Morte de trabalhadores rurais cresce 50% nos primeiros meses do ano

O número de mortes de trabalhadores rurais cresceu 50% nos primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2011. Foram mortos 12 trabalhadores em seis Estados, segundo a Comissão Pastoral da Terra. De janeiro a abril do ano passado, oito trabalhadores haviam sido assassinados por questões agrárias e conflitos rurais.

Segundo Isolete Wichinieski, da coordenação nacional da comissão pastoral, “a violência se dá por conta da pressão da fronteira agrícola, dos madeireiros e de ameaças em disputa pela terra”. Ela conta que trabalhadores são mortos por denunciar o trabalho das madeireiras ilegais e que as ameaças de morte cresceram 80% em 2011. “Os números do começo desse ano podem ser um resultado desse aumento”.

Questão quilombola

A demora na regulamentação de terra quilombolas também gera conflitos graves. No ano passado, a pastoral registrou uma morte no Maranhão por conflito entre moradores da comunidade do Rosário e grileiros. “Eles ainda não tiveram a demarcação da região que ocupam e por isso há uma forte disputa pela terra. Os fazendeiros vão grilando as terras da comunidade”, diz a coordenadora.

Valdenilson Borges tinha 24 anos e foi morto com duas facadas numa das regiões onde há maior incidência de conflitos entre quilombolas e grileiros, segundo a pastoral. A regulamentação de terras quilombolas começou a ser julgada nesta semana pelo Supremo Tribunal Federal, mas pedido de vista suspendeu a sessão.

As mortes ocorrem, em geral, a mando de fazendeiros. “Normalmente quem mata são jagunços, pessoas que trabalham nas fazendas ou são contratados para matar, caso típico dos pistoleiros”, diz Isolete. Os dados da pastoral mostram que o número de pessoas vivendo sob ameaça de pistoleiros cresceu 18% ano passado, chegando a mais de 45 mil.

Um desses casos resultou na morte de Raimundo Alves Borges, presidente do assentamento Terra Bela, no município de Buriticupu, Estado do Maranhão. Ele foi morto a tiros por pistoleiros no último sábado, dia 14 de abril, segundo a Comissão Pastoral da Terra do Estado. Raimundo, conhecido como “Cabeça”, denunciou a venda de terras do assentamento, operação ilegal em um projeto de reforma agrária. Ele também disputava na justiça a posse de terras na região.

Para Isolete, a um trabalho que tem ajudado nos conflitos são comitês de resolução de conflitos criados pela Ouvidoria do Ministério do Desenvolvimento Agrário. “O comitê se reúne quando existe conflito e permite conversações. São negociadas a saída, os prazos e às vezes é possível conseguir algum tempo a mais para a permanência das famílias [em terras a serem desocupadas]”. A coordenadora da pastoral diz, no entanto, que nem sempre as famílias são ouvidas nessas reuniões.

 


Governo quer que bancos dividam ganho com cliente

O Estado de S. Paulo

Em mais uma ofensiva para pressionar os bancos, o governo decidiu ontem que as instituições financeiras terão de dividir com seus clientes os ganhos trazidos por fusões ou aquisições. A medida, que pode gerar tarifas mais baixas aos correntistas, se soma à forte ação dos bancos oficiais para derrubar os spreads – diferença das taxas obtidas e cobradas pelas instituições financeiras. Primeiro, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal anunciaram juros menores para vários serviços. Depois, voltaram a reduzir os juros para acompanhar o corte da taxa básica (Selic). As medidas começaram a ser seguidas pelos bancos privados, que eram, desde o início, o

alvo do governo. Nos dois últimos dias, a Caixa anunciou novos cortes nos juros de imóveis, móveis e de taxas de administração de fundos.

A partir de agora, os bancos terão de reverter em benefícios aos consumidores parte dos lucros obtidos com ganhos de escla e de produtividade em fusões e aquisições de rivais. E os benefícios aos clientes terão de ser registrados por escrito, em um contrato fechado com o Banco Central. O BC avalia não só a questão da solidez financeira, mas também questões ligadas à concorrência e direito dos clientes. Apesar da nova exigência, o BC avalia que essa não é mais uma medida para colocar as instituições financeiras contra a parede. “Não é para apertar os bancos. Isso será feito para que não haja ganho unilateral”, disse o chefe da consultoria que analisa atos de concentração do BC, Mitchurim Borges Diniz. “Como o banco vai ter ganho com uma operação e com aumento de receita, que dividam (esses ganhos) com os usuários, melhorando o atendimento, por exemplo”, disse Diniz.

