A Semana no Olhar Comunista – 0002
Para os economistas da instituição, o consumidor atualmente “enfrenta uma redução no poder aquisitivo e o crescente endividamento dificulta o pagamento das dívidas assumidas anteriormente”. Dessa forma, o forte crescimento da inadimplência “é justificado pelos efeitos da política monetária para controle da inflação, alta dos juros, IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e encarecimento do crédito”, apontou o Serasa em comunicado.
O que eles não afirmam – e não seria diferente – é que a política de geração de crescimento econômico baseado em aumento crescente da dívida das famílias, acima das elevações de renda, só poderia gerar fatos como esse. A notícia demonstra claramente que a tão propalada elevação da qualidade de vida no Brasil não possui bases sólidas, por estar baseada em uma política que onera o futuro para elevar o consumismo no presente.
TOMA LÁ, DÁ CÁ I
Odebrecht e governo: ganhos para construir e “destruir”
A estreita relação entre a Odebrecht e o governo federal não se resume ao superfaturamento de obras, utilização da política externa brasileira como “caixeiro viajante” de seus intertesses no mundo, principalmente na América Latina, e os aportes financeiros em campanhas eleitorais.
As faturas também são trocadas na área de Defesa, para o qual a companhia criou um braço recentemente com o objetivo de entrar na briga pelo fornecimento dos sistemas de inteligência e comunicação militar para a Copa de 2014. O pacote deve superar os R$ 2 bilhões.
Além disso, a Odebrecht é sócia na construção dos cinco submarinos contratados pelo Brasil junto à França – negócio avaliado em R$ 21,4 bilhões. Provavelmente como parte de sua comissão, atual ou futura, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, proferiu no dia 24 de maio deste ano uma palestra em São Paulo para o Conselho de Administração da companhia, intitulado “O Futuro da Defesa no Brasil”. A notícia foi veiculada na última semana na revista Isto É.
TOMA LÁ, DÁ CÁ II
Financiamento privado de campanha dá nisso…
Os principais doadores de campanha do PR, partido que tinha Alfredo Nascimento no controle do Ministério dos Transportes até a comprovação de casos de corrupção levarem à queda do ministro, receberam em 2010 – ano eleitoral – R$ 986,2 milhões de órgãos vinculados à pasta.
Segundo matéria de O Globo, Queiroz Galvão, Sanches Tripoloni e Andrade Gutierrez “abasteceram os cofres” do PR com quase R$ 6 milhões no mesmo ano. As três empreiteiras são beneficiárias em obras gerenciadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e pela Valec, estatal que cuida das ferrovias, com suspeitas de sobrepreço, superfaturamento e outras irregularidades, na avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU).
Envolvida nas obras da Ferrovia Norte-Sul, sob investigação do TCU e da Polícia Federal, a Queiroz Galvão doou R$ 2 milhões ao PR após ter recebido R$ 348,1 milhões do Dnit e R$ 52,5 milhões da Valec. Em 2010 e 2011 (até a última semana), as quantias foram R$ 258,3 milhões e R$ 84,4 milhões.
Já a Sanches Tripoloni (R$ 2 milhões de comissão para o PR), recebeu do Dnit tudo o que faturou em contratos com a União desde 2009: R$ 468,14 milhões. A empresa faz parte do consórcio do Contorno Norte de Maringá, que teve sobrepreço de R$ 9,9 milhões segundo o TCU.
Já a Andrade Gutierrez (R$ 1,7 milhão de comissão ao PR), recebeu R$ 679,95 milhões do governo desde 2009, 83% do Dnit e da Valec e tem obras sob investigação do TCU, como o Arco Metropolitano do Rio. Além disso, foi obrigada a devolver R$ 1,3 milhão por superfaturamento na obra de um trecho rodoviário entre Mato Grosso e Pará.
Ensino “privada”
Foram 90 as instituições de ensino que não conseguiram aprovar nenhum aluno na última edição do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A grande maioria recebe bolsas do ProUni – programa do MEC para incluir alunos de baixa renda nas instituições privadas de ensino superior.
Tentando tapar o sol com a peneira, o secretário da Educação Superior do MEC, Luiz Cláudio Costa, afirmou que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), feito anualmente, leva em conta vários indicadores, sem incluir o exame da OAB. “O Ministério se preocupa muito com a qualidade. O exame da OAB é um exame importante, serve como referência mas não é um indicador. O nosso sistema de avaliação é extremamente sério, rigoroso, e que leva em consideração uma série de dimensões. Seria desaconselhável considerar um único fator”, vaticinou o responsável do Ministério, que parece crer que as instituições “privadas” de ensino superior primam pela qualidade.
Por outro lado, tiveram maior percentual de aprovação as públicas Universidade de Brasília (67,44%), Federal de Juiz de Fora (67,35%) e Universidade de São Paulo (63,4%). Das 22 universidades com o melhor desempenho no exame, apenas três são privadas.
Contra previsão, desemprego sobe nos EUA
Esta é a manchete da matéria da Folha de São Paulo, de 09/07/2011, que registra o crescimento da taxa oficial de desemprego para 9,2%, naquele país, em junho, contra 9,1 de maio (os negros e jovens são os mais atingidos), apesar de terem sido criados mais 18 mil empregos no último mês. O texto fala da reação – negativa – das principais bolsas de valores do mundo à notícia, e aponta para o fraco desempenho do setor de construção civil (com 15,7% de desemprego, o pior índice), e do setor público, que teve 39 mil postos de trabalho fechados (14 mil só no governo federal).
