À memória de Alberto Passos Guimarães
Arte: Nino Guimarães
Por Camila Oliver
À memória de Alberto Passos Guimarães – Alberto Passos Guimarães, alagoano, nascido em Maceió, em 16 de abril de 1908 foi um ensaísta brasileiro autodidata. Guimarães precisou deixar a escola aos nove anos para ajudar o seu pai. Todavia, nunca deixou os estudos e tornou-se escritor de grande relevância na cena cultural brasileira. Casou-se com Zulmira Taveiros Guimarães, com quem teve dois filhos: Zulma Taveiros Guimarães e Alberto Passos Guimarães Filho (um dos fundadores da revista de divulgação científica Ciência Hoje, da SBPC).
Em Maceió, trabalhou como comerciante e jornalista e fez parte da cena intelectual, Geração de 30, ao lado de José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda, Valdemar Cavalcanti, Jorge de Lima, Aloísio Branco, Carlos Paurílio, Manuel Diégues Júnior, Mário Brandão, Rui Palmeira, Raul Lima, Théo Brandão, José Auto, Santa Rosa.
Em 1931, fundou a revista Novidade, que tinha como proposta a difusão da cultura local sob uma perspectiva crítica, na qual diversos autores relevantes de Alagoas publicaram seus textos, entre eles Carlos Paurílio, Aloísio Branco, Willy Lewin, Diégues Júnior e Santa Rosa. Também em 1931, ainda na juventude, ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB), então com 23 anos, sendo desde o princípio um de seus principais dirigentes e formuladores. Tendo ocupado a direção estadual do PCB em Alagoas na década de 1930 e parte da década de 1940. Dividia-se em dupla atividade na sua militância, uma cultural e outra política. Uma dessas suas atuações culturais foi a idealização versão alagoana da Feira de Arte Moderna de 1922, a ser realizada no salão nobre do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, em 22 de março de 1932, com apresentações de desenhos do artista plástico Santa Rosa, palestras e concertos sobre música moderna.
Em sua atuação política, teve participação na greve promovida pelos operários da indústria têxtil do bairro de Fernão Velho em 1932. A greve levou à convocação do I Congresso Operário de Alagoas, coordenado pelo dirigente comunista Olympio Santana. A partir da sua atuação no Congresso e com a criação do comitê de socorro aos operários de Fernão Velho que tinham sido demitidos e presos, Guimarães passou a ser perseguido, partindo para o Rio de Janeiro. Em sua rápida estadia no Rio de Janeiro (1932-1933), Passos Guimarães participou do Boletim Ariel, organizado por comunistas fluminenses, onde publicou quatro críticas literárias. Uma delas, publicada em 1933, foi a do romance Cacau, do escritor baiano Jorge Amado, de quem se tornara amigo.
Apesar da inserção na cena intelectual do Rio de Janeiro, Passos Guimarães regressou à sua terra natal e às atividades militantes em Alagoas. Dentre estas atividades, estava a mobilização para a atividade estadual preparatória do Congresso da Juventude Estudantil Popular e Proletária, em 28 de junho de 1935, na sede da Sociedade Perseverança e Auxílio dos Empregados do Comércio. Participou também da criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL) em 7 de maio de 1935, integrando a direção estadual.
Com a ilegalidade da ANL, Alberto Passos Guimarães foi processado com base na Lei de Segurança Nacional e, em novembro, caiu na clandestinidade. Com a intensificação da repressão do Estado Novo, buscou o autoexílio na Bahia, mas foi preso e retornou a Alagoas. Acaba regressando à Bahia tempos mais tarde, por volta de 1940, onde atuou na política do estado e na organização, bem como da comissão editorial de importantes veículos de comunicação do PCB, o jornal O Momento e a revista Seiva.
Em 1945, mudou-se para o Rio de Janeiro, trabalhando inicialmente como representante comercial e depois no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1949. No final dos anos 1960, passou a trabalhar na Rede Ferroviária Federal. Ainda na década de 1950, participou da comissão que redigiu a Declaração de Março (de 1958) que produziu uma inflexão na política do PCB, ao atribuir maior relevância à questão democrática, e à participação no jogo político democrático.
Ao longo de toda a sua história de militância no PCB, teve importante atuação como intelectual e homem de imprensa do Partido. Trabalhou nos jornais Imprensa Popular, Voz Operária, Novos Rumos, Terra Livre, no semanário sobre cultura Paratodos (dirigido por Jorge Amado e Oscar Niemeyer), nas revistas Problemas (dirigida por Carlos Marighella) e Estudos Sociais (dirigida por Astrojildo Pereira). Além disso, dirigiu o jornal Hoje e a editora Vitória.
Alberto Passos Guimarães faleceu no Rio de Janeiro em 24 de dezembro de 1993. Contudo, deixou um grande acervo intelectual. Dentre as suas obras publicadas estão: Inflação e Monopólio no Brasil – Por Que Sobem os Preços? (1962); Quatro Séculos de Latifúndio (1963, reeditado em 1968); A Crise Agrária (1978); As Classes Perigosas: Banditismo Rural e Urbano (1982).
Matéria originalmente publicada em: https://omomento.org/a-memoria-de-alberto-passos-guimaraes/