A Semana no Olhar Comunista – 0019

 


De acordo com o Censo do IBGE, embora tenha havido aumento do emprego formal entre 2000 e 2010 (de 54,8% para 65,2%), mais de um terço dos trabalhadores não tem qualquer tipo de proteção legal em suas relações de trabalho.

Mas o número mais revoltante é mesmo o que desmascara a “divisão do bolo” em termos de rendimento mensal: os 10% dos domicílios do país com maiores rendimentos abocanham 42,8% do total, enquanto os 10% mais pobres ficam com apenas 1,3% dos ganhos. Traduzindo em valores, a média de rendimento no “topo da pirâmide” é de R$9.501, mais de 3.000% superior aos R$295 ganhos pelos mais pobres.

Mesmo ao sair dos extremos opostos, os resultados são alarmantes: metade da população brasileira tem ganhos de R$375 por mês, apenas ¾ do valor do paupérrimo salário mínimo no ano da pesquisa (2010), R$510.

 


Setor financeiro é maior credor do governo

O que antes poderia ser criticado pela direita e os banqueiros como discurso vazio agora tem prova: mais da metade do que a União deve – e gasta com juros e amortizações – está nas mãos do setor financeiro.

E quem informa é o próprio Tesouro Nacional: as instituições financeiras e os fundos de investimento detêm 56,6% da dívida em títulos do governo federal no mercado interno, cerca de R$ 1 trilhão.

O órgão divulgou o relatório da dívida pública, no qual consta que a dívida mobiliária (em títulos) federal somava R$ 1,723 trilhão em setembro, dos quais R$ 976,28 bilhões estavam em poder do segmento financeiro. Desse total, R$ 524,85 bilhões (30,45%) pertenciam a bancos, corretoras e distribuidoras e R$ 451,43 bilhões (26,19%) estavam sob a posse de fundos de investimento.

Em terceiro lugar apareciam os planos de previdência aberta e fechada (os famosos fundos de pensão), com R$ 267,36 bilhões (15,51%). Já os estrangeiros detinham cerca de R$ 194 bilhões (11,29%).

 


Apenas 4 bancos lucram R$ 44,9 bilhões com serviços e tarifas

O lucro do Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander apenas com prestação de serviços e tarifas bancárias somou quase R$ 44,9 bilhões de janeiro a setembro. Para chegar à quantia, bastou pesquisar os dados divulgados nos balanços contábeis referentes ao terceiro trimestre desses quatro bancos.

O valor representa crescimento de 12,25% na comparação com o mesmo período de 2010, quando o lucro com essas receitas havia chegado a R$ 40 bilhões. Para eles, não há crise…

 


O Presente (e o Futuro) da Rocinha

Os recentes acontecimentos da Rocinha, no Rio de Janeiro, revelam uma dura realidade – até agora coberta pelo controle do território pelo crime organizado – de insalubridade, doenças, miséria, abandono. Sem as quadrilhas, muita coisa pode mudar, com a implantação da coleta de lixo, a ação contra as doenças como a dengue e a tuberculose – que apresentam índices elevadíssimos de incidência na área – a iluminação pública e outros serviços urbanos.

Mas outras questões ficam em aberto: num local privilegiado, na zona mais nobre da cidade, com vista para o mar, haverá, sem dúvida, uma enorme pressão do mercado imobiliário para a compra dos atuais imóveis por moradores de renda mais alta, por investidores do setor hoteleiro e outros (por preços baixos, hoje, que serão compensados no futuro); a presença do Estado se dará apenas na garantia da segurança, com a ação direta da Polícia Militar, ou serão construídos postos de saúde, hospitais, escolas, creches e outras instâncias públicas de Bem-Estar?

