A Unilever demite por que está em crise?

imagemUma das maiores empresas multinacionais do mundo e que vem aumentando ainda mais seus lucros, utiliza do argumento da crise para aplicar demissões, reestruturação e terceirização.

Caio Silva Melo
Vitória Camargo

Desde o início do mês de outubro os trabalhadores da Unilever, localizada na cidade de Vinhedo/SP, estão em greve. O motivo são as demissões ocorridas entre o final do mês de setembro e início de outubro, são mais de 130 trabalhadores que perderam seus empregos. Além disso inicia-se um forte processo de terceirização em diversos setores da empresa, em especial no setor da logística e manutenção, ato que vem respaldado pela aprovação da PL-4302/1998, tudo isso com um empurrão da Reforma Trabalhista, que auxilia nos processos de demissão para depois se recontratar como terceirizados.

Na manhã deste sábado, 07/10, os trabalhadores que estavam se manifestando em defesa da greve em frente a empresa foram violentamente reprimidos, sendo cinco deles detidos (entre eles três eram dirigentes sindicais). O grau de repressão a uma luta em defesa do emprego de 130 famílias chocou e chegou a diversos veículos de comunicação.

Sob o argumento de “manter a fábrica de Vinhedo competitiva por meio de ganho de eficiência no processo produtivo e da especialização da área de logística”, como emitido em nota, a Unilever demite trabalhadores e já anuncia que terceirizada setores, mas uma análise dos dados da empresa mostram que caminha na direção oposta da crise que anuncia.

A Unilever nasce da fusão de duas empresas, a inglesa Lever Brothers e a holandesa Margarine Unie, configurando, assim, capital misto deste dois países. É uma gigantesca multinacional com capital sólido presente no Brasil a mais de 85 anos. A Unilever é considerada um holding, ou seja, é formada por um conjunto de empresas das quais é dona ou possui grande parte das ações. Pelo seu tamanho e inserção no mercado deixou de ser considerada um monopólio para se tornar um dos grandes oligopólios do mundo, em outras palavras, a Unilever cresceu e comprou tantas empresas concorrentes que quase não há mais concorrentes no mercado.

Tratando-se de valores seus números impressionam mesmo em latente crise. Seu faturamento em 2016 foi de estrondosos R$ 2,017 trilhões. Dona de mais de 400 marcas, somente suas 14 principais garantem um lucro de R$ 1 bilhão anuais, conforme apontam dados de 2016. Se comparados os lucros da empresa, somando todas suas empresas, entre os anos de 2015 e 2016 houve um aumento da taxa de lucro em 0,9%, em termos absolutos foram mais de R$ 1 bilhão.

Atuante principalmente nos segmentos de bens de consumo (limpeza, higiene e alimentação), é o quarto maior conglomerado empresarial do mundo e não deixa de expandir seus negócios. No ano de 2016 realizou a compra de uma gigante do setor de higiene e limpeza latino-americana, a Quala, e conseguiu o faturamento de 1,2 bilhões de reais somente com esta empresa. Já neste ano de 2017 realizou grandes compras, somente no último mês três empresas brasileiras foram compradas pela Unilever, uma delas, a Mãe Terra, possui atualmente o faturamento de 100 milhões de reais e a alguns meses atrás e no início do ano pagou a quantia de 36 bilhões para virar dona de sua antiga empresa sócia sul-africana.

Referentes a saída de produtos, 80% das vendas de coisas de limpeza da Unilever está concentrada em países emergentes, respondendo por 12% do lucro mundial da empresa e continua crescendo mesmo com a crise. Apesar de todos os empresários usarem o discurso da crise demagogicamente para dizer que seus lucros estão caindo, no caso da Unilever nem mesmo isso pode ser usado, pois os dados apontam o completo contrário onde seus lucros aumentam ano após ano.

As empresas tentam jogar a todo o custo todo e qualquer prejuízo com a crise na costa dos trabalhadores, no atual caso da Unilever, ela vem utilizando o discurso da crise para tentar aumentar ainda mais seus lucros. Enquanto 130 famílias são postas na rua, ano após ano são negados reajustes que possam cobrir a corrosão dos salários pela inflação e há o objetivo de de redução da média salarial dos trabalhadores de R$ 4 mil para R$ 1,2 mil, o CEO da Unilever, Paul Polman, tem um salário de absurdos R$ 3,4 milhões por mês, sem contar “outros benefícios”. Vale lembrar que este dado é referente a 2013. Além disto em 2017 a Unilever Brasileira já repassou cerca de R$200 milhões para cada um de seus acionistas.

Embora se aplique o discurso da crise sem pensar duas vezes, apenas com os dados públicos da Unilever já é possível notar o quão falso é frente às cifras desta que é a quarta maior empresa do mundo. Tendo como presente do governo brasileiro a Reforma Trabalhista, que poderá entrar em vigor definitivamente no dia 11/10, e em conjunto com a PL da Terceirização, a Unilever anseia a terceirização dos seus setores produtivos para elevar ainda mais seus cifrões bilionários

Fontes:

https://pt.linkedin.com/pulse/7-donas-da-beleza-mundial-christina-santos

https://istoe.com.br/lucro-da-unilever-sobe-a-747-bilhoes-de-euros-em-2016-mas-receita-recua/

http://www.thisismoney.co.uk/money/markets/article-2983948/Unilever-boss-Paul-Polman-receives-24-pay-hike.html

https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/unilever-anuncia-compra-da-empresa-brasileira-de-organicos-mae-terra.ghtml

https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/em-greve-funcionarios-da-unilever-fazem-ato-contra-demissoes-e-terceirizacao-em-vinhedo.ghtm

Extraído de: http://www.esquerdadiario.com.br/A-Unilever-demite-por-que-esta-em-crise