A Semana no Olhar Comunista – 0007

Segundo foi noticiado pela imprensa, Washington quer uma sociedade com o Brasil para atender à demanda mundial por etanol, como afirmado na segunda-feira em São Paulo pelo subsecretário de Energia norte-americano, Daniel Poneman.

À primeira vista, nenhum problema maior além daquele provocado pela criação de um cartel “bi-estatal” e o poder de barganha que este teria sobre os consumidores – em sua maioria, trabalhadores – de todo o mundo.

O problema começa quando se percebe os temas em pauta na reunião que Poneman terá em Brasília, nessa quarta-feira: temas de segurança nuclear e a participação dos EUA na exploração e prestação de serviços nas águas brasileiras do pré-sal. Medidas anteriores da Casa Branca, como a reativação da IV Frota Naval, não deixam em dúvida os reais interesses norte-americanos.

A propaganda macaqueada pelos norte-americanos é o etanol e a redução da dependência por petróleo e demais combustíveis fosseis, mas o comunicado também cita gás natural, energia limpa e energia nuclear.

É preciso lembrar que a diplomacia ianque reclamou da resistência brasileira em aderir ao protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação, que prevê inspeções internacionais em seus reatores. É sabido que o Brasil desenvolve tecnologia nuclear com tecnologia própria e que há muito é fruto de cobiça internacional.

Com lacaios como “Antony Patriot” no comando da diplomacia brasileira, é preciso ficar de olhos abertos nos acordos que serão assinados…

 


Lá, milho modificado para produzir mais álcool gera revolta

Ao mesmo tempo em que espera aumentar a produção do etanol ao lado do Brasil, os EUA enfrentam problemas domésticos com o tema: agricultores norte-americanos começaram a plantar a primeira cultura de milho geneticamente modificado para produzir mais etanol, publicou o jornal britânico Guardian.

O plantio gera polêmica e revolta, pois a nova planta pode piorar uma crise alimentar global que ganhou evidência com a fome na Somália ao desviar ainda mais milho para a produção de energia. Ao mesmo tempo, a indústria alimentícia dos EUA fez críticas pelo fato de o milho modificado não servir para fabricar produtos alimentares. E fazendeiros que plantam milho para consumo humano estão preocupados com a possível contaminação de suas lavouras.

Desenvolvido pela Syngenta, o “novo” milho está sendo plantado em 5 mil acres de terra no “cinturão do milho ” no estado de Kansas.

Juntando uma notícia com a outra, é de se perguntar: a parceria proposta pelos EUA é tornar o Brasil um grande canavial para manter a paz em casa? Terras agricultáveis aqui, investidores internacionais já compraram aos montes…

 


Imperialismo verde-amarelo

Ao mesmo tempo que os EUA querem aprofundar suas “relações” com o Brasil, o capitalismo tupiniquim planeja sua expansão exploratória sobre os países vizinhos. È o que se pode deduzir da divulgação de que o governo brasileiro realiza estudos para construir usinas hidrelétricas em ao menos sete países da América Latina.

As usinas, que gerariam cerca de 12 mil MW (Itaipu, a segunda maior hidrelétrica do mundo, gera 14 mil MW), seriam erguidas em associação do Estado e empreiteiras brasileiras com empreiteiras locais (a parcela de lucro das burguesias locais, necessária para garantir algum apoio da mídia nesses países, através de publicidade) para também abastecer o mercado brasileiro. O Plano Decenal de Expansão de Energia cita projetos para a construção de hidrelétricas na Bolívia, na Guiana, na fronteira com a Argentina e no Peru – que teria seis usinas, com 7 mil MW de capacidade instalada.

As hidrelétricas, listadas em acordo assinado em 2010 pelos então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alan García, custariam US$ 15 bilhões (cerca de R$ 23 bilhões) e seriam geridas pela Eletrobrás. Felizmente o povo peruano se manifestou e o país cancelou a licença provisória de um consórcio brasileiro para a construção da primeira das usinas, no rio Inambari. A decisão ocorreu em meio a protestos no departamento (Estado) de Puno pela cassação de todas as concessões nos setores energético e minerador daquele país. Afinal de contas, as usinas seriam mais benéficas ao Brasil que ao Peru, pois o país andino arcaria sozinho com o prejuízo ambiental das obras.

 


Sem poder explorar ecossistema alheio, Dilma muda limite de unidades de conservação

Em outra dessas “coincidências”, após a vitória do povo peruano contra a sanha exploratória do Brasil, foi divulgado que a presidente Dilma assinou Medida Provisória alterando a demarcação de três parques nacionais na Amazônia, e liberando a exploração mineral no entorno de dois deles. As empreiteiras já estouraram o champagne: poderão instalar canteiros de obras das usinas de Tabajara, Santo Antônio e Jirau.

Foram alterados os limites dos Parques Nacionais da Amazônia, Campos Amazônicos e Mapinguari. Duas outras unidades deverão ter os limites alterados em breve para o licenciamento ambiental de quatro hidrelétricas do complexo do Rio Tapajós, que ficarão entre as maiores das novas usinas da Amazônia, ao lado de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau.

 


Cara de pau não conhece limites

O presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), quer que a reserva legal proposta no Código “Anti-Florestal” passe a ter um valor e que os ruralistas recebam um “incentivo fiscal” para mantê-la de pé. Eles, é óbvio, adoraram a sugestão…

Para Braga, as reservas são “um ônus” para os coitadinhos, e deveria ser calculado uma espécie de imposto de variação da biomassa: quem deixou de desmatar e emitir uma quantidade x de carbono veria isso transformado em crédito para debitar do imposto de renda. É como se respeitar a lei fosse sinônimo de bônus, e não obrigação. Chantagem pouca é bobagem…

A novidade descaracteriza ainda mais um projeto defendido por Aldo Rebelo, do PCdoB, e que na Câmara dos Deputados incluiu em seu texto a anistia a quem desmatou ilegalmente Áreas de Proteção Permanente (APPs) para cultivar lavouras ou criar gado.

