Governo argentino cogita reestatizar petroleira YPF, diz jornal
O governo argentino está estudando a possibilidade de que a empresa de petróleo YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales) volte às mãos do Estado. É o que sustenta, em reportagem publicada neste domingo (29/01), o jornal argentino Página 12, publicação alinhada à gestão da presidente Cristina Kirchner.
A medida estaria sendo discutida em reuniões entre o ministro de Planejamento, Julio De Vido, e governadores das províncias argentinas produtoras de petróleo. De acordo com a reportagem, legisladores, especialistas e “funcionários de primeira linha” do governo “participam do debate que já incorpora, como alternativa explícita, a recuperação de una petroleira estatal e, mais concretamente, a renacionalização da YPF”.
A YPF foi vendida em 1999 ao grupo espanhol Repsol, durante a política privatizadora levada a cabo pelo então presidente Carlos Menem. A nacionalização, motivada pelas “condutas abusivas e estrutura monopólica do mercado”, além da queda de investimentos na melhora da produção da empresa nos últimos dois anos, relatada em informes aos quais o governo teria acedido, incluiria desde a exploração de petróleo até sua comercialização.
Manipulação de preços
Em meados de janeiro, a Casa Rosada acusou as empresas YPF, Shell, Esso, Petrobras e Oil de cobrar 8,4% a mais no preço do óleo diesel a granel na venda a empresas de transporte de cargas e de passageiros. A denúncia, apresentada à Comissão Argentina de Defesa da Concorrência, aponta a posição dominante da YPF no mercado argentino, cujo controle chegaria a cerca de 60% e uma “conduta abusiva” por parte da empresa, que fixaria os preços mais díspares.
O vice-presidente e ex-ministro de Economia de Cristina Kirchner, Amado Boudou, transmitiu uma mensagem direta à Repsol, afirmando o governo não permitiria “a discriminação de preços”. Em comunicado, a YPF negou a acusação do governo e se mostrou à disposição “para oferecer explicações que sejam requeridas por qualquer autoridade”.
Na última quarta-feira (25/01), em sua primeira aparição pública após a cirurgia de remoção de tireóide à qual foi submetida devido a um diagnóstico falso-positivo de um tumor maligno, a presidente argentina Cristina Kirchner utilizou boa parte de seu discurso para criticar as petroleiras, afirmando que o “subsolo é dos argentinos e está concessionado”.
De acordo com a reportagem, uma das preocupações do governo é a queda de mais 10 milhões de metros cúbicos na produção de petróleo no país desde 2002, aumentando a dependência da importação de combustível e de hidrocarboneto para refinação. Segundo um estudo utilizado pela Ofephi (Organização Federal de Províncias Produtoras de Hidrocarboneto), de 2006 a 2011, a YPF diminuiu sua produção em mais de um milhão de metros cúbicos.
Para dirigentes kirchneristas das regiões produtoras, os resultados se devem à falta de investimentos da empresa e à falta de cumprimento de obrigações previstas nos acordos de produção entre as petroleiras e as administrações provinciais. Diferentes protestos de trabalhadores petroleiros e até de docentes, que bloquearam o acesso a uma planta da YPF, paralisaram intermitentemente durante meses do último ano a produção da província de Santa Cruz, no sul do país, de onde são extraídos 20% dos 35 milhões de metros cúbicos de petróleo produzidos anualmente na Argentina.
Leilão atrai operadores globais
Valor Econômico
Nos últimos anos, poucos países tiveram um crescimento tão acentuado no setor da aviação civil quanto o Brasil. Somada à urgência dos eventos esportivos de 2014 e 2016, a forte demanda levou o governo a realizar as concessões de aeroportos e, assim, despertou em peso o interesse da iniciativa privada a um mercado com receita líquida de R$ 2,6 bilhões anualmente e ritmo de expansão três vezes superior ao da média mundial. Daqui a dois dias, grupos empresariais de quatro continentes entregam suas ofertas ao governo na tentativa de abocanhar parte dessas oportunidades. O resultado só sai depois, no dia 6 de fevereiro.
Um dos aeroportos que serão privatizados, o de Guarulhos (na região metropolitana de São Paulo) movimenta, sozinho, 26,8 milhões de passageiros ao ano – quase o mesmo que os sete aeroportos administrados por uma das interessadas em sua concessão, a ANA Aeroportos de Portugal. Também movimenta mais que o aeroporto de Zurique, administrado pela Flughafen Zurich AG – outra concorrente. Em 2010, o crescimento, o crescimento da aviação civil no Brasil foi de 21,3% em relação ao ano anterior, muito acima do 6,6% de crescimento mundial.
