Quem te viu, quem te vê

25 anos se passaram desde a promulgação da atual Constituição brasileira. Na ocasião, em 1988, pouco tempo após a queda da ditadura empresarial-militar, e ainda sob os efeitos da grande mobilização da sociedade, com destaque para os movimentos organizados, na luta contra a opressão, pelos direitos dos trabalhadores e por eleições diretas, muito se esperava do processo constituinte. O que se viu, no entanto, não foi bem assim. Ao contrário, manifestaram-se com força as pressões conservadoras, criadas e mantidas por conta do processo de transição política, um processo negociado. Houve alguns avanços nos direitos civis, criou-se o Ministério Público.

No entanto, não foi aprovada a reforma agrária, criou-se o “Estado de Defesa” (uma versão suavizada do “Estado de Sítio”, que permite a suspensão de direitos constitucionais em caso de grave crise institucional), a garantia contra demissões arbitrárias (que previa mais estabilidade para os trabalhadores) jamais foi regulamentada em lei ordinária, como previsto, e portanto nunca foi implementada. O Sistema Único de Saúde proposto foi, logo a seguir, totalmente descaracterizado. A Saúde é dominada, hoje, pelas empresas privadas e o sistema público agoniza. Em resumo, foram aprovadas “intenções” favoráveis aos trabalhadores, não implementadas, em sua grande maioria, ou totalmente desfiguradas, logo a seguir, favorecendo, mais e mais, os interesses do capital.

Mas Lula tem razão. Se as propostas dos movimentos de trabalhadores, do PT (da época), do PCB e de outras legendas que se colocavam a favor da justiça social tivessem sido aprovadas, o Brasil seria, realmente, ingovernável, hoje, para os banqueiros, os latifundiários, os grandes grupos econômicos, os escroques que sugam o dinheiro público, que Lula, no poder, defendeu sem qualquer prurido. É hora de se repensar-se o atual estado de coisas, de construir-se uma nova ordem social, uma nova estrutura de poder.