‘Rio+20 deveria propor IPCC da sustentabilidade’

As evidências científicas ainda não estão sendo incorporadas de forma efetiva nas ações em busca do desenvolvimento sustentável, e a Rio+20 deveria trazer, em seu documento final, um incentivo claro para isso. Essa é a opinião que será defendida por um grupo internacional de cientistas na conferência, de acordo com o pesquisador alemão Gisbert Glaser, do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU).

O órgão, juntamente com a Academia Brasileira de Ciências e o Ministério da Ciência e Tecnologia, realiza entre os dias 11 e 15 de junho, na PUC do Rio, o Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável. Na entrevista a seguir, Glaser sugere que, para acelerar a transição para um futuro mais sustentável, a conferência deveria apoiar um novo mecanismo de pesquisas sobre o assunto.

Do ponto de vista da ciência, qual é o principal problema do rascunho zero da Rio+20?

Ele ainda não é muito ambicioso. Não da forma que precisaria ser para que nos próximos dez anos avancemos para um desenvolvimento sustentável. Ainda não vemos compromissos mais fortes no documento, apesar de haver uma boa quantidade de boas propostas, relacionadas à  urgência de ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, reverter a perda de biodiversidade, parar a degradação das florestas, reduzir o desperdício e a poluição de água, assim como ações mais concretas para reduzir o número de pessoas vivendo em extrema pobreza, acesso à energia e à água limpa para todos.

Muitos pesquisadores têm declarado que falta ambiente ao documento. O senhor concorda?

De fato, muitos países em desenvolvimento, mas também alguns países ricos, têm dado uma ênfase maior ao desenvolvimento econômico e social no documento final. As questões ambientais não estão fortemente refletidas. Por outro lado, o impacto das atividades humanas sobre a natureza alcançou o nível em que atingimos alguns dos limites do planeta. Estamos realmente em risco de seriamente perturbar o funcionamento de alguns sistemas naturais. Na primeira conferência no Rio, não sabíamos que isso era tão sério. Mas, 20 anos depois, sabemos que estamos atingindo os limites do planeta e isso deveria estar claro no documento como uma preocupação para governos, sociedade civil, empresas, indústrias, todos.

O ICSU diz que a Rio+20 deveria ser um marco no desenvolvimento de um novo contrato entre ciência e sociedade. O sr. acha que a ciência ainda não está sendo considerada nas discussões?

Acho que ainda não o suficiente, tantos nas discussões quanto no documento que deve resultar da conferência. Mas temos de reconhecer que, nas últimas duas décadas, os cientistas evoluíram muito em analisar os problemas. Precisamos agora que a ciência pense mais em soluções. Essa seria a chave para um novo contrato entre ciência e sociedade. A comunidade científica precisa reorientar seu trabalho. Claro que temos de continuar analisando os problemas e as consequências que devemos ter se não agirmos urgentemente e na direção correta. Mas precisamos de um novo esforço de pesquisas que busquem por soluções e implementação. Já existem várias, mas não são aplicadas ou esse conhecimento nem sequer está acessível. Acredito que um incentivo a essa busca pela comunidade científica e tecnológica deveria estar no documento. É o que vamos propor nesta pesquisa que vamos lançar no fórum, a Future Earth.

O sr. pode adiantar algo sobre o conteúdo dessa pesquisa?

Precisamos começar a olhar para os problemas de modo mais integrado. Por exemplo, para realmente transformar as grandes metrópoles. Em vez de apenas olhar para os problemas futuros das mudanças climáticas, é hora de lidar com as situações que essas cidades já  enfrentam e que contribuem com as emissões de gases-estufa, com consumo dos recursos naturais, com a perda da biodiversidade. A ciência precisa ajudar a encontrar uma atuação mais integrada para os governantes e para quem está planejando as cidades. É o tipo de pesquisa para o qual deveríamos nos voltar daqui pra frente.

De que modo o sr. acha que isso deveria aparecer no documento final da Rio+20?