Os números brasileiros chamaram a atenção das empresas estrangeiras antes mesmo de o governo federal exigir a participação delas nos consórcios participantes (o edital obriga as sociedades a terem pelo menos 10% das ações sob propriedade de um operador de aeroporto com movimentação superior a cinco milhões de passageiros por ano em pelo menos um dos últimos 10 anos, e essa experiência só existe entre as empresas de fora). Entre as nove sociedades já confirmadas, segundo apurou o Valor, pelo menos quatro tinham firmado memorandos de entendimento com companhias de fora para estudar os editais antes da exigência.
Embora haja grande interesse, algumas empresas brasileiras reivindicam mais tempo para fechar as sociedades. “Serão só 45 dias entre a divulgação do edital e a entrega de propostas. Essas negociações demoram, trata-se de um casamento, e com comunhão de bens”, diz Claudia Bonelli, advogada do escritório TozziniFreire.
Hoje, os interessados nos terminais brasileiros podem ser divididos em cinco grupos – representantes europeus (como Reino Unido, Alemanha, Suíça, Portugal e Espanha), asiáticos (Cingapura), pelo menos uma americana e representantes de regiões em desenvolvimento (da África do Sul e da Argentina). A maioria evita dar detalhes da composição dos consórcios, do apetite e até mesmo da efetiva participação no leilão – embora admitam estudar os projetos brasileiros.
Um dos primeiros a anunciar parceria local foi o grupo alemão Fraport, que participa direta ou indiretamente da gestão de 13 aeroportos pelo mundo. Há quatro meses, fechou parceria com o grupo especializado em concessões de estradas EcoRodovias. Por contar com um dos mais lucrativos operadores internacionais (€ 271 milhões anuais), e ainda ter como parceiro um grupo brasileiro com baixo endividamento e caixa forte (R$ 750 milhões disponíveis), a sociedade composta por 50% de ações de cada grupo é considerada hoje uma das mais fortes para o leilão.
Caso abocanhe a concessão, Guarulhos seria o terceiro aeroporto mais movimentado no portfólio da Fraport, depois de Frankfurt, na Alemanha; e de Nova Déli, na Índia. Felix von Berg, diretor de projetos da Fraport, diz que a presença da Infraero na sociedade que irá gerir os aeroportos não chega a ser uma novidade nas operações do grupo. “Na Índia, nossa sociedade que administra o aeroporto tem 23% de participação de um agente governamental. Funciona”, diz.
Entre os europeus, também promete entrar com apetite na disputa a BAA – descendente da extinta British Airports Authority, empresa privatizada em 1987 pelo governo britânico. Com lucro líquido de mais de US$ 800 milhões anualmente, firmou sociedade com o banco BTG Pactual e com o grupo brasileiro Queiroz Galvão. Desde 2006, a empresa é controlada pela espanhola especializada em infraestrutura Ferrovial – que a comprou por US$ 19 bilhões.
Também já está confirmada a presença da CCR (dos grupos Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa) com a parceira de longa data Flughafen Zurich AG, operadora do aeroporto de Zurique, na Suíça. “A empresa [CCR] está plenamente preparada para apresentar suas propostas”, informou o grupo por meio de nota. A Zurich assessora os acionistas Camargo e Andrade no projeto de um terceiro aeroporto em São Paulo. Fontes do setor acreditam que a Aéroports de Paris (ADP) também vai participar do processo, em parceria com a Carioca Engenharia.
Oriundos de regiões hoje turbulentas da Europa também podem marcar presença na disputa. Particularmente curioso é o interesse da espanhola Aena e da portuguesa ANA Aeroportos de Portugal no Brasil, visto que as duas tiveram suas privatizações cogitadas pelos governos de cada país. Empresas brasileiras, inclusive (como a CCR), têm interesse nas europeias.
O governo espanhol pretendia fazer a venda de 49% da estatal espanhola, que geraria € 8 milhões para os cofres públicos. A privatização, no entanto, foi suspensa por conta da crise na Europa e da consequente subvalorização dos ativos. Com resultado líquido negativo, a Aena estuda os editais brasileiros em parceria com a OHL Brasil.
Já a privatização da portuguesa ANA avança. Representantes do governo disseram neste mês que as regras para a disputa serão lançadas ainda no primeiro semestre. A companhia ibérica administra 27,6 milhões passageiros anualmente e pretende disputar os terminais brasileiros em parceria com as brasileiras ATP, CVS e Encalso e as argentinas Cartellone e CCI. “A parceria está confirmada, embora possam entrar mais parceiros. Estamos estudando”, diz Luciano Amadio Filho, presidente da CVS. Mas os resultados não tão expressivos da empresa portuguesa podem enfraquecer o consórcio na disputa. Seu resultado líquido, € 55 milhões, é praticamente um quinto do da Fraport.
