OLHAR COMUNISTA – 20/03/2017
Carne estragada para gerar mais lucros
As denúncias de adulteração de carne e produtos derivados, levantadas pela operação “Carne Fraca”, da Polícia Federal, levaram ao fechamento de três fábricas e à investigação de outras 21, além da prisão de dirigentes empresariais e ao indiciamento de outros empresários do setor e de fiscais que haviam sido subornados. As irregularidades incluem, entre outras, a adição de papelão na fabricação de salsichas e linguiças, o uso de carne podre (lavada com ácidos) na produção, a comercialização de carnes com validade vencida, a utilização de substâncias cancerígenas e a injeção de água para aumentar o peso dos produtos. O pagamento de propinas a fiscais e outros participantes do “esquema” era constante. Os EUA e diversos países europeus pediram explicações ao governo brasileiro.
A produção do setor, que inclui carnes bovina, suína e também de aves, além de diversos produtos derivados, é concentrada em poucas grandes empresas. O setor responde por 7% das exportações brasileiras, gerando 11,6 bilhões de dólares. Apoiados pelo BNDES, os grupos BRF (marcas Sadia, Perdigão e Chester) e JBS (marcas Friboi, Seara, Big Frango, Swift e Maturatta) tiveram enorme crescimento nos últimos anos e se internalizaram. A JBF fatura R$ 160 bilhões por ano. É a segunda maior empresa no setor de alimentos, atrás apenas da Nestlé. Nos EUA, a JBS concorre com grandes corporações do ramo, como a Tyson Foods e Cargill e é líder na produção de frangos.
A cadeia produtiva do setor começa com a criação de gado de forma extensiva, o que leva à destruição de florestas, como ocorre na Amazônia, consome grande volume de água, exige grandes quantidades de rações produzidas pelo agronegócio em grandes plantações e em escala industrial, com o uso intensivo de agrotóxicos, provocando doenças nos consumidores – como o câncer – e esgotando os solos. Na fase de produção, hormônios são também empregados em larga escala, com as mesmas consequências para a saúde humana. A venda de alimentos industrializados – em geral de baixo valor nutritivo, é outro componente desse quadro.
A escala da produção desse complexo é parte da lógica que rege a inserção do Brasil no capitalismo internacional, marcada pelas importações de produtos industriais e pelas exportações de minérios, carne e commodities agrícolas. Uma lógica que desindustrializa o país e impede que, por meio de uma reforma agrária em larga escala, sejam atendidas as necessidades básicas da população. Os investimentos públicos realizados nessas empresas consolidam esse padrão, além de dar consequência à criação de empresas transnacionais de base brasileira.
Esse quadro mostra a mercantilização da vida, da natureza, que caracteriza o capitalismo. É o desprezo pela saúde da população. Como se isso tudo não bastasse, a sanha pelo lucro dos empresários se utiliza do crime para se alimentar.
Violência no campo baiano é alarmante
Esse é o título da nota divulgada na EcoDebates, de 15 de março último, assinada pelas Entidades Sociais e os Movimentos Populares da Bahia e do Brasil, encabeçada pela Comissão Pastoral da Terra da Bahia. A nota mostra grande indignação com a prisão, de forma violenta e arbitrária, pela Polícia Militar, de cinco camponeses da Comunidade de Fecho de Pasto de Porteira de Santa Cruz, no município de Serra Dourada.
Como dito na nota, o “crime” cometido pelos camponeses foi o de defender o território onde há decênios os acusados plantam e criam para a própria subsistência e de suas famílias, em regime de Fecho de Pasto, pelo qual fazem uso comum de terras públicas devolutas. As acusações, infundadas – roubo, porte de arma, dano qualificado, esbulho possessório, associação criminosa –, revelam mais do processo em curso no Brasil de judicialização dos conflitos e criminalização das lutas sociais e de suas lideranças e perda generalizada de direitos conquistados na Constituição “Cidadã” de 1988.
Em 2016, a Bahia ocupou o terceiro lugar, com 11% do número de conflitos no campo brasileiro, abaixo apenas de dois estados amazônicos. Os causadores desses conflitos foram empreendimentos de mineração (31,7% do total no estado) e de energia eólica, além da expansão do agronegócio, que usam a grilagem de terras, com pressão violenta sobre as comunidades e foco nas lideranças.
Esses acontecimentos fazem parte das mudanças institucionais em curso, em favor do capital, com a retirada de direitos sociais, como as reformas trabalhista e da Previdência, entre outras. É o capitalismo na sua forma mais descarada, que rasga leis e se utiliza da violência direta para lograr seus objetivos.