Já vai tarde



A extensa cobertura midiática sobre o tema, infelizmente, não deixa dúvidas de quanto poder o Vaticano exerce, senão na vida e nos costumes da sociedade brasileira, ao menos nos pequenos círculos que controlam a imprensa do país. Daremos o desconto para o inusitado do caso, inédito nos últimos 600 anos.

O que falar sobre Bento XVI? Reforçou o conservadorismo com aportes teóricos, mantendo a oposição ao aborto, às uniões homoafetivas, ao divórcio, demandas hoje universais, que exigem soluções abrangentes. No caso do aborto, a oposição do Vaticano condena à morte e à miséria, na prática, milhões de mulheres e crianças.

Não deu consequência às denúncias de pedofilia e abusos sexuais cometidas pelos clérigos, que se multiplicaram nos últimos anos, e manteve a postura de oposição à presença de mulheres nas instâncias decisórias da Igreja.

Esvaziou ainda mais as correntes progressistas da Igreja, como a da Teologia da Libertação, e jamais reconheceu a natureza torpe e excludente do capitalismo, mesmo com uma Europa em grave crise. Não atualizou a doutrina social da Igreja, compactuou com o ideário neoliberal, e retrocedeu em relação às encíclicas Rerun Novarum e Laborens Exercens, que traziam algum conteúdo de justiça social. Jamais se posicionou com firmeza em relação aos povos oprimidos, às invasões e guerras promovidas pelo imperialismo.

Por tudo isso, já vai tarde…