PCB: compromisso com a luta anti-imperialista
*Por Maria Carolina de Oliveira e Marianna Rodrigues
Entre os dias 05 e 14 de fevereiro, as militantes do PCB Maria Carol (Coordenação Nacional da UJC-Brasil e diretora de RI da UNE) e Marianna Rodrigues (Coordenação Nacional do CFCAM e diretora da ANPG) estiveram na Argentina para cumprir uma intensa agenda de atividades internacionais junto às organizações membros da Federação Mundial das Juventudes Democráticas (FMJD) e Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM)
Derrotar o golpe de Estado na Bolívia! Um resumo do encontro com Evo Morales
A agenda teve início com um encontro entre FMJD e Evo Morales, no qual foram apresentados os objetivos da I Brigada Juvenil pela Paz na Bolívia. Evo Morales (MAS – IPSP | Movimento Ao Socialismo – Instrumento Político por la Soberanía de los Pueblos) renunciou à presidência da Bolívia após um golpe de Estado consumado ainda em novembro de 2019. Desde então, Evo exilou-se primeiramente no México e, após a derrota de Macri (Cambiemos) para Alberto Fernandez (Frente de TODOS), encontra-se refugiado na Argentina ao lado de dezenas de militantes em situação de exílio.
Ao longo da conversa, Evo fez questão de destacar que a decisão para renunciar e sair do país não foi fácil, e só foi tomada após uma série de reuniões com lideranças locais e internacionais. Renunciar foi uma tentativa de estancar a violência que tomou conta do país após o golpe, em especial a perseguição política contra a militância que nos últimos anos comprometeu-se em construir uma Bolívia plurinacional, pluriétnica, com menos desigualdade e mais democrática.
De fato, além da tomada de todas as instituições – os três poderes, em especial o judicial; a polícia; os meios de comunicação -, os golpistas criaram uma situação caótica nas ruas, com uso abusivo da violência e práticas de tortura, sendo que o número conhecido de militantes assassinados já alcançou 32. A presidenta interina e autoproclamada da Bolívia, Jeanine Áñez, não tomou providências frente a esses casos e, ao contrário, foi protagonista da imposição do terror sobre a população. A única medida foi convocar eleições gerais para maio de 2020, das quais o MAS – IPSP vai participar e tem a convicção de que pode vencer.
Embora seja bastante evidente para Evo e sua militância que o golpe está sendo financiado por governos de países imperialistas, sobretudo pelos Estados Unidos, e apoiado por governos de extrema direita no continente, não se pode deixar em segundo plano uma análise das próprias táticas de governo implementadas nos últimos anos. Nas próprias palavras de Evo, encontra-se um profundo sentimento de autocrítica sobre determinadas escolhas, em especial no que tange à ampla abertura dos ministérios e ao abandono do trabalho ideológico. Nos anos mais intensos de luta de massas na Bolívia, quando Evo firmava-se como dirigente político e, mais tarde, o maior líder popular do país, a força motriz do movimento de cocaleiros sempre foi o anseio pela libertação da Bolívia das mãos dos colonizadores e imperialistas, razão pela qual as ações políticas em geral continham um explícito viés plurinacional, pluriétnica e anticapitalista.
As conquistas econômicas da Bolívia de Evo não modificaram este anseio em meio às bases, mas diversos ministérios e espaços estratégicos, centrais para aprofundar essa política, foram colocados nas mãos de pessoas sem nenhum compromisso com as lutas originárias do país, representantes exclusivos de interesses externos ou particulares. Com efeito, nos últimos meses, Evo teve de enfrentar a dura realidade de ter, em meio ao seu próprio governo, agentes pró-golpe.
Nesse sentido, o cenário que apresenta-se hoje exige mais do que uma tática para vencer um processo eleitoral. Mesmo com uma possível vitória de Luís Arce (candidato à presidência pelo MAS – IPSP) em maio, e ainda que se alcance uma maioria de deputados e senadores – porque a maioria da população sem dúvidas está contra o Golpe -, apenas a implementação de reformas estruturais imediatas vão permitir que se alcance a paz e condições mais dignas para o povo boliviano. De todo modo, a tática eleitoral também não se realizará de maneira simples: a recente proibição de Evo Morales candidatar-se ao senado, noticiada no dia 19 de fevereiro, demonstra explicitamente que o processo eleitoral não será justo, tampouco limpo, e terá como principal objetivo consolidar o golpe de Estado no país. Evo e o conjunto da militância do MAS IPSP estão cientes destas condições e necessitam, com urgência, da ampliação da rede de solidariedade internacionalista para intensificarem a agenda de luta.
