Sindicato dos Bancários-RJ comemora 90 anos de luta!
Chegará ao Centenário?
Ivan Pinheiro (*)
Como o tempo passa!
Há exatos 40 anos, eu era Presidente do nosso Sindicato quando ele completou 50 anos. Lembro disso não para contar histórias e menos ainda vantagens, mas para ver que lições podemos tirar fazendo paralelos entre esses dois momentos.
Em 1980, vivíamos em uma ditadura burguesa sob a forma militar. Só eram permitidos dois partidos políticos (MDB e ARENA), o primeiro de centro e o outro de direita. Não havia eleição direta para Presidente. A ditadura prendia, torturava e assassinava opositores. Greves e centrais sindicais eram proibidas por lei. Em 1979, nosso Sindicato acabara de sair de uma longa intervenção do governo, que no mesmo ano interveio novamente!
No entanto, a partir da greve dos metalúrgicos de São Bernardo, em 1978, os trabalhadores fizeram muitas outras greves memoráveis e conquistaram grandes vitórias: acabaram com o arrocho salarial e suas lutas foram decisivas para a decadência e o fim da ditadura. Era uma época em que prevalecia a unidade de ação na luta, em cada sindicato e entre os sindicatos, que não lutavam apenas por conquistas econômicas. Protagonizavam as grandes lutas políticas gerais da época (anistia, eleições diretas, assembleia constituinte, defesa das estatais) além das específicas, como a defesa da liberdade sindical e do direito de greve.
Houve uma grande explosão do movimento sindical e de massas naquela época, em resposta a uma demanda social reprimida por mais de uma década de exploração e repressão. Nosso Sindicato, como sempre, assumiu a vanguarda dessas lutas no Rio de Janeiro, onde liderou política e materialmente campanhas como as “Diretas Já!” e teve papel decisivo nas articulações intersindicais estaduais e nacionais.
Já em 2020, vivemos no que chamam cinicamente de “estado democrático de direito”. O golpe que derrubou a Presidente Dilma não foi militar, não precisou de nenhum tiro. Foi armado pelas classes dominantes de forma que não parecesse golpe, através de manipulações da mídia hegemônica legitimadas pelo Congresso Nacional e abençoadas pelo “sagrado” manto do STF, acima do qual só recorrendo a divindades. Com o agravamento da crise econômica, o capital já não queria mais a conciliação de classe e as políticas compensatórias.
Através de eleições “livres e democráticas”, precedidas da prisão sem provas do candidato favorito com base no “devido processo legal”, somos hoje governados por um idiota político ideologicamente fascista. Os grandes capitalistas se aproveitam da distração que geram diuturnamente as trapalhadas e asneiras do bobo da corte para levar adiante contrarreformas para tirar direitos dos trabalhadores e privatizar o Estado, enquanto controlam o idiota útil para que não exagere nem acabe com o “estado de direito”. Não porque sejam democratas, mas porque o que chamam de democracia é a sua mais confortável e charmosa forma de dominação. É uma espécie de sanfona, que eles abrem ou fecham em função de suas necessidades para manter a exploração e os lucros. De qualquer maneira, a democracia fajuta em que vivemos é melhor para lutarmos que a ditadura escancarada.
No entanto, como vimos, o grau de liberdades democráticas não é o único fator que influi na correlação de forças entre o capital e o trabalho.
Nossa força era muito maior naqueles tempos do que nos atuais. Tínhamos vitórias e conquistas; hoje, colecionamos derrotas. Isso acontece porque há fatores que nos tiram força, como a fragmentação, o aparelhamento e o apassivamento do movimento sindical, o lado negativo do desenvolvimento tecnológico, o desemprego estrutural e as mudanças regressivas na relação capital/trabalho impostas pelo estado burguês, em função da crise sistêmica do capitalismo. E ainda pagamos o preço do mundo unipolar surgido após o fim da União Soviética, quando o capital se aproveitou para implantar o chamado neoliberalismo. O sindicalismo ainda vive mundialmente uma crise de representatividade e a maioria da esquerda de identidade.
Essa reflexão sobre épocas e realidades diferentes da luta de classes nos ajuda a encontrar caminhos para tentar reverter esta correlação de forças desfavorável. Ainda mais porque podemos estar às vésperas de uma nova explosão em grande escala da luta dos trabalhadores, em função de uma gigantesca demanda social mundial reprimida e dos sinais de esgotamento das possibilidades de o capital extrair valor retirando direitos e saqueando os cofres públicos. Revoltas populares massivas explodem em vários países, algumas com sinais de insurreição, como no Chile, não por coincidência, exatamente o principal laboratório da farsa do sucesso do capitalismo “selvagem”.
Talvez a principal lição que podemos tirar é que os sindicatos precisam superar o corporativismo e o economicismo aos quais sucumbiram.
Talvez esteja na hora de nosso sindicato resgatar sua vocação de vanguarda e contribuir para aglutinar o sindicalismo de orientação classista de diversas categorias profissionais e as forças do movimento popular em unidade de ação, sem partidarização, para contribuir nas grandes lutas e mobilizações populares de que necessitamos para barrar os retrocessos políticos, sociais e econômicos em curso.
Uma iniciativa interessante pode ser a de promover um encontro de todas as centrais e correntes sindicais classistas de nosso Estado para iniciarem um processo de aproximação e de experiências de ações unitárias. Lutas comuns é o que não faltam!
Mas permitam-me expressar aqui a questão que mais me angustia. Nosso Sindicato corre o risco de não comemorar 100 anos de vida, sobretudo se continuar representando apenas os bancários do Município do RJ. Todos sabemos que nossa profissão está sendo cada vez mais rapidamente “uberizada” e deixará em breve de existir, pelo menos como a conhecemos. A cada “banco digital” que surge, lá se vão as agências físicas e com elas os empregos. Já se prevê que, em breve, perderá a utilidade a própria moeda, o que acarretará o fim dos caixas, humanos e eletrônicos!
Está na hora de pensar e agir com ousadia e de mudar radicalmente alguns paradigmas. É preciso refletir sobre iniciativas que certamente serão difíceis de serem coroadas de êxito. Muitas delas terão como principais obstáculos o corporativismo e o oportunismo de sindicalistas que dão mais valor aos seus próprios interesses e vaidades. É o caso da necessária fusão de sindicatos, tanto do ponto de vista da base territorial como de categorias profissionais. O êxito dessa empreitada dependerá do interesse dos trabalhadores representados sindicalmente pela velha estrutura corporativa, razão pela qual eles serão os principais atores dessas necessárias mudanças.
Precisamos transitar o quanto antes para o sindicato por ramo de produção e não mais por categoria profissional, sob pena de extinção de fato da nossa entidade, ainda que sobreviva de direito. Se houver vontade política, é preciso iniciar imediatamente estudos, sondagens e contatos para entender o que significa, no nosso caso, o ramo de produção dentro do chamado setor de serviços da economia e quais os caminhos que poderão nos levar a este objetivo.
Alguns companheiros devem estar pensando por que alguém vem a esta comemoração de aniversário para falar mais dos nossos problemas do que da nossa história.
É porque toda vez que nos encontramos para comemorar um aniversário de quem gostamos, desejamos-lhe sempre, como aqui e agora ao nosso querido Sindicato, MUITOS ANOS DE VIDA! Não me sentiria honesto em expressar este desejo, se não me preocupasse com o nosso futuro.
(*) – Ivan Pinheiro foi presidente do Sindicato dos Bancários do RJ (1979/1982) e delegado junto à Federação (1982/1985)