Direita e esquerda na história

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A historicamente golpista e hoje “democrática” Folha de São Paulo publicou reportagem avaliando o espectro ideológico dos partidos políticos, posicionando-os na esquerda, no “centro” e na direita.
Cumprindo o seu papel como veículo da imprensa burguesa, entre outros absurdos, o jornal posiciona o PCB como esquerda, no mesmo patamar de PV e PDT.
Para combater esse tipo de piada de mau gosto e contribuir para informar os trabalhadores, deixamos a sugestão desse belo artigo do historiador e camarada Muniz Ferreira: direita e esquerda na história.

Considerações pontuais acerca de alguns casos de dislexia conceitual

Muniz Ferreira*

Um dos componentes fundamentais da ofensiva combinada das direitas neoconservadora e neoliberal na atualidade brasileira é a demonização das forças de esquerda e a reivindicação de todos os méritos históricos, econômicos e conceituais para si próprias. Elemento constitutivo da onda contrarrevolucionária, que tem varrido a maior parte do mundo desde o final dos anos 1980, este expediente fraudulento constitui a manifestação ideológica e discursiva dos propagandistas da perenidade da ordem burguesa, no sentido de impugnar preventivamente todos os esforços de recomposição das forças anticapitalistas nos terrenos político, social e intelectual em escala local, regional e mundial.

Manejando sistematicamente a massiva supremacia que exercem sobre os meios de comunicação, a indústria cultural e outros instrumentos de formação da opinião pública, ventríloquos e escribas, comunicadores e artistas midiáticos, acadêmicos enquadrados e pretensos filósofos têm se colocado a serviço das mais impressionantes revisões histórico-conceituais comprometidas com a realização do objetivo mencionado. Inscreve-se neste repertório geral as tentativas de apresentar o fascismo e o comunismo como fenômenos políticos não apenas equivalentes em sua suposta malignidade, mas também integrados ao mesmo hemisfério político: aquele ocupado pelas forças de esquerda.

Os breves apontamentos seguintes visam oferecer argumentos para a desconstrução desta insidiosa alquimia discursiva, a qual, pretendendo redefinir os termos do debate histórico político, não tem logrado produzir outra coisa senão um patético exemplo de dislexia conceitual.

Direita e esquerda – conceitos dinâmicos

As elaborações originais dos conceitos “direita” e “esquerda” definiam diferentes atitudes adotadas em face da Revolução Francesa. Sua acepção preliminar nomeava as diferenciações, no âmbito do próprio processo revolucionário, entre as forças sócio-políticas interessadas em acelerar e aprofundar os aspectos mais radicais (no sentido de resolver pela raiz os problemas identificados pelo projeto revolucionário) das forças que, adotando uma postura de gradualismo e moderação, comprometiam a execução dos próprios objetivos proclamados na agenda da revolução. Tomando como referência uma prosaica distinção entre os lugares habitualmente ocupados pelos representantes jacobinos (esquerda) e girondinos (direita) no interior da Assembleia Nacional, as designações diferenciavam projetos políticos e apoios sociais substancialmente distintos.

A furiosa oposição, que não hesitou em recorrer à invasão militar, apresentada pelo mundo aristocrático europeu aos acontecimentos franceses ratificou e cristalizou a confrontação entre um campo político revolucionário burguês e popular, de esquerda, e outro aristocrático e contrarrevolucionário, de direita. Deste modo, a contraposição inicialmente referida ao debate parlamentar francês adquiriu contornos internacionais ainda mais nítidos e profundos. A uma esquerda revolucionária popular e patriótica (patriotes foi uma das designações que os revolucionários atribuíram si mesmos em contrapartida aos emigrés, aristocratas que partiam para o exílio) contrapunha-se agora uma direita nobiliárquica e transeuropeia.

A derrota militar dos exércitos bonapartistas, portadores dos últimos vestígios institucionais do espírito revolucionário que se apoderou da França em 1789, possibilitou a cristalização de uma ordem continental politicamente autocrática e elitista e ideologicamente contrarrevolucionária. O diktat imposto pela Convenção de Viena ao mundo europeu, que reivindicava a legitimidade dinástica como critério para o reconhecimento dos governos, consolidou, em caráter definitivo, o confronto irreconciliável entre as forças políticas republicanas, jacobinas e democráticas de esquerda e os poderes monárquicos, absolutistas e conservadores de direita. Com a incorporação das forças socialistas, assentadas nos interesses classistas e nas reivindicações operárias, ao território das esquerdas, a partir de 1830, configurou-se, em sua quase totalidade, o campo político da esquerda europeia oitocentista, restando como ressalva a volatilidade histórico-política da vertente liberal em suas oscilações de percurso.

Desde o seu advento no século XVII inglês, o liberalismo político se apresentava como alternativa à concepção democrática da soberania popular (no terreno filosófico, conceito elaborado a partir da noção rousseauniana de Vontade Geral), sacralizando, desde sempre, os direitos naturais do indivíduo em contraposição aos direitos soberanos do Estado. Ao assentar o sistema político sobre o contrato entre os cidadãos, não hesitou, no entanto, em hierarquizá-los entre aqueles aptos a constituírem o governo civil (os proprietários) e os privados de tal aptidão (os não proprietários), renomeados, nos escritos de John Locke como cidadãos “ativos” e “passivos”.

No contexto da Restauração Monárquica Francesa (1815-1848) e da Primavera dos Povos de 1848, o liberalismo, através da pena de pensadores continentais, como Benjamin Constant, consolidou sua completa dissociação das perspectivas jacobinas, republicanas e democráticas. Apegando-se à defesa da monarquia constitucional e aos sistemas censitários de representação política, descomprometeu-se até mesmo com a defesa do sufrágio universal. Diferenciando as liberdades políticas próprias da democracia clássica em detrimento das liberdades individuais características da modernidade, descomprometeu-se com a defesa dos direitos exercidos na esfera pública em troca da garantia da intocabilidade da esfera privada (1).

Este deslocamento da consciência liberal do território republicano, democrático e radical e sua reconciliação gradativa com as forças políticas aristocrática e conservadora repercutiu também na esfera intelectual e cultural. Ao aderir, na esfera da cultura, aos formalismos artísticos, ao esteticismo aristocratizante, ao culto da intimidade á sombra do status quo, abriu caminho para a ofensiva das forças da reação no âmbito do pensamento, possibilitando um assalto aberto à Razão emancipatória e a sua desfiguração instrumentalizadora, como no exemplo paradigmático do socialdarwinismo de Herbert Spencer, companheiro de viagem do vitalismo nietzschiano, ambos antecipadores da ética e da estética fascistas do século XX (2).

