Argentina: jornada inesquecível em apoio à lei do aborto

imagemPor María Torrellas,

Resumen Latinoamericano 13 de junho de 2018

Quase 24 horas de vigília nas ruas dos arredores do Congresso. Centenas de milhares de jovens, de mulheres de todas as idades, de todas as diversidades, reunidas, alegres, cantando, realizando performances artísticas de danças, músicas, tambores e sikuris, e sobretudo gritando até perder a voz: “não existe um passo atrás”, “vamos conseguir que o aborto seja lei”, “vamos acabar com o patriarcado”, “vamos fazer uma sociedade feminista”, “vamos armar quilombos, a igreja que tire seu rosário de nossos ovários”, “o Estado é assassino”, “aborto legal para as meninas pobres”, “nós decidimos”, “basta de negócios com o aborto clandestino”, “não somos incubadoras”, “odiamos quem nos tira a liberdade”… Irmanadas, alegres, conscientes de uma luta longa contra um Estado opressor, repressor-religioso, não existe volta… O aborto será lei!

Tráfico de cérebros e comparação com cachorros, os insólitos argumentos antiaborto

O histórico debate em torno do aborto deu lugar a discursos de forte peso argumentativo de uma e outra posição da discussão. No entanto, também deu lugar a argumentos insólitos que beiraram o ridículo e até insultante.

A deputada Estela Mercedes Regidor Belledone esgrimiu, nesta quarta-feira, um dos argumentos mais insólitos para repudiar a despenalização do aborto e foi alvo de ridicularizada por parte de vários de seus colegas na Câmara dos Deputados. “Leva a mulher no ventre um pomelo?”, se perguntou a deputada da Unión Cívica Radical – Cambiemos no início de sua argumentação e seguiu: “Eu sou protetora de animais e muitos de vocês têm mascotes em suas casas. O que acontece quando nossa cachorrinha fica grávida? Não a levamos ao veterinário para abortar. Imediatamente saímos para buscar a quem presentear com cachorrinhos”.

No entanto, não foi a Regidor Belledone a dona do argumento mais insólito. A deputada Ivana Bianchi, da Unidad Justicialista, se esmerou para disputar essa duvidosa distinção. Durante sua intervenção, Bianchi advertiu que “caso se aprove o projeto, será possível terceirizar as prestações do serviço. Isto levaria a não ter um controle ético sobre o tema. Por exemplo, nos Estados Unidos existe uma multinacional que fazia isto e era financiada com subsídios pelo Estado. Depois de várias denúncias, os subsídios foram retirados”. E continuou: “Existem vídeos onde uma doutora dessa empresa diz: ‘somos muito bons para conseguir o pulmão, o coração, o cérebro ou o fígado, porque não esmagamos essas partes, pressionamos para cima e para baixo para retirar essas partes íntegras’. E é possível pagar até 100 dólares por cada feto. O mesmo ocorre no Reino Unido. Também existe tráfico de cérebro de fetos na França Por isso, me pergunto: qual será o destino destes fetos? Vão embora em sacolas? Vão para a pesquisa? Serão comercializados?”.


O ultradireitista Massot protagonizou o primeiro grande confronto no debate

O presidente do bloco PRO, Nicolás Massot, expressou seu repúdio ao aborto legal, seguro e gratuito, além de confrontar-se com deputados da oposição. (Foto: Pedro Pérez)

Por Agustín Álvarez Rey

O presidente do Bloco PRO, Nicolás Massot, deixou sua marca habitual no debate pelo aborto legal, seguro e gratuito. Confrontou-se com os deputados kirchneristas e chegou, em sua intervenção anti-abortista, a dizer que nem na ditadura “não nos animamos a tanto”.

Com um alto grau de agressividade e utilizando a comparação com o kirchnerismo como recurso, o deputado por Córdoba expressou com veemência seu repúdio ao aborto legal, seguro e gratuito. Colocou o foco os deputados da Frente para la Victoria vinculados à defesa dos direitos humanos, como Juan Cabandié, Mayra Mendoza e Horacio Pietragalla

“Falo a partir da juventude que crê na política. Essa é a juventude que eu quero representar, a que chegou para mudar a realidade com as leis e a política, Pietragalla. Não para que as leis e as políticas reflitam meramente o que já ocorre porque é um fracasso da política, está claro?”, disse exaltado Massot e prosseguiu: “que é o que nós estamos apresentando aqui, para que – precisamente porque fracassamos – porque a política fracassou. Então, que o caminho fácil seja aquele que não se note, eliminemos o outro, eliminemos direitos”.

Nesse marco, Cabandié questionou o uso da palavra eliminar. Aí, encorajado, Massot respondeu: “E onde você está hoje, Juan? E onde você está parado hoje? Nunca na democracia nos animamos a tanto e nem de outra maneira. Onde estamos hoje?”. A frase foi interpretada por muitos dos presentes como uma artimanha vinculada ao desaparecimento forçado de pessoas durante a última ditadura cívico-militar.

Por isso, de seu grupo, Mayra Mendoza gritou: “Você é a ditadura”. Ante o que Massot, cuja família se vincula com a ditadura, a olhou fixo e respondeu: “Tampouco nesse momento, Mayra. Tampouco nesse momento nos animamos a tanto”.

No momento seguinte, o presidente do bloco do PRO, quase como uma confissão de que sua intervenção tinha passado dos limites da tolerância, atinou a dizer: “Fomos e temos que continuar sendo referência dos direitos humanos. Contem conosco para isso”.

O confronto expôs os argumentos que, também com veemência, esgrimiu o deputado de Córdoba pelo repúdio ao projeto. Assinalou, entre outras coisas, que “Despenalização é o maior eufemismo deste projeto que representa uma legalização irrestrita”.

Fonte original: Tiempo Argentino

Fontes: http://www.resumenlatinoamericano.org/2018/06/13/argentina-13j-jornada-inolvidable-en-apoyo-a-votacion-por-la-ley-del-aborto-fotos/

Argentina #13J: El ultraderechista Massot protagonizó el primer cruce fuerte en el debate

Vídeo disponível no link da fonte.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2018/06/14/argentina-13j-trafico-de-cerebros-y-comparacion-con-perros-los-insolitos-argumentos-anti-aborto/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)