Caso a caso. As condições dos contratos serão fechadas caso a caso, de acordo com as características dos bancos e das operações. Quando dois bancos avisarem ao BC que vão fazer uma fusão, o caso será  estudado e uma negociação será aberta para definir como repartir com os consumidores os ganhos da operação. Dessa forma, ao fechar o negócio, o banco não poderá pôr na conta antecipadamente quanto deixará de ganhar no total com a fusão ou compra, pois não terá ainda conhecimento dos itens do contrato. Além dos compromissos, as cláusulas também tratarão de penalidades, caso o acordo não seja cumprido. Recentemente, o Conselho Monetário Nacional (CMN) também determinou que o BC não fosse apenas comunicado das operações, mas passasse a ser consultado previamente sobre as negociações. Além de comunicar o BC sobre as operações de fusão e aquisição, os bancos levam os casos ao Cade. Há uma disputa entre as duas instituições sobre a quem cabe fazer análises de concorrência no setor.

 


“Consumo pode levar ao fim do mundo”

O Globo

BRASÍLIA. O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse ontem que o mundo se acabaria, caso todos passassem a consumir bens e produtos da mesma forma que os ricos o fazem. Na quarta versão do seminário “Diálogos Sociais: Rumo à Rio+20”, o ministro defendeu que se busque “o caminho do meio” na relação de consumo e assegurou que o Brasil está fazendo todos os esforços para que o evento seja um sucesso, do ponto de vista logístico e de conteúdo.

– Os muito ricos, tanto na sociedade brasileira, como no mundo todo, não praticam desenvolvimento sustentável, uma vez que o excesso de consumismo é inviável. O mundo se acabaria rapidamente se fosse universalizado o padrão de consumo das elites e, cá entre nós, o nosso, muitas vezes – disse Carvalho.

No mesmo evento, há um mês, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, mencionou que o padrão de consumo das sociedades será um dos principais temas da Rio+20. Na ocasião, disse que é insustentável que os habitantes do planeta adotem o mesmo padrão de um americano médio, que consome por dia cerca de 38 quilos de recursos naturais.

No debate de ontem, os palestrantes disseram que é preciso estimular ações não degradantes e taxar as que causam a destruição do meio ambiente. Entre eles, o senador Cristovam Buarque se mostrou pessimista quanto aos resultados da Rio+20. Ele sugeriu que meios de transporte públicos sejam isentos de impostos e os carros particulares, sobretaxados:

– Sou muito pessimista quanto aos resultados da Rio+20. Cada chefe de Estado quer dar uma solução ao seu problema e não ao do planeta. Seria suicídio o Obama vir aqui, três meses antes das eleições, dizer que o desenvolvimento causa degradação.

Brasil é acusado de adotar política “esquizofrênica”

Antes dele, Carvalho reconheceu que alguns chefes de Estado não estarão presentes à conferência por causa das eleições em seus países, mas destacou que já há confirmação de cem líderes mundiais e que a conferência será “muito representativa”.

Na sessão de debates, participantes questionaram as opções do governo de investir em empreendimentos danosos ambientalmente, como o pré-sal. A analista do Banco Central Maria de Fátima Cavalcanti foi aplaudida ao classificar a política do governo brasileiro como “esquizofrênica”.

– A política brasileira é bipolar, esquizofrênica. Se vou investir pesado no petróleo e no pré-sal e quero desenvolvimento sustentável, parece que tem uma incoerência aí nesse rumo – disse, deixando claro que não falava em nome do BC.

 


Mesmo com economia fraca, renda real tem forte avanço

Valor Econômico

A renda real dos trabalhadores cresceu forte em março – 1,6% sobre fevereiro e 5,6% sobre igual mês de 2011. O resultado veio acima do esperado e reforçou preocupações quanto à inflação, mas deve ajudar o consumo. Para economistas consultados pelo Valor, o forte crescimento da renda real em março não reflete apenas o aumento de 14% do mínimo, mas principalmente uma conjuntura ainda favorável a reajustes salariais robustos, cenário que deve se manter ao longo do ano e ajudar na recuperação da atividade econômica. Por outro lado, ponderam eles, a demanda aquecida seguirá como fator de pressão sobre a inflação de serviços – setor que puxou a escalada dos rendimentos.

Na passagem de fevereiro para março, o rendimento médio real nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) subiu 1,6%, maior aumento mensal desde julho de 2011. Ele atingiu R$ 1.728,40, valor mais alto para todos os meses da série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), iniciada em 2002.