I Brigada Juvenil pela Paz na Bolívia “German Lozano”
Uma delegação com mais de 20 delegados de diferentes países (Argentina, Brasil, Colômbia, Espanha e Paraguai) encaminhou-se para Salta, região fronteiriça com a Bolívia. Lá estivemos entre os dias 9 e 12 de fevereiro, reunidos com companheiros bolivianos que se encontram em situação de exílio e militantes da La Liga Argentina por los Derechos Humanos, instituição que tem organizado corredores humanitários para acolher o povo boliviano em luta contra o golpe e que atua permanentemente pela liberdade de presas e presos políticos na Argentina.
Além de expressar nossa solidariedade, a Brigada teve o objetivo de recolher informações para fortalecer a agitação e propaganda pela paz na Bolívia e combater o cerco midiático que veicula informações mentirosas.
A situação na Bolívia é tão alarmante que, já na primeira semana de golpe, 36 meios de comunicação comunitários foram fechados e, hoje, há apenas um meio de comunicação, a rádio Kausachun Coca, que repassa informações seguras sobre a situação do país. Nesse sentido, um compromisso que todos afirmamos é retornar aos nossos países para divulgar o que realmente ocorre na nação vizinha, reforçar o vínculo com meios de comunicação para criar uma rede maior de informações e ampliar os locais de ajuda humanitária. Inclusive, ainda em Salta, foi realizada uma Coletiva de Imprensa para publicizar as informações recolhidas pela Brigada[1].
Ao longo dos dias de Brigada em Salta, estivemos em maior contato com companheiros bolivianos que deixaram tudo para trás quando foram obrigados a sair do seu país para se manterem vivos e, ainda assim, apresentam total disposição para continuar na luta pela libertação. São defensores da militância juvenil, pois foi assim que iniciaram sua luta no movimento popular, sendo muito incisivos quando falavam da importância de, em um momento de alívio das tensões, retomar as escolas populares de formação política.
O progressismo trouxe avanços, como vimos na Bolívia e nas demais experiências na América Latina, em alguns países mais que os outros, mas não foi capaz de superar a lógica do capital e suas inúmeras contradições. Hoje experimentamos uma reorganização da extrema direita e suas forças repressivas, com objetivo de garantir o aprofundamento das medidas neoliberais e, consequentemente, a piora nas condições de vida e retirada de direitos da classe trabalhadora.
Temos a urgente tarefa de impulsionar e construir a resistência popular e anti-imperialista das e dos trabalhadores, junto da juventude e dos movimentos populares, em escalas nacionais e internacionais. Além disso, sabemos que nossa aliança prioritária deve ser com a nossa classe, sem submetê-la a interesses conciliatórios e que jamais poderemos abrir mão das lutas pelo socialismo em nosso continente e no mundo!
Construir um #8M – Dia Internacional das Mulheres Anti-imperialista: encontro entre CFCAM e Corriente Lohana Berkins
Nosso último compromisso na Argentina foi um fraterno encontro com as camaradas da Corriente Nacional Lohana Berkins, instrumento de articulação das lutas de gênero e sexualidade do Partido Comunista da Argentina (PCA) e da Federação de Jovens Comunistas (La Fede). Nesta reunião, reforçamos a importância dos movimentos sociais latino-americanos que estão sendo impulsionados também por bandeiras feministas, e compartilhamos da urgência em construir um Dia Internacional das Mulheres que tenha como agenda principal a denúncia do avanço imperialista em nosso continente.
Finalmente, encerramos nossa agenda internacionalista com a convicção de que as diferentes lutas de cada país devem convergir para um horizonte comum, assim acumulando forças para construir uma sociedade livre de exploração e opressões!
[1] https://www.pagina12.com.ar/247294-hay-mas-de-30-refugiados-politicos-bolivianos-en-salta