulo:
México, DF, 1° de dezembro de 2014
Ao Grupo de Trabalho do Fórum de São Paulo:
Em 25 de novembro, quase dois meses depois do massacre de Iguala, no qual 6 jovens foram assassinados e 43 desapareceram, o Fórum de São Paulo emite uma declaração sem nenhuma autocrítica, silenciando verdades e colocando sua credibilidade em questão, que o leva a assumir cumplicidades desnecessárias, pois tenta estender um manto protetor sobre o principal responsável pela tragédia.
Nós não podemos calar essas verdades e consideramos nosso dever expressá-las.
O Partido Comunista do México, então com nome de Partido dos Comunistas Mexicanos, foi admitido como membro do Fórum de São Paulo no X Encontro, que se reuniu de 4 a 7 de dezembro de 2001. Então, considerávamos que o FSP era um espaço necessário para lutar contra as políticas do capital e contra a ingerência e agressividade do imperialismo na região. Foi um espaço articulador na América Latina durante o período que seguiu à derrota temporária do socialismo na URSS e ao triunfo da contrarrevolução.
Ao participar, no entanto, fomos observando que estas apreciações não correspondiam com a realidade do FFSP:
-O FSP endossou a presença militar brasileira contra o povo haitiano.
-Membros importantes do FSP e de seu GT praticamente exigiram a deposição das armas das FARC-EP, responsabilizando a continuidade da luta armada pela derrota dos chamados governos progressistas da América do Sul, como se a perda de influência eleitoral não fosse assunto de sua estrita responsabilidade. Além disso, não podemos esquecer que o GT do FSP praticamente expulsou as FARC-EP do FSP.
-O FSP cometeu erros graves ao desdenhar o processo bolivariano da Venezuela em seus primeiros anos.
-No FSP apenas os “grandes partidos” decidem, aqueles que possuem funções governamentais ou grande presença parlamentar em seus países, e todos os demais são convidados ornamentais. Os Encontros têm um formato que exclui qualquer debate. A questão de fundo é o assunto do progressismo e a gestão alternativa keynesiana – porém, sempre nos marcos do capitalismo –, pela qual optaram os partidos pertencentes ao FSP que governam no cone sul e, por isso, o formato deve excluir as vozes discrepantes. Estes governos aplicam políticas de choque contra a classe trabalhadora e contra as camadas populares, favorecem os monopólios, abrem caminho para a exportação de capitais destes monopólios a outros países da América Latina, explorando os trabalhadores de outros países, despojando terras, afetando a natureza e o meio ambiente. É por isso que o FSP favorece a integração com projetos políticos de similar natureza de classe, como o Partido da Esquerda Europeia, que tem como objetivo que a União Europeia seja o cárcere dos povos e da classe operaria da Europa, e que somente maquia com outras gestões a agressividade do capital contra o trabalho.
São vários os assuntos a serem discutidos, porém, neste caso, queremos nos concentrar nesta declaração (http://forodesaopaulo.org/comunicado-sobre-el-masacre-de-ayotzinapa/), por demais ofensiva e repugnante contra nosso povo.
O Grupo de Trabalho omite que um de seus importantes componentes é o Partido da Revolução Democrática (PRD) e que foi este partido que levou José Luis Abarca, o criminoso prefeito de Iguala, Guerrero, ao governo, que ordenou a repressão contra os estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa. Mais ainda, o PRD, em coalizão com o PT (que sem ser membro do GT do FSP, aparece nas reuniões deste e, no marco de seu Seminário anual, financia algumas reuniões do GT), postulou Ángel Aguirre, o hoje destituído governador de Guerrero, que favoreceu a repressão, encobriu e é um dos principais responsáveis. Além disso, Aguirre e o PRD foram apontados pelo PCM como os responsáveis diretos pelo assassinato de cinco comunistas em Coyuca de Benítez, Guerrero, em agosto e novembro do ano de 2013.
Não há dúvida de que o Grupo de Trabalho não possui a menor ideia do que Ayotzinapa significa, nem do que pode passar o México, pois cerra fileiras com um partido tão desprestigiado como o PRD, um partido que protege criminosos, um partido a serviço dos monopólios, um partido em profunda crise interna.
O PRD não á penas o responsável pelo crime, é também corresponsável do que este detona. Ayotzinapa é a gota que derrama o copo, do que brotam as camadas populares à mobilização, que está em todas as ruas das grandes cidades, povoados e absolutamente todos os cantos deste país, e que vai muito além da demanda de justiça, pois o que manifesta é a necessidade de uma mudança social, profunda e radical, frente às políticas de choque do capital contra o povo trabalhador. É a justa resposta às chamadas reformas estruturais, à reforma trabalhista, à educativa e fiscal, todas elas com o aval do Pacto pelo México, do qual participou de maneira destacada o PRD.
No cúmulo do cinismo, o PRD publica na página da internet do Fórum de São Paulo (http://forodesaopaulo.org/boletin-de-prensa-por-el-prd/) um chamado a favor da mobilização por Ayotzinapa de 20 de Novembro, a qual foi reprimida pela força pública da Cidade do México, com violentas agressões da Polícia contra mulheres e crianças, além de vários detidos. A repressão foi responsabilidade direta do governo da Cidade do México, também do PRD.
Esta luta do povo do México é contra o governo de Peña Nieto e contra os partidos que o apoiam. Francamente, é indignante o comunicado do Grupo de Trabalho do Fórum de São Paulo, encobrindo o PRD. Expressamos nossa opinião com sinceridade, como é característico dos comunistas.
Defendemos que seja apresentada uma autocrítica pública ou pensaremos que, assim como o PRD, o Fórum de São Paulo está em profunda decomposição. Assim sendo, nada teríamos que fazer nele.
Proletários de todos os países, uni-vos!
Pelo Birô Político do Comitê Central
Pável Blanco Cabrera, Primeiro Secretário
Jazmín Padilla, Secretária de Relações Internacionais
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)