Desabamento do prédio em São Paulo: tragédia desencadeada pela especulação imobiliária
O desabamento de um prédio em chamas no centro de São Paulo, no último dia primeiro de maio, foi, sem dúvida, uma grande tragédia. O prédio estava ocupado por trabalhadores sem-teto. Morreram homens, mulheres e crianças que, sem encontrar alternativas para sair da condição de moradores de rua, buscaram abrigo para as suas famílias naquele edifício abandonado e lutavam para conseguir trabalho no centro da cidade.
Trata-se de uma tragédia que é o reflexo de outra tragédia maior: segundo dados da FGV, mencionados em matéria do Jornal do Brasil de 06 de maio de 2018, há, no Brasil, um déficit de 7,7 milhões de moradias ou 11,4% do total de habitações existentes no país, atingindo 28 milhões de pessoas concentradas nas grandes cidades da região Sudeste e Nordeste, principais destinos das famílias que deixam as cidades do interior e o campo em busca de emprego, escolas, postos de saúde e moradia digna. Pode-se afirmar que esses são números que retratam apenas uma parte do problema, pois não computam as moradias precarizadas, sem água encanada e saneamento, construídas sem fundações sólidas ou muito distantes das áreas das cidades onde há trabalho e infraestrutura social. Sem falar, é claro, dos preços absurdos dos aluguéis, que chegam a consumir mais da metade da renda de muitas famílias.
Outros elementos dessa tragédia são o brutal índice de desemprego que deixa milhões de trabalhadores sem perspectiva de ter um trabalho mesmo que informal e o gigantesco número de prédios públicos e privados abandonados e de casas e apartamentos fechados intencionalmente pelos seus proprietários para a especulação. Trata-se de uma tragédia encadeada, cujo primeiro elo é o sistema capitalista, que tende a concentrar a renda e a gerar cada vez menos empregos, seguido pela lógica do mercado imobiliário, que funciona com base na especulação para a obtenção de gordos lucros pelas construtoras e empresas de locação privadas, que, por sua vez, impõem suas condições aos compradores e inquilinos e também aos governos.
Segue-se a falta de políticas fortes voltadas para a habitação que possam combater o déficit habitacional de forma integrada com o desenvolvimento geral do país e o desenvolvimento regional, a fim de garantir emprego e renda para todos e programas públicos de habitação de grande porte – ao contrário da maioria dos programas habitacionais que vigoram ou já vigoraram no país, os quais atendem a poucas famílias. Moradia deve ser um direito – social e humano – garantido para todos, integrado com oferta de emprego e infraestrutura social.
A luta por moradia tende a se acirrar. Para a sua superação, é preciso inverter a lógica, colocando as pessoas, os trabalhadores como prioridade máxima, e não o lucro e a propriedade privada.
Ilustração: Paulo Pinto. Fotos Públicas