Nossa proposta é que o documento deveria apoiar o estabelecimento de um mecanismo global de facilitação para a ciência e a tecnologia para o desenvolvimento sustentável e a economia verde, com foco em cooperações entre Norte e Sul e entre Sul-Sul. Esse mecanismo deveria encorajar mais pesquisas e principalmente um melhor acesso e melhor aproveitamento desse conhecimento. Outra dimensão é em relação ao domínio da ciência para as políticas. Algo como o painel que existe para avaliar as pesquisas de mudanças climáticas, o IPCC. Precisamos de algo assim, que faça relatórios regulares da perspectiva do desenvolvimento sustentável.

 


Governo espera que maio seja o “mês da virada” para a economia

Valor Econômico

Na avaliação de economistas do governo, maio deverá ser o “mês da virada” do crescimento econômico. O ritmo fraco do primeiro trimestre começou a mudar, ainda que timidamente, na segunda quinzena de março, e continua neste mês. A aceleração da atividade, com aumento do consumo das famílias e reaquecimento do mercado de trabalho, ocorrerá no mês que vem, como efeito, inclusive, dos cortes nas taxas de juros cobradas pelos bancos comerciais.

Além disso, as projeções mais recentes do ritmo da arrecadação federal apontam para um crescimento neste ano de cerca de 6%, e não apenas os 4,5% esperados pela Receita Federal. Nesse caso, a aprovação de novos estímulos fiscais setoriais não está descartada, seja na ampliação da desoneração da folha de salários para outros setores ou mesmo a redução do IOF sobre operações de crédito.

Há uma conjunção de fatores que levam economistas oficiais a considerar que os indicadores mais fracos estão ficando para trás. “A recuperação e aceleração da economia ocorrerá neste segundo trimestre, ganhando força no último semestre”, disse ontem uma fonte da área econômica. O Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), que registrou taxas negativas em janeiro e fevereiro, e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que perde força mês a mês desde o fim do ano passado, tiveram uma ligeira melhora em março, mas vão apresentar um desempenho mais forte em maio, segundo essa mesma fonte.

Em queda desde 31 de agosto do ano passado, a taxa básica de juros deve ser novamente reduzida pelo Banco Central (BC) hoje. O efeito sobre a atividade, no entanto, ocorre com defasagem de seis a oito meses sobre a atividade, estimam os economistas. Assim, as consequências de uma Selic mais baixa começam a ser sentidos a partir do segundo trimestre. O governo conta, também, com uma melhora na oferta de crédito para consumo e investimentos, a partir da redução dos spreads dos bancos públicos e a adesão dos bancos privados a essa iniciativa.

Ontem, o Santander anunciou a redução dos juros dos empréstimos às pequenas empresas. Com o corte nos juros iniciado pelos bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa) há dez dias, e seguidos pelo HSBC na semana passada, o governo entende que, a partir de maio, o estímulo creditício ao consumo será pleno, funcionando como um incentivo ao aumento dos investimentos privados. Além disso, o governo aposta no pacote de estímulos anunciado há duas semanas para aquecer a economia no segundo semestre, quando as medidas, que envolvem principalmente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), devem entram em vigor.

A inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve atingir, também, em maio, seu menor nível no acumulado em 12 meses em quase dois anos. O IPCA deverá estar por volta de 4,8% a 4,9% nesse período, segundo estimou um técnico da área econômica. Desde setembro de 2010, quando o IPCA acumulado em 12 meses registrou 4,7%, a inflação não se situa abaixo de 5% – nos 12 meses terminados em setembro do ano passado, o IPCA chegou a acumular 7,31%.

Com a inflação em níveis mais próximos da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central (BC), o governo entende que poderá abrir um novo espaço para ampliar os estímulos fiscais para aquecer a economia.

A meta de superávit primário está mantida e o crescimento da arrecadação, decorrente não só do crescimento, mas também de conquistas judiciais adicionais, pode sustentar esses eventuais novos incentivos. Embora oficialmente a Receita Federal trabalhe com um aumento de 4,5% a 5% na arrecadação neste ano em relação a 2011, alguns técnicos já trabalham com um crescimento próximo a 6%.

Junta-se a esses fatores a desvalorização mais recente da taxa de câmbio. “O patamar do dólar [que ontem fechou a R$ 1,85] é  ótimo para as exportações e para os investimentos, o que dá  mais um sinal para os empresários de que a economia será mais forte”, afirmou a fonte.

