Chávez apresenta vantagem de 18 pontos sobre rival Capriles

Chávez apresenta vantagem de 18 pontos sobre rival CaprilesTexto: O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, apresenta vantagem de 18 pontos sobre o candidato da oposição, Henrique Capriles, nas intenções de voto das eleições presidenciais de outubro, conforme indicou uma pesquisa feita pela Hinterlaces e divulgada nesta segunda-feira pelo canal de televisão Venevisión.

De acordo com a consulta Hinterlaces, realizada entre 24 de fevereiro e 1º de março a partir de 730 entrevistas, 52% dos entrevistados afirmaram que se as eleições fossem no próximo fim de semana votariam em Chávez, enquanto 34% prefeririam Capriles.

Os números, indica a empresa responsável pela pesquisa, aumentam ligeiramente a vantagem de 49% contra 37% que Chávez tinha sobre Capriles logo após as primárias de 12 de fevereiro, que transformaram o também governador do estado de Miranda no candidato de unidade da oposição.

Além disso, a avaliação da gestão de Chávez atingiu 66% de aprovação (dois pontos acima de janeiro), contra 31% dos que rejeitam seu desempenho, de acordo com a pesquisa, que tem uma margem de erro de 3,5%.

O levantamento abordou ainda vários dados relacionados à hipótese de que Chávez, que extraiu um tumor cancerígeno no último dia 26 e deverá se submeter à radioterapia, não possa se apresentar às eleições de outubro.

Questionados sobre a doença do presidente, que no domingo informou que o tumor que retirou é cancerígeno e que se submeterá  à radioterapia, 49% dos venezuelanos afirmaram acreditar que o estado de saúde de Chávez seja grave, mas 71% acham que o governante conseguirá se curar e participar da disputa.

Apesar de Chávez ter informado sobre o novo tumor após garantir que tinha se recuperado do câncer que teve diagnosticado em junho em Cuba, 54% acham que o presidente não mentiu, enquanto 35% acreditam que tenha faltado com a verdade.

A pesquisa trouxe ainda opiniões sobre um cenário eleitoral sem Chávez. Para 49% dos entrevistados, se o presidente não concorrer a oposição sairá vitoriosa, frente a 36% que apostam pelo chavismo.

Além disso, 55% dos questionados consideram que não há um líder dentro do governo que possa continuar a tarefa do presidente se ele abandonar a política, contra 36% que avaliam o contrário. A maioria, 54%, considera que o presidente não deveria se retirar da política para cuidar de sua saúde, enquanto 39% acham que deveria fazê-lo.

Troca de acusações

Nesta segunda-feira, governo e oposição trocaram acusações por causa de um tiroteio que deixou feridos durante um evento de campanha eleitoral, domingo, na Venezuela. Partidários de Capriles disseram que militantes ligados a Chávez abriram fogo quando o candidato e seus seguidores caminhavam no bairro de Cotiza, na periferia de Caracas.

Dois partidários de Capriles, inclusive o filho de um parlamentar, teriam ficado feridos. Autoridades governamentais de alto escalão disseram que o relato da oposição é mentiroso, e que os guarda-costas de Capriles iniciaram o tiroteio, deixando quatro feridos.

Governo e oposição usaram seus canais de TV para exibir repetidamente imagens em diferentes ângulos, tentando corroborar sua versão dos fatos. Em todas elas, é possível ouvir disparos e ver gente correndo. “Enquanto esse governo debate com armas, nós debatemos com ideias”, disse o centro-esquerdista Capriles, de 39 anos, após o incidente. “Do que eles estão com medo?”

O ministro do Interior, Tareck el Aissami, prometeu investigação do incidente, mas disse que policiais do Estado de Miranda – governado por Capriles – estariam agindo sem autorização fora da sua circunscrição, e teriam atacado partidários do governo envolvidos em outra atividade. “Foram eles os promotores da violência”, afirmou. “Eles decidiram montar esse show durante a atividade do candidato da direita, que não conseguiu atrair nem dez pessoas”, disse o ministro.

