Nota de denúncia da comunidade Pataxó Hã-Hã-Hãe contra as policias Federal, Militar, Civil e fazendeiros
A comunidade Indígena Pataxó Hã-Hã-Hãe reunida na sede do Posto Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu decidiu denunciar, mediante esta nota, as ações que nos pareceram orquestradas entre os fazendeiros da região do Rio Pardo e seus pistoleiros e as policias Federal, Civil e Militar.
No ultimo dia 20 de abril fomos atacados e escorraçados de algumas das áreas de nossas terras retomadas na região do Rio Pardo por homens fortemente armados, portando inclusive fuzis. Os fazendeiros desta região tem anunciado publicamente que nos iriam atacar com todas as suas forças, e vem reunindo pistoleiros em todo o Sul da Bahia.
Nossa comunidade tem denunciado estes fazendeiros e suas ameaças e seus ataques desde que iniciamos nossas retomadas. As polícias e demais autoridades estão cientes de nossa situação de risco. Nossos membros estão sendo atacados tanto individualmente quanto em grupos de ocupação por todos estes dias.
Com esta série de ataques que fizeram contra nossa comunidade no dia 20, e a crescente insegurança que estávamos vivendo, solicitamos mais uma vez a todos os aliados de nossa causa que nos ajudassem a garantir a integridade física de nossa comunidade apoiando nossa reivindicação de policiamento imediato na região.
A polícia compareceu no dia 21 com agentes e delegados de três polícias: a Federal, a Militar e estranhamente a policia civil de Itaju do Colonia e Pau Brasil. Acreditando que os policiais estariam ali para nos apoiar em nosso pleito de desarmamento, segurança, garantia de paz e integridade física de nossa comunidade, reunimos mais uma vez as mulheres e crianças, mais alguns homens que haviam sido expulsos de nossas terras na região do Rio Pardo e retornamos estas pessoas para a área. Estranhamente, assim que as pessoas desciam dos veículos eram todas revistadas pelos policiais que, tão logo nos revistaram e vasculharam nossos pertences, evadiram da área nos deixando à própria sorte. Ato continuo, os pistoleiros apareceram em muitos veículos, dentre motocicletas, caminhonetes e carros de passeio, além dos que apareceram a pé dos pastos e nos atacaram fortemente.
Os funcionários da FUNAI que estavam nos acompanhando nos ajudaram com os veículos da FUNAI e juntamente com os veículos da própria comunidade demos fuga para nossas mulheres e crianças e todos os homens que ainda tiveram espaço para subir nos veículos. Todos os demais tiveram que fugir pelos pastos, correndo para salvar suas vidas, sob uma verdadeira chuva de balas. Os pistoleiros nos perseguiram pelas estradas em seus veículos, chegando ao absurdo de dar a impressão que até mesmo os policiais estariam nos escoltando à frente dos pistoleiros para fora de nossa terra. As pessoas que ficaram para trás nos pastos foram sendo localizadas por celular quando subiam nas serras para nos contatar e foram sendo instruídas a seguir para locais onde fomos podendo resgatá-las. Ainda temos pessoas desaparecidas e sem nos contatar, não sabemos se ainda estão vivos.
Denunciamos as policias Federal, Militar e Civil, primeiramente por nos terem garantido que das áreas de onde saíram os veículos dos pistoleiros não haveria nenhum homem armado, denunciamos haverem conferido se estaríamos em condições de reagir a estes homens nos revistanto, e depois haverem evadido do local sem nos socorrer enquanto estávamos sob forte ataque.
Dado ao absurdo desta situação, solicitamos a todas as entidades que nos apoiam, aos nossos amigos e às pessoas simpatizantes de nossa causa que nos ajudem a divulgar esta denúncia.
Posto Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu, 22 de abril de 2012
A comunidade Pataxó Hã-Hã-Hãe.
Apoiam esta denuncia todos os caciques de nossa comunidade.