GREVES DOS GARIS E DO COMPERJ

As recentes greves dos garis da COMLURB e dos trabalhadores do COMPERJ marcaram o início desse ano em termos de luta de classes em nosso estado. A primeira foi de curta duração, impactou a vida da cidade em pleno período do carnaval e obteve uma expressiva vitória econômica, além de impor uma clara derrota política ao arrogante Prefeito Eduardo Paes (PMDB). A segunda se estendeu por mais de um mês, teve pouquíssima visibilidade e terminou com resultados bem abaixo das reivindicações dos trabalhadores.

Apesar das diferenças acima, as duas greves revelaram algumas facetas semelhantes que valem ser ressaltadas. As duas categorias estão entre as camadas mais exploradas da classe trabalhadora, enfrentam condições duríssimas de trabalho, recebendo pouco acima do salário mínimo. Os respectivos Sindicatos (Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação do município do Rio de Janeiro, filiado a CGTB e o Sindicato dos trabalhadores da Construção Civil de São Gonçalo e Itaboraí, filado a CUT), que deveriam estar à frente da luta em defesa dos interesses desses trabalhadores, se colocaram de forma descarada como verdadeiros agentes patronais.

No caso dos garis, a diretoria do Sindicato após a assembleia ter deliberado pela greve, publicou, na calada da noite, um boletim informando a suspensão do movimento. Depois desse ato de traição à luta dos trabalhadores, esses sindicalistas de mentirinha se colocaram inteiramente a serviço do Prefeito, boicotando a greve e assinando um acordo rebaixado. Não satisfeitos os traíras fizeram mais um comunicado afirmando que “o Sindicato não foi responsável pela deflagração da greve”.

Já no COMPERJ nas assembleias conduzidas pelo Sindicato não se permitia que os trabalhadores fizessem uso da palavra para discutir os rumos do movimento, apenas os diretores do Sindicato e da CUT podiam falar. Nem assim eles conseguiram deter a força da greve, foram vaiados em todas as assembleias. Inconformados, os pelegos e as empresas contrataram capangas para ameaçar os trabalhadores. Numa das manifestações bandidos passaram atirando e balearam dois grevistas, isto sim, pode ser classificado como um verdadeiro ataque terrorista, no qual acabaram feridos dois operários.

Além de enfrentar aqueles que deveriam estar ao seu lado (os Sindicatos), os garis e os trabalhadores da construção civil se defrontaram com a repressão do estado. A PM do governador Sergio Cabral (PMDB) reprimiu duramente uma passeata dos garis no sábado de carnaval, espancando, jogando bombas e atirando balas e borracha contra os manifestantes. Igualmente em Itaboraí foi montado um forte aparato policial para agir contra as movimentações dos trabalhadores do COMPERJ, vários confrontos foram registrados, sempre com a marca da brutalidade e da covardia na ação policialesca contra os grevistas.

Outra experiência similar para essas duas categorias foi como a mídia, concentrada nas grandes redes de TV, rádio e jornais, cobriu essas greves, ou seja, da mesma maneira que sempre fazem. Os trabalhadores quase nunca tiveram voz, mas, o Prefeito, as empresas e os Sindicatos pelegos obtiveram ampla cobertura. Eduardo Paes e o presidente da COMLURB se referiam aos garis em greve como “marginais”. De imediato anunciaram 300 demissões na tentativa de derrotar o movimento, mas não contavam com a determinação dos garis e com o apoio que grande parte da população carioca manifestou a greve, reconhecendo a importância do trabalho desses profissionais para a manutenção das condições de vida na cidade.

A disposição de sair para a luta demonstrada por aqueles que, muito pouco, ou quase nada, têm a perder, indica que o processo iniciado com as jornadas de junho de 2013 se desdobra para as mobilizações dos trabalhadores, o que pode significar mudanças profundas na conjuntura social e política brasileira. Não é por acaso que o exemplo dos garis do Rio de Janeiro já “contaminou” os trabalhadores da limpeza urbana em varias cidades. A greve no COMPERJ vem na esteira de outras realizadas em grandes obras. Outras categorias superexploradas, como os motoristas e cobradores de ônibus, retomam também o caminho das greves.

Todo esse movimento se defronta com o governo do PT/PMDB e seus sócios menores trabalhando a serviço das grandes empresas capitalistas. A fórmula deles é a mesma, quando a economia está aquecida só oferecem migalhas aos explorados, já ao menor sinal de crise ou diminuição da atividade econômica, tratam de intensificar os mecanismos de exploração sobre a classe trabalhadora. Nossa luta, portanto, não deve se limitar aos resultados imediatos, esses apenas sinalizam que a causa fundamental das nossas péssimas condições de vida e trabalho é o sistema econômico e político burguês, este ainda está por ser derrotado.

Ney Nunes

Unidade Classista – RJ

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