O mundo do trabalho e as relações sociais de gênero
– A Quem serve a opressão feminina?
A classe trabalhadora tem dois sexos!
Coordenação Nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
É preciso destacar que as relações sociais de gênero são por nós entendidas como relações que se estabeleceram antes da sociedade industrial capitalista, ou seja, já se presenciavam dicotomias que estabeleciam relações desiguais entre homens e mulheres no patriarcado, mas é com o advento da sociedade capitalista burguesa que tais fenômenos ganham robustez, vigor e força, conforme demonstram as discriminações, opressões e a subordinação do gênero feminino ao masculino.
É, pois, com o fortalecimento da sociedade capitalista em sua fase monopolista que estes dois sistemas se articulam e se consubstanciam. No contexto do capitalismo mundializado, se intensificam as transformações no mundo do trabalho, cujos processos de flexibilização engendram novas formas de gestão e organização do processo produtivo e de mobilização das/os trabalhadoras/es. Neste sentido, sofismando a participação da mulher.
Quando se articula essa reestruturação com formações de economias periféricas, como no caso do Brasil, é possível verificar que a reestruturação produtiva que insere a mulher no mercado de trabalho também a insere na “privatização” das responsabilidades domésticas, pois, de acordo com a PNAD ( 2018), somos nós quem mais chefiamos as famílias monoparentais. Reforça-se a presença no mercado de trabalho com a acumulação do trabalho doméstico – não remunerado e o trabalho assalariado, quando não combinando as duas formas, de modo ainda mais precário e desregulamentado.
A experiência de pertencer a um país de economia periférica e dependente, com ausência do Estado social, pesa sobremaneira na nossa vida e organização, em nossas lutas e conquistas. A precariedade, a informalidade e a instabilidade sempre reafirmam um padrão de legislação e de organização do sistema produtivo que reforça econômica e historicamente o patriarcado, que nos subordina, inferioriza e domina. As próprias estruturais legislativas, sociais, políticas e sindicais têm comprovado a “marginalização” a que estamos submetidas no mundo do trabalho. A reforma trabalhista, ao expor as mulheres grávidas às condições de mais precariedade, insalubridade e periculosidade evidencia mais ainda isso.
Assim, transformar o pessoal em político é um dos pressupostos da emancipação política e da relativa autonomia econômica das mulheres. Entretanto, é preciso que as instituições compreendam e apliquem práticas sociais que superem as hierarquias entre homens e mulheres, pois os conflitos, tensões, oposições e assimetrias das relações sociais de gênero só serão superadas com a superação do modelo vigente de divisão sexual do trabalho.
É preciso que a classe trabalhadora compreenda que este modelo não nos representa, pois, embora os homens possam se identificar imediatamente com os pseudoprivilégios de ser macho, são rapidamente apanhados pela realidade de sua condição de explorado e também muitas vezes de oprimido.
Considerando que, apenas por meio da luta anticapitalista e anti-imperialista, mulheres e homens terão maior autonomia e relativa emancipação, é que, nós do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro (CFCAM) saudamos a Marcha das Margaridas* e a 1° Marcha de Mulheres Indígenas, compreendendo que a luta das mulheres trabalhadoras, indígenas, quilombolas, camponesas, assentadas e acampadas, participantes da luta pela reforma agrária, pelo desenvolvimento sustentável, pela agricultura familiar, corroboram para o fortalecimento da luta pela superação da sociedade capitalista.
Em face do modelo anticivilizatório implementado pelo governo de Jair Bolsonaro, que gerencia a violência, a militarização da vida e a mercantilização dos direitos como a previdência social e a ganância sobre educação, defendemos a luta unitária como forma de enfrentamento à barbárie.
* “É melhor morrer na luta do que morrer de fome!”
Em 12 de agosto de 1983 era brutalmente assassinada Margarida Maria Alves. Sindicalista rural e defensora dos direitos humanos, foi assassinada na porta de casa, diante do filho e do marido. O assassinato foi considerado um crime político, o executor, um assassino de aluguel.
Margarida Maria Alves foi presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande na Paraíba, onde defendeu e lutou pelos direitos trabalhistas de trabalhadores rurais, o que gerou um conflito direto com latifundiários e usineiros.
Margarida Maria Alves, presente!