Na comparação com março do ano passado, o avanço foi ainda mais intenso, de 5,6%, influenciado por serviços e construção civil. No segmento outros serviços – no qual têm peso relevante serviços pessoais – a renda saltou 9,7%, maior variação entre os sete ramos de atividade pesquisados, seguido de perto pela construção (9,2%) e serviços domésticos (8,4).

Nesses três ramos da economia, explica Fabio Romão, da LCA Consultores, o mínimo tem um alto poder de indexação, mas, especialmente na construção e nos serviços domésticos, a escassez de mão de obra é o que está turbinando os ganhos dos profissionais. “O setor da construção civil é o pior dos mundos para quem está pagando. Falta mão de obra treinada em um setor muito dinâmico”, diz. Nos serviços pessoais, acrescenta o economista, a procura continua firme, sustentada pela renda crescente, o que também acaba por melhorar os rendimentos. ” Em alguns casos, esses serviços nem sentiram a desaceleração da atividade.”

Os setores com maior ganho de renda no último ano também são aqueles com menor taxa de desemprego. Na construção, a taxa de desemprego passou de 3,7% para 3,1% entre março do ano passado e março deste ano, enquanto para o emprego doméstico a taxa está hoje em 2,5%, e para trabalhadores em serviços ela é de 3,2%.

Na indústria, que atravessa um momento de estagnação, a alta anual da renda é um pouco maior, de 5,5%, mas na comparação com fevereiro, a alta é de apenas 0,2% (bem inferior à média de 1,6%). Romão não vê o ganho anual como tendência, já que a produção segue andando de lado. Em março, segundo o IBGE, o número de ocupados nas fábricas ans seis regiões metropolitanas cresceu 1,9% sobre igual mês de 2011, acima da média de 1,6%.

“O poder de barganha do trabalhador está muito alto”, afirma Fernanda Consorte, economista do Santander. Apesar deste primeiro trimestre não concentrar um grande número de negociações salariais, diz a analista, os reajustes já concedidos no começo do ano acompanhados por ela superaram a inflação. Em sua projeção, a renda real dos trabalhadores vai crescer 6,5% este ano, mais que o dobro do ano passado, com do mínimo.

A LCA estima que o ganho real dos trabalhadores vai crescer 3,8% em 2012, um ponto percentual acima do observado em 2011. O aumento do mínimo tem papel importante nesse cenário, avalia Romão, assim como a perda de fôlego da inflação, que, além de impulsionar o poder de compra, facilita as negociações salariais.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como base para corrigir os salários, acumulou alta de 4,97% nos 12 meses encerrados em março e vem recuando desde setembro de 2011, quando atingiu seu pico de 7,3%. “Quanto menor a inflação acumulada em 12 meses, maiores são as possibilidades de se obter ganho real”, diz Romão, para quem a própria taxa de desemprego baixa joga a favor dos trabalhadores.

A desocupação subiu de 5,7% para 6,2% entre fevereiro e março, mas, para os economistas, ainda é muito baixa, o que abre espaço para reajustes salariais maiores. A taxa de desemprego ainda é  a menor para os meses de março desde 2002. Parte do aumento do desemprego entre fevereiro e março decorreu do aumento do contingente que decidiu procurar emprego – no mês, 156 mil pessoas entraram na População Economicamente Ativa (PEA), dos quais 35 mil conseguiram uma ocupação e os demais aumentaram o número de desempregados.

Para Rafael Bacciotti, da Tendências, o aumento do mínimo, concedido em janeiro, pode ter surtido impacto maior na renda apenas em março. “O efeito do reajuste do mínimo pode ter alguma defasagem, entrando tanto no começo, como no fim do trimestre, dependendo da forma como são negociados os salários, formal ou informalmente”, explica.

Após conhecer os dados de março, Fabio Ramos, da Quest Investimentos, revisou de 2,5% para 4,5% sua estimativa para o aumento dos salários reais em 2012. Neste momento, observa Ramos, o poder de compra maior está se transformando em consumo de bens semi e não duráveis – como alimentos e vestuário, por exemplo – devido ao alto endividamento do consumidor. Na segunda metade do ano, porém, está no radar do analista um crescimento maior do crédito, que irá acelerar as vendas de duráveis e, consequentemente, o ritmo da atividade econômica.

