Desesperança: 4,6 milhões de brasileiros desistem de buscar emprego

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Dados do IBGE recém divulgados revelam um aumento de 195%, desde 2014, do número de pessoas que sequer buscam conseguir um emprego, após muitas e muitas tentativas frustradas, caindo na desesperança e no desespero. O IBGE afirma ainda que falta trabalho para 27,7 milhões de brasileiros, se aos desempregados forem somados aqueles que trabalham menos do que gostariam – os subempregados ou subutilizados (que aumentaram em 73% no período) – e os 4,6 milhões que desistiram de procurar emprego.

As mulheres representam 54,2% dos desalentados, que são, em sua maioria, pretos ou pardos autodeclarados. 60,6% desse total estão na região Nordeste, e a maior parte (38%) compõe-se dos que não têm sequer o ensino fundamental completo.

São números impressionantes, que refletem a desigualdade existente no Brasil em seus diversos aspectos: a exclusão na Educação, onde a maioria não completa o ensino fundamental e só cerca de 17% conseguem chegar à Universidade, a desigualdade entre homens e mulheres, entre negros e brancos. O número – 27,7 milhões – é extremamente elevado, se comparado com os pouco mais de 100 milhões que compõem a população economicamente ativa no Brasil, dos quais apenas cerca de um terço tem carteira assinada, e mais de 20 milhões trabalham por conta própria.

O desemprego é decorrência do próprio desenvolvimento do capitalismo e, por isso, tende a se agravar. É um fenômeno presente em todos os países capitalistas, desenvolvidos ou não. Entre as muitas razões para sua presença estão as crises econômicas – como a atual, de caráter mundial, iniciada em 2008, com efeitos ainda   presentes, as novas tecnologias que são implementadas na produção industrial, no campo e nos serviços e dispensam trabalhadores, e as fusões e aquisições de empresas que “otimizam” suas operações, concentrando tarefas em mãos de menos pessoas e demitem empregados.

imagemNo plano político, os governos que representam os interesses das grandes empresas privadas, como no caso brasileiro, impõem as políticas para favorecer as corporações, como a retirada de direitos trabalhistas e sociais que fragilizam a classe trabalhadora no enfrentamento direto com o patronato, dificultando ainda mais a luta por empregos, melhores salários e condições de trabalho, e também no enfrentamento político geral pelas garantias e direitos sociais. Nesses governos, de corte liberal ou neoliberal, a geração e a garantia de empregos para todos os que desejam trabalhar e a oferta de condições de vida digna, com direitos sociais básicos como moradia, educação e saúde, são vistas como meras possibilidades, as quais, para a sua consecução, dependem do sucesso do mercado, este visto como um ser vivo, com vontade própria, que não pode ser contrariado e que tem leis que não podem ser contestadas.

Em muitos países, em alguns períodos históricos, o movimento dos trabalhadores  conseguiu obter salários  e condições de vida e trabalho mais dignas, e foi somente dessa forma e com a combinação das lutas econômica e política que conseguiram suas conquistas, tanto no plano do confronto com as empresas como na conquista de políticas que favoreciam a classe trabalhadora, como o controle estatal sobre setores estratégicos da economia, com a presença de empresas públicas ou ação direta do Estado, a priorização dos investimentos públicos para a geração de emprego, as políticas de construção de sistemas de seguridade social universais – previdência, saúde, assistência social e outras.

No Brasil de hoje o quadro do desemprego é mais que alarmante, é tão brutal que leva ao desalento, à desesperança e ao adoecimento de muitos trabalhadores. É hora de não apenas denunciar a divinização do mercado como também de retomarem-se as lutas pela recomposição salarial, pela revogação da reforma trabalhista, pela reposição de diversos direitos sociais que foram retirados nos últimos anos, pela anulação do congelamento dos gastos sociais e outras lutas, todas elas voltadas a combater a causa mais profunda de todo esse quadro, o sistema capitalista. É hora de termos um projeto e um programa de desenvolvimento gerado pelos trabalhadores e voltado para os trabalhadores, tendo como objetivo a construção de um país igualitário, no rumo do socialismo.