Com Reino Unido, são 4 em recessão na UE

LONDRES, BERLIM e SÃO PAULO. A entrada do Reino Unido – e da Espanha – em um novo ciclo de recessão confirma o recrudescimento da crise na União Europeia, iniciado com o estresse financeiro em torno da renegociação da dívida grega no fim de 2011. Portugal e Itália, que como a Espanha enfrentam séria crise fiscal decorrente do excesso de endividamento do setor público, já estão em recessão técnica (dois trimestres seguidos com o PIB negativo) desde o ano passado, e o resultado do primeiro trimestre deve mostrar novas quedas na atividade.

Ontem, o Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido anunciou ontem que seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) recuou 0,2% no primeiro trimestre de 2012, configurando a segunda recessão britânica desde a crise financeira. O resultado surpreendeu as projeções, que em média apontavam para um crescimento de 0,1%. No último trimestre de 2011, a atividade do país já  havia recuado 0,3%

Alemanha prevê menos crescimento este ano

A expectativa entre os economistas é de que os indicadores negativos predominem neste período e só comecem a se estabilizar ao longo do segundo semestre, com alguma recuperação em grandes economias do bloco, como Alemanha e França. O Ministério da Economia da Alemanha anunciou ontem que sua economia vai crescer somente 0,7% este ano e só retomará um ritmo mais consistente de crescimento em 2013, quando deverá ter expansão de 1,6%. Já as perspectivas para os países em pior situação fiscal (Itália, Espanha e Portugal, entre outros) é de que fechem o ano com desempenho negativo do PIB.

– Os dados de Espanha e Reino Unido mostram que estamos no auge da segunda fase da crise na região, e que a recuperação da Europa vai ser muito longa – diz o economista Antonio Corrêa de Lacerda, da PUC de São Paulo.

As projeções mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) para os PIBs de Itália, Portugal e Espanha apontam para quedas de 1,9%, 3,3% e 1,8% respectivamente este ano. Alemanha (0,6%) e França (0,5%) ainda terão alguma expansão nas suas economias, mas no conjunto a economia da zona do euro deve encolher 0,3% em 2012, diz o FMI.

– Todo o estresse financeiro do fim do ano passado agora se materializa na economia real. Os agentes gradualmente perdem a confiança, ninguém investe e as pessoas relutam em consumir, o que acaba derrubando a atividade – diz Raphael Martello, economista da consultoria Tendências. – Essa primeira metade de 2012 vai ser ruim de maneira geral no bloco e as economias mais problemáticas serão as que mais sofrerão.

As injeções de liquidez promovidas pelo Banco Central Europeu (BCE) no início do ano, diz Martello, ajudou a regular a liquidez no setor bancário da região, mantendo o crédito fluindo. Isso não significa que se verá grande melhora no quadro econômico do bloco. Apenas estanca um pouco a queda na atividade.

– Ao longo do segundo semestre devemos ter a Europa mais estável, mas com algum crescimento só em 2013 – diz o economista da Tendências.

Felipe Queiroz, analista da Austin Rating, porém, vê limitações na capacidade do BCE estimular a economia do bloco.

– Com a demanda retraída e os déficits muito elevados não há  como os governos estimularem suas economias. E a ação do BCE não  é garantia de estímulo porque, sem confiança entre consumidores e agentes econômicos, pode haver um “empoçamento” de recursos, como já aconteceu antes – afirma Queiroz.

Lacerda, da PUC-SP, lembra que as políticas de austeridade adotadas pelos países mais afetados, como cortar salários, aposentadorias e investimentos, além de demissões em massa de funcionários públicos, são “mecanismos autofágicos”:

– Essas ações ajudam a recuperar certa confiança dos mercados, mas cobram seu preço do ponto de vista da atividade. É uma situação em que a Europa patina e é difícil isolar os países, o que torna a retomada mais complicada – diz Lacerda.

Para analistas, crise não deve rachar zona do euro

A continuidade do crescimento das economias emergentes, especialmente da China, combinada com a recuperação moderada dos Estados Unidos devem contribuir para a recuperação gradual da Europa, na avaliação de Martello, da Tendências, com a demanda de exportações da região.

– A Alemanha vai continuar crescendo, mas teremos vários anos de baixo crescimento no bloco, até que os países façam suas reformas para recuperar a estabilidade fiscal e a competitividade – prevê.

Apesar da fragilidade de alguns membros e da complexidade do processo de superação deste novo ciclo da crise na região, os economistas acham pouco provável que haja rupturas com a saída de membros da zona do euro.