A disputa contará com operadores internacionais de primeiro nível. A Changi, de Cingapura, administra o melhor aeroporto do mundo segundo a organização independente Skytrax. As propostas para os terminais brasileiros estão sendo estudadas em sociedade com a Odebrecht Transport.
A brasileira Fidens Engenharia firmou parceria com a operadora americana ADC & HAS, sócia da Andrade Gutierrez em outros projetos e que chegou a covnersar com a Odebrecht.
Não só europeus e americanos estão na disputa. Representantes de países em desenvolvimento também prometem marcar presença no leilão. Executivos do grupo indiano especializado em infraestrutura GMR (sigla para Grandhi Mallikarjuna Rao, fundador) levantavam, até há poucos dias, possíveis sociedades com empresas brasileiras. “Estamos em conversas. Não fechamos parcerias, mas isso pode acontecer até a véspera da entrega das propostas”, diz Kamesh Rao, diretor operacional da GMR. Algumas empresas enviaram questionamentos à Anac, como a Airports Company South Africa (ACSA), e também são vistas como interessadas. Causa suspense no mercado o apetite do argentino Corporación América. Concessionário de 33 aeroportos na Argentina, estuda os projetos brasileiros em parceria com o brasileiro Engevix. A sociedade foi vencedora do leilão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante (no RN) – no ano passado, com ágio de 228,8% sobre o preço mínimo.
Trágico, tratado pode fazer a dívida disparar
Financial Times
Numa recente conversa, todo mundo pareceu concordar que o novo pacto fiscal europeu era bem louco. A conversa foi ouvida, por acaso, por uma ex-autoridade, que se dirigiu a nós dizendo que concordava em princípio – para depois acrescentar que, se o tratado estimulasse o Banco Central Europeu (BCE) a se tornar mais flexível, poderia valer a pena. Depois conversei com o diretor de banco central, que também concordou que o tratado era irrelevante, mas que se mostrou favorável a ele, por servir como um sinal para os mercados financeiros. Quando falei com meus contatos nos mercados financeiros, ouvi o comentário de que o tratado era bem louco.
O melhor que se poderia dizer sobre o pacto fiscal é que ele não é necessário. Tudo o que possivelmente veremos na sua versão definitiva já está nos tratados e na legislação vigentes, em especial o conjunto de medidas de vigilância de políticas fiscais aprovado no início do ano. O restante poderia facilmente ser adotado por meio de nova legislação secundária.
Embora eu ainda não tenha encontrado ninguém capaz de explicar o pacto trará de bom – a não ser como parte de alguma lógica circular -, os danos que ele trará são mais fáceis de vislumbrar. Pensemos simplesmente na briga totalmente desnecessária com o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron. Mas o problema britânico se reduz a nada em comparação com os poderes verdadeiramente destrutivos do pacto. Ele vai estimular os países-membros da zona do euro a adotar políticas extremamente pró-cíclicas.
Isso já ocorre na Espanha. Até a semana passada, Madri dizia que não amontoaria uma medida de austeridade em cima da outra para cumprir as metas de déficit público acordadas. Parece uma política sensata. A economia da Espanha está encolhendo a um ritmo mais forte que o previsto, por motivos fora do controle do país. Nessa circunstância, é sensato deixar funcionar os estabilizadores automáticos. Foi o que os países do euro fizeram em 2009. Isso garantiu que a recessão, embora muito profunda, não fosse prolongada demais.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) também concordou com a posição do governo espanhol, pelo menos até o início da semana passada. O jornal espanhol “El País” atribuiu a uma autoridade do FMI a afirmação de que novos ajustes do déficit seriam indesejáveis porque exacerbariam, em vez de aliviar, as tensões do mercado. O FMI prevê dois anos de recessão, com o déficit caindo dos 8% do PIB do ano passado para 6,8% este ano e para 6,3% no ano que vem. Assim, mesmo estourando a meta de déficit, a Espanha teria uma recessão – quase tão ruim quanto a de 2009.
Mas, não. Na semana passada, em visita a Berlim, Mariano Rajoy, o novo premiê da Espanha, reiterou pontualmente o compromisso de seu governo com as metas de déficit pactuadas – 4,4% do PIB em 2012, e 3% em 2013. Este ano, ele quer cortar o déficit em mais 2,2 pontos percentuais, relativos ao parâmetro do FMI, e em mais 3,3% no ano que vem – tudo isso com uma economia em contração.