É evidente, no entanto, que nem todos os integrantes da corrente liberal percorreram todas as estações desta trajetória sinuosa. No próprio Reino Unido de Locke e Spencer — onde o liberalismo se encarnou em um partido político, no sentido peculiar atribuído a esta expressão no século XIX, uma tendência da esquerda Whig se permitiu uma aproximação com o operariado cartista, para a apresentação de proposições ao parlamento voltadas para a ampliação do direito ao sufrágio. Em outras partes — na Rússia, por exemplo—, liberais se ergueram contra o absolutismo tzarista, mantendo vivo o imaginário antidespótico que animou esta corrente em sua infância política na Europa Ocidental. Em linhas gerais, entretanto, as sucessivas concessões, recuos e conciliações com as forças do velho mundo, praticados pelos segmentos mais representativos da consciência liberal europeia, abriu caminho para uma ofensiva geral das forças conservadoras e reacionárias na virada do século XIX para o XX. Ao proceder desta forma, propiciou a ocorrência de fraturas irreversíveis que, a partir de então, cindiriam o território liberal em uma esquerda política adjacente ao campo democrático e radical, um centro político aderente ao status quo e uma direita cúmplice das vertentes mais retrógradas e antipopulares.

Por outro lado, ao manifestar sua compatibilidade com o conservadorismo no terreno da política, a direita liberal iniciou um movimento, o qual, ao término de várias décadas de aproximações, tensões, atritos e convergências, acabou por emprestar seu programa econômico privatizante, individualista e antioperário para ser colocado em prática por governos de confissão conservadora ou neoconservadora (3).

Resta dizer que a esquerda — configurada no processo da Grande Revolução, primeiro em suas variantes democrática radical, republicana e jacobina; mais tarde igualitária e comunista — na Conspiração dos Iguais liderada por Grachus Babeuf, também seguiu seu rumo. Impulsionada pela sensibilidade social de intelectuais e reformadores humanistas como Saint Simon, Fourier e Robert Owen e pela militância política de homens como Louis Blanc e Auguste Blanqui uma nova esquerda socialista foi adquirindo forma. Com a adesão de Marx e Engels ao movimento em meados dos anos 1840 e a posterior reelaboração teórico política da teoria socialista em um sentido revolucionário e proletário, a ala mais radical do campo da esquerda passou a ser ocupada pela vertente comunista e sua concorrente anarquista. É este amplo leque de forças de esquerda, dos jacobinos aos comunistas, passando por anarquistas e blanquistas, que protagonizam a mais importante experiência de exercício de poder pelas massas populares, incluindo seu núcleo proletário na segunda metade do século XIX: a Comuna de Paris. Acontecimento impactante, que provocou, como resposta, um recrudescimento elitista e conciliador no campo liberal; autoritário e antipopular no âmbito conservador, e propiciou um deslocamento de forças situadas na ala direita desta corrente para posições ainda mais reacionárias e regressivistas (tradicionalismos religiosos e seus derivados políticos) (4).

A corrente conservadora, como o nome indica, surgiu como expressão política da defesa dos princípios, valores e instituições políticas características da Europa do Antigo Regime. Autocrática, anti-igualitária e elitista, representou a encarnação, como já foi dito, da mais fidedigna reação do mundo aristocrático europeu à Revolução Francesa. Os princípios fundamentais, que advogou desde a sua gênese foram os seguintes: a) a preeminência da ordem sobre as liberdades, tanto individuais quanto coletivas; b) privilégio da autoridade sobre a representação política; c) prioridade da legitimidade do poder de estado em relação às demandas procedentes do tecido social (5).

Em suas origens, visceralmente antiliberal e antidemocrático, para não dizer antioperário e antissocialista, o conservadorismo, em sua irradiação continental e evolução temporal, incorporou novos componentes à sua matriz inicial. Destarte, em sua sedimentação no interior dos mundos mediterrâneo, latino e católico incorporou outros elementos a sua identidade política, como o paternalismo hierárquico; a rejeição romântica da modernidade; a defesa do direito divino dos reis, a prédica da monarquia católica: a combinação do integrismo teológico com o elitismo político social, o organicismo social como doutrina, e o corporativismo como programa de reestruturação das relações entre o capital e o trabalho, de modo a prevenir a luta de classes (6).

De mesmo modo, no cenário histórico do mundo germânico setentrional tendo como eixo central o Reino da Prússia, uma variante específica do conservadorismo político estabeleceu seus contornos no curso do processo de unificação alemã concluído em 1871 com a criação do Império Hohenzollern. Tratava-se de uma vertente que, ao combinar conservação e transformação, modernidade e tradição, instituiu a chamada “via prussiana” do desenvolvimento do capitalismo mundial. Destacam-se, nesta vertente, a nação, não mais compreendida como a expressão da soberania popular (como no discurso dos revolucionários franceses de 1879) nem como encarnação política da substância abstrata e genérica do Volk (povo), como postulado pelos românticos e pangermanistas. A questão da nação se resolvia com a constituição do estado, estabelecendo a equivalência conceitual Staat-Nation, sem espaço para veleidades “utópicas” e românticas do tipo Nation-Volk (7).

Mais de um século depois, no mundo anglo-saxão, o conservadorismo conheceu um novo surto de aggiornamento em sua cultura política, combinando o recrudescimento de sua oposição à modernidade sócio-política (democracia, socialismo) e cultural (modernidade, iluminismo) com a incorporação plena da plataforma liberal na economia, agora, na verdade, neoliberal (8).

Direita, militarismo e práticas exterministas

A utilização massiva das instituições repressivas do estado e de forças militares na coibição das classes subalternas em rebelião e no controle dos setores populares em situações normais é tão antiga quanto a existência do estado e da luta de classes. Na época contemporânea, a militarização da política pelos detentores do poder constitui uma regularidade inscrita no tempo da longa duração. A invasão militar, a formação de coalizões agressivas e um quarto de séculos de guerras sucessivas contra a França, revolucionária primeiro e bonapartista depois, foram os expedientes empregados sem qualquer constrangimento pelas potências aristocráticas europeias para alcançar a restauração da monarquia absolutista no território francês (9).

Execuções em larga escala, mobilização de destacamentos militares contra populações civis, fuzilamentos sumários de lideranças revoltosas foram os expedientes utilizados pelas forças da ordem no sistema internacional da Convenção de Viena, para esmagar as reivindicações nacionais, populares e operárias, seja na Primavera dos Povos, nas guerras de libertação do povo italiano ou na Comuna de Paris. Inversamente, foi através de guerras sucessivas, as quais manifestavam um poder destrutivo que aumentava direta e proporcionalmente com a incorporação das descobertas científicas e a evolução dos recursos industriais aplicados à arte da guerra, que as classes aristocráticas associadas aos extratos superiores das burguesias resolviam suas pendências com os de baixo e administravam as relações entre si. Uma nítida ilustração disto são os conflitos bélicos interestatais ocorridos sob a vigência do “sistema de segurança coletiva” pactuado na Convenção de Viena: Guerra da Criméia (1853-1856); Guerra Austro-ítalo-francesa (1859-1860); Guerra dos Ducados, entre a Alemanha e a Dinamarca (1864); Guerra Austro-Prussiana (1866); Guerra Franco-Prussiana (1871) e, finalmente, a guerra que implodiu aquele sistema, A Primeira Guerra Mundial (19141918) (10).