– O preço de sair da zona do euro é mais caro e o bloco deve permanecer, mesmo com essas dificuldades – diz Lacerda, da PUC-SP.

 


Bancos europeus repatriam recursos do Brasil

O Estado de S. Paulo

No final do ano, bancos de todo o mundo cortaram seus empréstimos internacionais em quase US$ 800 bilhões, numa demonstração da incerteza que ronda a economia internacional, das dúvidas sobre a solvência dos bancos e principalmente diante das dúvidas sobre a capacidade da Europa em superar a crise. Dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) apontaram que dois terços dessa queda ocorreram na Europa.

No caso do Brasil, bancos estrangeiros cortaram empréstimos de US$ 5,1 bilhões nesse período. O ano de 2011 terminou ainda assim com um saldo positivo de US$ 7,6 bilhões extras em empréstimos ao País por causa dos resultados dos trimestres anteriores. Mesmo assim, o volume extra foi bem inferior aos US$ 19,5 bilhões a mais em créditos que o Brasil conseguiu em 2010.

Mas tomando apenas as atividades dos bancos europeus no Brasil, os dados revelam o tamanho da crise na Europa. A redução de todos os bancos europeus no País chegou a U$ 55 bilhões, com um total de empréstimos em dezembro de US$ 361 bilhões. Seis meses antes, os empréstimos eram de US$ 416 bilhões.

Grande parte desse fenômeno se explica por causa dos bancos espanhóis no Brasil. Em dificuldades na Espanha, as instituições repatriaram lucros de suas filiais no País e cortaram empréstimos no valor de US$ 24 bilhões.

Segundo o BIS, porém, o Brasil não foi o mais afetado. Os casos mais graves estão justamente nos países ricos, principalmente na Europa. No total, os empréstimos para essas economias foram reduzidos em US$ 626 bilhões. A desconfiança entre os bancos ainda é elevada. No período avaliado, as instituições reduziram seus empréstimos mútuos em quase US$ 500 bilhões, num sinal de que tinham sérias dúvidas sobre a solvência de seus parceiros diante da crise da divida na Europa.

Emergentes. Os países emergentes foram bastante afetados. A redução de empréstimos foi de US$ 77 bilhões e grande parte dessa queda ocorreu na China. Juntas, as economias asiáticas perderam US$ 67 bilhões.

Já na América Latina, houve uma elevação dos empréstimos, em US$ 9,7 bilhões, o único continente no mundo a fugir da tendência geral. Outra região que se viu afetada foi a Europa do Leste, que perdeu U$ 14 bilhões em empréstimos estrangeiros.

 


Pessoas procuram emprego e desocupação cresce em março

Valor Econômico

Apesar da elevação da taxa de desemprego em março, o ano deve ser positivo para o emprego, na avaliação de economistas da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A taxa, segundo eles, tem crescido devido ao aumento da população economicamente ativa (PEA). Animadas com a perspectiva econômica, mais pessoas entram no mercado.

De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desempenho (PED), realizada pelas duas entidades, a taxa de desemprego subiu para 10,8% – foi de 10,1% em fevereiro – em sete regiões metropolitanas. “Os trabalhadores estão otimistas e procuram emprego, e os empresários demitiram menos do que o normal para a época”, explicou Alexandre Loloian, do Seade.

A terceira elevação consecutiva da taxa não surpreendeu Ana Maria Belavenuto, do Dieese. “O desemprego em março decorre de pequeno aumento de 0,4% na PEA, o que representou 84 mil pessoas a mais na comparação com fevereiro.” Nas sete regiões metropolitanas, a PEA passou para 22,4 milhões de pessoas. No mesmo período, 92 mil postos de trabalho foram eliminados (queda de 0,5%). O contingente de desempregados aumentou 175 mil, para 2,4 milhões de pessoas.

O rendimento médio real dos ocupados cresceu 0,9% em fevereiro em relação a janeiro e passou para R$ 1.459. Na comparação com igual período do ano passado ficou estável. O maior valor foi registrado no Distrito Federal (R$ 2.254) e o menor na região metropolitana de Fortaleza (R$ 987).

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, é a primeira vez, desde junho de 2011, que o rendimento médio real dos ocupados não foi negativo. Em junho passado o rendimento tinha crescido 0,5% na comparação anual.