A Espanha está seguindo o mesmo caminho da Grécia. A Espanha é uma economia muito mais saudável, é claro. Mas tem um problema que a Grécia não tinha: um setor privado profundamente endividado. É por isso que uma política de redução excessiva do déficit pode se tornar tão tóxica.
Richard Koo, economista-chefe do Nomura Research Institute, avaliou o impacto da desalavancagem. A Espanha está vivendo uma versão extrema do que ele chama de “recessão de demonstração de resultados”, em escala bem maior que os EUA ou o Reino Unido. Desde o terceiro trimestre de 2007, o setor privado espanhol cortou sua dívida em 17,2% do PIB, enquanto o setor público compensou parcialmente a desalavancagem do setor privado, elevando o endividamento em 11,8% do PIB. A diferença ocorreu sob a forma de contribuição positiva vinda do setor externo – em outras palavras, queda do déficit em conta corrente.
Koo defende o argumento de que – a exemplo do que ocorreu no Japão na década de 90 – é essencial que os governos europeus sustentem a economia durante a fase de desalavancagem do setor privado para evitar o que, de outra forma, geraria uma profunda depressão.
Assim, se a Espanha seguir o exemplo da Grécia e ignorar o ocorreu no Japão, o resultado mais provável será uma grave e prolongada recessão. Para mim, essa é uma ameaça muito maior à zona do euro. Num cenário amplo, não importa, na verdade, a renegociação da dívida grega. Se a Espanha mergulhar num buraco, não haverá fundo de socorro financeiro, por maior que seja, que a tire dali.
A ironia é que o pacto fiscal que começou a reduzir a dívida da zona do euro pode ser a causa de uma explosão de endividamento, por elevar muito os riscos de uma queda vertical semipermanente em grande parte do sul da Europa. Se isso ocorrer, nada poderá salvar a zona do euro.
Made in mundo
O Estado de S. Paulo – Thomas L. Friedman
Após o debate dos pré-candidatos republicanos à Casa Branca, na Flórida, na semana passada, o ex-presidente de Cuba Fidel Castro escreveu um artigo no qual afirmou que “a escolha de um candidato republicano desse império globalizado e amplo é – e afirmo seriamente – a maior competição de idiotice e ignorância jamais vista”.
Quando marxistas estão se queixando de que políticos estão distantes das realidades globais de hoje, isso não é bom sinal. Mas eles não são os únicos. Existe atualmente uma enorme diferença entre a maneira que muitos executivos americanos – não só figuras de Wall Street, mas indivíduos à frente de empresas de primeira linha, que produzem coisas e criam empregos – olham o mundo e como a média dos parlamentares, senadores ou o presidente, o encaram.
Literalmente, eles enxergam dois mundos diferentes, um fenômeno que se aplica a democratas e republicanos. Veja a reunião à qual o New York Times se referiu, em fevereiro do ano passado, entre o presidente Barack Obama e o cofundador da Apple, Steve Jobs, que morreu em outubro.
O presidente, compreensivelmente, perguntou a Jobs por que quase todos os 70 milhões de iPhones, os 30 milhões de iPads e os 59 milhões de outros produtos vendidos pela Apple eram produzidos no exterior. Obama perguntou: “E esse trabalho não poderia ser feito de novo aqui?”. Jobs respondeu-lhe: “Esses empregos estão voltando”.
Os políticos veem o mundo como blocos de eleitores vivendo em espaços geográficos específicos. Eles consideram o emprego dessas pessoas uma ampliação dos benefícios econômicos de cada área geográfica. Mas muitas empresas veem cada vez mais o mundo como um espaço em que os seus produtos podem ser produzidos em qualquer lugar, por meio de suas cadeias de suprimento globais (frequentemente constituídas por trabalhadores sem nenhuma proteção sindical) e vendidos no mundo todo.
Esses executivos raramente se referem à “terceirização” atualmente. Hoje seu mundo está tão integrado que não existe mais “fora” ou “dentro”. Nas suas empresas, todos os produtos e muitos serviços são idealizados, projetados, promovidos e fabricados por meio das cadeias de suprimentos globais sempre em busca dos mais talentosos e os menores custos.
Eles são “Made in Mundo” e não “Made in Estados Unidos”. E é aí que surge a tensão. Há muitas empresas “nossas” que hoje se consideram cidadãs do mundo. Mas Obama é presidente dos Estados Unidos.
