Construir a Greve Geral!

imagemH. Suricatto *

Vivemos uma enorme angústia coletiva nas vanguardas consequentes de nossa classe. A atual conjuntura exige para ontem ações mais ousadas e firmes pelas forças classistas e que tenha reflexo direto na consequente mobilização das massas a quem devemos ver nos mais variados espaços em luta direta contra Bolsonaro. Mas aí que está. Adianta apenas responsabilizar a burguesia e a pandemia pelos atuais obstáculos encontrados na mobilização da classe? Responsabilizar o restante da esquerda quando também nós, os comunistas, temos responsabilidade diante da inércia do momento atual? Não adianta.

O que nós, comunistas podemos fazer então? Simples, tornar as nossas palavras de ordem uma força real perante a classe, que elas se organizem e lutem através delas. Mas assim como na guerra, o mais simples é o mais complicado. Sobretudo num momento em que nossas tradicionais táticas estão limitadas ou com pouca margem de manobra para usar, como as paralisações, os atos de ruas e as ações simbólicas bem limitadas. Vamos às teses.

I

A tarefa mais imediata de todas as forças revolucionárias brasileiras – e não só, colocadas neste momento é a necessidade de derrubar Bolsonaro do poder. Ninguém discorda disso. Pois então, a divergência entra justamente no “Como? ”. Pois temos duas táticas neste momento em voga sobre qual fim o governo Bolsonaro deve tomar na estratégia de sua saída do governo.

Há uma linha de separação entre aqueles que querem tirar ele do poder através das eleições de 2022 e aqueles que desejam sua derrubada imediata. A primeira tática tem os seguintes fundamentos gerais: 1. A constatação do desgaste acelerado do Governo Bolsonaro não só perante a população em geral, mas até entre a burguesia, sobrando apenas uma base bem sólida de apoiadores com um pequeno núcleo duro de fanáticos. Mas uma base política respeitável e estável ao apoiar, colocando como uma força política ainda viva; 2. A pandemia ainda não terá se extinguido por completo, a memória viva de centenas de milhares de mortos por familiares, amigos e pessoas próximas não será facilmente esquecida por gerações. Ainda teremos na prática uma ou outra restrição, independentemente do ritmo das vacinações. Isso por si só poderá evitar a reeleição; 3. Um impeachment seria ainda mais traumático para a “nossa jovem democracia”, na esteira de dois processos em menos de 30 anos, o último há 5 anos e faz parte do contexto sociopolítico atual do Brasil, iniciado em 2013 e 4. Ainda temos uma agenda de reformas a ser tocada no congresso nacional, aproveitar a oportunidade de passar as reformas tributária, administrativa e outros “progressos”.

Em suma, todas estas pontuações encontram convergência na mesma tática, a de deixar o governo sangrar, controlar seus arroubos golpistas, garantir o pacto burguês até 2022 ou ser o rival ideal para uma onda antibolsonarista vinda de outro candidato. Convergimos parcialmente com a primeira pontuação, total com a segunda pontuação e discordamos das duas seguintes, bem liberais. São diferentes grupos políticos e partidos nesta perspectiva. O Centrão e sua eterna sede por emendas, verbas, cargos e tudo que puder sugar às custas de barrar qualquer processo de impeachment. A burguesia – não toda, há de se constatar – e na sua esperança de ver algum progresso nas reformas propostas pelo capital – administrativa, tributária, avanço nas privatizações etc. – o mínimo a se cumprir do pacto (atente-se: a manutenção de Paulo Guedes é um bom termômetro desta relação). As “forças independentes” do Congresso em evitar mais traumas nacionais (como se o rali rumo aos 400 mil mortos pela pandemia não fossem por si só um trauma nacional muito maior do que o impeachment!) e parte da oposição e seus cálculos para 2022. O manifesto pela democracia de 6 supostos candidatos à presidência, uma união sinistra de ex-bolsonaristas (tentem não rir) contra Bolsonaro – com exceção do isentão oportunista Ciro Gomes – já deu a síntese dessa tática.

II

A outra tática colocada para derrotar Bolsonaro é sua derrubada imediata. Renúncia ou impeachment, que seja*. O pressuposto é simples: não dá mais para aceitar flertes golpistas sobre todas estas mortes, aceitar a permanência de todos estes ataques que fazem a barbárie triunfar, toda esta desgraça a atingir os trabalhadores, as classes médias, os precarizados. Temos hoje um país em que a fome já é realidade para mais da metade de nossa população, temos milhões de miseráveis no sentido frio e objetivo do termo, temos toda uma revolta represada que solta faíscas ali e aqui, mas ainda não foi capaz de se tornar um grande incêndio! Todos os ataques que ocorrem contra a nossa classe foram intensificados e ampliados até em direção às classes médias. Cansamos de colocar aqui todas estas causas, cansamos de enumerar aqui todos os ataques sendo promovidos em todas as esferas da sociedade, está virando quase uma tautologia atualizar na casa das dezenas de milhar o número de mortos pela peste numa diferença de 2 ou 3 dias. É uma banalidade!

