Brics querem o comando da OMC

Com o Fundo Monetário Internacional (FMI) dirigido por uma europeia e os americanos insistindo em manter o controle do Banco Mundial (Bird), os emergentes já se preparam para brigar pela direção da Organização Mundial do Comercio (OMC) e equilibrar o comando da governança global.

As manobras para escolha do novo presidente do Bird, em agosto, vão acelerar em Genebra também as articulações para a seleção do futuro diretor da OMC e há a expectativa de que o Brasil possa apresentar um candidato.

Após a saída de Robert Zoellick do Bird, emergentes como Brasil e China insistem que é hora de o monopólio americano no banco ser quebrado desta vez, mas até agora não lançaram candidatos.

Mas os EUA já deixarem claro que não abrirão mão do controle do banco, até para mostrar, num ano eleitoral, que não perderam influência na governança global. O secretário do Tesouro, Tim Geithner, disse que os EUA proporão um candidato nas próximas semanas.

“É inconcebível que os europeus e americanos também conseguirão a direção da OMC, depois de manterem o controle do FMI e do Banco Mundial””, diz o professor de comércio internacional Simon Evenett, da Universidade de Saint Gallen, na Suíça. “A próxima será a vez de um representante emergente, e isso poderá até facilitar a conclusão de acordos na OMC.”

Já para Amrita Narkilar, professora da Universidade de Cambridge com estudos sobre os Brics, “os sistemas de seleção de direção no FMI e Banco Mundial estão completamente errados, e dois erros não resultam numa terceira decisão correta””. Ou seja, não é replicando a mesma prática na OMC que a governança será equilibrada. “Mas os negociadores dos Brics são inteligentes e, formando uma sólida aliança e não aparecendo divididos, como na última vez, poderão legitimamente obter o cargo.”

As primeiras discussões informais sobre o futuro substituto do francês Pascal Lamy como xerife do comércio mundial começaram em Davos, à margem do Fórum Mundial de Economia. Os candidatos serão conhecidos até dezembro, e a eleição ocorrerá em abril de 2013. Até agora, só as Américas e a África ainda não dirigiram o órgão multilateral de comércio.

A disputa já começou a causar confronto entre os países-membros. A Índia, de olho na sucessão de Lamy, bloqueou a escolha de um representante de Cingapura para presidir este ano o Órgão de Solução de Controvérsias (OSC). É que o escolhido para esse cargo será o presidente do Conselho Geral, entidade máxima da OMC, no ano que vem, e estará no centro da seleção do futuro diretor-geral, junto com dois outros representantes de países desenvolvidos.

Só que, para a Índia, Cingapura não é um país em desenvolvimento e, assim, a escolha do futuro diretor estaria controlada totalmente pelos desenvolvidos. Depois de muita confusão, os indianos aceitaram um representante do Paquistão no comando do OSC.

Na OMC, não há eleição. Um comitê de três membros faz consultas com os países para aferir o consenso em torno dos candidatos e sugere ao final um nome. Já aconteceu no passado de os países recusarem a indicação e, na disputa, o mandato acabou dividido entre o tailandês Supachai Panitchpakdi e o neozelandês Mike Moore.

A decisão sobre o comando da OMC acabará sendo do G-5 – EUA, União Europeia, China, Índia e Brasil. É difícil que americanos e europeus aceitem um chinês à frente do comércio mundial, já que Pequim é alvo de boa parte dos conflitos na OMC, e também por conta da competitividade chinesa. Já a Índia tenta recriar na OMC o G-77, de países em desenvolvimento, numa posição mais radical que dificulta o entendimento com os desenvolvidos. E não há nenhum nome significativo da África.

Resta o Brasil. Em Davos, várias delegações queriam saber quando o país lançaria a candidatura de seu embaixador junto à OMC, Roberto Azevedo. Ele tem ótima reputação na OMC e é visto como capaz de estimular as partes para alcançar consensos e como um “honest broker” (mediador neutro).

Mas certos negociadores notam que o Brasil conquistou recentemente a direção da Agência da ONU para a Agricultura e Alimentação (FAO). Ao mesmo tempo, o país aprofunda uma política de proteção comercial, cada vez mais criticada pelos parceiros.

