Escravos na Líbia: a face nua e crua do imperialismo
OLHAR COMUNISTA – 27/11/2017
Imagens divulgadas recentemente nas redes sociais escancararam as denúncias sobre negros escravizados na Líbia, país para onde se deslocam milhares e milhares de africanos que querem escapar das guerras, da miséria e das condições precárias de vida que lhes são impostas em seus países de origem, em geral os mais pobres do continente. Na Líbia, amontoados, os africanos sonham com a dura e perigosa travessia até a Itália, se submetendo a pagamentos extorsivos cobrados pelos transportadores e ao risco de perderem suas próprias vidas para tentar conseguir trabalho e uma vida melhor na Europa.
A Itália e outros países europeus têm uma posição ambígua e hipócrita em relação aos imigrantes africanos. Por um lado, têm interesse na presença de um certo número de imigrantes para usá-los como mão de obra barata e sem direitos sociais nos serviços mais degradantes. Muitos “empresários” enriquecem com a intermediação dos “contratos” de imigrantes para as empresas. Por outro lado, para impedir que um número significativamente elevado de imigrantes se fixe em território europeu, sobrecarregando a seguridade social, a Europa vem construindo campos de concentração para impedir a chegada dos imigrantes. Mais ainda, há evidências de que a Itália está dando dinheiro para a Líbia impedir a saída dos imigrantes, o que tem incentivado não somente os estupros, assassinatos e a tortura, mas também favorecido gangues e milícias locais que capturam e escravizam os negros que desejam fazer a travessia do Mediterrâneo. A barbárie está de volta à África.
As causas mais profundas desse fenômeno estão na forma de colonização empreendida pela maior parte dos países imperialistas na África, onde a escravidão e a retirada de recursos naturais à exaustão para a garantia da acumulação inicial capitalista precederam a divisão artificial de nações nativas para a formação de estados formalmente independentes. Apesar dos vitoriosos processos de libertação nacional no período posterior à Segunda Guerra Mundial, vários desses países seguiram dominados pelas potências capitalistas, situação que veio a se aprofundar quando houve a debacle da União Soviética, que muito havia contribuído com o desenvolvimento de economias locais.
Em alguns casos, no entanto, experiências nacionalistas e progressistas prosperaram, como no caso do Egito dos anos 1950, da Líbia, das ex-colônias portuguesas – Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau, que contavam com o apoio da União Soviética, e, mais recentemente, da África do Sul e do Zimbábue, antiga Rodésia, que lograram superar os regimes de Apartheid racista. Na Líbia, o governo liderado por Muamar Al Kadafi foi responsável pela elevação do padrão de vida do seu povo, tendo chegado ao poder, em 1969, com a derrubada do Rei Idris, monarca pró-imperialista que sempre agiu em favor dos interesses estrangeiros no país. Com Kadafi, a Líbia atingiu um patamar de desenvolvimento humano muito superior que a da maioria dos países africanos, o sistema de ensino era universal e totalmente gratuito. As mulheres conquistaram inúmeros direitos.
Em novembro de 2011, a OTAN, braço armado internacional das potências imperialistas, após intensa operação de demonização do regime local, invadiu a Líbia, assassinou Kadafi e promoveu a destruição das conquistas sociais e o desmonte do país, o qual foi partilhado entre grupos de milícias cuja ação se baseia no uso da força e na imposição de sua própria lei. Para a grande maioria dos países africanos, resta o abandono ou a exploração selvagem de seus recursos naturais por grandes corporações capitalistas, para o benefício de grupos oligárquicos locais que se sustentam na imposição de ordens ditatoriais, se nutrem da miséria e enriquecem com as benesses oferecidas pelas empresas estrangeiras.
As denúncias de escravidão vêm provocando reações de lideranças políticas, organizações sociais diversas e personalidades. É uma situação inaceitável, que deve ser enfrentada com a mobilização da classe trabalhadora, dos setores democráticos e progressistas de todos os países para que não apenas haja uma intervenção da ONU na Líbia para a reorganização do país e o combate às milícias. Aos comunistas e a todos os que defendem a igualdade e a justiça, cabe o apoio às forças que, no interior de cada país africano, combatem a causa mais profunda que causa essa situação: o sistema capitalista.