 


Brasil deve aumentar seu poderio militar, diz americano

Folha de S.Paulo

O Brasil deve aumentar seu poderio militar porque só soft power (poder brando) não basta, e uma maior capacidade brasileira em defesa abre a possibilidade de cooperação com os EUA. É o que sugere Richard Haass, que fez carreira na diplomacia americana, ocupando postos importantes em governos republicanos, e desde 2003 preside o Council on Foreign Relations, centro de estudos influente na política externa do seu país. Ele falou à Folha após viagem de estudos de uma semana em que liderou uma delegação de 19 pessoas por Rio, São Paulo e Brasília, incluindo reuniões com a presidente Dilma Rousseff e o chanceler Antonio Patriota. Abaixo, a íntegra da entrevista.

FOLHA – Em que essa viagem mudou ou não sua percepção do Brasil?

RICHARD HAASS – Tenho vindo aqui há 15, 20 anos. É difícil não ficar impressionado com o sucesso econômico. O que realmente me impressionou é que parei de pensar no Brasil como um país em desenvolvimento; o vejo como um país maduro. Seus desafios econômicos e sociais me lembram os EUA: a infraestrutura obsoleta, a educação, o capital humano, o peso dos impostos e da estrutura regulatória.

Outra coisa é como é boa relação entre EUA e Brasil. Não significa que concordamos em tudo, mas o nível de conforto é  alto.

FOLHA – O subsecretário de Estado William Burns descreveu o Brasil como uma “potência global emergente”. Usaria a mesma descrição?

HAASS – A resposta curta é sim. A palavra emergente é  difícil. Em alguma medida, o Brasil já chegou lá. Economicamente, o Brasil já é uma potência mundial. Diplomaticamente, tem assumido um papel maior. Militarmente, ainda é modesto, e tem que decidir que tipo de capacidade o país quer, que papel quer desempenhar.

FOLHA – Sobre o que foi a conversa com a Dilma, sobre a relação bilateral?

HAASS – Foi bastante sobre isso, e também sobre a visão dela sobre a América. Como americano, achei alentador. Nos EUA temos um debate permanente sobre se estamos em declínio. É bom ter uma conversa com sua presidente em que ela se mostrou tão confiante e positiva sobre a capacidade de os EUA superarem seus problemas, nossa flexibilidade, nossa abertura, nossa criatividade, nossa tradição de inovação, a capacidade de adaptação. Às vezes em nossos debates internos esquecemos disso.

FOLHA – Dilma tem ressaltado a vontade de aprofundar o intercâmbio com os EUA em educação, inovação. Isso é suficiente para a relação? Toda a viagem de Burns girou em torno da decisão da Força Aérea de cancelar a licitação vencida pela Embraer.

HAASS – Sempre haverá dificuldades sobre essa ou aquela decisão, mas fora do governo coisas como essas parecem pequenas, uma distração em relação ao quadro maior de uma relação cada vez maior entre dois países que enfrentam desafios comuns em suas economias, suas sociedades.

FOLHA – Aprofundar a parceria em defesa é  importante para a relação bilateral?

HAASS – Apoio uma relação maior entre os dois países no campo da defesa. Gosto da ideia de que o Brasil desenvolva maiores capacidades nessa área. Isso abre a possibilidade de que o Brasil e os EUA possam ter parcerias em desafios na Ásia, no Oriente Médio ou na América Latina. Não vamos concordar sempre, mas se o Brasil não tem essa capacidade e se nós não temos a cooperação, mesmo se concordarmos, não podemos fazer muito.

Gosto da ideia de o Brasil gradualmente desenvolver maior poder militar. Precisamos de parceiros. Não precisa ser um aliado, pode manter sua independência, mas ter uma uma colaboração seletiva quando vermos coisas do mesmo modo, e a defesa é parte disso.

As pessoas aqui gostam de falar de soft power, muito bem. Mas há épocas no mundo em que você precisa se voltar para o poder duro. Às vezes a economia e a diplomacia são suficientes, mas às vezes nenhuma das duas funciona, e você precisa usar a força militar. Nessas ocasiões, esperaria que houvesse ao menos a possibilidade de cooperação entre Brasil e EUA.