Segundo Romão, da LCA, a trajetória de alta da renda deve ajudar a “tirar as pessoas de uma situação complicada” em uma conjuntura da inadimplência ainda elevada, e, em um segundo momento, incentivar o consumo. “Isso reforça nossa projeção de aceleração do PIB [Produto Interno Bruto] na segunda metade do ano”, diz.

Se, por um lado, o aumento real da renda estimula a atividade, não dá refresco à inflação de serviços, que continua rodando na casa dos 9% em 12 meses. Mesmo com um primeiro trimestre tranquilo para o IPCA, diz Ramos, da Quest, “não há tentação nenhuma” em revisar projeções de inflação para baixo devido à resiliência dos serviços.

Em relatório, a equipe econômica do HSBC aponta que o “impressionante crescimento dos salários reais ainda evidencia os riscos de inflação alimentada por salários no Brasil” e, ao mesmo tempo, deve seguir sustentando a expansão da demanda doméstica.

 


Fiesp detecta recuo de 4% na atividade em março

Valor Econômico

O Indicador de Nível de Atividade (INA) da indústria de transformação paulista caiu 0,5% em março, na comparação dessazonalizada com fevereiro, segundo pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Na comparação com março de 2011, o INA caiu 4%. Como reflexo da retração, a indústria trabalhou com menor ociosidade. Em março, o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) ficou em 81,4%, com ajuste sazonal, abaixo dos 82,1% de fevereiro.

A estagnação da indústria de transformação de São Paulo abrange todos os setores, segundo Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp. “Não há um setor com desempenho melhor ou pior que a média. A indústria está parada, sem que se destaquem setores que puxem o conjunto para cima ou para baixo.” Em crises anteriores era possível perceber um ou outro segmento que dava fôlego à indústria, o que não acontece desta vez, diz Francini.

A indústria automobilística, embora tenha avançado 5,9% entre fevereiro e o mês passado, acumula queda de 4,4% nos 12 meses encerrados em março. Neste período, a indústria de transformação paulista se contraiu 1,8%.

Os esforços do governo para reativar a indústria de transformação não serão capazes de promover um novo ciclo de crescimento no setor ainda neste ano, avalia Francini, que estima estagnação para o setor em São Paulo e no país. “Só deveremos ver melhora no começo do segundo semestre. Há vários fatores que favorecem uma recuperação da indústria, mas os efeitos não são imediatos”, disse, citando como exemplo a redução na taxa básica de juros, a valorização do real ante o dólar e a pressão para queda do spread bancário.

A Fiesp prevê que a economia brasileira crescerá 2,6% neste ano, com a indústria se expandindo 1,4% no período. No primeiro trimestre, a estimativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha aumentado 0,7% em relação ao quarto trimestre de 2011, com ajuste.

 


Após YPF, Vale reavalia projeto de exploração de R$ 4,7 bi na Argentina

O Globo

SÃO PAULO. A Vale está reavaliando a realização do projeto de exploração de potássio de Rio Colorado, na Argentina, afirmou ontem Murilo Ferreira, presidente da mineradora. Segundo ele, a empresa está preocupada com a situação econômica do país vizinho, particularmente com o risco de hiperinflação, e também com as incertezas políticas, motivadas pela recente renacionalização da petrolífera YPF, que era controlada pela espanhola Repsol. A empresa prepara uma análise detalhada de toda a situação do projeto e da Argentina, que deve ser apresentada ao seu Conselho de Administração já em meados do próximo mês.

– Nós já estávamos fazendo verificação por conta de uma potencial explosão inflacionária, prevista pelos analistas, quando aconteceu esse evento político (a reestatização) – disse Ferreira.

O projeto de potássio em Rio Colorado está orçado em US$ 4,7 bilhões e inclui, além do desenvolvimento de uma mina com capacidade de 2,4 milhões de toneladas de potássio por ano, a construção de um ramal ferroviário de 350 quilômetros e instalações portuárias e termelétricas.

Companhia espera aumento na demanda por minério

O potássio é a principal matéria-prima para a produção de fertilizantes. O desenvolvimento da exploração em Rio Colorado poderia colocar a Argentina entre os cinco principais produtores da matéria-prima de fertilizantes no mundo.

– O evento político (nacionalização da YPF) é mais um elemento, mas não é exclusivo. Temos outros fatores como impostos, portos, ferrovias. É uma série de elementos que já estávamos verificando – frisou Martins, ao ser questionado sobre se a nacionalização da petrolífera havia sido o fator preponderante para a reavaliação do projeto.

A decisão de rever o projeto na Argentina foi comunicada ontem a analistas e jornalistas durante teleconferência para detalhar os dados do balanço da mineradora relativos ao primeiro trimestre deste ano.