Victor Fung, diretor da Li & Fung, a mais antiga manufatura têxtil de Hong Kong, com quem conversei no ano passado, disse-me que durante muitos anos sua companhia operava com base em uma regra: “Você se abastece na Ásia e vende nos Estados Unidos e na Europa”. Hoje, a regra é “abastecer em qualquer lugar, manufaturar em qualquer lugar e vender em qualquer lugar”. A noção de “exportação” está desaparecendo.
Mike Splinter, CEO da Applied Materials, explicou-me a questão da seguinte maneira: “A terceirização existiu dez anos atrás, quando então você dizia: “vamos enviar parte da geração de software para o exterior”. Hoje não é esse tipo de terceirização que praticamos. Ela significa apenas onde pretendo ter alguma coisa produzida.
Agora seu raciocínio é o seguinte: “metade dos meus funcionários com doutorado no meu departamento de Pesquisa e Desenvolvimento preferiria viver em Cingapura, Taiwan ou China, pois ali é seu país e eles podem ir para lá e continuar trabalhando para minha companhia””. Assim as coisas evoluem. Ele tem muitas outras opções.
Michael Dell, fundador da Dell Inc., diz: “Sempre lembro às pessoas que, hoje, 96% dos nossos novos clientes potenciais vivem fora dos EUA”. É o restante do mundo. E, se empresas como a Dell querem vender para esses clientes, elas necessitam projetar e manufaturar algumas partes dos seus produtos naqueles países.
Oportunidade. Esse é o mundo em que estamos vivendo. E não vai desaparecer. Mas os EUA podem prosperar neste mundo, explicou Yossi Sheffi, especialista em logística do MIT. O país precisa capacitar o maior número possível de nossos trabalhadores para participar dos diferentes elos dessas cadeias de suprimento globais. Podemos conceber, comercializar, desenhar e orquestrar sua cadeia de suprimentos. Também podemos manufaturar produtos de alta qualidade e vendê-los no varejo. Se cumprirmos nossa parte, teremos bons resultados.
E aqui está a boa notícia: temos uma enorme vantagem natural para competir nesse novo mundo, simplesmente se nos organizarmos. Num mundo em que os maiores ganhos são daqueles que conceberam e projetaram um produto, não existe uma sociedade com maior capacidade de imaginação do que os EUA.
Num mundo em que o talento é a mais importante vantagem competitiva, não há nenhum país que, historicamente, acolheu mais imigrantes de talento do que os EUA. Num mundo em que a proteção da propriedade intelectual e mercados de capital seguros são enormemente valorizados por inovadores e investidores, não existe país mais seguro do que os EUA. Num mundo em que os ganhos obtidos com a inovação são surpreendentes, os financiamentos do governo americano nas áreas da biociência, das novas tecnologias e energia limpa constituem um imenso ganho. Num mundo em que a logística será a fonte de inúmeros empregos para a classe média, os EUA têm empresas como a FedEx e a UPS.
Se apenas conseguirmos nos unir numa estratégia nacional para fortalecer e expandir todas essas vantagens naturais: mais imigração, mais educação de nível superior, melhor infraestrutura, mais pesquisas patrocinadas pelo governo, incentivos aplicados de modo inteligente para estimular a criação de milhões de startups (pequenas empresas inovadoras recém-criadas) – e um projeto de longa duração para resolver de fato nossos problemas da dívida de longo prazo – ninguém conseguirá nos atingir.
Estamos chegando perto.
Até na indústria, a desigualdade impera no desempenho dos setores
O Globo
A indústria brasileira nunca esteve tão desigual como nessa crise que o setor enfrenta. Após um ano pífio, em que cresceu menos de 1% e abaixo de toda a economia (o IBGE divulga hoje os resultados fechados de 2011), o setor está produzindo 3,2% menos que em setembro de 2008, antes da crise do Lehman Brothers e espécie de ápice da produção do segmento no Brasil. Mas o desempenho é desigual. Enquanto os setores de material eletrônico e equipamentos de comunicações encolheram impressionantes 36% nestes 38 meses – ou seja, estão produzindo um terço menos que em setembro de 2008 -, e mais três registram queda na casa dos 20% (têxtil, calçados e artigos de couro e máquinas, equipamentos e material elétrico), outros segmentos crescem fortemente. O ramo de bebidas está com a produção 21,50% maior, o de equipamentos médico-hospitalares,11,73% e o de perfumaria, higiene e limpeza, 10,56%.
André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, afirma que esses números mostram que o segmento está vivendo um momento muito desigual:
– Em geral estão em melhores condições os segmentos que são mais protegidos da importação e que se beneficiam do aumento da renda e do consumo interno, além dos que investiram mais em inovação – conta.
