A Semana no Olhar Comunista – 0015

Decisão tomada, fica em aberto o “como” fazer a operação salva-banca. O governo francês deseja que os bancos mais vulneráveis tenham acesso ao fundo de auxílio da zona do euro, conhecido como Dispositivo de Estabilidade Financeira Europeu. Já o alemão defende que a ajuda financeira aos bancos seja oferecida pelos países a que pertencem essas instituições financeiras e não ao dispositivo criado pela União Européia.

Uma ou outra medida não muda o essencial: como demonstram os recentes acontecimentos nos EUA, a capitalização do bolso dos banqueiros não resolverá a crise econômica. Vai, isso sim, “socializar” o prejuízo destes e retardar uma saída cada vez mais difícil dentro da lógica capitalista. Por outro lado, a conta futura deverá ser apresentada aos trabalhadores, através de seus direitos, como tem sido a lógica desde 2008.

 


Rebaixamento de classificação: a fila já está formada

Antes do anúncio da dupla Merkel-Sarkozy, a Moody’s havia rebaixado a classificação de crédito de 12 bancos e firmas de hipoteca do Reino Unido, declarou a possibilidade de fazer o mesmo para três dos maiores bancos do país, além de fazer o mesmo para seis bancos portugueses.

Sobre as medidas, duas informações transmitidas pela imprensa internacional merecem ser lidas com bastante atenção: a primeira é de que a Moody’s “reavalia a disposição do governo britânico para apoiar as instituições que tiveram suas notas rebaixadas”.

A segunda merece ser integralmente reproduzida no parágrafo abaixo, da BBC:

“Para o RBS e o Lloyds, nos quais o governo britânico mantém ainda uma grande participação, a classificação da Moody’s ainda inclui em sua análise muito apoio sistêmico – três pontos, disse Elisabeth Rudman, principal analista da Moody’s para os bancos do Reino Unido. Esse apoio ainda está em um nível muito alto. No geral, os rebaixamentos não refletem qualquer deterioração na força financeira quer do governo do Reino Unido ou do sistema bancário do país, segundo a Moody’s”.

Amigo leitor, perceba: está escancarada a chantagem e o jogo de pressão dos banqueiros e financistas sobre os governos, para obterem recursos às custas do erário. Chantagem, aliás, já aceita na Zona do Euro – como comprova a notícia que abre este A Semana no Olhar Comunista.

 


Ainda faltam 4, e muitos outros!

Após 13 anos de prisão injusta, foi libertado na última sexta-feira (07) nos Estados Unidos o cubano René González. Mas o império ainda mantém sob cárcere os outros quatro heróis, presos políticos sob a falsa acusação de espionagem. González, que deixou a prisão federal de Marianna, no norte da Flórida, terá de permanecer nos EUA por três anos, sob regime de liberdade supervisionada. Seu pedido de retorno à ilha foi negado em fevereiro por uma juíza, Joan Lenard.

A libertação dele deve servir de reforço e estímulo a todos aqueles que lutam contra a opressão. Não podemos esmorecer na denúncia de Guantánamo, dos outros quatro presos políticos cubanos, dos milhares de palestinos nas masmorras israelenses. A luta continua!

 


Terceirização rima com hiper-exploração

Os trabalhadores terceirizados ganham 27,1% a menos que aqueles com carteira assinada, trabalham três horas semanais a mais, têm menos benefícios e estão mais sujeitos a acidentes de trabalho e morte. As constatações foram divulgadas pela imprensa e demonstram que o capital utiliza essa modalidade de contratação de força de trabalho para elevar ainda mais a sua obtenção de lucro.

Sobre o assunto, O Estado de S.Paulo nos traz o “requinte” da informação de que até no Palácio do Planalto há cerca de 300 funcionários terceirizados que não conseguem receber seus pagamentos atrasados – “a prestadora de serviços que os contratou deixou de atender a Presidência da República em dezembro de 2010 e não pagou parte dos salários”, informa o diário.

Além de ganhar menos e trabalhar mais, os terceirizados correm maior risco de acidente e mortes, como acidentes na Petrobras já o demonstraram, no passado recente. Mas não só lá, obviamente. Levantamento do Dieese de Minas Gerais afirma que entre 2006 e 2008 morreram 239 trabalhadores no setor elétrico, 193 deles (80,7%) terceirizados.

 


Morreu um “gênio”. Do fetiche e da exploração.

A morte do fundador da Apple, Steve Jobs, causou “comoção” nos círculos mais abastados e – por conseqüência – nos veículos de comunicação. Termos como “gênio”, “visionário” e “revolucionário” foram usados aos montes para retratar o personagem, que “mudou nossa forma de viver”. Repórteres e editores dos grandes veículos de comunicação, entretanto, esqueceram-se de dizer de quem falavam ao usar o pronome “nós”.

Jobs não foi apenas um burguês, sua “genialidade” esteve justamente no fato de aproveitar como poucos o fetiche de bugingangas tecnológicas que “criaram” novas necessidades de consumo e saber vender essas “necessidades” a preços mais que proibitivos para a maioria das populações. Afinal, a empresa comandada por ele se diferencia das outras do setor por incutir na mentalidade consumista que seus produtos simbolizam status e diferenciação – como um Rolex, um Rolls Royce, uma Montblanc… Foi um gênio da exploração alheia.

