Um governo genocida e lesa-pátria

imagemMesmo com a crise do coronavírus, Petrobrás vai à venda
[Parte I da reportagem ‘Petrobrás a venda’]

Por Leonardo Godim para o portal Poder Popular MG.

BELO HORIZONTE – Um longo processo de privatização, disfarçado sob a alcunha de “desinvestimentos”, está em curso na Petrobrás, cujo próximo episódio é a venda de 8 das suas 13 refinarias. Correspondendo a 50% da capacidade de refino da empresa, esta venda será o momento crucial do maior crime de lesa-pátria da história recente do Brasil.

Em novembro de 2019, o Conselho de Administração da Petrobrás apresentou o primeiro plano estratégico sob a presidência de Castello Branco. O projeto diminui 10% dos investimentos até então previsto para o período, com foco nas unidades de exploração e produção de petróleo. O setor de refino entra na “carteira de desinvestimentos” da empresa, que inicia com a venda de quatro refinarias. A segunda etapa será a venda de mais quatro refinarias, entre elas a Refinaria Gabriel Passos, em Betim (MG).

Gustavo Marun, trabalhador da Petrobrás, membro do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros denuncia as medidas como um saque aos recursos naturais brasileiros e à nossa capacidade produtiva. “Recentemente foram “saqueados”, por exemplo, campos de petróleo estratégicos do pré-sal, praticamente toda nossa malha de gasodutos (que somos obrigados a usar e pagar aluguel caríssimo) e a BR Distribuidora (segunda maior empresa brasileira em termos de faturamento). A Petrobrás está perdendo sua integridade na cadeia produtiva do petróleo, e quem mais perde é o trabalhador, que se vê refém de cartéis internacionais que praticam sobrepreço de combustíveis e gás de cozinha, além de não garantirem abastecimento para todo o território do país.”

Para Gustavo, os interesses privados sempre rodearam a Petrobrás e aproveitam a crise para atacar o patrimônio da estatal. “O mercado não queria sequer que fundássemos uma empresa nacional de petróleo, mas dado o sucesso da campanha “O Petróleo é Nosso”, não conseguiram impedir essa façanha histórica dos verdadeiros brasileiros (progressistas, comunistas e nacionalistas que impulsionaram aquela luta).”

A venda de setores estratégicos da Petrobrás se dá no momento de maior arrecadação da empresa. No ano passado, os lucros líquidos da Petrobrás somaram R$40,1 bilhões, o maior de sua história. A contribuição para cofres públicos alcançou a cifra de R$246 bilhões, seis vezes maior do que a soma de lucros. Fruto de bilionários investimentos públicos em toda cadeia produtiva de petróleo, o retorno destes valores em preços que beneficiem o consumidor nacional e em políticas públicas necessárias ao povo brasileiro se veem ameaçadas pela privatização.

O foco na exploração e produção acentua o papel do Brasil como produtor de petróleo e importador de combustíveis. A dinâmica de exportação do petróleo brasileiro por multinacionais é a reprodução de antigos mecanismos de transferência de valor dos países dependentes na periferia para as economias centrais.

As medidas do governo federal encontram forte resistência na categoria dos petroleiros, que entraram em greve no início de fevereiro desse ano. A Federação Nacional dos Petroleiros e a Federação Única dos Petroleiros convocaram a greve nacional contra o fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados no Paraná e a demissão de quase mil trabalhadores. A greve durou 20 dias e teve participação de 50 plataformas de petróleo e outras dezenas de unidades operacionais.

Questionado sobre qual o recado dos petroleiros para a população brasileira neste momento, Gustavo Marun afirma: “O recado é que a Petrobrás precisa ser novamente abraçada pelo povo brasileiro, que deve forçá-la a retomar sua missão histórica: desenvolver nosso país e distribuir a renda petroleira para quem gera esse valor extraordinário – os trabalhadores. Os preços dos combustíveis e gás de cozinha estão nas alturas por conta de uma política irresponsável e insana da atual gestão, de alinhamento com a cotação internacional em dólar. Nosso custo de produção é muitíssimo mais baixo. Essa política está alinhada com interesses estrangeiros, contra o nosso povo, para enriquecer quem já é podre de rico! Precisamos disputar o projeto de Petrobrás e debater o caráter das estatais. Queremos uma Petrobrás 100% estatal, mas também sob controle popular e a serviço dos trabalhadores brasileiros!”