Depois de anunciar lucro líquido de R$ 6,7 bilhões no primeiro trimestre, volume 40,5% menor que o obtido no mesmo período de 2011, os executivos da Vale informaram ontem que esperam uma recuperação da demanda global por minério de ferro, o que elevará a cotação da commodity e contribuirá com os resultados da companhia, que é a maior produtora de minério de ferro do mundo.

Tonelada do minério pode chegar a US$ 180

O preço médio da tonelada do minério está cotado hoje em US$ 145. Mas para a mineradora, no cenário atual, essa cotação pode chegar a US$ 150 a tonelada, um nível “razoável” na avaliação do presidente da Vale.

Ferreira disse ainda que, com a recuperação da economia da China – principal importador da commodity -, a cotação pode chegar a até  US$ 180 a tonelada.

– Nossa expectativa para 2012 é positiva e, como já tínhamos mencionado, sabíamos que o primeiro trimestre ia ser mais fraco, seguido de uma gradativa melhora – explicou Ferreira aos jornalistas.

O presidente da Vale lembrou que em março o volume de minério embarcado já superou os dois primeiros meses do ano, o que, para ele, confirma a expectativa de “gradativa melhora”.

– Acreditamos que a demanda global de minério deve continuar se expandindo. A China teve uma desaceleração no fim do ano passado, mas o ritmo deve aumentar – disse Ferreira.

 


Bancos perdem R$ 40 bilhões em valor de mercado

O Estado de S. Paulo

A pressão do governo, aliada à alta da inadimplência e às turbulências externas dos últimos dias, reduziu o valor de mercado dos maiores bancos do País em cerca de R$ 40 bilhões somente em abril, de acordo com a Economática. Se esse fosse o valor de uma empresa fictícia, seria a 12.ª maior da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Ainda a título de comparação, a Souza Cruz vale R$ 44,9 bilhões.

O valor de mercado é obtido pela multiplicação do valor da ação pela quantidade de papéis no mercado. A queda mais expressiva até ontem foi do Itaú, que viu as ações desabarem 15,2% entre 30 de março e ontem. A seguir, vinham Banco do Brasil, com perda de 10,4%, Santander (7,1%), e Bradesco (5,7%). O Ibovespa caiu 3,6% no intervalo.

“Os investidores estão olhando o curto prazo, que mostra que a tendência da inadimplência é de alta para o próximo trimestre”, afirmou o analista de bancos da Lopes Filho Consultoria, João Augusto Frota Salles.

Os três maiores bancos privados de varejo do País divulgaram nos últimos dias lucros modestos – para os padrões do setor – no primeiro trimestre por causa da inadimplência em elevação. Dados do Banco Central (BC) mostram que os atuais índices de calote nas pessoas físicas e jurídicas só perdem para o período que se seguiu à explosão da crise global, em 2008.

Os próprios bancos dizem que a tendência é de que os indicadores sigam piorando no segundo trimestre. O Itaú, por exemplo, só  acredita em um recuo da inadimplência no fim do ano. Especialmente por isso, os analistas do banco Credit Suisse rebaixaram ontem as ações do Itaú para “abaixo da média do mercado”, ante nota anterior “neutra”.

O outro fator que tem pressionado fortemente os papéis do setor é  a pressão do governo para que as instituições financeiras reduzam os juros e os spreads – diferença entre a taxa que os bancos pagam na captação dos recursos e a que cobram na concessão dos empréstimos.

“A leitura do mercado é de que o intervencionismo do governo pode reduzir as receitas com crédito e, consequentemente, o lucro lá  na frente”, sintetizou o analista de bancos da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu.

Além de críticas verbais públicas desferidas pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o governo orientou os bancos públicos a diminuir suas taxas de juros para forçar os privados a seguir o mesmo caminho. Inicialmente, os privados hesitaram, mas, depois, seguiram o movimento – ainda que timidamente.

Para completar, nesta semana, os mercados globais voltaram a passar por turbulências, em razão das dúvidas sobre a economia da Espanha e da queda do governo da Holanda – o décimo da região nos últimos dois anos. “Quando há turbulências, linhas de crédito que costumam ser acessadas pelos bancos brasileiros fecham”, explicou Salles.

Nesta semana, um relatório dos analistas da agência de classificação de risco de crédito Fitch alertou que o retorno dos bancos brasileiros deve piorar em razão da provável queda da taxa básica de juros (Selic) para níveis historicamente baixos.