O rendimento real dos assalariados ficou em R$ 1.516 em fevereiro e se manteve praticamente estável ante janeiro (R$ 1.513), mas caiu 0,4% frente a fevereiro de 2011, na média das sete regiões.

A massa de rendimento dos ocupados cresceu 0,2% em fevereiro sobre janeiro, depois de cair 2,2% em janeiro frente a dezembro. A massa de rendimento dos assalariados caiu 0,6% em fevereiro, queda menos intensa que a de janeiro frente a dezembro (0,8%).

Das 92 mil vagas fechadas no mês passado, a indústria cortou 53 mil postos de trabalho, e a construção civil 35 mil. O item outros, que inclui serviços domésticos, fechou 47 mil vagas. Na direção contrária, o setor de serviços abriu 23 mil vagas e comércio criou 20 mil.

Em 12 meses, a indústria é o único setor que apresentou saldo negativo no número de vagas, com o fechamento de 59 mil postos de trabalho na comparação entre março deste ano e março de 2011. O setor de serviços apresenta o melhor resultado na mesma comparação, com a criação líquida de 380 mil vagas. No total, 602 mil vagas foram criadas nas sete regiões em 12 meses.

O fraco desempenho do emprego na construção civil em março, segundo Loloian, foi pontual. “O primeiro trimestre coincide com as chuvas, não é um período favorável para a construção civil. Mas esse foi um resultado muito pontual. Todas as indicações são de que o emprego no setor vai continuar crescendo.”

 


Desindustrialização e a ortodoxia

Valor Econômico – José Luis Oreiro

Recentemente alguns expoentes do pensamento ortodoxo ainda prevalecente no Brasil trouxeram à baila a velha cantilena de que a injustiça social reinante em nosso país é resultado das políticas desenvolvimentistas em voga desde a era Vargas, que protegeram o setor industrial, atuando assim como catalizador de um processo injusto de redistribuição de renda da maioria da sociedade para alguns poucos setores privilegiados da economia brasileira. O governo da presidente Dilma Rousseff estaria, portanto, reeditando os erros do passado ao adotar medidas de proteção da indústria nacional, as quais só irão gerar ineficiência na alocação de recursos e piora na distribuição de renda.

Ainda segundo os representantes de nossa ortodoxia, a industrialização só se justificaria com base na tese da “deterioração secular dos termos de troca”, ou seja, num contexto em que os preços dos bens primários apresentam uma tendência secular de redução comparativamente aos preços dos bens industriais. Como nos últimos anos os preços dos bens agrícolas têm aumentado relativamente aos preços dos bens industriais, então a indústria teria perdido a sua funcionalidade para o desenvolvimento de países como o Brasil.

Por fim, os paladinos da ortodoxia argumentam que a desvalorização cambial requerida para devolver a competitividade da indústria brasileira, se factível, levaria a uma redução permanente do salário real dos trabalhadores, sendo assim incompatível com os interesses das classes trabalhadora.

Essa argumentação da ortodoxia é falaciosa, pois se baseia em premissas incorretas e/ou em interpretações equivocadas a respeito dos fundamentos do pensamento desenvolvimentista.

Primeiramente, devemos ressaltar que atribuir à industrialização a culpa pela péssima distribuição de renda prevalecente em nosso país é, no mínimo, desconhecer a história do Brasil. Para vergonha de todos os brasileiros, nosso país foi o último lugar do mundo a acabar com a escravidão, ao final do século XIX, e isso por uma iniciativa pessoal do imperador D. Pedro II e de sua filha, a princesa Isabel (o que lhes custou o fim da monarquia). Além disso, a estrutura fundiária prevalecente no Brasil, definida desde os tempos das capitanias hereditárias, era (e ainda é) altamente concentrada.

Num contexto em que a propriedade era concentrada nas mãos de poucos e onde até quase o final do século XIX a esmagadora maioria da força de trabalho não recebia qualquer tipo de remuneração, não  é de estranhar que a distribuição de renda seja altamente concentrada na forma de rendimentos de propriedade (lucros, aluguéis, renda da terra) e, portanto, nas mãos de uma pequena minoria da população.

Ainda que desconsideremos as causas históricas da concentração de renda no Brasil, deve-se ter em conta que nas fases iniciais do processo de desenvolvimento econômico, quando a mão de obra é transferida dos setores de baixa produtividade (agricultura e mineração) para os setores de alta produtividade (indústria), os salários reais tenderão a crescer abaixo da produtividade do trabalho devido ao excesso estrutural de força de trabalho.