 


Quase 20% dos planos de saúde desrespeitam prazos

O Estado de S. Paulo

Nos três primeiros meses de vigência da norma que determina prazos máximos para realização de consultas, exames e cirurgias, 193 (19%) das 1.016 operadoras de planos de saúde médico-hospitalares em operação no País foram alvo de pelo menos uma reclamação apresentada à  Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Das 370 operadoras odontológicas, apenas 7 (1,9%) provocaram reclamações.

A ANS recebeu ao todo 2.981 reclamações sobre esse tema entre 19 de dezembro de 2011, quando a norma entrou em vigor, e 18 de março. A agência não divulgou o nome das operadoras que descumpriram os prazos. A ANS produzirá balanços sobre esse tema a cada três meses.

Regras

Em 19 de dezembro, entrou em vigor a Resolução Normativa 259, que determina os prazos máximos que as operadoras têm para agendar atendimentos.

Desde que o serviço esteja disponível no município em que o paciente solicitar, os prazos para consultas variam de 7 a 14 dias úteis; os diagnósticos têm prazo máximo de 3 a 10 dias úteis; e procedimentos de alta complexidade e atendimento em regime de internação eletiva têm prazo de até 21 dias.

Os serviços de urgência e emergência têm de ser oferecidos imediatamente. Os prazos, que variam quando o serviço não é oferecido no município, são contados desde a data do pedido de atendimento até  a sua efetiva realização.

A operadora que não cumprir esses prazos está sujeita a multas (de R$ 80 mil a R$ 100 mil em caso de situações de urgência e emergência, por exemplo), além de punições administrativas, como a proibição da oferta de produtos.

Segundo a ANS, o consumidor que não conseguir agendar o atendimento no prazo máximo previsto deve entrar em contato com a operadora do plano para buscar uma alternativa.

Se a empresa não oferecer solução, o paciente deverá fazer a denúncia à ANS, pessoalmente em um dos 12 núcleos da agência, pelo 0800-701-9656 ou pelo site ans.gov.br.

Para comprovar o desrespeito ao prazo máximo estipulado, o cliente do plano de saúde precisa ter o número do protocolo de atendimento.

 


Bancos privados sinalizam novos cortes

Valor Econômico

Nos próximos dias, mais bancos devem anunciar campanhas de redução de taxas de juros, seguindo o movimento liderado por Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal no começo deste mês. Segundo o Valor apurou, os maiores bancos privados informaram ao Ministério da Fazenda que pretendem reduzir as taxas de suas linhas de crédito nos próximos dias.

Após um início atabalhoado de negociações com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a cruzada do governo Dilma Rousseff contra as margens de lucro (no conjunto do spread) dos bancos parece começar a render alguns resultados, pelo menos no discurso. Depois de BB e Caixa, Banrisul e HSBC lançaram suas campanhas.

Ontem, foi a vez do Santander. O banco anunciou a redução de diversas taxas de juros cobradas de pequenas e médias empresas do banco, mas negou que a medida esteja relacionada ao movimento iniciado por Banco do Brasil e Caixa. “Estamos treinando a equipe já há  90 dias. Não preparamos isso nos últimos 15 dias”, disse Pedro Coutinho, vice-presidente do Santander.

Segundo o executivo, o banco pretende ampliar seus negócios com pequenas e médias empresas no Brasil. “É um segmento terrivelmente importante para o país”, afirmou Coutinho. Em dezembro, a carteira de crédito do Santander para esse público alcançou R$ 48 bilhões, com crescimento de 25% em um ano.

Para ter acesso aos custos menores, os pequenos e micros empresários precisam ter contas de pessoas física e jurídica no banco. É  a chamada “conta integrada”. Além da redução dos juros, o banco está oferecendo ao empresário que migrar a conta corrente para o Santander uma redução de 50% no pacote de tarifas.

A estratégia comercial do banco está bastante associada ao uso de cartões de crédito e débito nos negócios. “Vimos que 75% dos nossos clientes que são pequenas e médias empresas têm a maquininha no estabelecimento”, disse o vice-presidente.