Como resultado destes desenvolvimentos, dois elementos de grande importância histórica se consolidaram no interior do mundo das ideias de então. Em primeiro lugar o militarismo, alimentado pela crença na utilização da força como o recurso mais eficiente para solucionar disputas e contenciosos entre os estados. A mais característica corporificação desta concepção foi a aristocracia Junker da Prússia, conduzida através de sucessivas operações militares, ao comando do Império Alemão (em 1871), e a condição de potência ascendente no sistema de poder mundial no final do século XIX (11).

O segundo elemento foi o nacionalismo. Na época das guerras tecnológicas (metralhadoras, encouraçados, submarinos e aviões de combate), com capacidade crescente de provocar danos à própria população civil e letalidade sem precedentes, tornou-se indispensável a disseminação de ideologias que mobilizassem para a morte exércitos de milhões de pessoas e persuadisse outros tantos milhões de civis a suportarem as vicissitudes e privações produzidas pela guerra. Para este propósito, foram elaboradas, ou resgatadas, duas diferentes modalidades de ideologias nacionais. A primeira combinava elementos discursivos de caráter estatal com um componente acessório conservador ou liberal (12). Em sua narrativa, o estado encarnava o espírito da nação, por vezes uma obra da providência, por outro, o paraíso idealizado da comunhão dos cidadãos para além das barreiras de classe riqueza e poder. Uma segunda tomava emprestado motivos e representações da cultura romântica, retratando o estado-nação como a cristalização do espírito nacional, frequentemente entendido como a unidade de destino, de tradição e cultura, de língua, de confissão e de sangue (13).

Neste ponto, é essencial recuperar as formas através das quais as forças de esquerda resistiam, rejeitavam e se opunham a estas construções ideológicas das classes dominantes. Às mistificações nacionalistas de extração romântica ou estatista, as esquerdas democráticas, republicanas e jacobinas, de base crescentemente pequeno-burguesas e não mais burguesas, recuperavam o seu conceito original de nação como a expressão da soberania popular. Acepção esta que continuaria a se manifestar, ao longo do vindouro século XX, nos movimentos anti-imperialistas e de libertação nacional do chamado mundo periférico (14).

Já as esquerdas operárias e socialistas apresentavam como alternativa aos nacionalismos e militarismos das classes dirigentes suas perspectivas internacionalistas (“Os operários não tem pátria”, a não ser quando ascendem ao poder e se convertem em “classe nacional”, imediatamente antes de se engajarem, na condição de agentes propulsores, ao processo da revolução mundial) e antimilitaristas (“paz entre nós, guerra aos senhores”), contrapondo aos projetos das classes dirigentes de lançar os trabalhadores uns contra os outros nas guerras, a solidariedade internacional dos trabalhadores contra as classes dirigentes no cenário mundial (15).

Nem mesmo a transformação de uma parcela da liderança do socialismo mundial em linha auxiliar do nacionalismo e do militarismo estatais, às vésperas, durante e depois da Primeira Guerra Mundial, invalidou esta descrição. A reorganização do movimento socialista no pós Primeira Grande Guerra com a criação da Internacional Comunista ratificou e consolidou as distinções político ideológicas anteriores: a uma direita burguesa-aristocrática nacionalista e militarista, continuou se opondo uma esquerda operária internacionalista, antimilitarista e revolucionária (16).

As direitas após a Primeira Grande Guerra

A Primeira Guerra Mundial além de materializar as mais disparatadas distopias militaristas, românticas e exterministas, produziu também implicações políticas e ideológicas multifacetadas. Uma delas foi propiciar os elementos germinais para uma nova síntese entre o nacionalismo romântico e o militarismo aristocrático estatal. Da inusitada experiência vivida por combatentes de diferentes procedências e condições sociais nas trincheiras das linhas de combate, forjou-se uma narrativa, que reconheceu aí as bases de reconstrução do sentimento nacional através de um “romantismo de aço”, calcado na generalização da Fronterlebnis (experiência do Front). Em seu desdobramento, esta construção intelectual serviu de esteio a toda uma concepção, que combinava o elogio da modernidade técnica com o culto da “alemanidade”; rejeitava os cosmopolitismos de orientação liberal e os socialismos de extração marxista e proletária, oferecendo os componentes ideológicos e discursivos para o advento de uma nova direita nacionalista, contrarrevolucionária e, pela primeira vez, mobilizadora de massas (17).

O segundo aspecto foi o lançamento das bases para a implantação de políticas estatais de contrainsurgência preventiva e permanente, para as quais as direitas seriam de grande valia. O ponto de partida foi o triunfo bolchevique no outubro russo de 1917 seguido pelos levantes revolucionários na Alemanha, Áustria e Hungria nos anos 1918 e 1919. Vislumbrando nestes acontecimentos russos o ingresso da Europa na época das revoluções proletárias, desde então potencialmente apoiadas pelos recursos de uma entidade estatal expressiva, classes dirigentes e governos europeus recorreram a um vasto somatório de recursos tanto preventivos (concessões políticas e econômicas), quanto repressivos e militares (mobilização de forças militares regulares e irregulares contra os revolucionários). Esta foi a gênese de um novo ciclo de militarização da política, na qual o combate ao inimigo revolucionário interno passava a ser interpretado nos termos da guerra de destruição e extermínio máximo que acabara de ser travada, propiciando o interesse de setores crescentes das classes dirigentes, que experimentaram mais diretamente a “ameaça revolucionária” (Alemanha, Áustria, Itália, Hungria) e dos setores sociais sob sua influência, nos novos movimentos direitistas, que combinavam discursos e práticas militaristas (Corpos Livres, Capacetes de Aço, SA, Fasci di Combatimento, Cruz Flechada), com um nacionalismo exacerbado, romântico, antioperário e antissemita.

De onde vem o fascismo?

Até o advento destes fenômenos políticos, todas as direitas europeias eram, sem exceção, conservadoras e elitistas (estamos aqui falando da política europeia anterior à I Guerra Mundial). O chamado “populismo” (sic!) völkish não passava de uma corrente cultural sem representação no mundo da política partidária, porém os ecos deste romantismo völkish, conquanto politicamente derrotado no movimento de unificação da Alemanha, ressurgiriam atualizados na República de Weimar através das obras de autores como Friedrich e Ernest Jünger, Carl Schmitt, Werner Sombart, Oswald Spengler e Martin Heidegger.
A principal função destes intelectuais de direita era demonstrar que a idealização das virtudes inatas do Volk alemão poderia conviver com o culto da autoridade estatal e a apologia da modernização industrial e tecnológica. Era o Modernismo Reacionário, corrente intelectual que, ao reunificar as principais vertentes do pensamento de direita alemão, preparou as condições espirituais para o triunfo do nacional socialismo.