Flávio Castelo Branco, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirma que essa heterogeneidade entre os setores industriais é uma realidade que pode se agravar:
– O setor vive um dispersão muito grande de setores e isso pode se intensificar em 2012.
Produto orgânico ganha valor aos olhos do consumidor
Para ele, o governo não enfrenta os verdadeiros motivos da redução da competitividade brasileira e mesmo medidas paliativas, como as presentes no programa Brasil Maior, em sua opinião, demoram para sair do papel.
Mas se os altos custos, a invasão de importados e os problemas de infraestrutura afetam todo o país, porque alguns setores industriais conseguiram se sair tão bem? A inovação pode ser uma resposta. Segundo Castelo Branco, há segmentos altamente inovadores, como a indústria de cosmético e perfumaria e fármacos.
– Em 2011 devemos ter superado o Japão e nos tornado o segundo maior mercado mundial de produtos de higiene e cosméticos, perdendo apenas para os Estados Unidos, que devemos superar em 2015 – afirmou João Carlos Basilio, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec).
Segundo Basilio, cerca de 35% do faturamento das empresas decorrem de produtos lançados um ano antes. Ele citou como exemplo o ramo de desodorantes:
– Agora, sim, há produtos diferenciados para homens e mulheres, e uma variedade incrível de xampus.
Essa é a realidade, por exemplo, da Niely, fabricante de produtos de beleza de Nova Iguaçu. A empresa há alguns anos desbancou multinacionais no mercado de coloração e não para de investir para aumentar sua participação.
– O investimento em pesquisa e lançamentos de produtos tem um custo alto. Porém, esse investimento tem mais importância do que em mídia e celebridade – afirma Daniel de Jesus, presidente da empresa que deve faturar R$600 milhões neste ano e que está investindo R$50 milhões em uma nova fábrica.
Nessa busca por diferencial, o produto nacional pode ser um importante chamariz:
– Exportamos ativos para grandes empresas no exterior, e só agora, o consumidor e o empresário brasileiro começam a dar valor para produtos nacionais e orgânicos. Alguns desses produtos podem até ser um pouco mais caros, mas trazem um valor agregado altíssimo, que faz a diferença no setor – afirma Filipe Sabará, diretor de negócios da Beraca, empresa líder no fornecimento de ingredientes naturais e orgânicos da biodiversidade brasileira.
Gabriela Onofre, diretora de Assuntos Corporativos da P&G Brasil, responsável por marcas como Pantene, confirma que o Brasil cresce de importância e que a inovação é a chave para o sucesso:
– A busca por produtos novos é constante, precisamos atender ao consumidor.
Dificuldade de importação protege alguns ramos
O mesmo ocorre em outro setor que vive um bom momento: o farmacêutico. A Hebron Farmacêutica, empresa de Caruaru que agora começa a produzir nos Estados Unidos, cresceu com os investimentos em inovação em fitoterápicos (medicamentos à base de plantas). “Dedicamos 5% do faturamento bruto da empresa e nossa meta em cinco anos é chegar a 15%”, informou por e-mail a empresa, que espera faturar R$200 milhões até 2014.
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, afirma que o sucesso de alguns setores, como bebidas, decorre da impossibilidade de importar grandes quantidades para abastecer esse segmento:
– O consumo cresce, e as importações de cerveja, também, porém nunca será em escala suficiente para abastecer todo o mercado local.
Bancos dos EUA limitam crédito
Valor Econômico
Os bancos americanos mantiveram a oferta de crédito limitada nos últimos meses de 2011, mesmo diante do aumento da demanda, o que ajudou a frear a já lenta recuperação da economia do país.
A pesquisa do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) referente ao quarto trimestre, divulgada ontem, mostra que as operações de empréstimo comercial e industrial ficaram praticamente estáveis no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior nos 56 bancos domésticos consultados. Já os 23 bancos estrangeiros pesquisados que atuam nos EUA reportaram aperto no crédito.
Os bancos estão cautelosos em ampliar o crédito, mesmo diante do aumento da demanda. O percentual de bancos que relatou maior procura por empréstimos para indústria e comércio atingiu o maior nível desde 2005. Já os bancos estrangeiros disseram que a demanda ficou praticamente inalterada. As instituições começaram a limitar a oferta de crédito na segunda metade de 2011, conforme a crise das dívidas soberanas na Europa piorou, após quase sete trimestres consecutivos de oferta ampla de crédito à pessoa jurídica.
O Fed elaborou um questionário especial sobre os empréstimos dos bancos a seus pares sediados na Europa. As instituições informaram que decidiram restringir as operações com bancos europeus, assim como para empresas sediadas na Europa, diante da preocupação com a situação econômica da região.