FOLHA – Uma pergunta que se faz aqui é se o Brasil pode ser uma potência mundial sem armas nucleares, como as potências atuais têm. Qual a sua opinião?

HAASS – Um país pode ser um poder regional ou global sem armas nucleares. Pense no Japão, na Alemanha, na Turquia e na África do Sul. Em segundo lugar, ter armas nucleares não torna um país uma potência necessariamente. Veja o caso da Coreia do Norte e do Paquistão.

Finalmente, a maioria dos países que são potências e têm armas nucleares são potências por outras razões. Isso se aplica aos EUA, à China e a outros. O Brasil pode se tornar uma potência global sem armas nucleares. Não vejo nenhuma razão estratégica para que o Brasil as desenvolva. Não aumentaria a segurança do país, mas complicaria muitas de suas relações e drenaria recursos.

FOLHA – Por suas conversas aqui, considera que há consenso sobre o papel que o Brasil deve desempenhar no mundo?

HAASS – Consenso é uma palavra muito forte. Acho que há  um debate sobre as prioridades internas e internacionais. Não  é surpreendente porque a ideia de o Brasil ser um ator global e não regional é relativamente nova.

Um exemplo: agora vocês têm a realidade desses grandes recursos petrolíferos na costa. Isso tem consequências, o Brasil vai ter que repensar como dar segurança a esses grandes investimentos.

FOLHA – Por que, apesar de ainda haver divergências entre os dois países sobre o Irã, a tensão não é a mesma de dois anos atrás?

HAASS – Em parte é porque, quando a relação melhora, você  aprende a discordar. Também acho que o critério de uma relação não  é se você concorda todo o tempo, isso é impossível. Mas você faz com que as áreas em que você discorda não travem o caminho daquelas em que você coopera. Acho que há  mais áreas de concordância na economia e na diplomacia. Na Síria há bastante concordância.

Muitos americanos no negócio, entre aspas, da política externa, não pensávamos no Brasil há 20 anos. Isso mudou e essa é  uma da razões pelas quais o Council on Foreign Relations está no Brasil agora, porque é importante globalmente. A relação está se tornando mais ampla e profunda.

FOLHA – O sr. teme uma nova guerra no Oriente Médio antes do fim do ano?

HAASS – É uma possibilidade. No caso do Irã, uma possibilidade real. Escrevi um artigo em que argumentei que, além de continuar pressionando com sanções, deveríamos oferecer uma proposta diplomática ampla. Não sei se o Irã vai aceitar, e se não aceitar, acho que as chances de um ataque por Israel, pelos EUA ou por outro país é  uma possibilidade real. Claro que é passo arriscado e custoso, mas ninguém deve subestimar o custo de o Irã ter armas nucleares.

FOLHA – O Brasil consultou o secretário-geral da ONU sobre a legalidade de um ataque ao Irã. O sr. conversou sobre esses temas com o Patriota?

HAASS – Um ataque às instalalações nucleares do Irã seria o se chama de ataque preventivo. É controvertido legalmente, diplomaticamente. A questão é se, apesar disso, dada a trajetória do Irã, dada a implicação potencial de uma bomba iraniana, ainda vale a pena fazer. Para mim a lei internacional não é preto e branco, tem muito cinza. Um líder israelense pode pensar que tem que pesar a lei, mas também a segurança de seu país. Os EUA têm que pensar em seu compromisso com Israel, sua oposição à proliferação nuclear, o preço e a oferta de petróleo, a criação de um precedente nas relações internacionais sobre o uso da força. Há toda uma gama de considerações, e não será uma decisão fácil para ninguém.

FOLHA – O Brasil deveria voltar a ser chamado para as negociações com o Irã?

