Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira
Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira
Nathália Mozer – Membra do Comitê Regional do PCB no RJ
Maria Firmina dos Reis, nascida no maranhão em março de 1822, é considerada a primeira romancista negra do Brasil. Além de escritora, foi professora, musicista e a criadora da primeira escola mista do Brasil. Sua obra consiste em uma novela indianista chamada Gupeva (1861), o livro de poesias Cantos à beira-mar (1871), o conto A escrava (1887), além de composições musicais. Seu livro mais conhecido é Úrsula, romance abolicionista de 1859.
Primeira mulher a ser aprovada em um concurso público no Maranhão para o cargo de professora de primário, sustentava-se sozinha com o próprio salário em uma época em que isso era incomum e até mal visto em relação às mulheres. Dava aulas gratuitas para alunos que não podiam pagar: conduzia as aulas num barracão em propriedade de um senhor de engenho, lecionava às filhas deste, aos alunos que levava consigo e a outros que se juntavam. Oito anos antes da Lei Áurea, criou a primeira escola mista para meninos e meninas – que não chegou a durar três anos, tamanho escândalo que causou na cidade de Maçaricó.
O contato com a literatura começou cedo e, aos poucos, a jovem travou contato com referências culturais e com outros de seus parentes ligados ao meio cultural. Quando se tornou professora, em 1847, Firmina já tinha uma postura antiescravista.
Úrsula, sua obra mais conhecida, essencialmente fala de amor e ódio, de escravidão e liberdade. Ao lado do amor entre os jovens protagonistas, Úrsula e Tancredo, a trama coloca como personagens importantes dois escravos e pela primeira vez o escravo negro tem voz. Também coloca o senhor de escravos abertamente como vilão da história, um marco para a época.
Anos mais tarde, quando o movimento abolicionista já tinha bastante ressonância, a autora publicaria um conto ainda mais crítico, A escrava (1887), que conta a história de uma mulher de classe alta sem nome que tenta salvar uma mulher escravizada.
Em 2019 a compositora, cantora, instrumentista, poeta-escritora e produtora cultural Socorro Lira lançou o CD “Cantos à Beira-mar”, cujo repertório permite ouvir dez composições de autoria de Socorro Lira sobre poemas de Firmina, mesclando ritmos como bolero, reggae, canção choro, fado, samba, valsa, milonga, baião e loa de maracatu cearense.