O que ambas as táticas têm em comum é que a medida mais conveniente para derrubar Bolsonaro passa pelas instituições, e há em ambos os lados um reconhecimento que não é somente no parlamento e da sua vontade que ele será concretizado. Ele necessita de um respaldo ativo na sociedade, precisa de mobilização de massas.

As razões para desejar e pautar a tática de derrubada imediata de Bolsonaro são as mais legítimas e as mais respaldadas na realidade concreta de nossa classe. E essa é a tática atual dos comunistas. Mas não é apenas a justeza de nossas reivindicações por si só que nos trará as massas para serem mobilizadas pela sua queda. É necessária a organização, é necessário ter coerência dialética, é necessário propor e executar, é falar e fazer! Devemos ter plena ciência que nossas palavras de ordem, se levadas a sério em nossos trabalhos de base, geram expectativa sobre os indivíduos e os grupos mobilizados e têm como consequência direta a perspectiva de avançar para além delas. Isso é a dialética se manifestando na realidade sem vacilações, camaradas.

III

A mobilização nos locais de trabalho será a mobilização e base mais necessária neste momento. Temos inúmeras categorias de trabalhadores que, pelas classificações dos governantes, são tidos como “essenciais” e obrigados a trabalhar presencialmente, como os operários, os motoristas de ônibus, boa parte dos operadores de telemarketing, trabalhadores da saúde, carteiros, garis, atendentes de supermercados etc. São muitos. Por mais que, supostamente restritivas que venham a proclamar um João Dória, um Eduardo Leite da vida, as medidas de restrição com uma cartela de cores, junte-se essa massa de trabalhadores essenciais – os essenciais de fato para o combate à pandemia e os essenciais para extrair a mais valia – temos em conta a grande massa de trabalhadores informais, autônomos, que precisam estar constantemente nas ruas para obter sua renda. Na ausência de qualquer medida séria de garantir um lockdown efetivo com o pagamento de um auxílio compatível com suas rendas mensais, ocupam os espaços dos lojistas e demais comerciantes de estabelecimento fixo e vendem suas mercadorias e prestam seus serviços ali e aqui para terem o que comer. A título de ilustração, a região da 25 de Março, grande centro de comércio popular de São Paulo, ficou cheia de ambulantes, assim como grandes centros de comércio popular Brasil afora.

Expor em cada categoria de trabalho as particularidades de suas condições precárias e fazer se organizar em torno delas, expondo as denúncias que os próprios trabalhadores fazem de seus locais de trabalho – como é muito bem feito pelo coletivo “Rebeliões de Ayala” do telemarketing – e levando ao conhecimento de toda a categoria, para além dela nas redes sociais e nos materiais físicos. Articular a denúncia, o ataque, a precarização particular do local de trabalho com a questão ampla da atual conjuntura sem ser vulgar, e apontar para a necessidade de se organizar coletivamente em torno das próprias reivindicações que eles mesmo levantaram é trivial para executar a ponte com a reivindicação geral da palavra de ordem máxima da atual conjuntura. Os comunistas são seus mais humildes instrutores, não servos. Não hesitarão em apontar os limites das próprias contestações e mobilizações deles, pois desejam de fato que o movimento seja vencedor, não apenas justo. Se irão organizar em uma ação política, será consequência direta deste trabalho de base.

Evidentemente, nem todas elas terão a liberdade de atuação dita sindical dentro do espaço de trabalho, essa é a regra da maioria das empresas privadas. A propaganda deve ser discreta na assinatura, mas direta na linha e na exposição do problema. O trabalho necessário nestes espaços ajuda a formar uma verdadeira escola de lutadores disciplinados e treinados na prática de não cometerem o menor erro na execução em uma atividade coletiva. Uma verdadeira escola de quadros de futuros revolucionários para em breve engrossar nossas fileiras.