Os números revelam não apenas a gravidade da crise como a sua complexidade: embora alguns setores estejam apresentando melhoras, outros ainda sofrem com as “ondas” negativas iniciais de queda de investimentos e do conseqüente desemprego gerado, que tendem a se “espalhar” e multiplicar, por toda a economia, em levas sucessivas; mostram também as grandes contradições das políticas públicas adotadas pelo governo Obama para equilibrar o orçamento federal e combater o desemprego e a crise, que, ao mesmo tempo em que injetam vultosos recursos para alavancar o setor privado – em empresas como a GM (que estava falida em 2008) e grandes bancos privados (que obtiveram lucros elevados em 2010) –, cortam gastos públicos em áreas sociais e demitem trabalhadores do Estado, realimentando, assim o próprio desemprego e fazendo cair a arrecadação de imposto.
Essas contradições são reveladoras da natureza sistêmica da crise econômica mundial – uma crise do capitalismo em si – e da fortíssima influência das grandes empresas dos EUA no poder político do país, e indicam também o confronto cada vez mais acirrado entre os interesses dos grandes grupos privados e a maioria da população, os trabalhadores americanos, que terá, em breve, um novo grande embate no processo de negociação da dívida pública e sua possível extensão, que logo entrará em pauta no Congresso.
Gol compra Webjet e assume 40,5% do setor
Anunciada em toda a grande mídia, esta operação, que ainda depende de autorização da Agência Nacional de Aviação Civil – responsável pela regulação do setor aéreo – e do Conselho de Defesa da Economia – o CADE, órgão público responsável pela preservação da livre concorrência na economia – movimentou 96 milhões de Reais e envolve a assunção, pela Gol, das dívidas da Webjet, orçadas em 214,7 milhões de Reais. O negócio foi bem recebido no mercado, e as ações da Gol subiram 3,5 % na Bolsa de Valores.
O principal prejuízo para os clientes, de acordo com a matéria da Folha de São Paulo, de 09/07/2011, será a elevação nos preços das passagens da Webjet, que eram, em geral, mais baixos que a média do mercado, sendo esta, aliada à venda de passagens pela Internet, a principal estratégia de concorrência da empresa (a mesma utilizada, anos atrás, pela própria Gol).
A aquisição de empresas em dificuldade por outra empresa em melhor situação e a fusão entre empresas faz parte da lógica geral de acumulação de capital, é um resultado do processo de concorrência, onde há vencedores e perdedores, sendo a “livre concorrência” e as vantagens para os consumidores, pelos preços mais baixos que as empresas tendem a oferecer, nessa fase, um efeito transitório: com a concentração do mercado, as empresas, maiores e em menor número, tendem a impor preços mais elevados e a buscar menores custos pela “racionalização” de suas operações (com o compartilhamento de instalações comuns, a “otimização” das rotas (com a eliminação dos trajetos menos lucrativos, a redução dos vôos diretos) e a demissões dos funcionários “excedentes”, ale, é claro, da redução dos salários dos remanescentes), entre outras medidas. O combate efetivo a este processo só pode ser feito com a estatização, ao menos parcial, do setor, para que, cobrando preços mais reduzidos, operando em melhores condições, oferecendo melhor assistência os usuários e garantindo o atendimento de todas as rotas necessárias, o setor possa ser mais benéfico para o interesse da população brasileira.
Presidente do Chile lança fundo de US$ 4 bilhões para tentar conter manifestações de estudantes.
No noticiado pelo jornal “O Globo”, em 05 de julho, a medida editada pelo presidente Piñera tem a intenção de “melhorar o acesso e a qualidade do financiamento aos estudantes, melhorar o sistema de informação e fiscalização do ensino universitário e criar uma subsecretaria para o ensino superior”. Piñera também prometeu aumentar o número de bolsas de estudo para o nível técnico (ensino médio) de 70 mil para 120 mil.
Milhares de estudantes e boa parte da sociedade chilena têm se manifestado nas ruas, e muitos colégios de ensino médio se mantém ocupados. As principais reivindicações apresentadas são o fim dos lucros dos proprietários de estabelecimentos de ensino, o uso da renda da exploração de recursos naturais para financiar a educação e a realização de um plebiscito para decidir a questão.
As medidas anunciadas pelo governo são uma prova evidente da força do movimento popular. No entanto, tratam-se de medidas que, embora representem alguns avanços, não apontam para a superação do quadro atual da Educação chilena, uma quadro gestado no governo ditatorial de Pinochet e mantido nos governos democráticos seguintes, que reconduziram o Chile à condição de Estado democrático de Direito – formalmente – mas não alteraram a estrutura privada quase totalidade dos setores da economia e das atividades sociais no país e tampouco deixaram de lado as políticas neoliberais correspondentes.
Os manifestantes não querem mais dinheiro público sendo investido nas empresas privadas de educação, e identificam, no quadro atual, o elitismo e a exclusão operada contra a maioria da população pela via da cobrança de elevadas taxas de matrícula e mensalidades pelas escolas e universidades. Querem, isto sim, a promoção da Educação pública, estatal, gratuita e de qualidade para todos, um direito fundamental para todas as sociedades.
Vaticano vai revelar arquivos secretos em mostra inédita
A matéria, veiculada em O Globo, de 06 / 07 / 2011, traz a informação de que 100 documentos dos arquivos secretos da Santa Sé, alguns sobre temas bastante delicados da Igreja Católica, como os debates de Galileu e o papel do papa Pio XII (acusado de omissão frente ao Holocausto e outros fatos) durante a II Guerra Mundial serão exibidos em mostra pública a ser realizada em fevereiro de 2012.
A exibição pública de documentos históricos pela Igreja católica é uma mostra do processo de secularização daquela instituição que contribui para o melhor entendimento de seu importante papel na história da civilização ocidental. Enquanto isso, no Brasil, falar em abertura de arquivos oficiais com informações sobre a história do país é um assunto que mantém-se como um dogma.