Para Evenett, porém, o maior problema é que a América Latina sempre aparece dividida. Ele lembra que o Brasil lançou uma candidatura para se opor ao representante do Uruguai, visto como excessivamente pró-países desenvolvidos na eleição vencida por Lamy.

Enquanto isso, o ministro de Comércio da Nova Zelândia, Tim Groser, já vem tentando aparecer como candidato de consenso entre ricos e emergentes.


Fabricantes de bens de capital cortam vagas

Valor Econômico

Um cenário de demissões, queda na atividade e forte entrada de produtos importados foi traçado ontem por representantes da indústria nacional de máquinas e equipamentos – na esteira da divulgação de um crescimento de 9,2% do faturamento do setor em 2011.

A Abimaq – entidade que abriga os interesses do setor de bens de capital mecânicos – informou que os fabricantes eliminaram 2,32 mil vagas de trabalho nos dois últimos meses de 2011. O movimento, contudo, não impediu um crescimento de 3,6% na ocupação do setor em todo o ano passado.

Os cortes, segundo a associação, estão relacionados à maior penetração de equipamentos importados no mercado nacional, levando a uma queda na utilização da capacidade instalada. Em janeiro, o uso da capacidade ficou em 75,8%, abaixo dos 79,2% de um ano antes e também inferior a patamares registrados nos piores momentos da crise financeira internacional de 2008.

Em apresentação a jornalistas, Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq, disse ontem que não acredita em demissões em massa. Por outro lado, previu a continuidade dos ajustes no quadro de funcionários, dada a tendência de retração de 20% na produção neste ano. “O empresário está perdendo esperança de que vai ganhar competitividade.”

Em 2011, o setor acumulou déficit comercial recorde de US$ 17,88 bilhões. Mantidas as condições atuais de câmbio, juros e demanda, a entidade acredita que esse saldo comercial poderá superar a marca de US$ 20 bilhões neste ano.

Na luta contra a crescente entrada de máquinas asiáticas, a Abimaq chegou a pleitear ações de salvaguarda contra sete produtos da China, mas por enquanto só conseguiu obter novo tratamento administrativo para válvulas solenóides e válvulas borboletas, que estão sujeitas agora a licenças não automáticas para entrar no Brasil.


Desvalorização do real rendeu R$ 90,2 bi ao BC

O Estado de S. Paulo

A desvalorização do real ante o dólar levou o Banco Central (BC) a ter um ganho de R$ 90,2 bilhões com a administração das reservas internacionais no segundo semestre do ano passado. Esse valor será transferido ao Tesouro Nacional nos próximos dias. No primeiro semestre, a instituição havia registrado perda por causa da queda de valor da moeda americana, prejuízo que foi coberto pelo Tesouro.

O balanço do BC em 2011, aprovado ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mostra que, no acumulado do ano, o ganho com as reservas somou R$ 43,3 bilhões. O custo de manutenção foi de R$ 30,6 bilhões, mas a correção cambial rendeu R$ 73,9 bilhões, que seria o ganho com a venda das reservas.

A rentabilidade das reservas foi de 3,52% em 2011, sem considerar a correção cambial. Com a variação da moeda estrangeira, o rendimento sobe para 16,7%. Em 2010, a rentabilidade sem correção havia sido positiva em 1,88%. No cálculo com correção, no entanto, o resultado naquele ano foi negativo em 2,92%.

O BC também terá de repassar ao Tesouro outros R$ 11,3 bilhões, referentes ao lucro obtido nas operações em moeda nacional. Assim como o ganho com as reservas, esse dinheiro não vai engordar as receitas do governo. Ele só pode ser usado para abater parte da dívida pública.


Comércio exterior cai no G-7 e em emergentes

O Globo

PARIS. O comércio exterior registrou diminuição na maior parte dos países do G-7 e do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no quarto trimestre de 2011. De acordo com dados divulgados ontem pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), as importações no G-7 e nos Brics caíram 0,2% no período, após já terem registrado um retrocesso de 0,7% no terceiro trimestre. Já as exportações caíram 1,2%, após uma alta de 0,9% nos três meses anteriores.

Índia e África do Sul tiveram um comportamento negativo tanto nas importações como nas exportações. O resultado nas duas frentes foi positivo tanto na Rússia quanto no Brasil.