IV

Os bairros periféricos têm a vantagem de concentrar os mais variados perfis de classes pobres: o precariado, o lumpesinato, o proletariado assalariado, o informal, pequenos comerciantes e autônomos, extratos da pequena burguesia as vezes. Por conta das medidas restritivas, estes bairros estão com mais movimentos que os centros de suas respectivas cidades. Não só as lutas mais imediatas relacionadas ao combate à pandemia estão presentes na ordem do dia, como as lutas anteriores foram intensificadas, pois a pobreza geral torna-se a patologia principal da disseminação do vírus nestes locais – casas pequenas, com muitos habitantes, poucos espaços de ventilação, aglomeração por cômodos, falta de saneamento básico, baixa oferta de internet de qualidade, transporte público insuficiente, postos de saúde primário sucateados etc. Se em 2020 tivemos um boom de ações de solidariedade e várias brigadas de organização em combate direto à miséria total, não estamos na mesma potência neste ano.

A “onda de solidariedade” passou, infelizmente, para desespero de milhões. Cabe a nós retomar com toda a força as brigadas de solidariedade, no sentido direto de sua perspectiva de ação, para ajudar no combate à miséria e organizar os beneficiários na sua superação, somando a isso a informação, o trabalho político de esclarecimento, de expor os problemas gerais que causam a falta de pão em suas mesas e pautar a luta pelo controle dos trabalhadores sobre as mercadorias e sua produção. Não é muito difícil essa parte de expor reivindicações revolucionárias consequentes sobre estes espaços, mas as pontes necessárias para não deixar a pauta máxima ilhada envolvem um trabalho fixo, permanente sobre este espaço, com uma massiva agitação e propaganda local a trabalhar a organização e a subjetividade dos moradores. Apenas seremos dignos da confiança, do respeito e da sua adesão se formos coerentes para dentro e para fora com nosso próprio programa.

V

As ações simbólicas como carreatas, atos parados de forças organizadas, faixas estendidas nas avenidas, cartazes colados nas ruas expondo a inflação gritante e a corrupção do governo, como na bem-sucedida campanha anônima do “Bolsocaro” e os panelaços durante pronunciamentos da Presidência são bem-vindos por trabalhar a subjetividade coletiva, mas vamos para além da reflexão da aparência. Os impactos das ações simbólicas de rua só terão efeito prático se acompanhados de um trabalho prévio e posterior de mobilização política, nos trabalhos de base realizados pelas vanguardas consequentes dos trabalhadores nas mais variadas esferas, conforme exposto anteriormente para os locais de trabalho e de moradia. Existe uma grande diferença em relação àquele que apenas bate panela e fica nisso – não havendo nenhuma restrição, pois quem bate panela e ajuda, com suas capacidades e restrições, na organização e mobilização direta das massas não engajadas, alheias na compreensão da conjuntura e embrutecidas pela barbárie cotidiana, vivendo um dia de cada vez.

O engajamento de toda a militância, de “cada um em suas limitações”, sob a mais estrita divisão revolucionária de tarefas, surtirá o efeito desejado. Os atos de rua de massas e a greve geral são apenas algumas das consequências de uma mobilização prévia nos mais variados espaços da sociedade. Essa mobilização prévia são os trabalhos de base com uma clara percepção do objetivo: a derrubada imediata de Bolsonaro.

Colocar em luta organizada aqueles que já estão lutando. Os trabalhadores têm inúmeros exemplos concretos de ataques que os indignam e os levam à contestação. A nossa tarefa consiste em acabar com esta dispersão e organizar a revolta. Se for voltado a entidades de base e em movimentos sociais, é bom. Se for sobre o nosso partido melhor ainda, mas se nada disso for possível, que ele seja preparado para levar a perspectiva da luta coletiva para seus pares nos locais de trabalho, nos seus bairros, para sua família. Nunca a agitação e propaganda qualificada foi tão necessária. Em tempos de Fake News, capazes de doutrinar e enganar amplos segmentos de nossa classe, o combate ideológico deverá estar à altura desta batalha.

VI

A pergunta que devemos fazer a nós mesmos quando estivermos nos preparando para executar uma ação de agitação ou propaganda é se o público alvo que desejamos atingir, que não esteja a par de nossas ações e linha política e não é mobilizado na política, irá absorver e aprovar, ou no mínimo despertar a curiosidade sobre nós, de desejar investigar mais a fundo e nos conhecer de fato. Que seja capaz de furar a bolha das correntes de Whatsapp, de ser lido e repassado, compartilhado. De filmar uma intervenção urbana e manifestar apoio espontâneo, de levar mais e mais panfletos denunciando os ataques e levando a perspectiva de luta organizada, coletiva e de forma permanente. Pois, por mais eficientes e apelativas que as notícias falsas venham a ser, elas não conseguem se impor a uma barriga vazia, a um querido falecido pelo Coronavírus, a uma conta atrasada e ao eminente corte no fornecimento de luz, ao despejo violento de suas casas, a todas as chicotadas de realidade a envolver a nossa classe. A verdade sempre se impõe e obriga os nossos inimigos a melhorar a retórica e buscar novos métodos de enganar e mentir, mas nem sempre há tempo de enganar a maioria dos trabalhadores, pois as suas vanguardas a precaveram. A verdade é uma permanente propaganda comunista.

