Demitidas após licença, mães sofrem para encontrar novo posto

imagemA discriminação no mercado de trabalho também traz consequências psicológicas

Julia Dolce

A realidade de trabalhadoras evidenciada na pesquisa da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), que revela a probabilidade de demissão de 10% para mulheres que acabaram de se tornar mães, demonstra a existência de uma série de danos, inclusive psicológicos, a elas.

Um deles é a ideia de incapacidade que se cria na figura da mãe de realizar seu trabalho, comparando seu desempenho antes e depois de ter o bebê. Segundo a advogada trabalhista Mariana Serrano, há uma mudança de hábito profissional dentro do espaço de trabalho.

“São os julgamentos, tipo, “não vou delegar para ela… essa tarefa é difícil para as grávidas ou mães”. Ou seja, você já presume que a mulher não vai se comprometer por ser mãe, sendo que isso não é verdade. Mas o acesso a essas atividades, muitas vezes, é o que distingue uma pessoa para ser promovida, leva ela aos olhos dos superiores. Isso acaba acontecendo muito, elas são minadas sem saberem, o que gera um problema de desigualdade de oportunidade”, pontuou.

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As consequências psicológicas dessa discriminação também são sérias. A psicóloga Maíra Andrade, por exemplo, foi convencida a participar de um acordo pelo qual voltaria a trabalhar um mês antes do fim de sua licença-maternidade, em troca de uma futura promoção. Porém, ela afirma que foi demitida assim que cobrou a mudança oficial de cargo, com o fim de seu período de estabilidade.

“Me senti muito mal psicologicamente enquanto profissional, até por tudo que eu abri mão. Deixei de participar de momentos do primeiro desenvolvimento da minha filha por conta disso”, lamentou.

Hoje, Maíra trabalha por conta própria na clínica que fundou, atendendo mulheres que passaram por situações semelhantes a dela. A psicóloga diz que as sequelas emocionais são muito recorrentes. “Isso abala porque em muitos momentos a mulher questiona se aquele era o momento da maternidade, e esse questionamento não têm que vir,. É um comportamento organizacional ruim das empresas”, disse.

Depois de toda a pressão sofrida na construtora em que trabalhava, a arquiteta Ana Bueno, que pediu para não ter o nome verdadeiro revelado, conta que a carga psicológica foi quase insuportável. “Eu fiquei em frangalhos. Eu conversava com minha obstetra e chorava de soluçar no consultório porque eu não conseguia relaxar hora nenhuma”, relembrou.

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Depois de demitidas, as mulheres entrevistadas contam que têm dificuldades em voltar ao mercado de trabalho. Para a advogada Graziella Branda, que foi dispensada assim que terminou seu período de estabilidade, a situação também prejudica financeiramente as mulheres.

“As pessoas não têm sensibilidade para entender que muitas delas precisam do trabalho para justamente sustentar aquele filho que nasceu”, disse.

A bióloga Gabriela Merheb, por exemplo, não conseguiu nenhum emprego desde que foi demitida da sua função de coordenadora geral de uma pousada, em Fernando de Noronha, Pernambuco. Há uma regra que proíbe mulheres de terem o parto na ilha, devido à falta de centro cirúrgico, o que obriga as grávidas a voltarem para o continente a partir do sétimo mês de gestação.

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Depois de passar tanto tempo afastada, Gabriela não conseguiu voltar para o emprego.”Fui demitida, me pagaram todos os direitos que eu tinha que ter, e desde então minha menina já tem seis anos e não consigo nenhuma recolocação. Vou fazer 44 anos, e é impossível”, lamentou.

Já a ex-gerente de empresa multinacional, Carla Ferreira, foi perdendo as  atribuições no trabalho até ser demitida, no fim de seu período de estabilidade. Ela explicou que mesmo com uma condição financeira privilegiada para uma mulher negra, a maternidade atrapalhou sua carreira.

“Depois da demissão foram três entrevistas canceladas quando tocaram no assunto de filho. Ou eu recebia um email remarcando a entrevista. Ou falavam que a vaga foi cancelada. Mas parece que eu estava sendo muito interessante até eu tocar no assunto de filho”, disse.

Na terceira reportagem da série “Dispensa- Maternidade”, saiba mais sobre as leis vigentes no país que deveriam proteger as gestantes e as medidas defendidas por especialistas para evitar as demissões, após a licença-maternidade.

Ilustração principal: Metade das brasileiras são demitidas até dois anos após a licença-maternidade. Pixabay

Artes: Wilcker Morais

Edição: Simone Freire (site) / Camila Salmazio (Radioagência)

https://www.brasildefato.com.br/2017/08/17/dispensa-maternidade-or-demitidas-apos-licenca-maes-sofrem-para-encontrar-novo-posto/

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