HAASS – Não vejo razão no momento. O Irã tem uma linha de comunicação clara com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). No momento o problema não é a falta de mediadores, mas a recusa do Irã em cumprir suas obrigações internacionais. Se o P5+1 (as cinco potências do Conselho de Segurança) e a ONU estiverem dispostos a pôr na mesa uma oferta razoável, que não seja para humillhar o Irã mas permita que o país tenha atividades limitadas nessa área, desde que coopere com os inspetores internacionais, não precisamos do Brasil ou de outro país nas negociações. Não queremos ter uma situação em que temos cinco mediadores e os iranianos escolham qual querem, e usam a situação para ganhar tempo. Isso não é uma crítica ao Brasil, acho que há clareza sobre o que é necessário e a verdadeira questão é se o Irã está disposto a compromissos.

FOLHA – A força-tarefa do CFR recomendou que os EUA apoiem a candidatura brasileira ao Conselho de Segurança da ONU. Isso lhe pareceu importante para os brasileiros?

HAASS – O assunto aparece algumas vezes, mas não sempre. Para alguns é importante como um símbolo, para outros por causa da substância, porque o Brasil estaria numa posição de maior influência. Para outros não tem tanta importância.

Para ser honesto, eu tenho duas posições sobre isso. Eu acho que Brasil, Índia e Japão deveriam ter cadeiras permanentes no Conselho de Segurança, que não reflete mais a realidade geopolítica.

Por outro lado, por causa dos vetos e com mais países, a inação que às vezes existe hoje vai continuar. Não acho que se deve equiparar a ONU com multilateralismo. O Brasil não precisa ser membro do CS para ter um papel importante no mundo.

FOLHA – Os EUA anunciaram prioridade para o Pacífico, por causa da China. Como o Brasil se encaixa nisso?

HAASS – Há um ajuste na política externa americana, de afastamento do Grande Oriente Médio e aproximação com a Ásia-Pacífico, onde acredito que muito do século 21 será traçado e decidido. Para os EUA fazerem isso, precisamos pôr a economia interna em ordem e ter parceiros para trabalhar conosco na região. O Brasil é um parceiro potencial. Também precisamos que este hemisfério permaneça estável. Parte da capacidade de nos envolvermos mais com a Ásia depende da estabilidade das Américas. Há poucas grandes potências na história com vizinhanças pacíficas e estáveis. Nós temos, em grande medida. É uma exceção extraordinária e um luxo em termos históricos. Mas é também algo que deve continuar a ser trabalhado pelo Brasil e os EUA. Para mim tudo isso reforça o argumento de que Brasil e EUA devem ter um diálogo estratégico.

FOLHA – Já se falou muito na perspectiva de uma rivalidade crescente entre Brasil e EUA. Acredito nisso?

HAASS – De jeito nenhum. Brasil e EUA enfrentam desafios e oportunidades. De certa maneira, ou vamos ter sucesso juntos ou vamos fracassar juntos, seja no hemisfério ou além.

 


Desembargador aplica multa inédita contra trabalhadores grevistas em Rondônia

Rondônia ao Vivo

A criminalização dos movimentos sociais ganha contornos cada vez mais criativos justamente onde a ação da Justiça seria fundamental para estabelecer a democracia.

Pela primeira vez na história, o poder Judiciário resolve multar não apenas o sindicato ou seus diretores, mas também os trabalhadores grevistas, em uma flagrante tentativa de coação.

O fato ocorreu na mesma Rondônia, onde a situação precária de operários da construção paralisou a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em 2011.

A decisão liminar do desembargador Gilberto Barbosa concedida ao governo do Estado determina o fim imediato da greve dos profissionais em educação, que cruzaram os braços no último dia 23 por melhores condições de trabalho. Como pena, o magistrado arbitrou uma multa diária no valor de R$ 100 mil ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação em Rondônia (Sintero), de R$ 2 mil a cada diretor da entidade e, de forma inédita, de R$ 200 a cada servidor que permanecer em greve. De acordo com dados do sindicato, 80% dos 24 mil funcionários  aderiram à paralisação.

Além do exotismo, a pena a cada grevista é uma ataque à  liberdade de organização prevista na Constituição de 1988. A medida, porém, não afeta a mobilização. “Não iremos recuar”, afirma Manoel Rodrigues, presidente do Sintero, que participa neste momento de uma negociação no Palácio do Governo, em Porto Velho, capital rondoniense.