As trocas comerciais também caíram entre outubro e dezembro de forma significativa nas principais economias da zona do euro. Na Alemanha, por exemplo, as exportações foram reduzidas em 4%, enquanto as importações caíram 5,9%. Na França, a redução das vendas ao exterior foi de 3,9%, e a compra de produtos de fora caiu 4,1%. Já na Itália, as reduções foram de 3,1% e 6,9%, respectivamente.

Nos EUA, as importações cresceram 1,8%, enquanto na China a elevação foi de 4,7%. Nos dois casos, as exportações caíram pela primeira vez desde o segundo trimestre de 2009. Já o Japão vendeu 5% a menos.


Arrecadação faz setor público ter maior superávit desde 2001

O Estado de S. Paulo

O bom nível de arrecadação em janeiro, motivado pelo pagamento antecipado feito por empresas do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido, colaborou de forma expressiva para que o setor público registrasse um superávit primário de R$ 26,016 bilhões, o melhor resultado para este mês desde o começo de 2001, avaliou o economista da MCM Consultores, Marcos Fantinatti. Ele estimava um resultado de R$ 24,5 bilhões.

Segundo Fantinatti, o efeito de antecipação de pagamentos de impostos também pode ter beneficiado a receita de Estados e municípios, especialmente por causa de tributos como IPVA e IPTU, o que contribuiu para o bom resultado de janeiro do setor público.

Para Fantinatti, o resultado bem mais alto do superávit primário de janeiro deste ano (R$ 26,016 bilhões) em relação ao apurado no mesmo mês de 2011 (R$ 16,084 bilhões) foi o principal responsável pelo setor público ter revertido o déficit nominal de R$ 1,532 bilhão exibido no primeiro mês do ano passado para um superávit nominal de R$ 6,355 bilhões.

“É cedo para dizer que a partir deste bom desempenho de janeiro o governo vai conseguir apresentar um superávit primário de R$ 139,8 bilhões neste ano”, comentou Fantinatti. Segundo ele, o governo tem diversos projetos de investimentos em 2012 a fim de fazer frente à agenda de obras de infraestrutura relativas à Copa do Mundo de 2014, Olimpíada de 2016 e empreendimentos do pré-sal.

Fantinatti estima que o superávit primário neste ano ficará em 2,6% do PIB. Na sua avaliação, contudo, três fatores podem colaborar para que o resultado suba e o governo cumpra a meta cheia, prometida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Um deles é um auxílio substancial das receitas extraordinárias, que, por definição, são difíceis de prever.

Outros dois elementos são uma redução dos investimentos programados e uma gestão muito eficiente dos gastos correntes do governo.


Os crescentes riscos da China

Valor Econômico – Yao Yang

Se tudo continuar bem para a China, o país superará os Estados Unidos como maior economia do mundo, em dólares correntes, em 2021 (ou ainda antes em termos reais). Sua renda per capita atingirá o que hoje é a faixa mais baixa dos países de alta renda. Apesar do impulso à frente, a economia chinesa depara-se com riscos à espreita nos próximos dez anos.

O risco imediato é o de continuidade da estagnação, ou recessão, na Europa. Nos últimos dez anos, o crescimento das exportações representou cerca de 30% do crescimento econômico da China e cerca de 30% das exportações chinesas tiveram como destino a União Europeia. Se a situação na Europa continuar a se agravar, o crescimento na China será afetado.

Endurecer excessivamente as políticas macroeconômicas domésticas, especialmente as voltadas ao mercado imobiliário, poderia incrementar o risco de desaceleração. Os preços dos imóveis residenciais na China já estão em queda, afetados por medidas governamentais mais rigorosas. De fato, a situação é bem parecida com a da crise financeira asiática de 1997. Vários anos antes de a crise estourar, a China vinha combatendo a inflação e parecia encaminhar-se a uma desaceleração suave. A crise, no entanto, em conjunto com medidas de austeridade, condenou o país a vários anos de deflação e a um crescimento menor.

Hoje, enquanto a China pensa no médio prazo, o governo precisa abordar os problemas criados por seu papel predominante na economia. Um novo informe do Banco Mundial aponta a falta de reforma das empresas estatais como o maior obstáculo ao crescimento econômico do país. Isso, no entanto, é apenas sintoma de um problema mais profundo: o papel dominante do governo nos assuntos econômicos.