Nessas fases iniciais do processo de desenvolvimento, a participação dos salários na renda tende a permanecer estagnada ou a cair, o que gera uma tendência a concentração da distribuição pessoal da renda. Essa tendência à concentração de renda será revertida quando a economia alcançar o chamado “ponto de Lewis”, ou seja, quando o “exército industrial de reserva” for esgotado devido ao desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo industrial. Isso requer o término do processo de migração rural-urbano e a absorção da mão de obra existente pelos setores modernos da economia.

Em segundo lugar, a defesa da industrialização não depende unicamente da validade da “tendência a deterioração dos termos de troca”. Com efeito, a indústria é o motor de crescimento de longo-prazo das economias capitalistas por ser a fonte das economias estáticas e dinâmicas de escala, o setor que possui os maiores encadeamentos para frente e para trás na cadeia produtiva e ser a fonte ou o principal difusor do progresso técnico para o restante da economia. Nesse contexto, abrir mão da indústria significa condenar o país a um crescimento medíocre, se tanto, no longo prazo.

Em terceiro lugar, é verdade que a desvalorização da taxa real de câmbio produz uma redução do salário real, mas essa redução é apenas de caráter temporário. Isso porque se a desvalorização cambial for bem-sucedida, ela será capaz de, a médio e longo prazo, restaurar a dinâmica da economia, acelerando o crescimento do produto e da produtividade do trabalho. Se o ponto de Lewis tiver sido alcançado isso permitirá um crescimento mais rápido dos salários reais, fazendo com que, num intervalo curto de tempo, os trabalhadores mais do que compensem as perdas salariais.

Por fim, a desvalorização cambial não requer unicamente um aumento do superávit primário como afirmam os expoentes de nossa ortodoxia. Como boa parte da apreciação cambial brasileira deve-se à doença holandesa, a introdução de um imposto sobre a exportação de commodities, à semelhança do que a Austrália fez recentemente, atuaria de forma decisiva na eliminação da sobrevalorização cambial.

José Luis Oreiro é professor do departamento de economia da Universidade de Brasília

 


A YPF e o Brasil

Correio Braziliense

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

A estatização da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), a maior empresa da Argentina, foi destaque na imprensa internacional nos últimos dias. A maioria das análises focou nos custos que essa iniciativa vai trazer para o país, ao enfraquecer ainda mais o seu já baixo nível de segurança jurídica. Nenhum investimento está seguro, de forma que qualquer empresário vai pensar duas vezes antes de levar seu capital para a Argentina.

Vários analistas foram, porém, além dessa constatação. Alguns especularam sobre o que esse movimento revela sobre a situação mais ampla do país. Há quem argumente, por exemplo, que o objetivo principal do governo foi apoderar-se do lucro gerado pela YPF, em torno de US$ 1,2 bilhão ao ano. Seria, portanto, mais um passo em um caminho que também incluiu a sobretaxação das exportações agrícolas, a estatização dos fundos de pensão, a proibição de repatriação de lucros das mineradoras e a apropriação das reservas internacionais até então guardadas no Banco Central, para ficar nos episódios mais rumorosos.

Quem se alinha com essa visão considera que a dinâmica econômica argentina é insustentável, caminhando para uma crise cambial, mesmo que esta não seja iminente. Medidas como a expropriação da YPF serviriam apenas para dar sobrevida a um modelo econômico fadado ao fracasso. As semelhanças com o modelo chavista, mesmo que involuntárias, vão ficando mais evidentes.

Também se enfatizou o gradativo isolamento internacional do país. Esse começou com o calote da dívida externa, até certo ponto inevitável, continuando com o crescente protecionismo e o rompimento de contratos, que tornaram a Argentina campeã de reclamações em conselhos de arbitragem internacional e na Organização Mundial do Comércio. A expropriação da YPF vai aumentar o isolamento diplomático do país, reduzir os graus de liberdade da política econômica e reforçar o seu caráter nacionalista e estatizante.

Outras matérias situaram a estatização no contexto histórico, lembrando que essa não foi a primeira vez, nem será a última, que uma empresa multinacional é estatizada. John Gapper chama a decisão de Cristina Kichner de óbvia, mas também de “estúpida”, já que agora vai caber ao governo argentino arranjar dinheiro para bancar os investimentos necessários para desenvolver o setor de energia do país (Financial Times, 18/4). Eduardo Lora observou que a América Latina vive ciclos recorrentes de estatizações e privatizações (Valor, 20/4): estatiza-se quando os preços dos recursos naturais estão altos e a expropriação dá ao governo recursos para fazer favores políticos; privatiza-se quando a eficiência e o investimento dessas empresas caem e essas viram um dreno para as contas públicas.