Pauta de reivindicações

A lista de reivindicações dos profissionais da educação conta com 16 pontos, que incluem a reposição salarial de 35,23%, aprovação e implantação do novo Plano de Carreira, incorporação das gratificações ao vencimento, pagamento de auxilio transporte para os trabalhadores de todos os municípios e de adicional aos profissionais que trabalham no período noturno. Há ainda a exigência de que os servidores de limpeza, merenda e secretaria nas escolas não sejam terceirizados.

A pauta foi entregue em novembro do ano passado, mas, até então, o governador Confúcio Moura (PMDB-RO) não havia aceitado abrir a negociação. Ele ofereceu como contraproposta uma elevação salarial de 6,5%, índice equivalente à reposição da inflação.

Por outro lado, a agilidade da Justiça para definir as punições poderia ser aplicada a outras ações como como o pagamento de precatórios do salário mínimo aos quais os trabalhadores da educação têm direito e cuja decisão do Tribunal de Justiça aguardam há mais de 10 anos.

 


Fidel Castro se encontra com ativistas do Cruzeiro Pela Paz

Reuters

O líder cubano Fidel Castro se reuniu na quinta-feira com mais de 700 japoneses que integram o Cruzeiro Pela Paz, que visita a ilha, aos quais pediu para denunciar a existência de armas nucleares pelo mundo, de acordo com a imprensa local.

A televisão estatal mostrou imagens do encontro, em que Fidel, de 85 anos, apareceu sentado, porém conversando de forma animada com os visitantes. O líder cubano deixou a Presidência de Cuba em 2008, depois que uma doença intestinal limitou sua aparição na cena política.

“Um emotivo encontro aconteceu nesta tarde no Palácio das Convenções entre o líder da Revolução Cubana Fidel Castro e 770 integrantes do Cruzeiro Pela Paz, entre eles 10 sobreviventes dos ataques com bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki”, afirmou o site oficial www.cubadebate.cu.

O Cruzeiro Pela Paz, navio japonês que percorre o mundo para promover o desarmamento, chegou à ilha na quinta-feira com centenas de ativistas, que também visitaram centros hospitalares e escolas em Havana.

“Fidel nos pediu para divulgar mais os horrores das consequências dos bombardeios contra Hiroshima e Nagasaki, continuar investigando os efeitos dos testes nucleares realizados no oceano Pacífico, denunciar a existência irracional de 25 mil armas nucleares no mundo e lutar pela paz e pela sobrevivência da espécie humana”, afirmou o Cubadebate.

Fidel teve encontro parecido com visitantes japoneses quando o Cruzeiro Pela Paz atracou na costa de Havana, em 2010.

 


‘Vamos precisar de cinco planetas Terra’

O Globo

Se países como Brasil, China e Índia resolverem copiar o estilo de vida dos países ricos, a conta não fecha. Seriam necessários cinco planetas Terra para atender a tamanha demanda. O diagnóstico foi feito pelo chinês Sha Zukang, secretário-geral da ONU para a Rio+20, a conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável que será realizada na cidade entre os dias 20 e 22 de junho. De passagem pelo Brasil para preparar a logística do encontro e participar de negociações com a ministra do Meio Ambiente, Izabela Teixeira, Sha deixou claro que “é urgente definir um conjunto de objetivos para garantir o sucesso da conferência”. E admitiu: “Não podemos falhar”.

O GLOBO: Qual é sua expectativa para a Rio + 20, já que, no fim do mês, será realizado em Nova York mais um encontro para definir o documento da conferência?

SHA ZUKANG: Em janeiro último, definimos o “rascunho zero” do documento final da Rio+20. O prazo final para entrega das propostas foi no último dia 29 de fevereiro, mas ainda estamos esperando algumas contribuições. Só depois que recebermos todas as propostas dos países é que vamos começar as negociações. Estamos tendo muitas dificuldades nessas reuniões preparatórias. Está bem difícil chegar a um acordo. Depois de todas as reuniões preparatórias, teremos apenas 15 dias para fechar as negociações. A restrição de tempo é uma das nossas maiores dificuldades.

O senhor acredita que a crise financeira internacional também é um empecilho?

