Violência de Gênero. Mães em consequência de uma violação

imagemIlka Oliva Corado.

Resumen Latinoamericano. 12 de maio de 2017

A esta hora em qualquer rua, bar, canto, casa e matagal da América Latina, estão violando uma menina, adolescente e mulher. Nos próximos cinco minutos serão dúzias mais de abusadas, ao meio-dia serão centenas e ao chegar a noite, milhares. Delas, a maioria será golpeada, muitas assassinadas em crimes de ódio, algumas desaparecerão e jamais se saberá delas, possivelmente morrerão nos infernos do tráfico de pessoas; e de outras aparecerão seus corpos desmembrados em qualquer rua, em um saco de lixo ou em uma mochila. Dessas meninas, adolescentes e mulheres violentadas, centenas ficarão grávidas.

Serão obrigadas a parir, a parir filhos que são produtos da maior dor de suas vidas, produto do ultraje, da violência, da burla a sua dignidade. Uma sociedade carente de sensibilidade as obrigará a parir, um Estado patriarcal e machista as obrigará a parir, o silêncio dos justos as obrigará a parir. Serão mães.

A esta hora em qualquer rua, bar, canto, casa e matagal da América Latina, existem meninas, adolescentes e mulheres parindo filhos produto de uma violação. Diremos que elas o buscaram, por tortas, por submissas, por putas ou que pobrezinhas, porém que a vida não é justa e que isso lhes aconteceu e não tem jeito. Talvez digamos que são uns malditos os que as violaram, isso para dizer algo apenas, como um dever. E também diremos que esse anjinho que leva no ventre não tem culpa, que é uma bênção de Deus.

As questionaremos se em suas ideias remotas lhes ocorrer abortar. Então sim, conhecerão nossa fúria: de hipócritas, conservadores e descarados. Então sim, iremos com tudo sobre elas, sem piedade e as vamos flagelar, as vamos estigmatizar e revitimizar, para que não sejam desumanas, para que aprendam a respeitar a vida, para que não sejam animais. Nós, como representantes da santidade do Todo Poderoso, seremos juízes e se é necessário manda-las à prisão, o faremos, como assassinas! Porém, do violador nada diremos. Vamos nos compadecer do pobre tipo porque foi provocado e não existe quem se contenha quando uma puta se oferece. Quando a menina pede que a viole. Se é familiar ou conhecido, fecharemos o bico, não daremos nenhum pio e nem que se deve enviá-lo à prisão como violador!

A esta hora, em qualquer rua, bar, canto, casa e matagal da América Latina, existem centenas de mães chorando, como choram todos os dias a ausência de seus filhos assassinados e desaparecidos. Pobres loucas que não se resignam, devem entregar sua alma ao Senhor para que lhes dê paz. Porém, bem merecida a morte de seus filhos, por serem delinquentes e cheiradores de carreiras, por andarem em maus passos, por que elas não lhes souberam colocar rédeas. Aí está, tiveram seu merecido. Agora que não chorem, que se aguentem como cafetinas. Por não serem duras com suas filhas, elas se transformaram em putas e vadias. Que aguentem!

A esta hora, em qualquer rua, canto, bar, casa e matagal da América Latina, existem centenas de meninas, adolescentes e mulheres sendo estupradas, serão obrigadas a ser mães. Como uma menina enfrenta a responsabilidade de ser mãe? Como pretendemos mata-las em vida, obrigando-as a parir? Já é por si uma violação que seca, marca, mata.

E quando nascem essas crianças, os estigmatizamos por sua origem, por sua condição social. Porém, o que pode oferecer no desenvolvimento integral uma mãe violada, que vive na miséria, que não conseguiu desenvolver-se, que foi morta em vida, que foi obrigada a parir sendo menina ou adolescente, que sendo mulher foi mutilada?

Somos uma cadeia. Todos constituímos parte do círculo da violência de gênero. Aqui o silêncio consente.

A esta hora, em qualquer rua, casa, bar, canto e matagal da América Latina, existem milhares de meninas, adolescentes e mulheres sendo estupradas. A esta hora, em qualquer rua, casa, bar, canto e matagal da América Latina, existem milhares de mulheres parindo filhos produtos de estupro. E se fossemos nós? Se fossemos nós, estaríamos contra o aborto?

Ilka Oliva Corado.
@ilkaolivacorado
<contacto@cronicasdeunainquilina.com>

Fonte original: https://cronicasdeunainquilina.com/2017/05/10/madres-a-consecuencia-de-una-violacion/

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/05/12/violencia-de-genero-madres-a-consecuencia-de-una-violacion-opinion/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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