Assim como seus antecessores völkish do século XIX, os modernistas reacionários desprezavam as tradições radicadas no iluminismo: o pensamento calcado na razão, o materialismo filosófico, a noção de luta de classe, o cosmopolitismo liberal, a democracia representativa e o socialismo. Vislumbravam a existência de dois tipos de comunidades nacionais, aquelas baseadas na unidade do sangue, no ímpeto das energias vitais primordiais e as que se fundavam no intelecto, na individuação e na multiplicidade. Valorizavam as primeiras em detrimento das segundas, conduzindo suas formulações ao limite do anti-intelectualismo e da reprovação daqueles que, segundo eles, “traíam o sangue com o intelecto”, preconizando, em lugar disso, “pensar com o sangue”. Rejuvenecidos pelo contato com o esteticismo voluntarista de Nietzsche, o social-darwinismo e pela Fronterlebnis (experiência do Front) (18), militaram na linha de frente de defesa da völkishkultur alemã, germinada na força do sangue, da raça e do destino germânicos, contra as conspurcações da Zivilisation desenraizada, sem alma, artificial. Ideologia de vanguarda no campo da política da direita na época de Weimar, o modernismo reacionário de matriz völkish definiu as balizas essenciais da cultura conservadora germânica do século XX, antecedendo, preparando o terreno, enriquecendo o acervo ideológico do nacional socialismo.

Os fascismos foram, assim, as primeiras direitas a adotar um discurso e um sistema de organização voltados para a mobilização de massas, integrados por componentes discursivos “igualitários”, nacionalistas (de perfil romântico) e até “anticapitalistas” (normalmente expressos nos ataques à “plutocracia judaica” ou internacional). Tratava-se de uma estratégia que, como já foi sugerido, visava derrotar a esquerda operária em lugares onde ela havia alcançado substantiva representatividade junto às massas (como na Alemanha e na Itália) e disputar espaço efetivo nos sistemas políticos de representação ampliada da Europa do Pós Primeira Grande Guerra, que avançava em direção ao sufrágio universal.
Na prática, o anticapitalismo fascista se limitava, como visto, ao combate às burguesias “alienígenas” (judaica e anglo-americana) e seu igualitarismo encobria a reivindicação de uma organização social não mais baseada nas hierarquias provenientes do nascimento (aristocracia) e da riqueza (burguesia), mas sim na “pureza racial’ (na Alemanha) e na devoção à nação (na Itália) (19).

Tudo isto, no entanto, jamais conheceu qualquer efetivação para além do discurso e da dinâmica interna dos próprios movimentos. Uma vez no poder, as tendências “pragmáticas” se sobrepuseram às “utópicas” e as “revoluções fascistas” se dissiparam na acomodação às estruturas econômicas, políticas e sociais pré-existentes. O exemplo histórico mais eloquente disto foi a disputa interna do NSDAP, que resultou na Noite das Longas Facas, com a decapitação dos setores mais “inconformistas” (sic!) das SA e do Partido Nazista.

Os fascismos, portanto, mudaram a direita no sentido de “contaminá-la” com discursos e mesmo práticas organizativas até então só utilizadas pelas esquerdas (anticapitalismo, igualitarismo e mobilização de massas), apesar do caráter farsesco, demagógico e incompleto daqueles.

O nazismo era “de esquerda”?

A originalidade do Nacional-Socialismo consistiu em sua capacidade de combinar tradições ideológicas até então divergentes e até concorrentes. Por um lado o nacionalismo romântico pangermânico, derrotado no processo de formação do império Alemão e, por outro, o nacionalismo estatista e militarista encarnados pela aristocracia Junker e os círculos políticos vinculados à dinastia Hohenzollern. Se para uns a nação era o Volk, para outros era o Staat.

A reconciliação destas duas concepções no nacional-socialismo fez do movimento o propositor de um novo nacionalismo romântico e pangermânico (o “romantismo de aço”) combinado com o nacionalismo estatista e militarista de extração Junker. Tais fatores possivelmente explicam a aprovação dos círculos militar-aristocrático e monarquista da ascensão de um ex-cabo austríaco e sua “horda de desclassificados sociais” das SA ao governo do Reich (o ajuste de contas com a “horda” viria depois). Explicariam também os crescentes atritos entre a liderança nazista e os representantes dos demais setores das classes dirigentes alemães no período hitleriano quando os objetivos de guerra e da política exterior do estado alemão passaram a se orientar por abordagens cada vez mais “ideológicas” e “utópicas”, como na guerra de destruição total contra a URSS, na política de germanização do Leste e nas demandas de uma instauração de uma “Nova Ordem Mundial” de cariz racista-arianista.

O historiador inglês conservador Hugh Trevor-Ropper se dedicou a uma minuciosa análise das relações de Hitler com os integrantes e representantes das classes dirigentes alemãs, conceituadas por ele como German Establishment (20). Com esta categoria, o historiador inglês denominava os estratos superiores das burocracias civil e militar do III Reich, os líderes políticos, a diplomacia, em resumo, aquilo que outros autores antes dele já haviam classificado como a elite tradicional, cujas origens remontam ao processo de constituição do estado imperial sob a condução da dinastia Hohenzollern. Estes personagens teriam desempenhado um papel fundamental na ascensão de Hitler ao poder em 1933, constituindo-se, num primeiro momento, em seus fiéis servidores, para, mais tarde padecerem amargas desilusões com os rumos de sua política e se lançarem em sua oposição. A trajetória de homens que, a partir de posições proeminentes no corpo diplomático e nas forças armadas, participaram de conspirações para destituir o ditador alemão, exemplificam, para Roper, o destino deste extrato sócio-político.

O fator de aproximação entre o ímpeto belicoso e expansionista do Führer e o programa conservador deste establishment fora seu comprometimento comum com a restauração do poderio alemão aniquilado pelas disposições do Tratado de Paz de Versalhes. Ambos, tanto Hitler quanto os conservadores alemães, desejavam a restauração do poderio militar do país. Ambos aspiravam a uma ordem política autoritária, que expurgasse da sociedade e da política alemãs as forças “nocivas” e “alienígenas” do liberalismo, da democracia, do cosmopolitismo e do socialismo em ascensão na República de Weimar e acalentavam desejos de aquisições territoriais, esta convergência, porém, terminava aqui.

Os objetivos dos representantes do establishment possuíam um caráter essencialmente limitado e restauracionista. Pretendiam o restabelecimento das fronteiras do extinto império de Guilherme I, o que acarretava a anexação da maior parte da Polônia. Talvez estivessem dispostos a ir “um pouco além” – como de fato o foram – absorvendo a Áustria e os Sudetos, fundamentalmente para preencher o “vazio” político deixado ali pela dissolução do império dos Habsburgo, mas no essencial suas demandas tinham caráter conservador. Seguramente detestavam a URSS, devido ao seu sistema sócio-político, mas não estavam motivados a conquistá-la. Jamais cogitaram, acima de tudo, a necessidade de uma “revolução alemã”, mesmo no sentido mais propriamente “contrarrevolucionário”, conforme a concebiam os nazistas. Ora, sendo o ponto de convergência o “revisionismo” (21) do sistema de Versalhes e o de divergência o “revolucionarismo” (sic!) ideológico nacional-socialista, ambas as perspectivas conviveram no interior dos mecanismos de produção das políticas de estado do Reich até que a implementação da agenda “ideológica” hitleriana fraturasse a aliança entre os dois setores.