Por outro lado, a crise também pode favorecer os bancos americanos. Quase metade das instituições nacionais que participaram do levantamento do Fed contaram que houve um aumento da demanda em função da menor concorrência de seus pares europeus.
Continente ganha 30 milhões de ‘novos pobres’ em apenas 2 anos
O Estado de S. Paulo
Enquanto no Brasil os jornais relatam o crescimento da “nova classe média”, na Europa o assunto são os “novos pobres”.
O site do diário espanhol El País publicou uma reportagem segundo a qual aumentou em 30 milhões o número de pessoas que estão no limite entre a classe média e a pobreza.
Só que esse aumento não se deu pela ascensão de quem estava embaixo, e sim pelo desemprego enfrentado por quem está na faixa média.
Em 2007, antes da crise, havia 85 milhões de pessoas no limite da pobreza (17% da população); em 2009, 115 milhões (23%).
Os países que mais sofreram foram Bulgária e Romênia, segundo o jornal, onde a proporção quase dobrou, atingindo 46% e 43%, respectivamente. Os países em melhor situação são República Tcheca (14%), Holanda (15%) e Suécia (16%).
Nessa pesquisa, a linha que separa a classe média dos pobres é definida como um domicílio com renda anual de 7.980 (R$ 18.200), ou 665 (R$ 1.500) por mês.
Usar números pode parecer uma forma objetiva de classificar a pobreza. Mas um critério subjetivo, só que verdadeiro, tem tomado forma para descrever os “novos pobres”: são as pessoas que costumavam ajudar os desfavorecidos e agora assumem o papel de buscar ajuda.
É como disse o secretário geral da Cáritas Europa, uma entidade de assistência humanitária: “Os voluntários de antes são hoje nossos beneficiários”.
Fim da classe média? O jornal português Diário Económico publicou uma notícia que vai na mesma linha do periódico espanhol. Com o título “Classe média em Portugal poderá desaparecer”, o texto traz uma análise do sociólogo Elísio Estanque segundo a qual esse estrato da sociedade “está em risco de empobrecimento muito rápido”.
Em países com industrialização ou democracia tardia, como é o caso de Portugal, a classe média cresceu rapidamente, mas de forma pouco consistente, baseada na expansão do Estado social.
“Estamos num momento de encruzilhada. Não é só Portugal. Estamos num mundo conturbado, num momento de transição. Para o bem ou para o mal, a História está em aberto”, disse Estanque ao jornal. Ele é autor do livro Classe Média: Ascensão e Declínio.
Já há mais refugiados ambientais que refugiados de guerra
Agência Carta Maior
Paris – Os deslocamentos populacionais ligados a desastres climáticos e ambientais superaram os provocados por conflitos armados. O que parecia uma ficção reservada a filmes de grande espetáculo se tornou uma realidade durante a primeira década do século XXI.
Um relatório publicado em Genebra pela Organização Internacional de Migrações, OIM, juntamente com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e de Relações Internacionais, IDDRI, informa sobre este novo fenômeno que afeta todos os continentes. O relatório, State of Environmental Migration 2010, apresenta um quadro de cifras significativo: em 2008, 4,6 milhões de pessoas tiveram que se deslocar dentro de seus países em razão de um conflito armado enquanto outras 20 milhões tiveram que fazer o mesmo devido a uma catástrofe natural.
As cifras não pararam de aumentar: em 2009 houve 15 milhões de refugiados “ambientais” e em 2010 a cifra subiu para 38 milhões. Hoje, o deslocamento climático ou ambiental é a primeira causa das migrações humanas. Estas cifras podem ser contrastadas com o número de refugiados políticos que existe no mundo: 16 milhões de pessoas, 12 milhões sem contar os palestinos.
As destruições ambientais destacadas neste exaustivo trabalho não dizem respeito somente às que poderiam ser denominadas naturais e violentas, mas também os processos mais lentos, que acabam modificando a relação do ser humano com o lugar onde vive. Um exemplo de deslocamento climático involuntário é o que ocorreu no Nepal, com a desaparição dos glaciais do Himalaya. Os glaciais foram derretendo, a água transbordou os chamados rios glaciais e isso acarretou em poderosas inundações que obrigaram às populações ao deslocamento.
Tsumamis, terremotos, inundações na Tailândia, China ou Filipinas, seca no Sudão, o acidente de Fukushima, tempestades na Europa, todos estes acidentes naturais violentos provocaram massivos deslocamentos. E o futuro não se anuncia melhor. O investigador do IDDRI e coordenador do relatório François Gemenne, prevê que “em 2011 as cifras sejam similares as de 2010”. A degradação paulatina do meio ambiente provocada pelo homem tem também uma influência determinante neste fluxo migratório.