SHA: Sem dúvida a situação internacional não é muito favorável, até porque ela está atingindo os países ricos. E são justamente esses países os que têm mais responsabilidades na discussão climática. E para piorar ainda mais a situação, esses países estão, nesse momento, preocupados com as eleições nos seus próprios países. E são justamente os países da zona do euro os maiores doadores. E como a transição para uma economia de baixo carbono necessita de recursos financeiros, temos um problema, porque os países que são grandes doadores estão em crise financeira. Tudo isso está dificultando bastante as negociações. Ainda assim, estou confiante.

A situação do mundo do ponto de vista ambiental está se agravando?

SHA: Temos que reconhecer que a situação é urgente, até  porque muitas das decisões tomadas há 20 anos, na Rio-92, ainda não foram implementadas. E, nessas duas últimas décadas, a situação só piorou, tanto do ponto de vista da produção como do ponto de vista do consumo. O atual padrão de produção e consumo não pode continuar. É uma questão de sobrevivência da humanidade. Se todos os países emergentes, como Brasil, China e Índia, por exemplo, decidirem copiar o estilo de vida dos países desenvolvidos, seria necessários cinco planetas Terra para atender a todo esses aumento de demanda. Hoje, temos sete bilhões de pessoas no mundo; em 2050, seremos nove bilhões. Os recursos naturais estão dando sinais de escassez, enquanto a população mundial não para de crescer. E ainda precisamos erradicar a pobreza no mundo.

Logo, o que o senhor está dizendo, é  que a conta não está fechando?

SHA: Existe uma grande responsabilidade. Vejo a Rio + 20 como uma chance histórica de cuidar do desenvolvimento sustentável. Em vez de olharmos como uma questão de países desenvolvidos ou em desenvolvimento, é um tema que une toda a humanidade. Não podemos falhar, temos que ter sucesso.

Qual é o papel do Brasil nesse contexto?

SHA: O Brasil é um líder, e não digo isso apenas para agradar ao país anfitrião. É um país grande, com influência regional e global. E fez um trabalho tremendo em integrar os três pilares: social, econômico e ambiental. Há ótimas experiências em erradicação de pobreza sob a gestão do presidente Lula e do atual governo.

O que se espera do resultado da Rio + 20?

SHA: Devemos ser ambiciosos e muito práticos. Precisamos de objetivos. Claro que teremos palavras ao negociar, mas precisamos é de ação. A economia verde é o principal tema. Precisamos de um plano amplo, com etapas, opções de políticas e um conjunto de boas práticas. Também é interessante uma espécie de leve responsabilidade e um fórum que possa rever e acompanhar o que estiver em curso. É  preciso de objetivos para medir quanto progresso estamos fazendo. Um conjunto de objetivos é absolutamente necessário. Outro ponto importante é o arcabouço institucional. Algumas propostas defendem uma espécie de conselho de desenvolvimento sustentável ou uma comissão.

Por que a mudança climática não está na agenda da Rio +20?

SHA: Mudança climática é um tema sustentável. Quaisquer resultados que tenhamos vão certamente facilitar a questão da mudança climática e temos como o uso eficiente de energia. Tudo está relacionado. Não é verdade (que o assunto mudança climática não será  tratado). Mas a Rio + 20 está tratando de um assunto muito mais amplo e maior do que a questão climática.

O que é a economia verde?

SHA: Temos um debate sobre a definição (do que é economia verde). Não há uma definição clara. Pessoas diferentes têm visões diferentes. Mas certamente concordamos que (economia verde) não é um substituto para desenvolvimento sustentável, não deve levar ao protecionismo nem gerar condicionalidades para ajudas. A economia verde pode permitir a criação de postos de trabalho e tem o potencial de integrar os três pilares: econômico, social e ambiental. Mas a verdade é que atualmente muitos países praticam a economia verde. No meu país (China), fizemos uma legislação específica. Até  países africanos são exemplos.

Diante da atual situação internacional, podemos esperar que países doadores e instituições internacionais abram seus cofres?