Além de controlar diretamente entre 25% e 30% do Produto Interno Bruto (PIB), o governo também é responsável pela maior parte dos recursos financeiros. Nos últimos anos, cerca de 35% dos empréstimos bancários foram destinados à infraestrutura, sendo a maior para obras de instituições governamentais. É verdade que o governo admitiu seu excesso de investimentos em infraestrutura e recentemente abandonou vários projetos de trens de alta velocidade que já estavam em construção. O excesso de investimentos governamentais, no entanto, também é flagrante nos vários parques industriais e zonas de alta tecnologia.

O frenesi de investimentos da China faz muitas pessoas recordarem o Japão nos anos 80, quando as linhas de trens de alta velocidade foram levadas aos cantos mais remotos do Japão. A maioria depende de subsídios do governo até hoje. E, embora os subsídios possam melhorar a qualidade de vida das pessoas comuns em vários aspectos, também a prejudicam ao suprimir o consumo doméstico.

Os investimentos em infraestrutura inevitavelmente serão contidos pela lei de diminuição dos retornos marginais. O crescimento no consumo, contudo, não tem limite. Suprimir o consumo, portanto, sufocaria o crescimento futuro, sendo que a participação do consumo doméstico no PIB caiu de 67% em meados da década para menos de 50% nos últimos anos.

O governo chinês é orientado à produção por natureza. A vantagem é que isso ajudou a manter altas taxas de expansão do PIB. O lado negativo, contudo, é igualmente forte. Uma consequência negativa é o aprofundamento persistente da desigualdade de renda. O coeficiente Gini de renda per capita é superior a 50 pontos (100 representa o máximo de desigualdade), o que coloca a China entre os piores 25% em desigualdade no mundo.

O problema pode não ser a desigualdade por si só, mas suas consequências, como a bifurcação do capital humano. O retorno do investimento em educação na China vem aumentando, mas o acesso ao ensino torna-se cada vez mais dividido social e geograficamente. Embora a educação esteja melhorando nas áreas urbanas, as crianças na zona rural deparam-se com um declínio na qualidade do ensino, porque os melhores professores mudam-se para as cidades. Além disso, tendo em vista a disparidade de renda entre o campo e a cidade, a educação nas áreas rurais é mais cara.

Como resultado, a maioria das crianças em áreas rurais entrará na força de trabalho sem diploma universitário. Entre os 140 milhões de trabalhadores migrantes da China, 80% têm apenas nove anos ou menos de educação formal – bem menos do que requerem os países de alta renda.

Apesar do aparente desejo das autoridades de reduzir a desigualdade de renda, o governo da China a agrava ao, entre outras coisas, subsidiar produtores, favorecer indústrias de uso intensivo de capital e manter um setor financeiro altamente ineficiente. Também há, no entanto, sinais promissores de avanço econômico. O governo acaba de anunciar novas regras para o registro familiar, conhecido como “hukou”. A não ser nas grandes cidades, as pessoas agora podem escolher livremente seu “hukou” após três anos de residência. Isso ajudará os migrantes imensamente, ao garantir condições iguais de acesso à educação para seus filhos.

Mudar completamente o comportamento distorcivo do governo, no entanto, requer mudanças mais radicais nas políticas. A reforma do “hukou” é um bom começo, já que fortalecerá os direitos políticos dos migrantes nas comunidades locais. Tende em vista seu grande número, sua participação política pode obrigar os governos locais a ficarem mais atentos às necessidades das pessoas comuns. E se os degraus mais baixos do governo começarem a dar mais atenção, é de se esperar que isso acabe chegando às esferas mais altas do poder. (Tradução de Sabino Ahumada)

Yao Yang é diretor do Centro para a Reforma Econômica da China, da Universidade de Pequim.


BCE concede mais € 529,5 bi a bancos

Valor Econômico

O Banco Central Europeu (BCE) forneceu ontem liquidez recorde de € 529,5 bilhões para 800 bancos, numa segunda rodada de apoio vital para o combalido setor bancário da zona do euro. Mas analistas alertam que quem esperar que o vertiginoso volume de recursos resolverá também a crise fiscal e aliviará a situação econômica na zona do euro poderá se decepcionar.

Com cerca de € 700 bilhões de dívida vencendo este ano, os bancos poderão usar boa parte da ampla liquidez fornecida nas duas operações feitas pelo BCE para refinanciar seu endividamento.