Um exemplo disso é o que ocorre no Brasil. O relatório da Organização Internacional de Migrações cita o exemplo do que ocorre no Norte do Brasil. No Amazonas, o desmatamento trouxe consigo a ocupação das terras, mas depois, uma vez que os solos arrasados chegaram ao limite de sua capacidade, as populações que se instalaram ali não obtém mais recursos e devem migrar.
Os deslocamentos ambientais têm um caráter mais dramático que as migrações econômicas. Em primeiro lugar, em muitos casos, os países que se encontram com esses problemas não são diretamente responsáveis pelas mudanças climáticas que induzem ao deslocamento populacional. Em segundo, ao contrário do que ocorre com os migrantes econômicos que partem em busca de uma vida melhor, os já quase refugiados ambientais não entendem o que acontece com eles e esperam sempre poder regressar a suas terras, o que é praticamente impossível.
Em ambos os contextos, um dos maiores desafios consiste em conseguir com que os países diretamente responsáveis pelas mudanças climáticas e, por conseguinte, da migração ambiental, alimentem um fundo para ajudar os países vítimas de variações climáticas. O dispositivo já foi evocado durante a Conferência das Nações Unidas sobre o clima, celebrada em Cancún (México), em 2010. O artigo 14-F se refere às migrações e deslocamentos conectados com as mudanças climáticas e abrange um pacote de medidas que deveriam ser financiada com um “Fundo Verde”.
Entretanto, existe o artigo, mas o fundo está vazio. Os países ricos se comprometeram em contribuir com 100 bilhões de dólares por ano com tal fundo, mas recém a partir de 2020. A um ritmo de quase 40 milhões de migrantes ambientais por ano, dentro de oito anos haverá 320 milhões de refugiados sem assistência internacional alguma. A arquitetura jurídica internacional existente não ampara esses refugiados.
A convenção de Genebra sobre os refugiados, adotada em 1952, não contempla o esquema da migração ambiental, em especial porque esses refugiados se movem quase exclusivamente dentro das fronteiras de seus países. Em junho de 2011, o Alto Comissário das Nações Unidas para os refugiados Antonio Guterres, havia interferido a fim de que se adotassem “novas medidas para enfrentar os deslocamentos de populações gerados por mudanças climáticas e catástrofes naturais”.
Todos os especialistas se preparam para um futuro climático acidentado. François Gemenne adianta que “é preciso refletir agora sobre um contexto de forte aquecimento, o que vai implicar em uma nova distribuição das populações na superfície do globo. Existem zonas que deixarão de ser habitáveis e seus habitantes deverão migrar”. Dois relatórios simultâneos sustentam a tese de que o amanhã será pior. Um, se trata de um estudo estatístico elaborado pelo Centro de Investigações de Epidemiologia do Desastre (CRED) da Universidade católica de Louvain (Bélgica) e que mostra como, desde 1970, os desastres vêm em constante aumento. O segundo trabalho é o relatório especial publicado em novembro passado pelo GIEC, o Grupo de Especialistas Intergovernamental sobre a Evolução do Clima. O GIEC prevê que os acidentes meteorológicos extremos aumentarão constantemente nos próximos anos.
O relatório State of Environmental Migration analisou situações climáticas extremas, inclusive nos países ricos, neste caso a França. O trabalho se concentrou muito especialmente nas crises climáticas que estouraram em 2010 no Paquistão (Inundações), na Rússia (incêndios florestais), no Haiti e no Chile (terremotos) e na França (tempestades). O caso francês ilustra que nem sequer os países ricos estão ao resguardo dos deslocamentos de populações obrigados pelo clima. A tempestade Xinthia assolou a costa atlântica francesa entre 26 de fevereiro e primeiro de março de 2010. Seu passo deixou um saldo de 59 mortos e milhares de refugiados permanentes. Dada a exposição de várias zonas a possíveis tempestades futuras, o Governo francês as decretou inabitáveis. Com isso, milhares de pessoas que viviam nestas zonas se viram obrigadas a deixar suas casas e suas terras para sempre.
Neste contexto preciso e após analisar os erros cometidos pelos poderes públicos franceses na gestão desta crise, a OIM destaca a importância da preparação das políticas públicas para administrar as catástrofes climáticas maiores. É lícito citar o desastre, ao mesmo tempo climático e político, que provocou o Furacão Katrina, que golpeou Nova Orleans em 2005. 1.200.000 pessoas foram deslocadas e um terço dos habitantes nunca regressou a seus lares.