Da convivência entre conservadores e nazistas teria resultado um sentido mais “pragmático” e “razoável” da política exterior do Reich. Da supremacia nazista dimanou uma política ideológica em seu caráter e em sua condução. Para Roper, o divisor de águas entre estes dois momentos ocorrera, como não poderia ser diferente, por ocasião da guerra contra a União Soviética. Esta guerra —, cujo empreendimento constituiu a quintessência do milenarismo hitleriano e em cujo desenrolar seu poderio transitou do zênite ao nadir — assinala o divórcio definitivo entre o projeto do establishment conservador alemão e os objetivos internacionais do Chanceler do Reich. Neste projeto irredutível de hegemonia, nesta competição inadiável pela anulação dos efeitos internacionais da revolução bolchevique através do poder da contra revolução alemã, investiu o autor do Mein Kampf todas as suas forças vitais, o que lhe propiciou a visualização do Milênio ariano no mundo e a experimentação do sabor cartaginês da derrota.

Mesmo o texto de Roper, que no âmbito da historiografia burguesa é um dos mais avançados na investigação acerca da expressão dos interesses sociais na política (materializado nas análises das relações do Chanceler com as elites aristocráticas da sociedade alemã), silencia a respeito do posicionamento e das perspectivas de um setor essencial da sociedade alemã: os homens da grande indústria do período. Apenas um deles, o industrial Fritz Von Thyssen é mencionado en passant, como exemplo da desilusão de apoiadores de primeira hora do nazismo com os rumos adotados pela política do Reich depois de 1939. A própria posição de classe do historiador inglês o impediu de identificar nos propósitos belicistas e hegemonistas do nazismo as aspirações e interesses do grande capital alemão.

Franquismo e Salazarismo foram fascismos tout court?

Se considerarmos como modelares as experiências dos fascismos alemão e italiano, observaremos que eles possuem uma dinâmica histórica e uma anatomia comum. Nos dois casos um movimento ideológico e político mobilizador extrapartidário (os fasci na Itália, os Corpos Livres na Alemanha) antecederam o partido, que surgiu como uma força política mobilizadora e orgânica no seio da sociedade civil antes de empolgar o poder de estado. Em ambos os casos, esta organicidade e a capacidade de mobilização se assentaram na utilização intensiva de uma ideologia de pureza racial em um caso, de grandeza nacional em outro, bem como no carisma pessoal do líder (o Duce e o Führer). Uma vez no poder, o traço mais saliente do sistema sócio político colocado em prática nestes países foi a organização corporativa do trabalho através dos sindicatos nacionais, que agrupavam trabalhadores e patrões sob a bandeira da colaboração de classes e da rejeição ao conflito social.

Se estas experiências nos fornecem o modelo, faltam alguns destes aspectos tanto no caso espanhol como no português, senão vejamos. Tanto no caso de Franco quanto no de Salazar faltaram: a) um movimento político mobilizador pré-existente (A Falange Espanhola não foi criação de Franco, mas aliada e teve importância secundária durante o domínio franquista). b) faltou a ambos uma ideologia política própria ou uma síntese ideológica própria, o que fez com que recorressem a um acervo de ideias já existentes, no caso o nacionalismo conservador/romântico e o catolicismo integrista, acarretando compromissos com as instituições que eram as suas encarnações na sociedade: a monarquia e a Igreja, na Espanha de Franco, a Igreja católica no Portugal de Salazar. Subsistem também muitas dúvidas em relação à importância do carisma pessoal, senão de Franco, pelo menos de Oliveira Salazar.c) Por fim, não existiu um partido político franquista ou salazarista de massas antes da chegada de ambos ao poder. Por estes motivos, prefiro considerar que os dois ditadores ibéricos foram fascistizantes e filo-fascistas, mas não fascistas, no sentido mais rigoroso e conceitualmente preciso da palavra (22).

A redução e identificação do nazismo ao comunismo no mundo ocidental do pós Segunda Grande Guerra

Os elementos inovadores do nazismo e do fascismo em relação às direitas que os precederam foram astutamente distorcidos pelos ideólogos da direita liberal no período da guerra fria, para identificar os inimigos de então, os comunistas, com os inimigos do passado, os fascistas. Em suas elaborações mais refinadas, como nos textos de Hannah Arendt, a causa comum a fascistas e comunistas (ambos “totalitários”) era a negação do indivíduo e das liberdades individuais, a estatolatria e a ambição de estabelecimento do “poder total” sobre a sociedade. Esta, com variações e notório empobrecimento argumentativo nos nossos dias, tem sido a base ideológica das mais do que duvidosas tentativas de redução e equiparação do fascismo ao comunismo e a caracterização de ambos como fenômenos “de esquerda”.

A contribuição de Hannah Arendt à reflexão acerca do fenômeno totalitário de modo geral – e do nacional-socialismo, em particular – tem sido amplamente reconhecida e valorizada nos campos da práxis política e das ciências humanas. Sua conceituação do totalitarismo e a tentativa de empreendimento de sua genealogia histórico-política têm desempenhado uma função estimulante seja no apoio, seja na contestação às suas teses por parte dos estudiosos quer do nazismo, quer do stalinismo.

Contudo, suas interpretações do caráter e dos processos de concepção e implantação da política externa da Alemanha hitleriana carecem de sustentação historiográfica. Produzida no quase imediato pós-segunda grande guerra (1951) nos Estados Unidos, sua obra não foi beneficiada pela interação com uma cultura mais aberta aos novos horizontes da investigação histórica, como a vertente historiográfica francesa nucleada pelos Annales. Ao basear suas conclusões na apreciação de fontes até então consideradas alternativas, como livros de memórias, relatos, correspondência, discursos e textos de doutrinação política, careceu a autora, sobretudo, de um instrumental teórico-metodológico que lhe possibilitasse uma apropriação mais crítica dos documentos que logrou consultar. Ademais, “Totalitarismo, o paroxismo do poder”, uma proposta ambiciosa de abordagem teórico-política da problemática do poder total, antecede em praticamente uma década o adensamento da interlocução acadêmica e historiográfica sobre a variante germânica do fascismo (23).