VII

A necessidade de derrubar Bolsonaro é aqui e agora. Conforme endossado por alguns dos camaradas do PCB e do nosso complexo partidário, aguardar 2022 não é só uma tática oportunista que denuncia a própria falência enquanto organização como é uma tática às custas de milhares de vidas. À custa de pressupor que a conjuntura no máximo continue como está, num platô de mortes, de desemprego, de pauperização geral, de desmobilização e de permanência na fé inabalável nas instituições e na democracia burguesa. A mão coça a prosseguir na nomeação explicita aos vacilantes, aos charlatães e a todo tipo de oportunismo consequente a se manifestar na esquerda brasileira. Mas vamos deixar isso de lado um pouco e trabalhar com a confusão não consciente, aquela a ser manifestada por honestos lutadores independentes, organizações e partidos políticos.

VIII

As ações das forças de esquerda se dividem entre as duas táticas. Sobre a segunda, do qual somos adeptos, ainda reina uma certa confusão e paralisia, muito mais por conta de especular os efeitos das próprias palavras de ordem do que das restrições sanitárias. O nosso movimento operário atual infelizmente é muito aquém de pretender tomar o poder. A renúncia ou o afastamento através do processo de impeachment é a concretização de nossa tática atual.

No entanto, o leitor atento deverá notar que nossa palavra de ordem não é só Fora Bolsonaro, mas fora Bolsonaro e Mourão, o presidente e seu vice. Mas como isso pode ser coerente na exposição das teses e das notas do nosso partido se a linha de argumentação apenas trabalha com a saída do presidente e não a de seu vice? É uma contradição, deve concluir o nosso leitor. Mas não é isso.

Os militares até aqui bancaram o governo, conseguiram se queimar parcialmente perante a opinião pública no desastre da gestão Pazzuelo no Ministério da Saúde e não podemos admitir que recuperem a sua imagem com uma tolerância das forças opositoras e do Centrão num tranquilo governo de transição de Mourão. Antes a eficiente repressão militar muito bem conhecida na história brasileira do que a baioneta cega da repressão bolsonarista, pensam eles. Ao demonstrar que a saída de Mourão também é almejada pela sociedade, como forma explícita de desconfiança sobre os militares, tal pressão pode motivar um arranjo jurídico a embasar a remoção da chapa como um todo no poder e colocar o Artur Lira no governo de transição.

Não temos nenhuma ilusão com os militares e com as forças burguesas e não temos nenhuma ilusão que a saída de Bolsonaro e Mourão irá solucionar por completo a crise atual dos trabalhadores brasileiros. Mas iremos avançar muito com a derrubada de ambos, se o primeiro cair já será uma enorme vitória. A esquerda classista no geral tem muito a ganhar, e as forças combativas consequentes devem ter isso em mente quando as convocamos a construir conosco o Fórum Sindical pelos Direitos e Liberdades Democráticas, para não ser uma entidade bonitinha a celebrar uma falsa unidade da esquerda, mas como um instrumento de luta real das forças políticas de nosso campo a convergir na tática de derrubar imediatamente Bolsonaro e Mourão e articular em todo o território nacional as tarefas necessárias para tornar realidade nosso objetivo. Com tamanha vitória, os elementos gerais para rearticular a nossa independência de classe, como o Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT), estarão dados.

No que diz respeito às demais forças de esquerda, inseridas no campo democrático-popular, no social-liberalismo ou aquelas que no geral ainda se encontram em nosso campo, mas já flertam abertamente com o democrático-popular, poderão ser pressionadas pelas bases. Ao sentirem todo o fervor da classe, as forças mais vacilantes serão inevitavelmente levadas a reboque, pois, por mais que tenham interesse na derrubada de Bolsonaro, são demasiado vacilantes em levar a cabo qualquer mobilização consequente contra o governo sem que isso leve à contestação de suas próprias lideranças e estruturas burocráticas. As principais centrais sindicais são as que hoje vivem este dilema.

