OLHAR COMUNISTA – 06/02/2017

imagemA PM no divã

Esse é o título da matéria de O Globo de 31 de janeiro último, segundo a qual foram concedidas, em 2016, 1.398 licenças para tratamento psiquiátrico do total de 2296 policiais militares atendidos no setor, no Rio de Janeiro. Em 2016, 10 PMs cometeram suicídio.

A configuração desse quadro tem razões superpostas e de diferentes naturezas. Além dos riscos de ferimentos e morte em serviço, os policiais militares recebem baixos salários e enfrentam a rejeição de moradores dos bairros populares e comunidades, principalmente onde há conflitos entre facções criminosas. Os policiais militares, em sua maioria, complementam sua renda trabalhando, além de seu horário de trabalho regular, em “bicos”, serviços particulares de segurança, onde, além de sofrerem com a exaustão física, muitos acabam feridos ou mortos.

Os PMs vêm, no caso geral, das camadas sociais de menor renda. Convivem com o  sofrimento, a violência imposta pelos grupos criminosos, a truculência da ação policial, o preconceito predominante nas camadas sociais de renda média e alta aos negros, aos desempregados e aos pobres em geral. E, como pano de fundo, sabem de sua função de manter as camadas populares em silêncio, submissas à ordem capitalista.

A natureza militar da corporação é outra razão de fundo, que, além de manter um padrão de ação baseado em concepções militares, de combate ao “inimigo”, impede que os profissionais tenham uma melhor formação e se desenvolvam no campo da investigação e das ações de apoio à população em geral, que, em síntese, deveria ser a função das polícias.


Mortalidade infantil no Brasil é muito elevada

Dados do Ministério da Saúde mostram que, das 44.537 mortes de crianças até 4 anos ocorridas em 2014 (um número menor do que os de anos anteriores), 29.241, ou 67%, poderiam ter sido evitadas. A ausência ou precariedade dos cuidados pré-natais, no parto e no imediato pós-parto é apontada como a principal causa da alta incidência dessas mortes.

Como pano de fundo, as condições de vida das gestantes de origem proletária, trabalhadoras ativas ou desempregadas que, na maioria do caso, não têm acesso a uma boa alimentação (cerca de 48% dos domicílios no Brasil não dispõem de saneamento básico) e medicamentos suficientes e que seguem trabalhando até o último momento possível e a precariedade do sistema público de saúde, que vem se deteriorando mais e mais a cada dia.

Mais ainda, a alternativa da saúde privada, além de inacessível para a grande maioria da classe trabalhadora, jamais promoverá, por sua natureza de empresa capitalista, ações de prevenção, de fornecimento de medicamentos e de disponibilização, em maior escala, de equipamentos necessários para o atendimento a gestantes, parturientes e mães, uma vez que essas ações não geram lucro e as leva a focar sua atuação nos procedimentos mais complexos e sofisticados e, por conseguinte, mais caros.


Trump sob pressão

A primeira derrota de Trump na Justiça – uma liminar que suspende os efeitos do decreto que proibia o acesso de imigrantes e refugiados de países como Síria e Somália –, coincide com as massivas manifestações que vêm ocorrendo, nos Estados Unidos e por todo o mundo, contra as restrições à imigração e também contra o machismo, o racismo, os ataques aos direitos dos LGBT e outros temas  que fazem parte das políticas de Trump e refletem a visão de setores conservadores  da sociedade norte-americana e a postura  autoritária e ultraconservadora do atual presidente dos EUA.

As contestações vêm de diversos setores. Grandes empresas, como a Google, não querem aceitar o risco de perder muitos de seus quadros técnicos que vieram de outros países e muitos outros setores precisam de trabalhadores ilegais ou semilegais para, por meio da superexploração, com baixos salários, jornadas estendidas e sob os efeitos do medo constante de prisão e deportação, auferir maiores lucros. Grupos feministas, grupos de ativistas por direitos humanos, grupos de origem hispânica, defensores da paz e muitos outros estão presentes e se manifestam motivados também pela defesa de direitos sociais conquistados nos últimos anos. E muitos cidadãos norte-americanos, trabalhadores em sua maioria, se apresentam como opositores da política do governo que foca no bem-estar dos ricos.

As manifestações têm claro caráter progressista e, embora sejam, na maioria dos casos, não coordenadas e sem um caráter classista claro, indicam que haverá muita luta popular contra as políticas de Trump, indicando haver a possibilidade de consolidação, em diversos setores, das ideias de justiça social e igualdade, que batem de frente com o capitalismo em geral e sua versão estadunidense.