Se prevalecerem os interesses do mercado, em pouco tempo a população trabalhadora da Rocinha será deslocada para a periferia da cidade, onde, após algumas aquisições de bens de consumo duráveis, os trabalhadores voltarão a ser submetidos a longos (e caros) trajetos até o seu local de trabalho, vivendo em condições precárias. Para que isto não acorra, é preciso que sejam garantidos imediatamente os títulos de posse dos imóveis – sem direito à revenda – e que as ações do poder público sejam realizadas com a participação direta da comunidade nas decisões, para que a igualdade, a justiça e o bem-estar sejam a tônica da nova realidade a ser construída na Rocinha (e em todo o país).

 


Astronautas norte-americanos vão ao espaço de carona

Os Estados Unidos não são mesmo mais aqueles. A até recentemente poderosa agência norte-americana para a exploração espacial – a NASA -, após o encerramento do programa dos ônibus espaciais, vai enviar seus astronautas ao espaço, para trabalharem, em órbita, na Estação Espacial Internacional, em foguetes russos Soyus. O contrato é de 753 milhões de dólares com a agência espacial russa – a Rossskosmos – para um total de 12 voos (o primeiro acaba de ser lançado).

 


Interesses do capital reduzem pesquisas com células tronco

A empresa norte-americana Geron, uma gigante da área médico-farmacêutica – anunciou o fim dos trabalhos de pesquisa com células-tronco embrionárias, uma linha de investigação certamente promissora de avanços na medicina capazes de superar doenças e lesões até hoje tidas como incuráveis. Como disse a pesquisadora Tatiana Coelho-Sampaio, da UFRJ, em entrevista a O Globo (17/11), “os rumos da pesquisa em saúde mundo afora são altamente afetados pelos interesses dos investidores de toda a sorte”.

A razão da decisão da empresa se deu por interesses econômicos, que não aceitam riscos altos e buscam, essencialmente, o lucro, não importando se a fonte é um produto de consumo ou a saúde humana. É a essência do sistema capitalista.

 


Guantánamo, uma vergonha muito cara

Dados divulgados no El País atribuídos ao Departamento de Defesa dos EUA apontam Guantánamo como a prisão mais cara do mundo: os 171 detentos ali colocados – sem julgamento legal, é sempre bom lembrar – custam aos norte-americanos US$ 137 milhões por ano, ou US$ 800 mil cada um.

O site Wikileaks divulgou em maio deste ano o vazamento de 759 fichas secretas dos 779 presos que já passaram por aquele local desde 2002. Ao menos 150 detidos eram comprovadamente inocentes, e entre eles estavam idosos com demência senil, doentes psiquiátricos e professores. Os detentos de Guantánamo conquistaram o direito ao habeas corpus, sob a Constituição dos EUA, apenas em 2008.

 


Perigo off-shore

O vazamento de óleo na bacia de Campos, no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, provocou uma mancha de 162 km² no mar. A situação, que preocupa ambientalistas, serve de alerta para os riscos da “corrida” pelo pré-sal. Tendo apenas a busca pelo lucro rápido à sua frente, ainda mais em um cenário de crise econômica, a iniciativa privada deve ficar menos atenta a segurança nas escavações…

 


Recessão européia

A Europa está à beira da recessão: a Zona do Euro ficou estagnada no terceiro trimestre deste ano, com alta de apenas 0,2% em seu PIB. De acordo com o Eurostat – órgão oficial de estatísticas –, ocorreram expansões de 0,5% na Alemanha e de 0,4% na França, mas economias como as da Grécia (queda de 5,2%), Portugal (-0,4%) e Espanha (0,0%) puxam o bloco para baixo.

Em mais uma mostra da crise européia, a segunda maior montadora do continente – PSA Peugeot Citroen – cortará 4 mil empregos na França em 2012, numa clara demonstração de que os trabalhadores continuam pagando pela crise.

Numa tentativa tímida, tardia e ineficiente de reduzir a sanha especulativa do sistema financeiro, que tem chantageado as economias européias através das agências de classificação de risco, declarações de banqueiros e agentes do “mercado”, o Parlamento Europeu aprovou lei que limitará a especulação com a dívida dos países da região, proibindo a partir de 1º de dezembro “vendas a descoberto” (sem ter os papéis em mãos) dos títulos da dívida soberana.