A taxa mínima para o capital de giro via cartão recuou de 1,88% para 1,54% ao mês, enquanto a máxima passou de 4,13% para 3,12% ao mês. A taxa do desconto de duplicata foi reduzida da banda de 2,15% a 3,89% para 1,99% a 2,97% e de recebíveis de cartão caiu da faixa de 2,54% a 3,27% para 1,5% a 2%. Por fim, a taxa de juros para o desconto de cheque recuou da faixa de 2,34% a 3,21% para 1,87% a 2,49%.

Procurados pelo Valor, Itaú Unibanco e Bradesco afirmaram que continuam analisando o assunto e que ainda não há decisão tomada sobre mudanças nas taxas de juros.

Para o analista João Sales, da consultoria Lopes Filho, mais bancos devem lançar campanhas de redução de taxas de juros ao consumidor nas próximas semanas. “É um espaço que vai se abrir naturalmente porque os bancos estão esperando a queda do índice de inadimplência no segundo semestre. Não há dúvidas em relação a isso”, disse o analista.

Pelos primeiros números divulgados pelos bancos estatais, BB e Caixa estariam aumentando os desembolsos. Na Caixa, a expansão do crédito comercial na primeira semana do programa “Caixa Melhor Crédito” – foi de 13% sobre a semana anterior.

No Banco do Brasil, o balanço de dois dias do “Bom pra todos” indica que a média de desembolsos do BB crediário subiu de R$ 396 mil em março para R$ 731 mil nos dois primeiros dias do programa (12 e 13 de abril).

Mas, para o analista Fabio Zagatti, do Barclays, ainda é cedo para se quantificar se os bancos que anunciaram reduções de taxas estão ganhando mercado. O banco ainda não revisou suas projeções de resultados para os bancos por causa do debate em torno do spread.

“Optamos por não mexer nos números porque, apesar de anunciarem reduções de juros, Banco do Brasil e Banrisul não alteraram as perspectivas de crescimento das carteiras de crédito deste ano”, disse Zagatti.

 


Brasil tem US$ 14 bi no país vizinho

O Globo

BRASÍLIA. Grandes empresas brasileiras já fincaram o pé  na Argentina há alguns anos e estão presentes em setores que vão desde petróleo e gás a mineração e alimentos, passando pelo sistema financeiro. Estima-se em US$ 14 bilhões o estoque dos investimentos diretos brasileiros no vizinho portenho neste momento. Mas este valor pode ser ainda bem maior, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO. Isso porque a projeção não inclui desembolsos que ainda serão realizados em projetos que já foram iniciados no país. A Vale, por exemplo, já aplicou US$ 1,2 bilhão de um empreendimento estimado em US$ 6 bilhões.

A lista dos principais investidores inclui a Petrobras, além de Marcopolo e Rondon nos setores de ônibus e caminhões. No início do ano passado, o Banco do Brasil comprou o Banco da Patagônia, sexta maior instituição financeira do país, com cerca de 750 mil clientes, 150 agências e 2,7 mil funcionários em todas as províncias do país. O Itaú  está presente há mais tempo na economia argentina, desde 1998, quando comprou o banco Buen Ayre.

Grandes companhias brasileiras estão ainda representadas em outro segmento importante da indústria argentina – o setor alimentício. Maior empresa em processamento de proteína animal do mundo, a JBS atua no país vizinho, assim como a Marfrig e a Brasil Foods.

O estreitamento comercial entre os dois países também se dá  no sentido inverso. Os argentinos têm cada vez mais investimentos no Brasil. Em janeiro deste ano, a argentina Ternium, fabricante de aço do grupo ítalo-argentino Techint, assumiu o controle de 27,7% das ações ordinárias da Usiminas. A Arcor e a Grobocopapel estão no Brasil, assim como o grupo argentino Corporación América, que é um dos sócios do novo controlador do aeroporto de Brasília, escolhido do recente leilão de concessão.