Concluímos que a ação mais necessária para tornar concreta a tática de derrubada imediata de Bolsonaro consiste na Greve Geral. Eis aqui a necessária demonstração de forca e independência de classe que podemos erguer, esta ação que é uma verdadeira escola da luta de classes. Diante de toda esta pressão, é muito provável que até a burguesia, em seu desespero de não perder o poder, dará ela mesma um jeito de logo tirar Bolsonaro do poder e estabelecer um governo de transição com um governo Mourão (ou Arthur Lira) e os militares agindo como Pôncio Pilatos ao jogar Bolsonaro na fogueira da inquisição popular e da opinião pública, inclusive com disposição de reprimir pontualmente as divisões mais fanáticas e leais ao Bolsonaro. Mas muito provável não é totalmente provável, e a burguesia brasileira teme os trabalhadores mais do que tudo. Sua formação induz a encapar uma guerra preventiva contra qualquer manifestação de independência de classe, por mais embrionária, por mais rebaixada e dispersa que possa vir a ser como a história brasileira já demonstrou. É um risco inegável que temos que correr. Mas, diante de uma conjuntura internacional desfavorável à tal investida vulgar contra a maioria da população, as probabilidades de uma solução mais republicana e democrática ao impasse Bolsonaro são muito maiores. Pois ela mesmo tende a ganhar muito com a remoção de Bolsonaro antes das eleições, tendo um governo de transição para finalmente lavar a alma da instituição militar e conseguir viabilizar uma candidatura mais da direita tradicional (uma coalizão do Centrão em torno de um candidato “centrista”) ou da centro direita (leia-se: PSDB) e no limite a centro esquerda do PDT/PSB, sem precisar apelar a reedição da conciliação de classes (PT).

O exercício de especulação hipotética que devemos fazer com a atual conjuntura e na perspectiva de luta que desejamos erguer para o mais imediato possível encontra respaldo em dois eventos da última década em nossa história: o levante de Junho de 2013 e a Greve Geral de 30 de Abril de 2017. Se eventos similares a estes ocorressem, sobre a seguinte condição da Greve Geral ser imediatamente consequência de um levante popular seguido de sucessivas jornadas (atos de massas diários) contra o Governo Bolsonaro/Mourão, com todos os desdobramentos possíveis que poderiam vir dele, estaríamos à altura das tarefas colocadas a nós? É esse exercício especulativo, essa futurologia que devemos basear nossos trabalhos de organização e mobilização. Pois já temos uma linha política a levar, mas não basta – do nosso ponto de vista – ela ser justa e coerente com a situação, precisa ser suficientemente difundida, divulgada e abraçada pelas massas colocadas em movimento, sobretudo os trabalhadores no geral.

A urgência de derrubar Bolsonaro exige a necessidade de uma greve geral construída pelos trabalhadores e sua vanguarda, capaz de levar às mais variadas contestações pontuais e gerais da atual conjuntura na síntese de “FORA BOLSONARO/MOURÃO!”. Na aparência carrega uma reivindicação puramente política, mas na essência, com toda essa retaguarda de mobilização e palavras de ordem secundárias será uma reivindicação a contemplar as reivindicações mais imediatas de vários segmentos da sociedade, mas só os trabalhadores e sua vanguarda consequente a pode levar a cabo sem vacilação ou meia concessão. A tarefa colocada sobre nós exige engajamento imediato, exige a superação imediata de nossas debilidades organizativas internas, aquelas que não demandam muitos recursos materiais para serem resolvidas e trabalham apenas com questões puramente humanas.

Essa pandemia desgraçou a saúde mental de muitos de nós, é quase impossível encontrar um indivíduo com a mente inabalada. Mas a tarefa histórica colocada sobre nossa geração exige a nossa predisposição a luta, exige o nosso efetivo engajamento. A superação de nossas angustias individuais apenas serão resolvidas no plano da organização coletiva. “A massa educa, a massa ampara, a massa fortalece, a massa vence!” Como diria um velho veterano de lutas cearense. Não adianta achar sozinhos que teremos todas as respostas para nosso tempo presente. Não podemos mais esperar, as gerações futuras irão cobrar de nós a nossa inércia, e a história não será generosa conosco, nem a classe trabalhadora irá tolerar tamanha ausência.

Que esta Greve Geral seja erguida e executada o mais rápido possível, que seja muito bem preparada em todo o nosso país, sobretudo nos grandes centros urbanos. Iremos reapresentar à sociedade a força da independência de classe numa bela demonstração de poder. Que caia para nunca mais levantar esse fascista de 5ª categoria! A sangria tem que parar, a vida deve triunfar!

P.S. Numa provocação sutil de uma camarada a quem estimo muito tive que antecipar tal artigo. As melhores pessoas a ter por perto são aquelas que estimulam a extrair o melhor de si sem intenção.

* Membro da CEUJC/SP e Militante do PCB/SP

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