 


Ocupar Wall Street – e o mundo inteiro!

O movimento “Ocupem Wall Street”, desencadeado em passeata no centro financeiro de Nova York, em 17 de setembro, vem recebendo a adesão de sindicalistas, estudantes e ativistas de diversos movimentos sociais e, agora está se expandindo para a Europa: uma manifestação está sendo convocada para o próximo sábado, dia 15, em Zurique, na Suíça.

O movimento é uma grande protesto contra o desemprego, as grandes corporações, o aporte de muitos bilhões de dólares dado pelos governos dos EUA (e pelos governos europeus) ao grandes bancos. Os cortes efetuados na saúde e na educação, entre outras áreas, pelo governo Obama, para viabilizar a aprovação, pelo Congresso, do acordo de elevação do teto da dívida do país, estão, também, entre os alvos das críticas do movimento.

No último fim de semana houve manifestações na Filadélfia, em Los Angeles, em Boston e outras cidades norte-americanas.

O crescimento desse movimento é o resultado da percepção crescente, na maioria da sociedade, na classe trabalhadora, nos 99%, de que a crise atual tem caráter sistêmico e de que as medidas que vêm sendo adotadas pelos governos dos EUA e europeus para combatê-la tendem a piorar ainda mais o quadro atual de desemprego e miséria. Começa a ficar cada vez mais claro, também, para um número cada vez maior de pessoas, que a causa principal da situação atual é o sistema capitalista em si.

 


Bolsa “tubarões”

Diversos órgãos da grande mídia deram destaque aos números do programa “Seguro-defeso”, o popular “Bolsa-pescador”, que em 2011 beneficiará 553.172 pescadores, com gastos de R$ 1,3 bilhões, pagos pelo Ministério do Trabalho. O governo sequer sabe, conforme atestam lideranças de pescadores, quantos brasileiros vivem da chamada pesca artesanal. Há também um número enorme de fraudes, envolvendo falsificações de documentos e uso dos recursos para fins eleitorais. Parece mais bolsa para enriquecer tubarões…

Os problemas no setor pesqueiro vêm de longe, e são derivados da industrialização (e internacionalização) da pesca, gerida por interesses privados, e pela falta de apoio efetivo aos pescadores artesanais, que não recebem ajuda para a criação de infra-estrutura e equipamentos, nem dispõem, como a maioria dos trabalhadores brasileiros, de garantias sociais.

Além dos desvios e desmandos dos programas atuais – lamentáveis, que devem ser rigorosamente apurados e levar os envolvidos à prisão –, além da necessidade de aumentar a fiscalização e o controle social efetivo sobre o programa, há que promover-se uma política integrada para a pesca, em todas as modalidades, assim como para a produção em cativeiro.

Há que superar-se a necessidade de criação de programas como o “Bolsa-pescador”, de corte compensatório e assistencialista, gerados para amenizar os efeitos perversos das políticas econômicas neoliberais, com a implementação de um projeto efetivo de desenvolvimento, em todos os setores da economia, voltado não para os interesses dos grandes empresas, mas para a maioria da população, para o bem-estar e para a igualdade social.

 


Áreas de conservação ou destruição?

É grande o desmatamento recente nas Unidades de Conservação (UCs), que, no ano passado, foi de 11, 5 km quadrados. Falta fiscalização, faltam recursos.

A proteção às florestas e aos demais biomas brasileiros é vital para o futuro. É um absurdo que, mesmo nas áreas reservadas para preservação haja desmatamento. A revelação, divulgada n’O Globo, de 08/10, de que tramitam, no Congresso, diversos projetos e emendas que visam à redução dos limites das Unidades de Conservação federais revela a pressão de pecuaristas, que invadem e desmatam para criar gado na região amazônica, de madeireiros – 65% das áreas exploradas para esse fim, em 2010, não tinham autorização – e outros interesses privados na ocupação dessas áreas para fins de exploração econômica.

É preciso agir com rapidez na apresentação e implantação de um projeto integrado de desenvolvimento que contemple a preservação e gere empregos e riqueza na região amazônica e demais regiões do país por meio de atividades econômicas sustentáveis. No caso das madeireiras, dos pecuaristas e outros interesses capitalistas criminosos que agem na ilegalidade, não há outra solução a não ser ação direta da Polícia Federal, com a prisão dos respectivos responsáveis.

 


Pró-Jovem: pouco resultado

Matéria de O Globo informou que apenas 38% dos alunos da versão urbana do projeto Pró Jovem e 1% dos alunos do campo se formaram. De acordo com o jornal, o programa consumiu, em 6 anos, mais de 1,6 bilhões de Reais, e a vertente “Trabalhador” do programa está sob investigação, sob suspeita de favorecimento a ONGs.

Várias são as características extremamente ruins desse programa, como a não exigência de freqüência às aulas, o uso de professores leigos e a contratação de ONGs para a sua execução. È um acúmulos de erros e desvios, que têm origem na própria concepção que o gerou, uma concepção de substituir a Escola pública, de acesso universal, de qualidade, de substituir a responsabilidade direta do Estado pela educação de crianças, jovens e adultos. Debilita-se, assim, a Escola, aviltam-se os salários dos profissionais de Educação, financiam-se organizações privadas.