Para além destas tentativas de interpretação, o estabelecimento de equivalências estruturais entre o regime soviético e o nazismo esteve a cargo de historiadores vinculados a uma corrente revisionista da historiografia. Esta vertente, que teve na obra do historiador alemão Ernest Nolte seu principal expoente, interpretava o hitlerismo como mero reflexo do “comunismo” (24). Para Nolte, as principais ações da liderança nazista foram interpretadas como reações aos atos da União Soviética. Até mesmo o holocausto judeu teria sido uma reação à eliminação, causada pelos bolcheviques, das antigas classes dirigentes russas e aos supostos massacres soviéticos na Ucrânia. Das elaborações de Nolte emana não a caracterização do nazismo como fenômeno “de esquerda”, mas a justificativa do nazismo como reação ao comunismo e os primórdios de uma construção discursiva que igualará os crimes comprovadamente praticados pelos nazistas a supostos delitos de igual proporção imputados aos soviéticos.

Tal operação discursiva perseguiria a produção de uma ratificação historiográfica para as justificativas de caráter defensivo e reativo com as quais os próceres do III Reich procuraram justificar seus arreganhos, inclusive diante do Tribunal de Nuremberg. Mais tarde, em suas obras e nas de seus consortes e sucessores, os massacres de pessoas, atribuídos aos governos comunistas, ultrapassaria largamente os praticados não só pelos regimes fascistas, mas também as vítimas do colonialismo, das intervenções militares e das guerras desencadeados pelas potências imperialistas. Uma audaciosa operação de whitewashing historiográfica e midiática, com fortes repercussões em nossos dias.

Seguindo a via aberta pelos artífices da equiparação entre nazismo e comunismo iniciada pelos teóricos do totalitarismo e do revisionismo, a historiografia conservadora dos EUA conduziu, já na década de 1970 do século XX, tais elaborações a um novo patamar. Se o revisionista Ernest Nolte realizara a defesa histórica do fascismo apresentando-o como um fenômeno político que simplesmente reagia às ameaças e ações agressivas do “comunismo soviético”, coube a Robert Contest e outros expoentes da historiografia conservadora estadunidense tentar comprová-lo localizando um holocausto soviético, o Holodomor (25). Ora, argumentar que um dos piores massacres praticados pelo regime hitlerista teve um correspondente soviético significa minimizar a malignidade do nazismo, negando sua responsabilidade exclusiva pelo maior de seus crimes. Denunciar um suposto holocausto praticado pelo regime soviético contra a população ucraniana elimina a singularidade do genocídio do povo judeu e equipara, fraudulentamente, fenômenos políticos diametralmente opostos. Ocioso dizer que este suposto holocausto jamais foi comprovado empiricamente e, por isto, rejeitado pelos historiadores acadêmicos situados fora do âmbito revisionista e ultraconservador.

O Neoconservadorismo

Em sua versão intelectualizada e ideológica, o neoconservadorismo emana, de forma essencial, das elaborações de Leo Strauss, um pensador e professor universitário nascido na Alemanha, ao final do século 19, radicado nos Estados Unidos no final da década de 1930, fugido da perseguição nazista. Dez anos mais tarde, já como docente nas universidades de Chicago e Stanford, Strauss elaborou uma filosofia política que conjugava a crítica da modernidade política ocidental (Maquiavel, Hobbes, Rousseau e Hegel), o resgate dos valores e ideias da democracia grega e a reivindicação da restauração do direito natural e dos princípios transcendentes da religião revelada como pilares para a refundação da democracia liberal. Seu pensamento foi acolhido por um setor da elite intelectual norte-americana que, a partir dos anos 50 do século XX, fora assombrada pelo fantasma da decadência dos valores e da desagregação das energias vitais de seu país pela influência das concepções e políticas liberais e progressistas (26).

Como alternativa, foram lançadas as bases de um projeto de restauração da coesão das elites sociais e políticas e de conservação do poderio mundial dos EUA, tendo por base o resgate dos princípios tradicionais da cultura e do modo de vida norte-americanos supostamente sob ataque. A solução era o combate às ameaças tanto dentro quanto fora do país, mantendo a sociedade mobilizada e consciente de sua individualidade nacional e da superioridade de seu modo de vida, alegadamente acossados por seus inimigos. Tais ideias encontraram apoio junto aos círculos mais direitistas do partido republicano e entraram em complexa simbiose com o pensamento religioso fundamentalista a partir do final dos anos 1970. Seu primeiro momento de esplendor se deu durante a era Reagan, com seus ataques aos direitos civis, o keynesianismo às avessas, a corrida armamentista e a confrontação com o “comunismo”, leiam-se: as experiências de transição socialista e os movimentos revolucionários ao redor mundo.

Neonazismo e neofascismos em tempos de contrarrevolução planetária

O ciclo de contrarrevoluções, que a partir de 1989 se abateu sobre o Leste Europeu, representou a culminação de uma ofensiva das forças reacionárias a nível mundial, capitaneadas pelos governos republicanos de Reagan e Bush pai nos EUA entre os anos 1981-1992. Os episódios mais emblemáticos desta vigorosa onda (neo) conservadora na política mundial foram a demolição do Muro de Berlim e a reunificação alemã em 1989 e a desagregação da União Soviética em 1991. Com a humilhante capitulação sem resistência dos regimes de transição socialista e a ascensão das forças comprometidas com a restauração capitalista, instaurou-se um clima propício ao fortalecimento sem precedentes e ao ressurgimento das mais empedernidas concepções e correntes políticas da direita mundial. Os protagonistas dos processos de restauração burguesa/capitalista, em seus esforços no sentido de demolir as realizações dos regimes derrotados, remover do imaginário social qualquer apreciação favorável às experiências histórico-sociais encerradas e disseminar ideias e valores adequados aos novos tempos, criaram um ambiente cultural fecundo para o ressurgimento do racismo, da xenofobia, do anticomunismo em suas várias manifestações, e do fascismo.

Ainda que o reordenamento político gerado pelas restaurações privilegiasse, na maior parte dos casos, os sistemas liberal-representativos, sob clara hegemonia conservadora o caldo de cultura para a rápida difusão de posições de extrema-direita se espalhou por todo o corpo social. Desta forma, grupos políticos, oficiais ou informais, encontraram estímulo para a reivindicação de tradições aristocráticas e monarquistas, religioso-integristas, colaboracionistas e até abertamente nazistas e fascistas. Seja na aglutinação de jovens delinquentes skinheads, seja no retorno de setores religiosos intolerantes e antissemitas, seja na atuação institucional-parlamentar de grupamentos orientados por agendas ultraconservadoras, a restauração representou, no terreno político cultural, um movimento impetuoso de retorno ao passado.

Porém, não apenas nos países antes comprometidos com as experiências de transição socialista o ciclo regressivo se fez sentir. Mesmo na Europa ocidental liberal-capitalista, o Zeitgeist ultrarreacionário e fascistizante foi perceptível. Ali, a base material para o crescimento das correntes reacionárias foi gerada pelos representantes políticos e ideológicos do grande capital, em seus esforços no sentido de fazer recuar conquistas econômicas e sociais das classes trabalhadoras, obtidas nas quatro décadas anteriores, solapando as bases do estado de bem estar social e preparando o capital para os processos de reestruturação produtiva sob hegemonia neoliberal.