Algo surpreendentemente, porém, pouco se discutiu sobre as implicações desse acontecimento para o Brasil. Há, a meu ver, três que merecem atenção. Primeiro, a tendência é que a política econômica argentina avance em um grau crescente de radicalismo, na tentativa de lidar com seus desequilíbrios intrínsecos. Não se deve descartar que as empresas brasileiras com investimentos no país também sejam alvo de expropriações. Tanto o setor privado como o governo brasileiro deveriam ter planos contingentes para responder a isso, idealmente de forma mais eficaz do que vem ocorrendo na esfera comercial.

Segundo, não é claro como a expropriação da YPF vai afetar a visão que os investidores estrangeiros têm do Brasil. De um lado, o Brasil vai se tornar, em termos comparativos, um destino mais atraente para os investimentos estrangeiros na região. De outro, há o risco de que as pessoas comecem a se perguntar se algo parecido não pode vir a ocorrer no Brasil futuramente. Afinal de contas, quando a Repsol comprou a YPF nos anos 1990, a Argentina também era vista como um país ideal para as multinacionais investirem. Para evitar esse risco, temos de fortalecer cada vez mais as instituições que garantem a segurança jurídica no país.

Terceiro, devemos aprender com o que acontece na Argentina. O governo argentino vem há anos controlando os preços em baixos patamares. No curto prazo, isso rendeu dividendos políticos, mas com o tempo a oferta diminuiu, pela falta de novos investimentos. Não dá para controlar preços e quantidades ao mesmo tempo. Também por aqui esse fato não parece ser bem compreendido. Infelizmente, também no Brasil não se nota um completo entendimento dos prejuízos que vão advir do crescente intervencionismo na economia.

 


Lula vai a Dilma e acerta discurso único para CPI

O Globo

No primeiro dia de funcionamento da CPI mista do caso Cachoeira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou quatro horas reunido com a presidente Dilma Rousseff e alguns ministros, no Palácio da Alvorada, para defender sua posição favorável à investigação e unificar o discurso do PT e do governo no Congresso. Nas conversas de ontem, Lula repetiu sua tese de que a investigação será a oportunidade de atacar os opositores do governo que estão sob suspeita, ainda que isso represente eventuais perdas no próprio PT.

Paralelamente à reunião de Lula com Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão, teve reuniões com o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), um dos alvos da oposição na CPI Mista, e, depois, com parlamentares do partido que integram a comissão, também para unificar o discurso. Falcão negou que o PT não esteja apoiando Agnelo, mas, nos bastidores, já se fez o cálculo: se Agnelo tiver problemas com Cachoeira, não terá como ser preservado.

À noite, no Congresso, os líderes petistas foram orientados pelo Palácio do Planalto a ter sobriedade e conter os arroubos na CPI, mantendo o foco já estabelecido. Delimitar, por exemplo, a investigação a contratos da Delta que já estão sob suspeitas.

O ministro da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, que esteve no almoço e é considerado um interlocutor de Lula no Planalto, já  estaria trabalhando para convencer o ex-presidente a se acalmar e “tirar a faca dos dentes”.

Um dos maiores temores do governo e do PT é em relação ao magoado ex-diretor do Dnit Luiz Antonio Pagot, que pode comprometer o governo, ao escancarar detalhes de contratos do Ministério dos Transportes com a construtora Delta. Foi diante de argumentos como esses que Lula estaria moderando o tom beligerante em relação à CPI.

Divergência sobre relator

Outra suposta divergência entre Lula e Dilma foi na escolha do relator da CPI. Enquanto Lula brigou pela indicação do ex-líder Cândido Vaccarezza (PT-SP), considerado incendiário, Dilma queria o líder do PT na Câmara Paulo Teixeira (PT-SP). Com o impasse, a escolha recaiu sobre o mineiro Odair Cunha.

– A conclusão hoje é que a escolha do Odair Cunha para relator da CPI foi a melhor, justamente por causa da sua sobriedade – disse um dos participantes da reunião no Alvorada.

Oficialmente, Lula foi a Brasília para participar do lançamento do documentário “Pela primeira vez”, de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial dos seus dois mandatos. O filme conta a passagem do poder dele para Dilma. O lançamento ontem, no Museu da República, foi muito concorrido com a presença de cerca de 20 ministros, além de ex- ministros como José Dirceu, Márcio Thomaz Bastos e Franklin Martins – este último participou do almoço no Alvorada.

