A China converte-se no terceiro exportador mundial de armamento
Este seria um artigo factual, se fosse possível tratar como simplesmente factual a questão da produção e do comércio mundial de armamentos. Duas coisas poderão andar ligadas: enquanto o capitalismo se debate com uma das mais profundas e prolongadas crises da sua história, o comércio mundial de armamento cresce 16% entre 2010 e 2014.
A China é já o terceiro maior exportador de armamento do mundo. Ainda que a sua percentagem do total global seja apenas 5%, muito abaixo dos 58% que somam os dois “grandes” — Estados Unidos e Rússia—, os seus fornecimentos ao exterior explodiram nos últimos cinco anos. Nesse período as suas vendas de armas cresceram 143% em relação ao quinquénio anterior, segundo o relatório publicado esta segunda-feira pelo Instituto de Investigação para a Paz Internacional de Estocolmo (SIPRI).
Comércio internacional de armas
Em todo o mundo, o volume do comércio de armas cresceu no período entre 2010 e 2014 16% em relação ao quinquénio 2005-2009. O aumento do fluxo encaminhou-se principalmente para a Asia, que representou 48% das importações, o Médio Oriente (22%) e o continente americano (10%), enquanto o volume de vendas para a Europa decresceu 36%.
Os Estados Unidos mantém-se como o principal exportador de armamento convencional, com 31% do total após registar um aumento de 23% do seu volume de vendas nos últimos cinco anos. Este país é o que tem uma carteira mais diversificada de clientes, 94, dos quais o maior é a Coreia do Sul, que lhe compra 9% do total. A Rússia, o seu principal rival, conseguiu também um amplo crescimento das suas exportações em 2010-2014, 37%, e cabe-lhe 27% do total de exportações, com a India — o principal comprador do mundo — como o melhor dos seus 56 clientes.
A seguir à China, o quarto e quinto lugares na lista de fornecedores mundiais correspondem a Alemanha e França, também com 5% cada um. O Reino Unido desaparece da lista dos cinco grandes exportadores.
Três países fronteiriços com a India — Paquistão, Bangladesh e Birmânia — concentram 68% das vendas de armamento chinês. O Paquistão é, destacado, o melhor cliente da República Popular. O país que os diplomatas chineses gostam de designar como um “amigo em qualquer circunstancia”, e que o presidente Xi Jinping anunciou ir visitar nos próximos meses, recebe 41% do armamento que o gigante asiático exporta.
Nesta sua consolidação como fornecedor global de armamento, a China vende já a 38 países, 18 dos quais são africanos. Assim, forneceu três fragatas à Argélia, e drones à Nigéria. O seu alcance chega também à Venezuela, que lhe comprou veículos blindados e aeronaves de treino e de transporte, indica o SIPRI.
Acerca do aumento de vendas que a levou do nono lugar mundial que ocupava em 2005-2009 ao terceiro lugar actual, a China afirma que “é sempre prudente e responsável nas suas exportações de armas”. Pequim, segundo assegura o porta-voz do seu Ministério de Exteriores Hong Lei, insiste em “que [este comércio] deve ter como objectivo a melhoria da capacidade de autodefesa do país receptor, não prejudicar a paz e a estabilidade mundial ou regional e a não ingerência nos assuntos internos de outros países”
As compras de Pequim no exterior caem 42% num quinquénio
Precisamente, a China, o segundo país do mundo na dimensão do orçamento militar, encontra-se em pleno processo de modernização e profissionalização das suas Forças Armadas. A sua despesa militar aumentou em percentagens superiores a 10% no último lustro. Dando expressão aos avanços na sua indústria de Defensa, tornou-se menos dependente das importações. Se em 2005-2009 era o maior comprador do mundo, cedeu agora esse posto ao seu rival militar regional, a India. Entre 2010 e 2014 as suas aquisições de armas caíram 42% em relação ao quinquénio anterior. O seu principal fornecedor foi a Rússia, que lhe proporcionou 61%. A França vendeu-lhe 16%, e a Ucrânia, 13%.
Os helicópteros constituem um dos principais componentes das compras à Rússia e Ucrânia. A China, que colocou o ênfase da sua modernização militar nas suas forças de mar e ar, tem tradicionalmente padecido de problemas para produzir motores próprios para aeronaves que garantam suficiente qualidade. Nos últimos cinco anos, indica o SIPRI, Pequim continuou a importar um grande número de motores russos e ucranianos para aeronaves de combate, transporte e treino e para navios de guerra.
Os media oficiais chineses prometeram “avanços” para este ano na produção de aviões militares próprios. A sua maior aeronave de transporte de produção nacional, o Xian Y-20, estará pronto para entrega “proximamente”, assegurava a princípios deste mês a agencia oficial Xinhua, citando Tang Changhong, engenheiro-chefe adjunto da Corporação Industrial de Aviação da China (AVIC). Para além disso, a maior aeronave anfíbia chinesa, a AG600, que será utilizada em operações de resgate, efectuará o seu primeiro voo no próximo ano, segundo a Xinhua.
A India, principal importador mundial
A India foi o maior importador de armamento do mundo no período 2010-2014, em que as suas compras representaram 15% del total global, segundo o relatório publicado esta segunda-feira pelo Instituto de Investigação para a Paz Internacional de Estocolmo (SIPRI). Nesse quinquénio as aquisições de indianas de armas cresceram 140% em relação aos cinco anos anteriores e foram três vezes maiores do que as dos seus principais rivais regionais, China e Paquistão.
“A India, até ao momento, fracassou no que diz respeito a produzir armas competitivas de desenho próprio e continua a depender das importações”, assinala o SIPRI no seu relatório sobre as tendências no comércio de armas mundial.
Entre 2010 e 2014 o principal fornecedor da India foi a Rússia, que lhe forneceu 70% do total. Israel forneceu 7% das suas compras e, no que representa uma ruptura com o comportamento prévio de Nova Deli e uma confirmação da boa sintonia com Washington nos últimos anos, os Estados Unidos venderam-lhe 12%. Antes de 2005-2009, a India apenas importava armamento estado-unidense.
“Parece dar-se uma tendência de subida nas importações a partir dos Estados Unidos”, aponta o SIPRI. As aquisições aos Estados Unidos entre 2010 e 2014 foram 15 vezes superiores às do quinquénio anterior, e incluíram armas avançadas como aeronaves anti-submarinas. Em 2014 foram acordadas compras adicionais, incluindo 22 helicópteros de combate.
A Arabia Saudita é o segundo principal comprador global.