SHA: A questão financeira é crítica para os países em desenvolvimento. Por que temos uma conferência sobre desenvolvimento sustentável? Porque não há sustentabilidade. Os países em desenvolvimento são o que podemos chamar de vítimas. Não estou culpando ninguém, mas nosso passado de desenvolvimento nos últimos 400 anos criou os problemas que enfrentamos hoje. Países em desenvolvimento não foram responsáveis por isso, eles estavam ocupados demais em encher seus estômagos. Já os países desenvolvidos têm responsabilidade de cumprir os compromissos já feitos, senão vão perder credibilidade. É por isso que dou ênfase à palavra implementação. Foi feito um compromisso há 20 anos. Não precisamos de mais palavras, mas de ações.

Mas como esperar doações quando os países desenvolvidos estão em crise?

SHA: A maior parte dos países doadores está enfrentando problemas financeiros. Nós só podemos desejar que esses problemas acabem em breve ou muito rapidamente. Ficamos felizes, por exemplo, com o fato de os Estados Unidos estarem se recuperando. Mas a crise financeira é temporária, de curto prazo, enquanto o desenvolvimento sustentável é (uma questão) para o futuro, longo prazo. Não misturem. Os países desenvolvidos devem olhar à frente, com uma visão de longo prazo. Desenvolvidos ou em desenvolvimento, todos temos responsabilidades comuns. Deixe-me também enfatizar que a sustentabilidade deve ser uma responsabilidade do país. Nenhum país deve depender apenas da ajuda dos países desenvolvidos. Para alguns, alguma assistência será  necessária para dar o pontapé ou acelerar o processo.

Quais devem ser os pontos mais delicados do processo de negociação?

SHA: Como mencionei, o tempo deve ser a principal barreira. E há  a questão da definição de economia verde, que não existe. Além disso, teremos que negociar algumas regras, que eventualmente vão restringir o comércio. Alguns objetivos podem afetar os países em desenvolvimento, que podem não ser capazes de atingir os critérios e perder mercado. Também terão que ter tecnologia, coisa que países pobres geralmente não têm. Nem possuem recursos para comprar. Essas são as preocupações. Não podemos ter objetivos ou critérios como uma fórmula que sirva para todos. O desenvolvimento sustentável deve ser apenas o começo, não um fim.

O que é mais difícil para os país mudarem?

SHA: Os países desenvolvidos estão acostumados a um estilo de vida, então não é um trabalho simples mudar. Até para emergentes como China e Brasil não é fácil. O uso de energias renováveis, por exemplo, é muito bom. Vamos usar energia eólica, solar, hidrelétrica, nuclear. Mas elas são caras, quem vai pagar? Como atingir o equilíbrio entre usar a energia que vai reduzir a emissão de carbono, mas ao mesmo tempo ter energia suficiente para produzir comida? O importante, no entanto, é que transformemos desafios em oportunidades.

 


BC pressiona bancos por R$ 44,7 bi

O Globo

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) deu prazo até o fim do mês para que os bancos Econômico e Nacional – que estão em liquidação desde o Proer dos anos 90 – informem como quitarão o débito de R$ 44,7 bilhões com a instituição. Este valor embute um desconto considerado “bem generoso” pela autarquia. Foi autorizado pela Lei do Refis da Crise, mas só será concedido se os bancos negociarem o parcelamento do débito com a autoridade monetária. Sem o desconto, a dívida chega a R$ 62,6 bilhões, valor que será cobrado na Justiça pelo governo, caso não haja acordo.

Os bancos insistem em pagar as dívidas com o BC com créditos do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS). Só que os advogados do governo consideram que esse papel é apenas um reconhecimento de dívida e não um título público que poderia ser aceito para quitar os débitos. O Parlamento tentou abrir essa possiblidade de quitação. Incluiu o dispositivo em uma lei, vetado pela presidente Dilma Rousseff em junho do ano passado.

Os bancos queriam que o BC aceitasse os papéis com o valor de mercado. Juntos, os dois bancos têm R$ 27,6 bilhões em FCVS. Na época do Proer, esses papéis foram dados em garantia aos empréstimos concedidos pelo BC, mas há um longo caminho para que sejam reconhecidos como crédito e aceitos no pagamento dessa dívida. E os bancos devem trilhar esse caminho antes de quitar a dívida.