O recuo frequentemente desorganizado das forças de esquerda (socialistas, comunistas, esquerda trabalhista) oferece terreno para a ofensiva acelerada das forças de ultradireita, sejam elas de extração tradicionalista e fascistizante (França, Espanha), ultranacionalistas e filo fascistas (Inglaterra, Alemanha, Áustria) ou “neopopulistas” (sic!) de direita (Holanda, Bélgica, Dinamarca, Itália). Praticamente em toda a Europa ocidental, verificou-se um avanço liberal-conservador na política, uma consolidação gradual do predomínio das forças de direita e ultradireita e a desfiguração da centro-esquerda social-democrata, convertida em força auxiliar da direita conservadora-liberal, em suma, o recuo da influência e/ou o isolamento político das forças de esquerda e ultraesquerda.

Nos dias de hoje, em alguns destes países ocidentais, o neofascismo, fragmentado no aspecto organizativo e marginalizado politicamente pela hegemonia liberal-conservadora, não vai além de uma constelação de ajuntamentos marginais políticos e jovens de instrução e de emprego pelas políticas neoliberais. Em outras circunstâncias, manifesta-se sob a forma de partidos políticos, clubes e associações culturais integrados à institucionalidade existente. Nestes últimos, adaptam sua retórica e seus métodos à atmosfera política e intelectual dominante, atualizando e por vezes reformando suas ideias centrais. Deste modo, principalmente no mundo de fala alemã, as concepções mais diretamente referidas no nacionalismo romântico (völkish) e no pangermanismo cedem espaço para o nacionalismo xenófobo, o racismo comunitarista (europeu) e diferencialista (ariano). A defesa aberta do nazismo e seus malfeitos são dissimulados pelas impostações revisionistas.

Porém, em um arco mais amplo de questões sociais e culturais, a prédica e a atuação dos grupos neofascistas na disputa pelo coração das massas toma forma na condição de uma exacerbação do conservadorismo. Nos temas referentes aos direitos civis, liberdade de escolha e livre orientação sexual, estas formações perfilam, sem maiores surpresas, com as demais forças conservadoras do mundo no combate ao direito ao aborto, na oposição às reivindicações feministas, na pouca sensibilidade para com as questões ecológicas e na condenação do homossexualismo. Estes grupos costumam defender políticas de “tolerância zero” para delitos menores, reivindicando penas draconianas para pequenos furtos, ao passo que fazem vistas grossas para os crimes financeiros e escândalos de corrupção. Quando conseguem representação nos parlamentos, seus porta-vozes defendem a reeducação pelo trabalho para viciados em drogas e opõem-se decididamente a que se reduza para menos a idade legal para a prática de atividades homossexuais.

Conclusão: nazismo “de esquerda” para “libertários” de direita – um duplo caso de dislexia

No espectro político da chamada “Nova Direita Brasileira”, adquirem visibilidade crescente as ações, discursos e propostas dos chamados “libertários de direita”. Já em sua autodesignação, esta vertente manifesta seu descompromisso com a lógica conceitual e sua ausência de escrúpulos na apropriação de um adjetivo elaborado muito anteriormente para a denominação de posicionamento político e ideológico profundamente distinto. Com efeito, a expressão “libertário” passou a ser empregada, no final do século XIX, para definir concepções, propostas, grupos e organizações políticas integradas ou adjacentes ao campo da esquerda revolucionária, que demarcavam suas posições em face dos socialismos tanto de inspiração marxista quanto reformista, através da prédica da destruição imediata do estado, no processo de superação da ordem burguesa-capitalista sem qualquer período intermediário e sem a realização de quaisquer pré-condições. Seu nítido pertencimento à esquerda era enfatizado nos substantivos aos quais habitualmente se encontrava associado: anarquismo libertário ou socialismo libertário. Sua utopia societária apontava, não apenas para a eliminação completa do estado e todas as formas de dominação política, mas também, a exemplo de outras correntes socialistas e revolucionárias, para a supressão do capital, da propriedade privada e do estado no processo de transição para uma sociedade autogestionária, formada pela livre associação dos indivíduos.

Atribui-se a Antonio Gramsci a afirmação segundo a qual o anarquismo teria as suas origens primevas na tradição liberal e não no socialismo. Determinados autores, como Max Stirner e Henry David Thoreau, um teórico da completa autonomia do indivíduo em face do estado e da sociedade, o outro propositor da tática da desobediência civil contra o poder da autoridade estatal, foram reivindicados, ao longo do tempo, tanto por anarquistas, quanto por liberais. Os “libertários de direita” de nossos dias encenam sua vinculação à linhagem ideológica e intelectual anarquista, ao verbalizarem a proposição de um “anarcocapitalismo” (sic!), baseado na plena liberdade individual e na rejeição do poder do estado, porém sua nebulosa identificação com os seguidores de Bakunin e Malatesta se dissipa prontamente na enunciação das bases materiais de seu projeto social: a propriedade privada como suporte da liberdade individual, a regulação da vida social pelo mercado, como sucessora do poder do estado.

Organizados desde 1971 em um partido político nos Estados Unidos e exercendo sua influência em significativas áreas da vida política e cultural daquele país, os “libertários de direita” apresentam-se como um dos subprodutos da Contracultura dos anos 1960. Em seus aspectos exteriores esta vertente ideológica paga tributo à atmosfera do tempo que a originou. Da Nova Esquerda estadunidense constituída naqueles anos, recebeu a influência da rebelião contra os elementos programáticos e organizativos das tradições políticas que se cristalizaram, ao longo do século XX, naquela sociedade norte-americana. De seu apreço pelo “novo” emerge sua determinação em se diferenciar do “velho” liberalismo estadunidense, acomodado às regras do New Deal desde a década de 30, “leniente” em face das políticas “intervencionistas” e reguladoras, “cúmplice” do acordo do estado com os sindicatos de trabalhadores. Enquanto “libertários”, porém, demarca toda posição em face do neoconservadorismo crescente na sociedade estadunidense das últimas décadas contrapondo as interdições e reações contra reivindicações e direitos já conquistados de mulheres, negros e homossexuais, a intocabilidade dos direitos individuais, desde que devidamente assentados sobre a propriedade, a riqueza e o poder de compra de cada um (27).

Em termos gerais, os “neolibertários” atualizam os temas do pensamento liberal do século XIX, já reciclado pela intervenção dos autores da Escola Austríaca do pensamento econômico de meados do século XX e pelos neoliberais monetaristas das últimas cinco ou seis décadas. Requentando antigas utopias individualistas, mercadocêntricas e antiestatistas, fazem-no, entretanto, parcial e condicionalmente. Rejeitam toda e qualquer intervenção do estado no processo de regulação das atividades econômicas (até mesmo no que se refere ao monopólio da moeda e da implementação de políticas monetárias), nas relações entre o capital e o trabalho, nos processos de produção e redistribuição da riqueza produzida socialmente; porém não podem dispensar o exercício do papel coercitivo do estado na repressão aos indivíduos, grupos, movimentos e classes sociais que não aceitem as regras contratuais da sociedade do “livre mercado” ou desrespeitem o princípio da soberania absoluta da propriedade privada, defendendo até mesmo “ditaduras temporárias” e formas aristocráticas de exercício do poder.