 


Brasil volta a emitir em reais no exterior

O Globo

BRASÍLIA. Depois de quase dois anos, o governo voltou a emitir títulos em reais no exterior. O Tesouro Nacional conseguiu ontem captar R$ 3 bilhões nos mercados americano e europeu por meio do lançamento do papel BRL, com vencimento em 2024. A operação foi considerada um sucesso pelos técnicos da equipe econômica, uma vez que a demanda chegou a R$ 5 bilhões e a taxa de juros para os investidores foi a menor já  registrada para um título em moeda brasileira: 8,6% ao ano. A emissão ainda poderá ser estendida ao mercado asiático num total de R$ 300 milhões.

O Tesouro informou ainda que, até o fim da semana, vai recomprar títulos em reais com vencimentos em 2016 e 2022. O estoque desses papéis hoje chega a R$ 6,5 bilhões.

A opção de emitir em reais e recomprar títulos reforça o arsenal que vem sendo utilizado pelo governo para conter a queda do dólar no país. Isso porque, ao ofertar esse tipo de papel no mercado internacional, o governo permite que aplicadores estrangeiros invistam no Brasil sem ter que ingressar com dólares no mercado doméstico. Isso reduz a pressão sobre o câmbio.

A última emissão em reais foi em outubro de 2010, com papéis vencendo em 2028.

 


Empresários temem onda de reestatizações e nacionalizações

O Estado de S. Paulo

O clima ontem em Buenos Aires em diversos setores empresariais era de relativo temor por uma onda de nacionalizações ou reestatizações, após a decisão do governo argentino de expropriar a petrolífera YPF. No entanto, o ex-vice-ministro da Economia e atual deputado kirchnerista Roberto Feletti, afirmou que o governo “não está implementando uma política de nacionalizações em massa”.

Feletti, que ficou famoso no ano passado ao declarar que era necessário “aprofundar o populismo”, disse ontem que o modelo de participação do capital privado “não precisa ser excluído”. “Existem numerosas empresas que poderiam investir, se tiverem condições. Nem tudo necessariamente tem de ser feito pelo Estado argentino.”

Segundo o vice-ministro da Economia, Axel Kicillof, a Repsol “colide com os interesses do país”. “Nosso projeto vai aumentar a produção petrolífera”, exclamou. Kiciloff, embora vice-ministro, é considerado o virtual chefe da pasta da Economia, formalmente nas mãos do ministro Hernán Lorenzino. O jovem vice-ministro, que se transformou no mentor econômico da presidente, disse em sabatina no Senado que “a YPF deverá ser alinhada com o modelo” kirchnerista.

Ontem, junto com Kiciloff, o ministro do Planejamento Federal, Julio De Vido, designado interventor da YPF, comemorou um virtual aumento de produção nas 24 horas transcorridas desde a expropriação: “Na refinaria da YPF na cidade de La Plata a produção cresceu 5%!”

Enquanto De Vido e Kicillof falavam aos senadores, chegava ao Senado o projeto de lei de expropriação da YPF. O governo tem maioria para aprovar o projeto na Casa. Um dos votos favoráveis, segundo analistas, seria o do ex-presidente e atual senador Carlos Menem, que passou de inimigo mortal do kirchnerismo a aliado do governo nos últimos três anos. Paradoxalmente, Menem foi o responsável pela privatização da YPF há 20 anos.

Os partidos de centro-esquerda e de esquerda da oposição, como União Cívica Radical (UCR), anunciaram que darão respaldo ao projeto do governo. O Proposta Republicana (PRO) afirmou que a expropriação “é  contrária os interesses dos argentinos”.

No plano externo, o governo Kirchner pretende conseguir o apoio da Petrobrás. Na sexta-feira, o ministro De Vido viajará ao Brasil para reunir-se com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e a presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster. O encontro, programado desde março, será em Brasília.

 


País deve “nacionalizar a Amazônia”

O Globo

O ambientalista Caetano Scannavino, morador e especialista da Região Amazônica, cobrou mais atuação do Brasil no desenvolvimento do território. Ele defende que os demais estados brasileiros, sobretudo o eixo Rio-São Paulo, devem “nacionalizar a Amazônia”, ou seja, se preocupar em se apropriar e conhecer melhor a região. Para Scannavino, há uma responsabilidade de todo o país com relação a este território. Coordenador da ONG Projeto Saúde e Alegria, Scannavino participou do evento “No Caminho da Rio+20”, no Rio.