Na chegada para ver o filme, Lula e Dilma evitaram falar com a imprensa. Questionado se os dois haviam “acertado os ponteiros” na reunião que tiveram mais cedo, Lula afirmou:

– Nosso relógio é suíço. Jamais ele vai ter que atrasar nem adiantar. Nós nunca temos que acertar ponteiros.

Dilma desconversou ao ser questionada sobre o almoço que reuniu no Alvorada, além de Lula e Gilberto Carvalho, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Mercadante (Ciência e Tecnologia). Em parte da reunião, Lula e Dilma falaram a sós.

– Foi ótimo, a comida estava ótima – disse Dilma.

O ex-presidente foi a Brasília em jato fretado pelo Instituto Lula. O aluguel estimado é de cerca de R$ 30 mil.

 


Caixa reduz juros para financiamento habitacional

O Estado de S. Paulo

A Caixa Econômica Federal anunciou ontem a terceira rodada de redução dos juros em menos de um mês, dessa vez para a contratação de financiamentos habitacionais. A mudança beneficiará, porém, apenas as pessoas que fizerem empréstimos a partir de 4 de maio. Financiamentos assinados antes dessa data não serão contemplados. Quem já fechou negócio, mesmo que há pouco tempo, também não poderá renegociar a taxa.

A queda dos juros para os imóveis vai depender do grau de relacionamento que as pessoas pretendem ter com o banco. Se o interessado em comprar um imóvel de até R$ 500 mil, por exemplo, não quiser abrir uma conta, o juro do financiamento ficará 10% mais barato. Mas, se a pessoa aceitar abrir uma conta e ainda passar a receber o salário na instituição, o empréstimo ficará 21% mais barato.

A redução na taxa segue a direção iniciada este mês pelo também estatal Banco do Brasil, seguindo uma orientação do governo, e que já atingiu segmentos como cheque especial e financiamento para automóveis. Os bancos privados também já anunciaram quedas em várias taxas, mas, para analistas, teriam menos fôlego para fazer o mesmo com o crédito habitacional, onde a margem é menor.

Mudança. Para imóveis dentro do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), de até R$ 500 mil, as taxas efetivas cobradas pela Caixa hoje são de 10% ao ano para o público geral e 8,9% para clientes com “relacionamento”. Essas taxas caem agora para 9% e 8,4% ao ano, respectivamente. Haverá ainda taxa de 7,9% ao ano para clientes que passem a receber seu salário pelo banco.

Para imóveis acima de R$ 500 mil, os juros hoje são de 11% ao ano para o público geral e 10,5% para cliente com relacionamento. Essas taxas caem para 10% e 9,2%, respectivamente. Quem recebe salário no banco paga 9%.

Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac), num empréstimo de R$ 500 mil com taxas de 11% ao ano, o consumidor pagaria, durante dez anos, 120 parcelas mensais de R$ 6.729,96. Se a taxa cair para 10%, o ganho total seria de R$ 27 mil – a parcela mensal cairia para R$ 6.497,28, uma economia de R$ 232 ao mês.

FGTS. A Caixa também vai reduzir a taxa máxima para financiamento de imóveis de até R$ 170 mil, que são bancados com recursos do FGTS. O juro cai de um teto de 8,47% para 7,9% ao ano, para clientes que recebem salários no banco. Se o cliente for cotista do FGTS, a taxa será de 7,4% ao ano. A queda dos juros começa a valer no mesmo dia em que a Caixa dá início ao 8.º feirão de imóveis, que vai até 10 de junho. Serão oferecidos mais de 430 mil imóveis em 13 cidades.

Embora a redução dos juros seja uma determinação do governo, a Caixa também diz que se trata de estratégia empresarial e que o aumento de volume de empréstimos vai compensar a redução dos juros.

Segundo o vice-presidente de Governo e Habitação da Caixa, José  Urbano Duarte, o banco deve rever a previsão de contratação de crédito habitacional neste ano de R$ 90 bilhões para até R$ 100 bilhões. No ano passado, foram R$ 80 bilhões. Neste início de ano, já  houve um aumento de 43% nessas operações.

Urbano Duarte diz ainda que a taxa de inadimplência é de apenas 1,7% nos financiamentos habitacionais e de 5% nos outros empréstimos, bem abaixo dos 7,4% da média do mercado.