Na noite mercantilizada dos indivíduos proprietários, todos os estados intervencionistas são vermelhos e pardos. Assim, os fascistas, elogiados um dia por Mises, como uma alternativa válida para a defesa do capital e da propriedade, converteram-se depois em furibundos inimigos das liberdades, individuais e econômicas, portadores de concepções autoritárias, “populistas” e liberticidas, de extração socialista, do mesmo tipo da de seus concorrentes, os comunistas. Estava instaurada uma das mais espetaculares simplificações conceituais da história do pensamento político de todos os tempos: a inscrição dos fascismos no campo das esquerdas e a identificação orgânica e estrutural entre fascistas, socialistas e comunistas.

Por mais persuasiva e convincente que esta infundada redução possa parecer aos olhos e ouvidos de pessoas dotadas de intelecto preguiçoso, ou pouco instruído e suscetível ao poder da propaganda, ela evidencia o esgotamento dos recursos imaginativos da consciência liberal, na época de realização de suas mais sombrias distopias. O máximo volume de sua reverberação precederá o canto de cisne da credibilidade das agências e sujeitos que tiverem tido a infelicidade de apregoá-la.

*Professor do Departamento de História e Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

1 CONSTANT, Benjamin. “Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos (1819)”. Revista Filosofia Política no. 2,1985.
2 MAYER, Arno J. “A burguesia se inclina”. A Força da Tradição – A persistência do Antigo Regime. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. Ver também, SCHORSKE, Carl E. Viena Fin-de-Siècle. São Paulo: UNICAMP/Companhia das Letras, 1988. (Capítulo I)
3 Cf. GOOBY-TAYLOR, Peter. “Welfare, hierarquia e ‘nova direita’ na era Thatcher”. Lua Nova, No. 24, Setembro de 1991.
4 BRESCIANI, Maria Stella. “O pensamento político conservador após a Comuna de Paris”. In: BOITO JR., Armando (org). A Comuna de Paris na História. São Paulo: Xamã, 2001.
5 Cf.MAYER, Arno J. Op. cit. 1987. 6STERNHELL, Zeev. “A modernidade e seus inimigos!”. In: STERNHELL, Zeev (Org.). O Eterno retorno – Contra a Democracia a ideologia da decadência. Lisboa: Editorial Bizâncio, 1999.
7 BENNER, Erica. Really Existing Nationalisms – A Post Communist View from Marx and Engels. Oxford: Clarendon Press, 1996.
8 Cf. GRAY, John. Falso Amanhecer: os equívocos do capitalismo global; tradução Max Altman. Rio de Janeiro: Record, 1999.
9 LOSURDO, Domenico. “A Revolução, a nação e a paz”. Estudos Avançados, 22 (62), 2008.
10 HOBSBAWM, Eric. “A Construção das Nações”. A Era do Capital. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
11 HOBSBAWM, Eric. A Era dos Impérios. São Paulo: Paz e Terra, 2009. 12Cf. MAYER, Arno J. Op. cit., 1987.
13 HOBSBAWM, Eric. Nações e Nacionalismo desde 1780. São Paulo: Paz e Terra, 2013.
14 LOSURDO, Domenico. “A Revolução, a nação e a paz”. Estudos Avançados, 22 (62), 2008.
15 Sobre a I Internacional ver: COLE, G. D. H. Historia del Pensamiento Socialista. Vol. II, México: Fondo de Cultura Económica, 1975. A respeito da Segunda: CARONE, Edgard. A II Internacional Pelos Seus Congressos (1889-1914). São Paulo: EDUSP, 1993.
16 Cf. LENIN, V.I. “A Guerra e a Social-Democracia da Rússia”. Obras Escolhidas em Três Tomos, 1977, Edições Avante! – Lisboa, Edições Progresso, Moscovo, pp 557-564.
17 GRAMSCI, Antonio. Sobre el Fascismo. Mexico D.F.: Ediciones Era, 1979.
18 Alguns “modernistas reacionários”, em particular Ernest Jünger, que fora militar e combatera nas trincheiras da Primeira Grande Guerra, identificavam na solidariedade construída no front, nos laços de sangue instituídos entre os combatentes e no heroísmo patriótico dos que se sacrificaram pela Alemanha as bases para a reconstrução da unidade da nação alemã. Não é preciso enfatizar aqui em que medida tais formulações antecipam o discurso de Hitler e seus seguidores. Sobre a vida e as ideias de Jünger e outros modernistas reacionários ver HERF, Jeffrey. O modernismo reacionário. São Paulo: Editora Ensaio, 1993.
19 TOGLIATTI, Palmiro. Lecciones Sobre El Fascismo. Mexico D.F. Ediciones de Cultura Popular, 1977.
20 TREVOR-ROPER, H. R. “Hitler´s War Aims” In KOCH, H. W. Aspects of the Third Reich. Londres: Macmillan Education, 1988.
21 “Revisionismo” aqui, diz respeito à revisão dos termos do Tratado de Versalhes, considerados desfavoráveis ao estado alemão.
22 Acerca do Franquismo e sua relação com a Falange Espanhola ver, PEREIRA, Ana Brea et alii. História de España Contemporânea. A Coruña: Bahia Edicións, 1997. Sobre o salazarismo: REZOLA, Maria Inácia. “A igreja católica nas origens do salazarismo”. Locus: Revista de história, Juiz de Fora, v.18, n.1, p. 69-88, 2012.
23 FERREIRA, Muniz. “‘Do passado vem a tempestade’ – notas historiográficas sobre as políticas externas do Terceiro Reich Alemão”. In Caderno de Estudos e Pesquisas, Ano VIII, No. 19, jan/abr, 2004. 24 Acerca das interpretações historiográficas de Nolte, ver o artigo de Demian Melo no Blog Junho, intitulado “Ernst Nolte e a historiografia revisionista”. http://blogjunho.com.br/ernst-nolte-e-ahistoriografia-revisionista/. Acessado em 02/09/2017.
25 Ver, a este respeito, LOSURDO, Domenico. Stalin – História crítica de uma lenda negra. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2004.
26 Sobre Leo Strauss e o neoconservadorismo, ver ANDERSON, Perry. Spectrum – de La derecha a La izquierda em El mundo de lãs ideas. Madri: Ediciones Akal, 2008.
27 Cf. AUGUSTO, André Guimarães. O que está em jogo no “Mais Mises, menos Marx”. http://marxismo21.org/wp-content/uploads/2015/04/Mises-Marx.pdf . Acesso em 02/09/2017.

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Texto publicado no livro “Tempos conservadores: estudos críticos sobre as direitas”, volume 3.

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