Nego Fuba: a luta pela terra na Paraíba

Jornal O PODER POPULAR 76 (edição de junho de 2023)

Nascido em 23 de junho de 1932, no município de Sapé-PB, João Alfredo Dias, sapateiro e camponês militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), era conhecido como Nego Fuba. Junto com João Pedro Teixeira, Pedro Inácio de Araújo – o Pedro Fazendeiro – e Elizabeth Teixeira, Nego Fuba se destacou como um dos mais importantes líderes da Liga Camponesa de Sapé, na Paraíba.

A Liga Camponesa de Sapé, fundada oficialmente como “Associação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas de Sapé”, foi uma ferramenta política fundamental para a organização da classe trabalhadora no espaço agrário paraibano e, sob influência direta do PCB, chegou a ter, em seu auge, cerca de 13 mil associados, tornando-se uma das mais relevantes organizações de luta no campo brasileiro entre o final da década de 1950 e início da década de 1960.

As Ligas Camponesas foram uma resposta a contínua piora das condições de vida dos camponeses nos anos de 1940 e 1950, que incluiu: o avanço das terras para cultivo da cana-de-açúcar; a cobrança do “cambão”, perversa relação de produção que impunha forçadamente aos camponeses alguns dias de trabalho não remunerados nas grandes propriedades; e a própria expulsão de trabalhadores e trabalhadoras da terra.

Em 1961, após resistir à desocupação das terras que ocupava com a mulher e os filhos, João Pedro Teixeira tornou-se alvo de represálias violentas, que incluíam tiros frequentes contra sua casa. Vice-presidente das Ligas de Sapé, ele acabou assassinado em abril de 1962 a mando dos fazendeiros Agnaldo Veloso Borges e Pedro Ramos Coutinho, que pretendiam assim intimidar as lideranças camponesas da Paraíba.

A luta da associação, entretanto, continuou sob a liderança de Nego Fuba, Pedro Inácio e a viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira. Ao contrário do que desejavam os mandantes do crime, o movimento se fortaleceu: revoltados com a execução, milhares de lavradores e lavradoras passaram a se associar em massa à Liga Camponesa de Sapé. A população da Paraíba assistiu a uma mobilização sem precedentes, capaz de contestar, de forma organizada, o poder do latifúndio no Estado da Paraíba.

Golpe de 1964: poder do latifúndio e repressão à luta popular

Em decorrência da grande popularidade alcançada por sua militância em defesa da população camponesa e dos trabalhadores rurais, Nego Fuba foi eleito o vereador mais votado do município de Sapé nas eleições municipais de 1963, conquistando mais de três mil votos. Mas teve seu mandato cassado pela Mesa Diretora da Câmara Municipal logo após o golpe empresarial-militar.

A ditadura imposta em 1964, fortemente incentivada e apoiada pelos grandes empresários e donos de terras, em reação ao crescimento da organização popular e das lutas em favor da reforma agrária, reprimiu violentamente o movimento das Ligas Camponesas e dos sindicatos de trabalhadores rurais. Nego Fuba foi preso no 15º Regimento de Infantaria do Exército, no bairro de Cruz das Armas, em João Pessoa, sendo duramente torturado entre abril e setembro de 1964, quando os militares forjaram sua soltura e de outras lideranças camponesas, como a de Pedro Fazendeiro.

Eles foram brutalmente assassinados pelo regime ditatorial e os seus restos mortais seguem desaparecidos até hoje.

 

QUE NUNCA SE ESQUEÇA, QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA!

CAMARADA NEGO FUBA, PRESENTE! ONTEM, HOJE E SEMPRE!

POR UMA REFORMA AGRÁRIA POPULAR!

Fontes:

PCB da Paraíba – https://pcb.org.br/portal2/30283

Memorial da Democracia – http://memorialdademocracia.com.br/conflitos/pb

Relatório da Comissão da Verdade da Paraíba – https://cev.pb.gov.br/relatorio-final