Em todo caso, a expectativa nos mercados é que a forte liquidez apoiará o apetite global por riscos por algum momento. “As chances de “carry trade” parecem ser bem maiores, com alta nos ativos de risco””, exemplifica Simon Smith, economista chefe da consultoria FxPro, em Londres. Para o Barclays Capital, as operações de carry trade podem envolver principalmente o rublo russo, o peso mexicano e o real brasileiro – portanto, aumentando potencialmente o fluxo de capitais para o Brasil.

O total que os bancos pegaram emprestado no BCE representa um recorde na história da autoridade monetária. E se explica em parte por um fenômeno de substituição. Os bancos reduziram sua participação em outras operações de refinanciamento de mais curto prazo para se concentrar nos empréstimos de três anos. A operação de ontem superou os € 489 bilhões emprestados no leilão anterior, em dezembro. Isso sugere que os próprios estímulos do BCE podem ter ajudado a reduzir qualquer estigma associado com os empréstimos.

Sobretudo, a liquidez realmente nova no sistema financeiro representa € 310 bilhões, com os outros € 220 bilhões representando operações que chegavam a seu prazo de pagamento. Em todo caso, é muito mais do que o montante líquido de € 192 bilhões de dezembro.

Para analistas, os empréstimos do BCE vão ter impacto positivo no setor bancário. Basta ver que a operação de dezembro evitou uma crise iminente de “funding” para os bancos, e ajudou a baixar os juros no interbancário. Mas as instituições financeiras usaram boa parte do dinheiro para pagar empréstimos entre elas.

Agora, o desejo do BCE é de que a nova liquidez se dirija para a economia real. Só que as chances de isso ocorrer parecem pequenas. Primeiro, a demanda de crédito na zona do euro em recessão continua fraca. E, segundo, os bancos continuam a reduzir os balanço para se adequar a novas exigências de capital próprio.

Para a analista Jennifer Mckeown, em Londres, quem espera “encorajamento”” para os bancos comprarem amplas quantias de títulos de dívida soberana, aumentando fortemente seus empréstimos para as companhias e famílias, pode se decepcionar.

Bancos na Itália e na Espanha elevaram suas aquisições de títulos de dívida soberana em janeiro, contribuindo para a baixa dos spreads desses papéis. Mas as compras em toda a zona do euro cresceram menos em janeiro do que em novembro e dezembro, antes da primeira operação de liquidez de três anos. “Mesmo se os bancos tiverem mais dinheiro para investir depois da operação de hoje, não estamos convencidos de que vão aplicar em títulos soberanos arriscados””, acredita Jennifer.

“Essas medidas ajudaram os bancos a reduzir os riscos de funding, mas não a reduzir as incertezas sobre os títulos soberanos europeus””, acrescenta Anshull Pradhan, do Barclays.

Para economistas do banco holandês Rabobank, o BCE continua a comprar tempo para os políticos europeus tomarem decisões politicamente difíceis para a zona do euro sair da crise.

Quanto ao impacto nos financiamentos dos bancos, o que os dados do BCE apontam é uma persistente fragilidade nos créditos para a economia real. Os bancos endureceram ainda mais as condições de financiamento, dobrando a cautela nesses tempos de recessão. A falta de crédito poderá continuar a frear a atividade econômica na zona do euro.

O BCE não revela os nomes dos bancos que obtiveram os empréstimos, ontem. Mas confirma que até instituições brasileiras com subsidiárias na zona do euro podem ter acesso ao financiamento por três anos. Analistas acreditam que o Itaú, por exemplo, não recorreu a nenhuma das operações. Pela característica das operações de Bradesco e Banco do Brasil, também parece difícil que tenham participado. É preciso que o banco tenha ativos elegíveis de maior prazo para oferecer como garantia para receber o financiamento do BCE.

Para a operação de ontem, sete países da zona do euro aceitaram que seus bancos dessem garantia de ativos que até agora recusavam. Trata-se de créditos para empresas e organismos do setor público, com exceção dos empréstimos imobiliários, operações cujo risco de inadimplência seja igual ou inferior a 1%. Até agora, os bancos centrais na Europa só aceitavam ativos de garantia com risco de calote inferior a 0,4%. A flexibilização favoreceu a participacao de bancos que tinham dificuldade em fornecer garantias suficientes.

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