– O custo é local, mas o benefício é global. É  um fato que o Brasil precisa de recursos. Só nós não temos condições de arcar com o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Isso não significa que perderíamos a soberania do território – afirmou ele.

O ambientalista disse que o Brasil pode ser vanguardista no questão do desenvolvimento social aliado ao econômico e ambiental na Amazônia, e vê na Rio+20 oportunidade de inserir o tema. Ainda assim, ele tem uma visão cética da conferência com relação à assinatura de acordos. Com base no Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), Scannavino mostrou que houve redução na destruição da floresta: em 1988, cerca de 21 mil quilômetros quadrados foram devastados. Em 2010, cerca de seis mil quilômetros:

– A velocidade das ações não acompanha a velocidade da destruição do meio ambiente.

Também presente no evento, o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Luiz Augusto Castro Neves, criticou a ausência e a tardia confirmação de chefes de estado na Rio+20. Até agora, o presidente Barack Obama praticamente descartou a participação na cúpula. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, também não se posicionou. Segundo a Embaixada da Alemanha, não há confirmação também da primeira-ministra Angela Merkel. Mas, segundo o Itamaraty, cem chefes de estado já confirmaram participação no encontro:

– O ambiente da Rio+20 não é dos mais animadores, não só porque vemos de um lado o mundo atravessando uma crise internacional muito séria; mas, além disso, porque os principais países, como França e Estados Unidos, estão em processo de eleições. E ninguém quer se comprometer com nada neste momento – avaliou o embaixador, acrescentando que a falta desses governantes enfraquece o encontro.

 


Petrobras pode ser a próxima vítima

Correio Braziliense

Terceira maior petrolífera em operação na Argentina — atrás apenas da YPF, então controlada pela espanhola Repsol, e da norte-americana Chevron —, a Petrobras acompanha de perto a crise aberta na segunda-feira com a reestatização da principal empresa do setor no país vizinho. A presidente da estatal brasileira, Maria das Graças Foster, terá na próxima sexta-feira uma reunião de esclarecimento com autoridades do governo argentino para discutir o novo marco regulatório do petróleo e a recente cassação da licença de uma área operada no lado de lá da fronteira.

“Temos boas relações com a Argentina e estávamos avaliando oportunidades futuras no país”, disse Graça Foster, como é  conhecida, ao ser surpreendida na tarde de segunda-feira pela notícia do confisco das ações da Repsol na YPF. No momento do anúncio da reestatização, ela conversava com a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, sobre potenciais investimentos na exploração do pré-sal.

A presidente da Petrobras já estava preocupada com a inesperada perda de uma concessão, informada no começo do mês, na província argentina de Neuquén, maior produtora de gás natural do país. O governo local argumentou que a medida era uma resposta à recusa da Petrobras em fazer investimentos suficientes para aumentar a produção.

Modelo

Graça Foster reafirmou ontem que foi surpreendida pela decisão da província e destacou que a estatal cumpriu o plano mínimo de desenvolvimento da área. Antes de se reunir com o ministro de Planejamento Federal e Obras Públicas da Argentina, Julio De Vido, atual interventor da YPF/Repsol, a executiva vai avaliar o tema com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

Ela ressaltou que a reunião com o ministro argentino já estava marcada e será importante para esclarecer todas as dúvidas, acrescentando que fará até amanhã reuniões internas na Petrobras para avaliar o quadro no país vizinho, onde estão os maiores ativos da estatal no exterior. Para justificar a decisão de encaminhar ao Congresso nova legislação, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, alegou que apenas estava seguindo o modelo brasileiro, por meio do qual o governo controla 51% da maior empresa local.

Ontem, a presidente da Petrobras voltou a defender que a empresa tenha uma política de “vazamento zero” de petróleo e derivados em suas unidades de produção. Nos últimos meses, casos de vazamento foram registrados em plataformas nas bacias de Santos e de Campos. “Dizem que isso (vazamento zero) não existe. Pode até não existir, mas eu quero”, cobrou.