Tarcísio e o bolsonarismo em São Paulo

 

 

 

 

 

 

Coletivo LGBT Comunista SP

A vitória de Tarcísio de Freitas para o cargo de governador do estado de São Paulo, nas eleições de 2022, coloca a classe trabalhadora diante de um cenário de aprofundamento do projeto ultraliberal da burguesia. Não há dúvidas de que os ataques à classe trabalhadora continuarão, e que o perfil desses ataques assumirá semelhanças com as políticas aplicadas pelo governo Bolsonaro. Isto gera uma necessidade da compreensão de quais são os interesses da burguesia que serão defendidos em seu mandato; quais serão as políticas de ataque à classe trabalhadora e como será a sua relação com o fenômeno do bolsonarismo.

 Durante sua campanha eleitoral, Tarcísio recebeu apoio financeiro de diversas famílias da burguesia nacional, sendo as principais: a família Civita (Grupo Abril), a família Jafet (Hospital Sírio-Libanês) e a família Ometto (Rumo Logistica e Grupo Cosan). A tônica de seu discurso consistiu, sobretudo, no apoio de setores da burguesia, do agronegócio e das grandes indústrias, além de também pautar a ampliação do sistema de transporte de mercadorias via ferrovias (malha ferroviária), responsável por favorecer, em certo nível, esses setores. Há, também, um comprometimento com o fortalecimento das políticas de encarceramento, com indicativos de um fortalecimento do poder militar no estado de São Paulo.
 Ao ser indicado como ministro da infraestrutura, no governo Bolsonaro, seus objetivos eram de garantir o avanço do processo de privatização, nos leilões de gás e óleo, além de garantir concessões para aeroportos, ferrovias e portos, revelando o seu foco de privatizar setores fundamentais da economia e favorecer empresas privadas através desse processo. Há, também, em seu discurso, um antagonismo em relação à educação sexual nas escolas, compreendida pelos setores da burguesia como “ideologia de gênero”. Isso reforça o seu total descaso e oposição à população paulistana. Além disso, os desvios de dinheiro público (cerca de quarenta milhões de reais) investigados na operação “circuito fechado”, por meio de empresas de tecnologia, demonstram a sua postura oportunista com os cofres públicos.
Não podemos esquecer de sua atuação militar no Haiti, com a MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti) – uma ação do imperialismo, que foi responsável por um processo violento contra o povo haitiano, com o objetivo de submeter o Haiti aos interesses dos Estados Unidos. Esse processo foi comandado pelas tropas brasileiras durante os anos de 2004 – 2017, acentuando a situação de instabilidade no país e agravando a violência que a população haitiana sofria. Houve inúmeros casos de mulheres e crianças que foram estupradas por militares da MINUSTAH, além do ocultamento e o desvio de alimentos, implicando no agravamento da fome e da insegurança alimentar no país. A repressão que houve contra a população negra haitiana era sistemática e defendida pelo imperialismo norte-americano, sob a maquiagem de um discurso da chamada “missão de paz”.
Esses elementos submetem a classe trabalhadora a um horizonte de ataques que irão beneficiar ainda mais a burguesia. É provável que, em seu mandato, haja a continuação dos processos de privatização, sobretudo do transporte público, que ocorrem em São Paulo. A violência contra a população LGBT, algo nunca pautado pelos governos da ordem burguesa, continuará crescendo e atingindo cada vez mais LGBTs da classe trabalhadora, e espaços como os centros de cidadania LGBT, assim como o próprio conselho estadual LGBT sofrerá ataques nos próximos anos.
As políticas do governo Bolsonaro, mesmo com a derrota de seu principal representante para o cargo da presidência, continuarão sendo implementadas por Tarcísio. A defesa e a viabilização da privatização das empresas públicas no estado de São Paulo, os ataques contra o ensino público, o fortalecimento da polícia militar (que gerará ainda mais violência contra a classe trabalhadora, além de manter o genocidio da população negra), o enfraquecimento dos instrumentos do Estado voltados para a população LGBT, como o Conselho Estadual LGBT e os Centros de Cidadania LGBTI das regiões de São Paulo, assim como o próprio discurso carregado de LGBTfobia em prol da família burguesa e o que deve ser ensinado nas escolas, serão algumas das políticas de ataque que possivelmente virão de seu governo.
Com o fortalecimento do fenômeno do bolsonarismo na atual conjuntura política, existe a possibilidade do Tarcísio se aproveitar desse cenário para obter respaldo político, por parte de adeptos do bolsonarismo, além da própria burguesia, para a realização de seu programa político de ataques contra trabalhadores e trabalhadoras. A relação política que o mesmo desenvolveu com o governo Bolsonaro se manifestará, agora, na forma prática em seu mandato como governador, ainda que ele acene para um compromisso de conciliação com seu principal opositor nas últimas eleições: Lula.
Deste modo, é impreterível a necessidade de organização da classe trabalhadora. Tarcisio de Freitas é mais um inimigo que terá a oportunidade de dar continuidade ao projeto ultraliberal do governo Bolsonaro e, com o bolsonarismo ganhando força, será ainda mais necessário que façamos esse embate de forças e oposição nas ruas, de forma organizada. Ao passo em que há um acirramento do cenário político para a classe trabalhadora, surgem também as condições objetivas para a construção do poder popular, e devemos aproveitar essas condições para organizar a classe trabalhadora de modo a combater esses ataques e reconhecer a burguesia e todos os seus representantes como inimigos.
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