– O Banco Central não é escritório de devedor. O Banco Central é uma entidade pública e não aceita ativos incertos – disse o procurador-geral da instituição, Isaac Ferreira. – O Banco Central não vai conceder um centavo a mais de desconto do que a Lei já concedeu.

Os dois bancos poderão, como o Bamerindus, parcelar a dívida nos moldes do Refis, ou seja, dividir o passivo em 180 meses. A instituição tem pago as parcelas em dia e está adimplente com BC.

 


Mercado interno sustenta PIB

O Globo

RIO e SÃO PAULO. A despeito de uma inflação elevada, o consumo das famílias, mais uma vez, segurou o desempenho da economia brasileira. Assim preveem analistas ouvidos pelo GLOBO, que projetam um crescimento em 2011 entre 2,6% e 3% para o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), que será divulgado hoje pelo IBGE. Após essa forte desaceleração (em 2010, o país cresceu 7,5%), contudo, os especialistas vislumbram um cenário um pouco mais favorável para 2012, com previsões de alta de até 4,5%.

– Mesmo sustentando o PIB, o consumo das famílias deve ter desacelerado no quarto trimestre de 2011, reflexo ainda dos juros altos. Mas a expectativa é de que, com uma inflação média menor, essa demanda volte a acelerar – comentou Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, acrescentando que o câmbio baixo também estimula o consumo.

A economista Alessandra Ribeiro, da Consultoria Tendências, avalia que as medidas tomadas pelo governo, como estímulo ao crédito e isenção tributária para bens duráveis da linha branca, fizeram o consumo das famílias crescer 1% na margem no quarto trimestre. Já o setor de serviços deve ter crescido 1,2%, resultado de um mercado de trabalho com menos demissões:

– Foi o desempenho da indústria que decepcionou. No ano, estimamos um crescimento para o PIB industrial menor que os 10,4% registrados no ano passado. Nossa indústria sofre concorrência de importação de bens de capital e duráveis. É um cenário que prevalece em 2012 – disse ela.

Para este ano, o quadro começa parecido com o último trimestre de 2011: a indústria apresenta desempenho, com vendas mais fracas do setor automobilístico em fevereiro. Já no varejo, as vendas devem ganhar destaque, puxadas pelo aumento de 14% do salário mínimo. Para o primeiro trimestre do ano, o Citibank estima crescimento de 0,9% em relação ao trimestre anterior.

– Prevemos um crescimento de menos de 3,5% para 2012. Começamos o ano “carregando” a desaceleração no fim de 2011. Por isso, será necessário mais esforço da economia para crescer acima dos 3%. O anúncio de que a China diminuiu sua meta de crescimento não deve ter impacto significativo no Brasil. A Europa preocupa mais. Embora a hipótese de uma crise bancária esteja afastada, ainda existe o fator Grécia e pode haver um calote no processo de troca de dívida – disse Marcelo Kfoury, superintendente do Departamento Econômico do Citibank no Brasil.

Revisão de crescimento da China não deve afetar PIB de 2012

Mônica de Bolle, economista da Galanto, não acredita num “efeito China” sobre a economia brasileira, com a divulgação da redução de metas do país asiático – de 8,0% para 7,5%.

– Tradicionalmente, as autoridades divulgam uma expectativa que, na prática, não é uma meta, mas um piso de crescimento. Não vejo impactos para o PIB brasileiro.

Já o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, prevê  um crescimento de 0,3% do PIB no último trimestre de 2011, em comparação com a estagnação verificada no terceiro trimestre. Para ele, a indústria teve uma contração de 1,1% nos três últimos meses do ano, impactada pela indústria de transformação, resultado do ajuste de estoques iniciado em meados de 2011. Ele lembra ainda que a contribuição do setor externo deve vir negativa no quarto trimestre, com demanda global enfraquecida. Para 2011, o economista do Bradesco aposta numa expansão de 3%. E para 2012, 3,7%.