Agronegócio e imperialismo: Embrapa perde relevância
OLHAR COMUNISTA – 30/04/2018
A matéria do Jornal do Brasil de domingo, 28 de abril de 2018, descreve a trajetória da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – nas duas últimas décadas. A Embrapa é uma empresa estatal ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, criada há 45 anos para apoiar o setor agropecuário no Brasil com estudos e pesquisas.
A empresa, com orçamento de R$ 2,3 bilhões por ano, teve significativas contribuições para o desenvolvimento do setor no país. Até os anos 1990, era considerada o “banco intelectual” da agricultura brasileira, desenvolvendo tecnologias para a agricultura tropical, como no caso da cultura de grãos na região do cerrado.
Aos poucos, empresas trans e multinacionais de pesquisa começaram a se implantar no Brasil, atraídas pelos elevados volumes movimentados pelo setor. Hoje respondem por 95% da pesquisa em milho, soja e algodão. Apenas 5% das variedades de soja usadas no cerrado foram desenvolvidas pela empresa.
Grandes empresários do setor afirmam que a Embrapa é, hoje, um agente regulador, junto às empresas privadas de pesquisa, dos preços das tecnologias demandadas pelas empresas agrícolas e cobram, do governo, definições políticas para o desenvolvimento de novas tecnologias, como a nanotecnologia, para reforçar a concorrência da produção brasileira no mercado internacional.
A perda de relevância da Embrapa é reflexo do crescimento do setor agropecuário nas últimas décadas – e do seu peso significativo nas exportações brasileiras – e da migração do capitalismo brasileiro, a partir dos anos 90, de um modelo de direcionamento estatal da economia e proteção à produção interna para um padrão neoliberal de integração ao mercado mundial, seguindo a tendência mundial daquele período, com pouca intervenção direta do Estado, privatizações generalizadas e abertura da economia ao capital externo, além da retirada de direitos dos trabalhadores e outras medidas prejudiciais à maioria da população. Mesmo os grandes empresários do setor agrícola clamam por uma melhor definição da política tecnológica que lhes apoie no enfrentamento da concorrência no mercado mundial.
O setor agroexportador é um dos setores mais influentes na definição de políticas que atendam a seus interesses. Juntamente com o setor financeiro e setores da indústria, forma a base de sustentação do poder político no Brasil. O clamor pelo fortalecimento da Embrapa reafirma o interesse da burguesia em ter o Estado a seu favor, e o Estado capitalista sempre está a seu favor, em diferentes modos de atuação.
De fato é necessária uma política para o setor. Não aquela exigida pelos grandes empresários da terra, mas sim outras políticas – agrária, econômica, tecnológica – voltadas para a produção de alimentos para o abastecimento interno, para o não esgotamento dos campos com a monocultura, uma política que avance na construção de um processo de reforma agrária de grande proporção, gerando empregos e criando abrindo caminho para um processo de socialização dos meios de produção no campo.
Para que isso aconteça, é preciso que as vozes dos que têm a necessidade de dispor de mais terra para plantar e mais comida para comer – a voz dos trabalhadores – suplante as vozes dos que vivem da expulsão de camponeses de suas terras, da superexploração do trabalho e das benesses do Estado burguês. Precisamos construir um novo campo, uma nova sociedade, um novo Estado, um novo sistema político e econômico que supere o capitalismo e suas nefastas consequências para o conjunto da classe trabalhadora e dos setores populares.