O PCB, o carnaval e as escolas de samba
Jornal Tribuna Popular de 08/02/1947
Heitor Cesar de Oliveira – membro do Comitê Central do PCB
O Carnaval é uma festa que está profundamente marcada na sociedade brasileira, refletindo suas contradições e disputas. Alguns por aí costumam dizer que carnaval é alienação, que se a energia gasta no carnaval fosse focalizada em outras demandas poderíamos mudar o mundo… Questão de opinião, e a minha é que isso é balela. Enquanto se samba se luta, e enquanto lutamos, carregamos diversos sambas na memória para nos inspirar na luta, afinal, acreditamos na rapaziada que segue em frente e segura o rojão.
Os comunistas sempre estiveram profundamente ligados à cultura popular brasileira, ao samba e à sua festa maior, que é o Carnaval. Uma prova disso é a ligação do PCB com as Escolas de Samba no Rio de Janeiro, com maior expressão e destaque nas décadas de 1940 e 1950.
Em 1934 foi fundada a União das Escolas de Samba, que viria a se chamar posteriormente União Geral das Escolas de Samba, com o objetivo de ajudar a organizar o desfile de Carnaval no Rio de Janeiro e buscar mais apoio tanto do poder público como de possíveis financiadores da folia na sociedade. Era uma época em que o samba, apesar de começar a ser aceito, ainda sofria preconceitos e perseguição da polícia e das autoridades.
Nos anos 1940, parte dessa perseguição se dava pela proximidade entre as escolas de samba e o PCB, que, inclusive em 1946 colaborou, através do seu jornal Tribuna Popular, com o concurso Cidadão do Samba. O PCB nesse ano organizou diversas reuniões e comícios nas quadras das escolas de samba pelo subúrbio carioca.
Em 1947 a prefeitura do Rio fundou a Federação Brasileira de Escolas de Samba, com o propósito de esvaziar a União das Escolas de Samba, que recebia o apelido de “União Geral das Escolas Soviéticas”, como forma de estigmatizar a entidade, associando-a aos comunistas. Foi um ano que intensificou a repressão e perseguição política no país, momento em que o PCB inclusive foi cassado e novamente posto na ilegalidade. Nesse clima de repressão, a sede da UGES chegou a ser lacrada por alguns dias pela polícia.
A perseguição continuou mesmo após o Partidão ser colocado na ilegalidade: a prefeitura passou a destinar verbas somente para as escolas filiadas à sua Federação. Além disso, ainda pairavam suspeitas de favorecimentos no julgamento das escolas nos desfiles. Tal situação fez com que a Mangueira e a Portela voltassem a fortalecer a União Geral. O cenário era tão caótico que em 1949 ocorreram dois desfiles: um vencido pelo Império Serrano, organizado pela FBES, considerado oficial pela prefeitura, e outro realizado pela UGES, vencido pela Mangueira.
Ainda em 1949, tentando salvar a UGES, dirigentes acusados de ligação com o PCB se afastaram da entidade, e mudaram novamente o nome da liga carnavalesca, desta vez para UGESB: União Geral das Escolas de Samba Brasileiras. Porém, as perseguições continuaram nos anos seguintes. Para o carnaval de 1950, outra vez com o objetivo de desestabilizar a entidade que manteria ligações com o PCB, foi criada a União Cívica de Escolas de Samba, a qual foi considerada oficial pela prefeitura, que somente concedeu verbas para as suas escolas filiadas, esvaziando novamente a União Geral.
Em 1951, Mangueira e Portela voltaram à UGESB, enquanto a União Cívica, considerada por muitos como artificial, não conseguia nem realizar o seu carnaval. No ano seguinte, diante da falência da União Cívica das Escolas de Samba, as agremiações começaram a pôr em prática o plano de novamente organizar uma disputa unificada. Como resultado dessa busca pela unidade e independência das escolas de samba em relação à Prefeitura, elas reunificaram os desfiles e criaram uma entidade única: a Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro.
Cuba Socialista também caiu no samba
Segue agora uma breve história de quando Cuba caiu no samba e, para isso, teve uma ajudinha do nosso carnaval, especificamente, de uma de nossas mais tradicionais escolas de samba.
A Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro sempre se apresentou não como uma escola melhor ou pior que as outras, mas como uma escola diferente. De fato, o Salgueiro foi e ainda é uma escola de samba muito diferente, marcando profundamente o nosso carnaval e nossa história.
O Salgueiro foi pioneiro em diversas áreas no que tange ao carnaval, mudando a forma de se fazer desfiles e de contar e cantar um enredo. Mas não foi somente nos desfiles que a Escola de Samba Salgueiro foi pioneira, sendo também pioneira em outras esferas.
Em 30 de abril de 1959 a Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro embarcou para Havana, Cuba. Naquele ano, a convite das autoridades revolucionárias cubanas, foi constituída uma delegação de sambistas brasileiros, que a princípio seria composta por portelenses e salgueirenses, mas, por coisas da vida, acabou sendo constituída somente de salgueirenses, para comemorar o 1º de Maio em Cuba após a Revolução e festejar a vitória contra a ditadura de Batista.
Apresentando-se na avenida do Malecón, a delegação salgueirense conquistou o entusiasmo e a alegria do povo cubano, fazendo um enorme sucesso e transformou o evento em um grande carnaval fora de época.
Viva o samba, viva o Carnaval, festa maior da cultura popular brasileira!
Viva o PCB, que sempre soube se identificar com as mais genuínas representações culturais da classe trabalhadora!