 


Regra para reajuste ou congelamento?

O Governo Federal discute a possibilidade de se criar uma regra fixa para a política salarial do funcionalismo. Até aí nada demais, até porque na pauta poderia se incluir uma política de carreira, a democratização da gestão nos órgãos, etc. ocorre que, segundo a imprensa, a medida visa “evitar futuras pressões por gastos e garantir austeridade fiscal”. Alguém ouviu algo sobre não pagamento da dívida? Nós também não.

A ideia é estabelecer uma conjunção de fatores que criaria uma política para limitar os gastos com a folha de pessoal e implantar o fundo de previdência complementar do servidor público, dando prosseguimento a duas propostas que estão engavetadas no Congresso desde 2007 e que não deixam dúvidas: impossibilidade de expandir os serviços públicos com qualidade e pressão política para a criação de um “superfundo de pensão”, que garantiria benesses e cargos para 20 gerações de petistas e sindicalistas pelegos.

O debate surge em momento de pressão dos servidores e elaboração do projeto de Orçamento da União para 2012. Para o próximo ano, aliás, o secretário do Tesouro Arno Augustin já disse que a “orientação” é não conceder reajustes. Ao mesmo tempo, a imprensa divulga que “alguma correção terá de ser feita, especialmente por conta dos cargos de confiança, os DAS” – em português claro, a galera da “boquinha”.

 


Eles perderam

A Justiça dos EUA liberou novos documentos nesta segunda-feira sobre a invasão da Baía dos Porcos, promovida pela CIA em abril de 1961 e tentativa frustrada do governo Kennedy de invadir o sul de Cuba para derrubar o governo socialista e assassinar Fidel Castro.

Demonstrando que o imperialismo não é invencível, os registros mostram que bombardeiros B-26s norte-americanos foram desenvolvidos em semelhança com aeronaves cubanas e que por isso foram alvo do “fogo amigo” da CIA. Segure a gargalhada e diga: bem feito!

Parte dos cinco volumes divulgados mostra que o principal homem da CIA na tentativa frustrada, Grayston Lynch, ordenou o abate. Ainda nos documentos, dois pilotos dos EUA afirmam que a utilização de napalm deixaram os escroques invasores “completamente confusos”. Segure a gargalhada novamente e diga pela segunda vez: bem feito!

 


“Pega um, pega geral, também vai pegar você”…

Os tiros que perfuraram, de fora para dentro, um ônibus com cerca de 20 reféns em sequestro na última semana, no Rio de Janeiro, são mais um exemplo do completo despreparo policial que acomete todo o país.

Em entrevista a BBC, o ex-comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) Paulo Storani afirmou que a reação com tiros reflete falta de treinamento da polícia e que a instituição precisa de reformas profundas. E ao contrário dos que afirmam que existe diferenciação na polícia, não defendeu seu antigo batalhão. “Não adianta mudar só o Bope. Tem que mudar a polícia”. Segundo ele, a PM é dominada pela cultura de confronto. “Depois de 30 anos de políticas públicas equivocadas, criou-se uma cultura perversa de enfrentamento. O policial que está operacional é o que troca tiro. Não precisa entender de direitos humanos, basta ter coragem de apertar o gatilho”, afirmou.

 


Primeiro-ministro inglês quer reprimir as redes sociais.

Além de contratar um policial americano – Bill Bratton, ex-chefe de polícia de Nova Iorque – para assessorar a “Scotland Yard”, a polícia inglesa, o primeiro-ministro David Cameron, do Partido Conservador, anunciou, conforme noticiado na mídia inglesa, sua intenção de reprimir o uso das “redes sociais”, na internet, para enfrentar os recentes distúrbios que vêm ocorrendo em Londres. Dois jovens foram condenados por usarem o “Facebook” para incitar protestos.

As medidas anunciadas fazem parte da política de “tolerância zero”, adotada especialmente para todos os participantes das manifestações e enfrentamentos com a polícia, ocorridas, em geral, em bairros pobres, onde jovens, desempregados e imigrantes, sentem na carne as agruras da crise econômica, gerando penas severas para qualquer delito, e vêm causando reações contrárias da própria polícia inglesa e de diversos grupos sociais.

As manifestações que vêm ocorrendo em Londres são o reflexo das políticas recessivas e de “austeridade”, de corte neoliberal, adotadas nos últimos anos e aprofundadas, agora, pelo atual governo, que anunciou fechamento de postos de saúde e a retirada de garantias sociais como pensões e outros pagamentos previdenciários. São protestos e ações difusas, sem um ojbetivo final claro, que refletem o desespero que, cada vez mais, toma conta dos segmentos mais carentes da população.

A ameaça de impor restrições à internet põe em risco a própria democracia, mesmo na forma limitada em que existe hoje, na Inglaterra, dadas as restrições à organização partidária e à respectiva propaganda, onde apenas os grandes partidos, apoiados pelos interesses do capital, conseguem espaço.

Faz falta, no cenário inglês, uma organização de trabalhadores que possa dar rumo a essas insatisfações e não apenas lutar para a superação das atuais dificuldades mas também construir uma contrahegemonia socialista.